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Episódio 16 – Encontros

Sam

 Sam por um momento não concordou com a ideia de Jade em lhe apresentar aos seus pais. Era cedo demais para toda aquela formalidade, e eles ainda estavam com a ideia dela se casar com Max na cabeça. Era loucura.

Mas Jade implorou, disse que ela dependia daquilo para continuar a viver em paz, sem Max Peterson na sua cola. Então ele concordou. Lá estava ele, na mira dos olhares extremamente perturbados de Morgan e Victoria Evans.

– Então esse é o garoto que você foi vista aos beijos em plena Times Square. – a mãe disse com a voz trêmula.

– O nome dele é Sam. – Jade retrucou. – Nós estamos juntos. Nos conhecemos tem um tempo.

– Muito prazer, Senhor e Senhora…- Sam começou.

– Por favor. – Morgan o interrompeu, levantando a mão direita. – Não vamos fazer essa desfeita com o rapaz. – e lhe ergueu a mão para cumprimentá-lo.

Jade olhou para o pai extremamente surpresa. Sam sorriu e aceitou seu cumprimento, e logo percebeu o incrível relógio em seu pulso que ficou à vista.

– Bom gosto para relógios, senhor. – Sam disse, imediatamente.

– Ah. – Morgan sorriu e olhou para o relógio em seu pulso. – Gosta de relógios, é?

– Sim, senhor. – ele sorriu de volta. – Bom, não tenho muitos mas sou um grande admirador.

Morgan assentiu e examinou o rosto do garoto, provavelmente estava procurando algum vestígio de mentira.

– Ora, sente-se. De onde vocês se conheceram? Os jornalistas não param de ligar para cá, perguntando quem seria você. – Morgan levou Sam até o sofá. – Emily e Austin, vão ficar aí parados? – ele lançou um olhar para o filho.

– Emily está de saída. – Austin murmurou.

– Sim. Boa noite. – Emily assentiu e olhou séria para Sam, que franziu a testa.

– Aconteceu alguma coisa? – Jade sussurrou para a mãe, ela retribuiu com um olhar frio.

Austin levou Emily até o elevador e voltou logo em seguida, seus olhos indo do pai até Sam.

– Ah, voltando. – Sam riu. – Bom, nos conhecemos na escola. Sou do time de futebol.

– Reserva. – Austin disse. – Ele é novato. É um dos bolsistas. – ele sentou na poltrona ao lado do sofá.

– Ah, um dos bolsistas! – Victoria arregalou os olhos. – Que legal. Uma ótima oportunidade que deram a vocês, não é?

Sam franziu a testa, tinha achado estranho a mudança de humor dos pais de Jade. Austin era o único ali que não parecia fingir sua desaprovação.

– Sim, senhora. A Harper é ótima.

– Você trabalha, Sam? – Morgan disse, fazendo um sinal para o mordomo, que trouxe um copo de whisky. – Ah, servido?

– Não, obrigado. – Sam disse. Como que ele estava oferecendo bebida para um menor de idade? – Hm, sim. Trabalho na mercearia dos meus pais no Brooklyn.

– Ah. – Victoria arfou e forçou um sorriso.

– Vocês estão assustando ele. – Jade sorriu, debochada. – Bom, só o trouxe aqui para que vocês conhecessem ele. É por ele quem estou apaixonada.

– Sim. Chega de interrogações. – Morgan assentiu. – Bom, Sam. – ele fez uma pausa e bebericou seu whisky. – Devo lhe dizer que namorar um Evans não é nada fácil. Já deve ter percebido o tamanho da atenção que Jade recebeu na Times Square.

– Com certeza. – Sam riu, nervoso.

– Sabe, você terá que se acostumar com paparazzis, jornalistas e um pouco de invasão de privacidade, entende? Somos a família mais influente da cidade. Pode ser difícil as vezes.

– Eu me acostumo, senhor. – Sam disse, olhando para Jade. – Faço o que for por ela.

– Ótimo. – Morgan assentiu novamente. – Seja bem-vindo à nossa família. – ele levantou e bateu nos ombros de Sam.

Jade levantou-se e puxou o braço do namorado para que ele fizesse o mesmo. Austin parecia que tinha algo entalado na garganta.

– Vamos, vou te mostrar a casa. – ela disse.

– Não demore muito. – disse Victoria. – Vocês tem um longo dia de aula amanhã.

– É. – Austin se levantou, totalmente revolto, e caminhou até a escadaria.

– Austin. – Morgan disse. – O que houve com Emily?

Sam encarou o rosto de Austin, ele agora tinha uma expressão que misturava ódio com repulsa. Ele olhou de volta para o pai.

– Você sabe muito bem o que houve. – ele virou o rosto na direção das escadas e foi até seu quarto.

Morgan balançou a cabeça e cruzou os braços. Sam e Jade estavam imóveis, ela segurando sua mão.

– O que ele quis dizer com isso? – Sam disse. – Ah, me desculpe a intromissão.

– Não se preocupe. – Morgan murmurou. – Se quer ser um Evans, Sam West, tem que entender que temos muitos problemas.

Sam engoliu em seco. Jade puxou seu braço e os dois subiram as escadas até seu quarto. No caminho, ele começou a se perguntar o que havia acontecido com Emily e por que os pais de Jade não surtaram com a sua presença, principalmente por causa do plano de Max Peterson. Além disso, ele ainda precisava contar para Jade que seu ex-namorado havia o ameaçado com uma arma de fogo…

– Achei seus pais muito calmos. – ele disse, sentando-se na cama.

– Eles estão fingindo. – Jade sussurrou, sentando na frente de Sam. – Claramente estão se corroendo de ódio porque atrapalhei o plano deles com Max Peterson.

– Loucura! – Sam sussurrou. – Não é perigoso?

– Não. – ela sorriu e beijou sua boca. – Pode ficar tranquilo.

– Olha. – ele disse, se desvencilhando de seus beijos. – Max não está de brincadeira. Sério.

– Como assim? – Jade parou e encarou Sam. – O que ele fez além de te ameaçar?

– Ele não me ameaçou simplesmente. – Sam disse. – Ele apontou uma arma para mim.

– O quê?! – Jade levou as mãos na boca para reprimir o grito. – Ele é louco. Eu vou denunciar ele…

– Não. – Sam segurou seu braço. – Deixa ele pra lá. Passou. Seus pais já sabem quem sou eu, e a mídia inteira só fala nisso. Ele não pode fazer mais nada sem ficar ruim para ele.

– Meu Deus. – Jade suspirou.

– Você foi muito inteligente. – Sam sorriu e a beijou. – E aí, vamos nos casar quando?

Os dois gargalharam e continuaram a se beijar.

J.J

 

J.J nunca esteve tão tenso. Ele havia sido convidado para um encontro extremamente desconfortável, e nesse caso, não sabia o que vestir. Seu guarda-roupa estava cheio de roupas e sapatos novos mas sua indecisão era maior do que qualquer coisa naquele momento.

Quando chegou na porta da boate (ou aquilo era um clube de strip? Ele não sabia), com uma camisa e calça social, reparou que as pessoas na fila estavam totalmente formais. E na maioria eram casais.

– Que droga de lugar é esse… – J.J sussurrou.

Ele nunca iria conseguir entrar naquela boate. Era de menor, e provavelmente a pessoa que o convidara já estava lá dentro.

– Ei, aqui! – ele ouviu um sussurro.

J.J procurou ao seu redor e depois de um tempo perdido, finalmente encontrou o rosto amigável de Miranda, a jornalista do TMX. Ela lhe deu um abraço e sorriu:

– Está bem?

– Sim, estou. – ele olhou incomodado para a fila. – Que lugar é esse, Miranda? Não me contou que iríamos para uma boate nas mensagens.

– Bom, nossa chefe frequenta alguns lugares exóticos. – Miranda disse. – E gosta de realizar reuniões nesses lugares, sempre que pode.

– Uau. – J.J riu. – Deve ser engraçado trabalhar para ela.

– Sim. Ela é incrível. – ela disse. – Agora, vamos.

– Espera, como vou entrar? Sou de menor! – J.J segurou seu braço.

– Você está comigo, esqueceu? – Miranda o guiou até a entrada.

Ela passou diretamente pelos seguranças do local, sem dar uma explicação. J.J prendeu a respiração quando passou ao lado deles mas parecia que ele era invisível aos seguranças. Quando entraram na boate, ele percebeu que não era bem uma boate.

– Que lugar é esse, Miranda? – J.J perguntou.

– Uma casa de swing. – Miranda disse. – Não se preocupe, não vai acontecer nada se você não quiser.

J.J arregalou os olhos e engoliu em seco. Uma luz neon vermelha iluminava o grande salão repleto de mesas redondas onde os casais conversavam, havia no fundo um bar extenso onde dois homens e duas mulheres preparavam as bebidas. Pessoas andavam de mãos dadas pelo salão e subiam por uma escada ao lado do bar, J.J não conseguiu enxergar o que havia no segundo andar. Miranda ainda o guiava pelo salão, os dois passaram por um corredor escuro que levava até um quarto menor porém mais iluminado. Um segurança estava parado bem na porta do quarto, J.J logo reparou que havia diversas cabines fechadas por cortinas.

– Oi. Sou jornalista da Petra. – Miranda disse. – Ele está comigo.

– Cabine 4. – o segurança murmurou.

Os dois caminharam até a cabine que tinha um imenso número 4 desenhado na cortina. Miranda abriu a cortina e J.J viu uma mulher alta de cabelos extremamente loiros e olhos escuros. Ela estava acompanhada de duas mulheres que vestiam apenas roupas íntimas bastante transparentes, além delas também havia um rapaz negro que vestia um terno cor de vinho, e uma jovem asiática que vestia um longo sobretudo.

– Oh, olá! – a mulher loira disse. J.J percebeu seu sotaque francês bem carregado. – Miranda. Entre, entre!

– Não sabia que Watson e Chang estariam aqui, Petra. – Miranda entrou na cabine e puxou J.J. – Esse é Jonathan.

– Boa noite. – J.J estava assustado, as jovens seminuas pareciam não ligar para a presença dos dois.

– Boa noite, meu jovem. – Petra sorriu e apontou para o estofado onde estavam sentados. – Sentem-se, temos muito para conversar.

A cabine estava um pouco apertada, e fazia um calor incômodo, ou era apenas J.J que estava nervoso demais com aquela situação. Havia uma mesinha no centro, onde o rapaz chamado Watson se serviu da garrafa de whisky, ele não tirava os olhos de Miranda e J.J.

– O que você me traz, Miranda? – perguntou Petra, as duas mãos repousadas nas pernas seminuas das duas jovens.

– O anônimo da escola Harper soltou mais informações. – Miranda disse, olhando de J.J para Petra. – Mas desse vez, de acordo com Jonathan, é sobre Emily Hopper.

– Hmm – Petra arregalou os olhos. – Está anotando isso, Chang? – a moça asiática digitava no celular. – Então a menina Hopper está no alvo dele agora, é?

– Sim. – Miranda disse. – Como a senhora sabe, J.J estuda na Harper e trabalha como meu informante. Qualquer informação interessante é me passada na mesma hora.

– Muito bem, J.J certo? – Petra sorriu para o garoto. – Pode virar um bom jornalista no futuro. Já sabe qual profissão seguir?

– Ainda não. – J.J estava incomodado. – Pensei que essa informação já tinha sido publicada, Miranda. – ele virou para a jornalista.

– Assim que você me mandou a notícia eu recebi o convite desta reunião. Preferi contar para a senhora Petra antes de publicar. – Miranda disse. – Conte mais sobre, J.J.

J.J franziu a testa e encarou o rosto de Petra e dos dois jornalistas, ele parecia ser um grande pedaço de carne em frente a três leões famintos. Ele suspirou e contou o que sabia sobre o caso de Emily e as drogas de Ben, esperando que seu nome não vazasse em alguma dessas noticias.

– Ben Parker. – disse Watson. – Filho dos Parker! Então ele está metido com venda de drogas.

– Muito interessante. E Emily Hopper está devendo uma grana para ele. – J.J confirmou.

– Hopper é muito amigo dos Evans. – Chang disse. – Assim como os Parker.

– É, mas os Parker não são tão próximos aos Evans como os Hopper. – Petra tamborilou os dedos, ela segurava uma taça de champanhe. – Bom, vamos publicar!

– Quando? – Miranda disse. – Já tenho a matéria pronta.

– Ótimo! – Petra bateu as palmas das mãos. J.J levou um susto. – Duas bombas na mesma semana praticamente. Já viu sobre Jade Evans e o garoto misterioso?

J.J franziu a testa. O garoto misterioso era Sam. Ele lembrou que havia interrogado o amigo ao lado de Maria, mas Sam acabou não explicando tudo.

– Sabe quem ele é? – perguntou Chang para J.J.

– Ele é meu amigo. – J.J murmurou. – O nome dele é Sam West, é um dos bolsistas.

– Anote isso. – Petra ordenou para Chang. – Então, você acha que eles estão realmente juntos?

– Não sei. – J.J corou e mordeu o lábio inferior. – Sam sempre quis namorar com ela, mas não sei se é um namoro de verdade.

– Poderia descobrir para nós? – Watson perguntou.

– Posso. – J.J riu.

– Ótimo. – Watson assentiu e piscou para J.J.

J.J abaixou os olhos e observou a dobra de seus dedos, os jornalistas continuavam a discutir sobre a história de Emily e Parker.

– Austin Evans deve estar furioso. – Watson disse. – Ele tem aparecido pouco desde que saiu da prisão. Provavelmente deve terminar com Emily.

– Assim que publicarmos sobre esse caso, temos que escrever uma matéria sobre a família Parker. Urgente. – Petra disse. – É uma bomba!

Eles continuaram discutindo por um bom tempo, perguntando coisas para J.J apenas quando necessário. Ele começou a ficar cansado daquela conversa, mas depois lembro que estava sendo pago para estar ali.

– Uma fonte me disse que a polícia não conseguiu rastrear de forma alguma a origem do anônimo da Harper. – Watson disse. – Houve uma vez que o anônimo acabou os enganando, levando eles para lugares aleatórios da cidade. E também hackearam seu sistema, deixando fora do ar por mais ou menos 8 horas.

– Sério? – disse J.J, surpreso. – Pensei que a polícia tinha desistido dessa história.

– Não. – Watson disse. – Só não conseguiram nenhum resultado ainda. Ah, e os Evans estão tomando suas providências. Sabe o restaurante de Victoria? A matriarca?

– Sim. – Petra disse, com uma das jovens beijando seu pescoço. – O que tem?

– Ela está investigando todos seus funcionários. – Watson concluiu.

– Minha irmã trabalha lá! – J.J colocou as mãos no rosto. – E agora?

Os jornalistas sorriram e se entreolharam.

– Fique calmo, bobinho. – Petra disse. – Se você não é o anônimo, não tem nada a perder.

– Mas bem que você poderia ser. – Chang sorriu maliciosamente. – Imagina o tanto de informação que ele, ou ela, deve ter.

– Eu não sou. – J.J franziu a testa. – Não mesmo.

– Então descubra quem é. – Petra colocou a taça sobre a mesa e encarou J.J. – Descubra e traga-o para mim.

J.J arregalou os olhos e engoliu em seco. Petra e os outros jornalistas agora gargalhavam.

Maria

 

Maria estava se preparando para dormir, tinha acabado de colocar seu pijama, quando recebeu a notificação do Instagram. Era uma publicação do perfil do TMX sobre Emily Hopper e Ben Parker. Ela por um momento não acreditou no que estava diante de seus olhos.

Ao abrir a postagem, ela leu a matéria que o TMX havia preparado. Os detalhes estavam lá : Emily e Ben tiveram um caso, e ele vendia drogas para ela. E assim, Emily estava endividada. Tudo o que ela havia contado para J.J e Sam estava lá, para todo mundo ver.

Maria começou a respirar com dificuldade. Ela desceu as escadas e foi em direção à cozinha, dando graças a Deus que todos já tinham ido dormir. Abriu a geladeira e pegou a garrafa imensa de leite e o pacote de biscoitos que estava em cima da prateleira. Ela voltou a subir a escadaria, mas passou direto de seu quarto, subiu mais um pouco e abriu a porta que dava para o terceiro andar da imensa casa dos Santiago.

O terceiro andar nada mais era que o terraço. Fazia uma noite linda, e tudo que Maria mais queria era um pouco de paz para colocar a mente em ordem. Como aquilo vazou? Será que J.J ou Sam haviam contado para alguém?

Com a mão tremendo, ela sentou no parapeito da parede do terraço, colocando as pernas para o lado de fora. O medo lhe atingiu naquele momento. E se os Parker decidissem ir atrás dela? Provavelmente iriam primeiro até Emily, e de lá ela iria dizer que a culpa era toda de Maria. Ela tinha certeza.

– Oi. – uma voz surgiu na escuridão. Maria estava dando uma grande golada no leite e quase engasgou.

– Q-Que?! – ela virou e viu o rosto sombrio de Leo, iluminado apenas pelas luzes da rua. – Que faz aqui?!

– Você devia estar dormindo. – ele disse. – Se sua mãe descobrir que está acordada…

– Não precisa me dar sermão. – Maria resmungou. – Não consigo dormir.

– Por quê? – ele perguntou, se apoiando no parapeito. – Desce daí.

– Se eu soubesse. – ela revirou os olhos. – Você não manda em mim, ok?

Leo assentiu e observou a rua deserta. Maria pegou o pacote de biscoitos e colocou uma na boca, tentando se acalmar. Ele olhou para ela.

– Você parece nervosa.

– Não estou. – Maria disse, de boca cheia. – Quer me deixar em paz? Já não basta ficar perambulando pela casa como uma sombra?

– Olha, eu fico aqui por que sua mãe e sua tia mandam, ok? – Leo franziu a testa.

– Não é obrigado a ficar aqui. – ela disse. – Pode ir embora.

– Eu trabalho aqui por que eu preciso. – Leo disse, agora mais sério que nunca. – Não sou herdeiro de nada. Tudo o que consigo é resultado de muito trabalho.

Maria ficou calada. Ele voltou seu olhar para a rua. Por um momento, ela se esqueceu de todo o nervosismo causado pela notícia do TMX.

– Não cansa de viver com medo? – ela disse. – Medo de um dia ser pego?

Leo franziu novamente a testa e encarou Maria.

– A minha vida toda eu tive medo. – ele disse. – Uma hora você se acostuma.

– Eu não quero me acostumar. – Maria murmurou. – Eu vou mudar de vida, vou sair desse lugar. Eu não nasci para isso.

– O que está acontecendo? – ele se desencostou do parapeito e ficou ereto, olhando nos olhos de Maria. – Do nada esse assunto? Nunca vi você desse jeito.

– Você não me conhece! – Maria balançou a cabeça e virou para encarar o garoto. – Eu nasci no meio disso tudo! Toda essa sujeira. Acha que me agrada em viver assim? Eu não quero mais viver com medo de ser descoberta e estragar todos os planos da família!

– Não há nada que possa fazer. – ele disse. – Todos nós vivemos com medo. É o negócio da sua família há anos, seus pais te criaram com o dinheiro de isso tudo.

– Foi por causa desse dinheiro que muitos de nós morremos. É uma questão de tempo.

– Temos que sobreviver, Maria. – Leo disse. – Sobrevivemos. Honrando que perdemos, passando por cima de quem quer nos destruir.

– Muitos querem nos destruir. Você não tem noção.

– Eu tenho noção. – ele assentiu. – E estarei aqui para ajudar vocês a acabar com todos eles.

– Eu não preciso da sua ajuda. – Maria resmungou. – Sei me defender sozinha.

– Ah, isso eu sei. Eu observo muito bem as coisas que acontecem nessa casa, sabia?

– Como se você disfarçasse. – Maria riu.

Maria suspirou e abaixou a cabeça. Ela queria muito, mas muito, mudar de vida. Mas havia outras coisas que não paravam de rondar a sua cabeça. Uma delas era o assassinato de seu pai.

– Sabe, – Maria disse, pensativa. – as coisas podem mudar daqui para a frente.

– Como assim? – Leo perguntou, sem entender.

– Não somos tão próximos assim, Leo. – ela continuou. – Mas posso precisar da sua ajuda. Sabe, no futuro.

– Ok. – Leo franziu a testa, continuava sem entender. – Qual o sentido disso?

– Não precisa ter sentido. – Maria murmurou. – Você está certo. Temos que sobreviver.

– Maria. – ele encarou o rosto da garota, ela olhava fixamente para rua.

– Está tudo bem, Leo. Juro. – ela sorriu e olhou para o rapaz.

Ela desceu do parapeito e recolheu a garrafa de leite e o pacote de biscoitos. Leo continuava a olhar seriamente para Maria, ela o ignorou e desceu as escadas lentamente, sem fazer barulho.

O rosto de Ben Parker não saía de sua mente, seu peito ardia como brasa. Ela não sabia ao certo o que era aquele sentimento, mas quando ela fechou os olhos, torceu para que Parker viesse até ela. Seu coração parecia que ia explodir dentro de seu peito. A raiva que ela tinha guardada em uma pequena gaiola dentro de si parecia ter aumentado de tamanho, estava querendo sair urgentemente.

Quem vazou a história para a mídia acabou lhe fazendo um grande favor, na verdade.

Sam

 

Os pais de Sam tinham um pequeno depósito / garagem nos fundos da mercearia, e lá guardavam todo o tipo de coisa : produtos, utensílios velhos, brinquedos que seus filhos não brincavam fazia tempo e também uma moto extremamente velha. Nas férias, Sam havia proposto ao pai se ele poderia consertá-la, mas logo o velho negou pois o filho não tinha licença para pilotar aquela moto.

Mas Sam a consertou, contrariando a vontade do pai. E ele sabia pilotar uma moto que muitos garotos que possuíam habilitação, graças às suas amizades pela vizinhança. No pouco tempo que sobrava entre o trabalho e a escola (e agora os encontros com Jade), ele conseguia realizar um bom reparo naquela lata velha.

– Eu não acredito que você consertou essa moto. – a mãe disse quando descobriu o motivo de Sam demorar tanto na garagem.

Quando finalmente a semana terminou, sem sinal do anônimo para perturbar, Sam se viu livre para dar os últimos retoques no veículo. Jade estaria ocupada em uma reunião com Mason e alguns representantes, então ele também estaria livre dela por enquanto. Ao chegar em casa, deu os últimos acabamentos no motor e rezou para que nada desse errado. Seu pai não estava em casa, tinha ido até New Jersey comprar alguns suprimentos para a loja. Sinal verde para ligar a moto.

Ele colocou a chave na ignição e ouviu o motor roncar, o calor subindo e a moto tremendo levemente.

– Nem acredito. – Sam murmurou.

Já estava quase no final da tarde. Uma hora perfeita para sair para uma voltinha. Ele abriu a portão da garagem e subiu na moto, sentindo a adrenalina se espalhar pelo seu corpo. Ele deu a partida e saiu pilotando pelo quarteirão, chamando a atenção dos vizinhos que não sabiam que sua família tinha uma moto. Sam acelerou o máximo que pode, decidindo ir um pouco mais longe de sua casa. Ele não podia ir tão longe pois não confiava muito no motor, apesar dos consertos, seria bom se manter perto de casa caso desse algum problema.

O vento batia forte em seu rosto, fazendo ele lembrar que precisava de um capacete. As luzes foram se intensificando enquanto o céu escurecia, os faróis dos carros pareciam que iriam cegá-lo a qualquer momento. Sam decidiu dar uma última volta, mas dessa vez por uma rua bastante conhecida.

A rua de sua antiga escola, que foi demolida sem nenhuma explicação. Ele não se perguntava muito, já que tinha dado a sorte de ser escolhido para Harper, mas muitos de seus colegas tinham sido prejudicados. Agora a escola não passava de escombros. Mas havia um diferencial, o terreno estava todo cercado. Parecia que alguém já tinha comprado o terreno e não queria invasores.

Sam parou a moto em frente ao cercado. Algumas placas haviam sido penduradas sobre a grade, estavam escritas : ENTRADA PROIBIDA e PROPRIEDADE PRIVADA. Olhando para além da cerca, ele não conseguia ver um sinal de qualquer construção ou alguém trabalhando, talvez por causa do horário.

Na placa escrita “PROPRIEDADE PRIVADA” havia umas letras bem pequenas escritas em seu lado direito, bem no final. Sam forçou os olhos para conseguir ler o que estava escrito, talvez fosse o nome de quem tinha comprado o terreno.

 

Eleven Inc.

– Eleven Inc. – leu Sam. – Que empresa é essa?

Sam olhou para cima da cerca e viu que havia câmeras instaladas nas barras ferro, ambas viradas para o seu rosto. Ele sorriu e deu um aceno, em seguida pegou seu celular e pesquisou o nome da empresa.

 

Eleven Inc. : Famosa construtora localizada em Manhattan/NY, responsável pela construção de mais de 200 prédios e centros comerciais por todo o país. Fundado em 1981 por Morgan Edward Evans (saiba mais), famoso filantropo e empresário do estado de Nova York.

 

– Ele comprou o terreno… – Sam sussurrou. – Que…

Nesse momento, uma voz masculina surgiu do lado de dentro do terreno. Sam levou um susto e viu um homem alto, vestindo um macacão roxo onde estava pendurado o seu crachá.

– Quem é você? – o homem gritou.

– Eu só parei aqui… – Sam olhou para o crachá do homem, seu nome era Winston Creed. – Eu estudava aqui.

– Aqui é uma área privada! – Winston continuou a gritar. Sam viu em seu crachá que ele trabalhava para a Eleven Inc. – Saia daqui!

– Os Evans compraram essa propriedade, é? – Sam o interrogou.

– Não é da sua conta, rapaz! Saia daqui!

Sam viu que não iria conseguir arrancar nenhuma informação do homem. Precisava saber se o comprador do terreno também havia mandado demolir a escola, mas pelo jeito ele só perderia tempo ali. Ele assentiu e deu a partida na moto, fazendo o caminho até a sua casa, mas com a informação fazendo sua cabeça ferver.

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