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Episódio 17 – Não confie em ninguém

Harry

 

As conversas com Mason se tornaram extremamente frias depois da conversa que ele e Harry tiveram nas arquibancadas. Não havia muito assunto, os dois trocavam poucas palavras e continuavam os seus afazeres.

Mas Harry ficou extremamente incomodado com aquela situação. Ele gostava de estar com Mason, gostava mesmo. Mas o fato dele não querer, ou poder, assumir o relacionamento, deixava Mason bastante chateado.

Quando o final de semana chegou, Harry finalmente tomara coragem de tentar uma conversa mais extensa com o rapaz. Mason estava muito ocupado trabalhando na administração das redes sociais de Jade, mas Harry simplesmente ignorou este fato.

– Pode me dar uma atenção? – ele ligou para Mason por FaceTime. – Não tivemos uma conversa decente desde aquele dia.

– Estou ocupado. – Mason disse, frio. – É sério.

– Os trabalhos com Jade podem esperar. – Harry murmurou. Ele aproveitou que sua mãe estava trabalhando para poder ligar para Mason. – Você ficou chateado. Me desculpa, mas eu não me sinto pronto pra dizer às pessoas sobre a minha sexualidade! Você precisa entender isso.

– Sério, Harry. – Mason revirou os olhos. – Eu tenho coisas mais importantes para lidar do que o seu segredinho. Não fiquei chateado.

– Está mentindo. – Harry disse. – Se não estivesse chateado, teria falado direito comigo. Teria respondido as minhas mensagens.

– Ok. – Mason disse. – Fiquei chateado. Eu não quero ser a sua diversãozinha de todo final de semana, ok? Assuma as suas merdas, Harry.

– Eu não…- Harry gaguejou.

– Tenho mais a fazer, Harry. Me desculpe. – Mason parecia que ia desligar a chamada. – Ah, e eu não achei nada demais nos perfis daquela garota. Satisfeito?

– Não. – Harry disse, entre dentes. – Eu só queria uma conversa de verdade com você. Mas se prefere assim…

– Minha mãe está doente, Harry. – Mason disse, fechando os olhos. – Essa é a verdade. Ela tem câncer, e está morrendo.

Harry arregalou os olhos. Aquilo tinha sido um banho de água fria, seu corpo ficou paralisado e seu estômago parecia ter sido perfurado por mil facas. Como poderia ter sido tão egoísta pedindo por atenção, quando quem mais precisava de atenção era Mason?

– Mason, eu… – Harry disse. – Eu não sabia, me desculpe…

– Pois é, ninguém sabia. – Mason assentiu. – Não se preocupe. É problema meu.

– Não, eu…eu posso ajudar. Se eu puder em ajudar em algo…

– Tudo bem. – Mason disse, os olhos marejados. – Obrigado. É…eu tenho que ir. Tchau.

E desligou a chamada. Harry ficou olhando a tela do celular por um bom tempo, absorvendo toda a informação. Como poderia ter sido tão egoísta? Vivendo em seu mundinho, em sua própria bolha, parecia que tinha se esquecido que as pessoas ao seu redor também tinham problemas. Problemas bem maiores do que os seus.

O final de semana passou lentamente. Sua mãe recebeu algumas amigas em casa, no sábado, e Harry continuou em seu quarto. Pensativo. Mandava mensagens de apoio à Mason, mas raramente era respondido. Austin e Travis perguntavam sobre Maggie e ele os ignorava, todo o problema com o anônimo parecia pequeno demais. Besteira. Nem Sam dera sinal de vida no sábado e no domingo, mas para Harry estava tudo bem. Preferia ficar isolado em casa do que ter que sair e conversar sobre qualquer coisa.

A segunda-feira chegou. Os jogadores tiveram um treino intenso, aulas cansativas e até mesmo um teste surpresa de História. Harry procurou por Mason pelos corredores, mas não havia nem sinal dele. Será que havia acontecido alguma coisa? Ele não sabia. E nem podia perguntar para ninguém.

Harry encontrou o momento perfeito para se isolar nas arquibancadas. Ler seus livros e fumar seu cigarro parecia bastante acolhedor naquele momento, enquanto ele se torturava por ter sido tão egocêntrico. No campo, as meninas das líderes de torcida treinavam arduamente enquanto Alma gritava pelo megafone.

– Oi. – uma voz feminina surgiu. Harry arregalou os olhos e encontrou Maggie a poucos passos dele. – Pensei que ia te encontrar aqui.

– E aí. – Harry estava incomodado. “Outra pessoa com quem eu fui um filho da puta” pensou. – Como está as coisas?

– Nada mal. Tivemos um visitante seu aqui, né? – Maggie pegou um cigarro de dentro do uniforme. – Mason Carter.

– É. – Harry engoliu em seco. – Somos amigos.

– Mais que amigos. – Maggie ergueu as sobrancelhas. – Legal que finalmente se acertou com a sua sexualidade.

– É. – Harry assentiu. – Mas não é tão simples assim.

– O que seus amigos vão pensar… – Maggie começou a andar ao redor de Harry. Ele apagou seu cigarro. – Esse é o maior problema, não é Harry?

Harry virou-se para encarar Maggie, ela parecia transtornada.

– O que houve? – ele foi direto. – Está com uma aparência péssima.

– Você sabe muito bem o que houve! – gritou Maggie, jogando o cigarro aceso para cima de Harry. Ele bloqueou com o braço.

– Você está maluca?! – ele gritou.

Maggie pulou alguns assentos e agarrou o terno do uniforme de Harry, agora ele conseguia ver que seus olhos estavam inchados e sua maquiagem borrada.

– Seus amiguinhos vieram atrás de mim. Não haja como se não soubesse!

– Como assim?! Eu não sei de nada! – Harry se desvencilhou das mãos de Maggie. – Quem foi atrás de você?!

– Primeiro : me seguiram até a minha casa. Eles nem sequer disfarçaram. – Maggie ergueu um dedo. – Segundo : arrombaram a droga da minha casa quando eu estava fora. Roubaram o meu computador, reviraram todo o meu quarto.

– Está brincando. – Harry não conseguia acreditar. Será que Austin e Travis chegaram a esse ponto? – Juro, eu não sei de nada disso!

– Você é ridículo, Harry Cooper. – Maggie murmurou, repleta de ódio. – Eu ouvi você comentar com o seu namorado sobre mim! Mandou investigar a minha vida na internet! Vocês acham que eu sou a merda do anônimo, é? Erraram feio, seus idiotas! – ela empurrou Harry, que caiu de costas no assento.

Ele se levantou, totalmente perplexo do que estava acontecendo. Não duvidava do que Austin poderia fazer para obter respostas sobre o anônimo, nem mesmo de Travis, mas aquilo era demais.

– Todo mundo está achando que você é o anônimo, Maggie. – Harry tremia. – Eu não tive escolha…todas as provas levavam a você.

– Que provas?! – gritou Maggie. – Vocês não tem prova alguma contra mim!

– O seu ódio pelos Evans. A conversa de Emily e Maria vazando, as duas conversaram aqui…pelas arquibancadas. Você pode muito bem ter escutado! Você odeia as pessoas daqui! – Harry ergueu os braços. Maggie parecia que ia acertar um soco em seu rosto a qualquer momento.

– Vá se foder. – ele ergueu o dedo do meio. – Você e todos quem você chama de amigo.

– São poucas provas, eu sei. – disse Harry. – Mas é o que temos.

– Arrombaram a minha casa. – Maggie suspirou. – Isso é criminoso. Se meus pais estivessem em casa…e ainda me seguiram!

– Você viu quem te seguiu? – ele perguntou. – Austin?

– Não. – Maggie olhou para ele, com um sorriso malicioso. – Os capangas da família dele.

– O quê?

– Não falo mais nada. – ela disse, descendo as arquibancadas. – Boa sorte em descobrir,  Harry Cooper.

Maggie desapareceu, deixando Harry mais uma vez sozinho com seus pensamentos.

 

Sam

 

– Onde esteve? – Jade perguntou. Estavam no horário do almoço, Sam tinha acabado de chegar na mesa onde estavam sentados Austin, Travis, Emily, Bridgit e Emily. Nenhum sinal de Harry.

– Hm, banheiro. –  murmurou. Sam ainda não tinha perguntado para Jade sobre o que vira nos terreno de sua antiga escola, e isso parecia martelar em sua cabeça. – Preciso conversar com você. – ele sussurrou para a garota.

– Ok. – ela disse, olhando para o pessoal. – Depois do almoço?

– Tá. – ele sentou-se à mesa e encarou os amigos. – E aí, pessoal.

Estava um clima muito pesado naquela mesa. Austin tinha dado um tempo no namoro com Emily, que parecia que iria chorar a qualquer momento. Bridgit estava quieta demais, assim como Travis, que preferia não se meter no relacionamento da irmã. Apenas Jade parecia normal.

– Viram o Harry? – perguntou Sam. – Ele sumiu depois do treino.

– Não. – Travis disse. – Hm, descobriu alguma coisa sobre o anônimo?

Todos levantaram os olhos e encararam Sam, ele corou e abriu a boca, sem conseguir emitir um som.

– N-Não. – ele disse. – E vocês?

– Estamos esperando o feedback do Harry. – Austin disse, com a boca cheia. Seu olhar parou em Emily. – Nada me tira da cabeça que aquela gótica está por trás disso.

– De quem você está falando? – Jade perguntou.

Nesse momento, Harry surgiu por trás de Emily e Bridgit, fazendo as garotas levarem um susto. Ele colocou as duas mãos sobre a mesa e encarou o rosto de Austin.

– O que você fez?! – Harry disse.

– O que? – Austin tinha o rosto impassível. – Do que está falando?

Harry se sentou, sem tirar os olhos do rosto de Austin. O que havia acontecido para o amigo chegar daquele jeito?

– Vocês arrombaram a casa da garota? Estão malucos? – Harry sussurrou, viu que alguns alunos estavam olhando para eles. – Surtaram?

– Precisávamos de informações. – foi Travis que falou.

– Então foi você. – Harry assentiu. – Você ficou maluco? Não pode fazer essas coisas por contra própria, sem nenhuma prova concreta!

– Foi pela falta de provas que fizemos isso. – Austin disse. – E não foi nós que fizemos o serviço.

– Ei, espera aí. – Sam interrompeu. – Vocês arrombaram a casa da gótica?

– Austin! – Jade arregalou os olhos, chocada. Emily, pelo contrário, parecia bem satisfeita.

– Quem foi então? – Harry estava vermelho.

– Uns contatos aí. – Austin continuou. – Agora estão fuçando o computador da sua amiguinha. Qual o problema? Estamos atrás de provas, droga.

Harry bufou e colocou as mãos sobre as têmporas. Sam não conseguia acreditar que Austin e Travis tinham sido capazes de fazer uma coisa dessas.

– Invasão domiciliar é crime. – disse Bridgit. – Ainda roubaram uma coisa que não pertence a vocês! Isso é muito errado.

– A policia já está envolvida no caso, não está? – Sam disse.

– Como se nós fossemos esperar a polícia resolver alguma coisa. Esse tempo todo e nada foi resolvido.  – Travis disse, bebendo seu refrigerante. – Pelo menos até amanhã, vão nos dar a resposta se ela é ou não o anônimo. Fácil.

– Ela pode muito bem denunciar vocês, imbecis. – Harry balançou as mãos.

– Não pode. – riu Austin. – Como ela arranjaria provas que fomos nós que mandamos os caras até o barraco onde ela mora? Pouco provável.

– Incrível. – Sam disse. – Tá, e se ela for mesmo o anônimo?

Harry encarou o amigo, incrédulo. Sam estava torcendo para que a pessoa mais óbvia, na visão dele, fosse realmente o anônimo e toda aquela história tivesse um fim.

– Ela é expulsa da escola. – Travis disse, rindo.

– E nós arrumaríamos um jeito de mandar ela para trás das grades. – Austin completou.

Sam viu Emily estava rindo, enquanto Bridgit balançava a cabeça negativamente. Jade não fazia um sinal de concordância ou discordância, seu rosto era um enigma que Sam não conseguia decifrar.

O sinal tocou, todos se levantaram e caminharam até suas aulas. Harry foi o primeiro a sair da mesa, praticamente correndo para não ter que acompanhar o grupo de amigos. Sam olhou para Jade, que logo entendeu que era hora da conversa que ele tanto queria ter. Os dois foram até um canto de refeitório.

– O que houve? Por favor, que não seja mais um problema. – ela disse.

– Como eu posso começar… – Sam disse, intrigado. – Bom, queria te dizer que você está lindíssima hoje.

– Fala logo. – Jade revirou os olhos. – Anda, não que eu me preocupe mas temos aula agora.

– Bom, na sexta eu fui dar uma volta de moto. – Sam disse. – É bem velha sabe, fiz uns consertos e tal…ah, também não tenho habilitação. Mas tudo bem, né…

– Fala logo. – Jade cutucou o braço do namorado.

– Ah, então eu acabei parando na minha antiga escola. Aquela que foi demolida, sabe? Bom. Então, eu vi que uma empresa tinha comprado o terreno…demolido a escola e comprado, não sei, enfim, a empresa é do seu pai.

– Do meu pai? – Jade disse, levantando as sobrancelhas.

– É. – Sam assentiu. – Queria te perguntar se é verdade. O nome é Eleven Inc.

– É uma das empresas dele, sim. – Jade disse. – E o que tenho com isso?

– Ah. – as ideias clarearam na cabeça de Sam. – Ele comprou o terreno? Ou mandou demolir a escola?

– Isso eu não sei, Sam. – ela disse. – Vai precisar perguntar para ele. Qual o problema disso tudo?

– Não, nada…só curiosidade. – Sam sorriu. – Curiosidade.

– Ah. – Jade sorriu de volta. – Bom, queria que você fosse lá para casa hoje à noite. Meus pais vão dar um jantar para seus sócios, vai ser bem chato. Você poderia entrar escondido, aí a gente ficava no quarto. Juntos, que tal?

– Ah, ótimo. – Sam concordou. – Posso sim.

– Legal. – ela sorriu e piscou. – Vamos, então. Estamos atrasados.

Os dois saíram juntos do refeitório. A cabeça de Sam ainda parecia que ia explodir a qualquer momento : ele precisava tirar essa história a limpo, precisava descobrir se Morgan apenas tinha comprado o terreno ou mandara demolir sua antiga escola. Muitos estudantes acabaram ficando sem estudo por causa daquela demolição, e o responsável ainda não tinha um nome.

 

 

Maria

 

Maria passava o último retoque de maquiagem, no banheiro feminino, quando Emily entrou ao lado de sua amiga Bridgit. As duas garotas não fizeram questão de disfarçar o desagrado que foi encontrar Maria naquele momento.

A pequena conversa que tiveram com Leo acabou trazendo vários pensamentos para Maria. Ela não teria mais medo de enfrentar as pessoas naquela escola, principalmente o tal de anônimo. Se o seu medo fosse perder todas as oportunidades na Harper caso a verdade sobre sua família fosse exposta, ela iria enfrentá-los como sempre enfrentou os seus problemas. Como uma digna do sangue dos Santiago.

Maria continuou a terminar sua maquiagem, enquanto as duas garotas passavam gloss em seus próprios lábios. Na verdade, ela estava apenas enrolando para ver se Emily e Bridgit iriam se direcionar a ela. Maria sabia que Emily estava revoltada, e provavelmente morrendo de medo depois que a notícia vazara para os principais meios de fofoca da internet. A publicação do TMX não parava de ser compartilhada pelos alunos da Harper.

– Meus parabéns. – disse Emily, olhando para Maria pelo reflexo do espelho. – Além de traidora, é uma informante descarada. Foi você que jogou aquela mentira na mídia, não é?

– Eu? – Maria disse. – Não me prestaria a esse papel, Emily. Eu sei muito bem os riscos de me envolver com gente que não presta. Já você…

– Assuma logo, garota. Você é o anônimo. – Emily socou a bancada da pia do banheiro.

– Emily. – disse Bridgit. – Se controle.

– Agora o meu nome não sai da boca das pessoas. Por uma mentira descarada dessas! – Emily gritou.

– Mas você não sempre quis ter o nome na boca do povo, Emily? – Maria debochou. – Bom, não sei se foi a melhor maneira, não é?

– Vagabunda. Eu vou acabar com você.

– Emily. – Bridgit foi até Emily, tentando controlar a amiga.

– Assuma os seus erros, Emily. – Maria virou para encarar a garota. – É sério, vai fingir sobre isso até quando? Você precisa de ajuda e eu me propus a ajudar! Mas pelo jeito, está melhor sozinha!

– Cale a sua boca! – Emily se descontrolou.

– Ajude a sua amiga. – Maria se virou para Bridgit. – Ela precisa e muito.

Bridgit olhou desesperada para Maria, ela reconheceu aquele olhar. Ela saiu do banheiro feminino com o coração saltando, e Emily gritando e praguejando enquanto tentava se desvencilhar dos braços da amiga.

 

Jade

 

O apartamento dos Evans estava cheio de gente naquela noite, eles fizeram questão de convidar a maioria dos empresários que trabalhavam para eles. O jantar seria servido na sala de jantar, e também serviria como uma grande reunião. Pelo que Jade entendeu, Morgan estava estudando uma forma de abrir uma nova empresa.

Mas o que mais importava para ela no momento era Sam. Ele acabou entrando escondido entre os convidados, e sendo puxado por uma Jade totalmente enérgica e um tanto feliz pela sua presença. Porém, apenas ela estava feliz de Sam estar ali, seus pais e Austin pareciam ter algo entalado dentro da garganta quando viram o rapaz surgir pelo elevador.

– O que ele está fazendo aqui? – Austin sussurrou em seu ouvido enquanto os dois estavam na cozinha e Sam esperava ao pé da escada. – Hoje é um dia só para a família.

– Ele faz parte da família agora. – Jade disse, preparando uma cesta de frutas. – Hm, vinho. Sim. – ela disse à governanta que surgiu com duas taças e um vinho tinto. – Obrigada.

– Jade, é sério. – Austin disse. – Não pode sair convidando os outros para dias como esse. Está me entendendo?

– Não vamos atrapalhar a reunião do papai. – ela riu. –Vamos ficar no quarto, saboreando cada momento juntos.  – ela apontou para a cesta de frutas e o vinho. – E não se meta na minha vida, Austin. Você já tem muito problemas para resolver.

– Eu não estou… – ele se irritou. –  Tudo bem, você é quem sabe. O risco é todo seu.

– Que risco? – ela encarou o irmão. – O que poderia acontecer de ruim?

Austin saiu da cozinha. Jade riu e olhou para a governanta, que parecia séria demais. Ela voltou até a sala onde Sam esperava e encontrou o namorado com o rosto totalmente perdido pela quantidade de casais que entravam pela sala.

– Vamos? – ela disse. – Me ajude com essa cesta.

– V-Vamos. – Sam gaguejou, segurando a cesta de frutas. – Que cesta bonita. Isso tudo é para gente?

– É, sim. O que houve? – a jovem reparou a tensão no rosto de Sam. – Papai te disse alguma coisa? Ou foi Austin?

– Não. – Sam sorriu amarelo. – Sabe que sempre fico nervoso quando venho aqui.

Jade riu e bagunçou os cabelos do namorado. Os dois subiram as escadas em direção ao seu quarto, deixando para trás o falatório na sala de estar.

 

 

Sam

 

ANTES

 

Sam não conseguia disfarçar o nervosismo estampado em seu rosto.

Ele sentia que não deveria estar ali, estava deslocado. Os Evans reuniram uma boa quantidade de homens engravatados, todos aparentando ter bastante dinheiro.

Victoria guiava os convidados da sala de estar até a mesa de jantar. Sam observava todos com uma certa apreensão, provavelmente alguns daqueles engravatados trabalhassem com Morgan na Eleven Inc e fossem responsáveis pela demolição da escola. Ou apenas era imaginação da sua cabeça.

Até mesmo o diretor Hopper apareceu ao lado de sua mulher, ele ficou surpreso quando encontrou Sam parado ao lado da escada. Victoria ficou bastante feliz com a presença deles, apesar do desagrado em avistar o garoto parado ali.

– Sejam bem-vindos! O jantar será servido na sala de jantar. – ela dizia, enquanto lhe lançava um olhar fulminante.

Então pelo jeito Hopper também era sócio de Morgan. Sam queria se esconder em algum lugar, se sentia um completo idiota parado ali enquanto Jade prepara as coisas na cozinha. Por um momento pensou em sair dali, mas foi interrompido por uma voz.

– Não sabia que você estaria aqui, West. – Sam viu Hopper se direcionar a ele. Ele estava acompanhado pela mulher, que parecia bem nova para ser mãe de Travis e Emily.

– Boa noite, diretor. – Sam sorriu. – É, Jade me convidou…mas não vamos atrapalhar o jantar de vocês.

– É. – Hopper sorriu. – Vai ser um jantar cheio de conversas sobre negócios. Bem chato.

– Pois é. – Sam disse. Hopper estava visivelmente incomodado com a presença de Sam, ele manteve os olhos fixos no garoto até ser puxado pela mulher.

– Até logo. – Hopper disse, indo em direção à sala de jantar.

Foi no momento em que Hopper virou-se de costas que Sam conseguiu ver um vulto passar diante de seus olhos, e por um momento ele pensou estar delirando. Ele até piscou duas vezes, incrédulo. Mas era verdade.

Winston Creed, o funcionário que estava no terreno de sua antiga escola, agora vestindo um incrível terno azul escuro. Ele sorriu e assentiu quando Victoria o guiou até a sala de jantar, mas seus olhos pareciam inquietos e passavam por toda a sala. Sam prendeu a respiração e virou-se de costas, tentando evitar que fosse reconhecido por Winston. Seria o fim se isso acontecesse. O homem prosseguiu até a sala de jantar e Sam finalmente voltou ao normal.

 

AGORA

 

Ele não conseguia tirar Winston Creed da cabeça enquanto estava no quarto com Jade. A garota não parava de falar enquanto bebia seu vinho, e provavelmente não parecia reparar na cara repleta de terror de Sam.

Ele estava odiando aquela situação, realmente queria aproveitar aquele tempo com Jade. Mas não dava, ele não tinha que estar ali naquela noite. Ou talvez fosse tudo obra do destino, quem sabe ele não descobria alguma coisa sobre a escola?

– Qual o motivo dessa reunião? – Sam interrompeu o falatório de Jade. – Digo, do seu pai com os sócios.

– Pelo jeito ele está querendo abrir uma nova empresa. – ela disse, franzindo a testa. Parecia um pouco bêbada de vinho. – É bem normal ele receber os sócios aqui em casa.

– São muitos sócios. – riu Sam, brincando com um morango da cesta.

– Sim. – Jade sorriu. – São muitas empresas, sabe? Além do ramo imobiliário tem algumas construtoras, restaurantes.

– A Eleven Inc é uma construtora? – Sam perguntou.

– É. – ela ficou séria. – Ainda está pensando naquilo? Sobre a sua antiga escola?

– Hm, sim. Bom, estudei a minha toda lá. E o responsável pela demolição, ou responsáveis, não tiveram seus nomes revelados. – Sam olhou sério para Jade.

– Não acho que papai seria capaz de demolir uma escola sem nenhum motivo prévio. – disse Jade.

– Ah, sim. – ele concordou. – Com certeza.

Ele queria acreditar que Morgan não fosse capaz de fazer aquilo. E se fosse, por qual motivo ele iria querer demolir uma escola no meio do subúrbio?

– Preciso ir ao banheiro. – disse Sam, se levantando do tapete onde os dois estavam deitados. – Já volto.

– Ok. – Jade disse.

Ele saiu do quarto da namorada e caminhou lentamente pelo corredor do segundo andar. Ao chegar no final, onde havia a porta do banheiro e a escada para o terceiro andar, ele ouviu o barulho do arrastar de pés acima de sua cabeça e a batida de uma porta se fechando. Sam odiava ser curioso daquele jeito, mas quem poderia estar no terceiro andar enquanto todos estavam em reunião da sala de jantar? Austin estava em seu quarto, o mordomo e a governanta serviam os sócios da família.

Sam deu um breve suspiro e subiu as escadas até o terceiro andar, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Era uma escadaria bem curta, em pouco tempo ele se viu em mais um corredor que dava até uma segunda (ou terceira, ela não sabia) sala. Havia o barulho de vozes saindo de trás de uma porta à direita, e por sorte, não estava totalmente fechada. Eram vozes masculinas.

– Falem logo, antes que notem a nossa falta. – a voz inconfundível de Morgan Evans ecoou.

Sam deslizou lentamente até a porta, achando estranho ela estar com uma fresta aberta pois tinha acabado de escutar o som dela se fechando. A fresta tinha tamanho suficiente para ele enxergar do que se tratava aquele cômodo : era um escritório com uma mesa retangular de vidro preto, pelo que ele conseguiu ver, também havia muitos armários ao redor. Morgan estava parado em um lado da mesa, e mais próximo da porta havia as costas do diretor Hopper, Austin Evans e mais um homem que ele não conhecia.

– Preciso falar sobre aquele terreno no Brooklyn, Morgan.

Sam engoliu em seco quando ouviu aquela voz. Não saia da boca de nenhum dos três que estavam em seu campo de visão. Era Winston Creed.

– O que aconteceu? – Morgan perguntou.

– Temos que reforçar a segurança do terreno. – disse Winston. – Esses dias teve um moleque rondando o perímetro e fazendo perguntas idiotas. Estava montado em um moto velha.

– E qual o problema, Winston? Seu trabalho é assegurar que ninguém invada aquele lugar. Se estiverem rondando, apenas os expulse. – disse Hopper.

– Isso eu sei, Hopper. – Winston resmungou. – Mas o moleque pelo jeito estudava lá. Perguntou se o senhor, Sr. Evans, havia comprado o terreno.

– O que você respondeu? – Morgan perguntou.

– O mandei ir embora, é claro.

– Estava numa moto? Aqueles três bolsistas não possuem motos, né? – Hopper virou-se para Austin, que balançou a cabeça indiferente. – Como ele era?

– Meio nanico, cabelos pretos, sobrancelhas grossas. – Winston disse. – Estava com um celular nas mãos, parecia ter pesquisado sobre a empresa.

– Podemos ver nas gravações. – Morgan disse. – Austin, abra o computador.

Sam tremia. Estavam falando dele, e logo descobririam. Ele viu Austin andar pelo escritório e sumir de vista.

– Essa droga de escola só nos trouxe problemas. – Hopper murmurou.

– É essencial. – disse, pela primeira vez, o homem desconhecido. – O edifício será apenas um lugar para acobertar a nossa atividade. Já estamos ficando visados naquela outra base.

– Eu sei, mas demolir uma escola para isso? Chamamos muita atenção. – Hopper disse. – E ainda não foi divulgado quem mandou demolir aquela droga. Levantamos muitas suspeitas.

– A demolição foi feita por ordens do governo. A propriedade estava irregular e com várias contas atrasadas. – disse Morgan. – Parker nos assegurou que essa seria a informação que teriam caso investigassem. Não vão levantar suspeitas, o nome da Eleven se encontra apenas no contrato da compra.

– Mesmo assim, se Parker nos trair… – Hopper disse.

– Então faça a sua parte e proteja o garoto deles. – o outro homem disse. – O nome dele está na mídia, logo vão começar a investigá-lo.

– Está tudo sobre controle. – Morgan ergueu as mãos. – Temos poder dentro da polícia, lembra? Assim como Parker. Não vão tocar em um fio de cabelo do filho deles.

Austin retornou com um notebook nos braços, seu rosto estava impassível. Ele o colocou sobre a mesa para que os homens pudessem assistir à gravação.

– Aqui. As câmeras gravaram direitinho. – Austin disse, parecendo não estar gostando daquela situação. Ou era apenas impressão de Sam. – É ele. Eu sabia.

– Ora, ora. – Morgan riu. – Então é ele.

– Idiota. – Austin revirou os olhos.

– O bolsista. Sam West.  – Hopper grunhiu. – Sempre disse que colocar essa gente na Harper seria um erro.

– Vocês o conhecem? – Winston perguntou.

– É claro. – Austin olhou para Winston. – Ele é o novo namorado de Jade. E ele está aqui.

Nesse momento, Sam ouviu passos na escada. Seu peito parecia que ia explodir, ele não conseguia raciocinar direito. Ao ver uma parte da cabeça do mordomo surgir na escada, seu corpo parecia receber uma dose imensa de adrenalina. Ele correu pelo corredor até chegar em uma porta que abriu com facilidade.

Para a sua sorte, era um banheiro. Ele se ajoelhou ao lado do vaso sanitário, parecia que iria vomitar todas as frutas e o vinho que tinha comido com Jade. Sua cabeça estava a mil.

Ele não podia ficar ali para sempre. Se levantou e abriu a porta, apenas o necessário para poder espiar o corredor. Os homens estavam saindo do escritório, viu a parte de trás da cabeça de Austin começar a descer a escadaria. Sam ficou aliviado, agora era só esperar um pouco para voltar ao quarto de Jade…e pegar suas coisas para ir embora daquele lugar.

Se passaram poucos minutos para que Sam conseguisse se recompor, estava praticamente encharcado de suor. Ele se levantou do chão do banheiro e saiu para o corredor, tentando respirar normalmente. Mas uma voz cortante o surpreendeu, fazendo seu corpo paralisar:

– É errado espiar as conversas dos outros, rapaz. – disse o mordomo, encostado na parede do corredor, os olhos intactos sobre Sam.

 

Harry

 

A mãe de Harry havia conseguido tirar o filho do quarto finalmente. Ela estava tirando a noite de folga e os dois pediram uma pizza para comerem com vinho, enquanto assistiam uma série na televisão. Harry adorava aqueles momentos, apesar de estar se sentindo um lixo. Mas ele estava se esforçando o máximo para não estragar a noite de folga da mãe.

– Não quero que você beba na rua. – disse a mãe. – Mas um pouquinho de vinho com sua mãe não vai te matar. – ela entregou a taça ao filho.

– Esses vinhos secos são péssimos, mãe. – Harry provou e fez uma careta.

– Você se acostuma. Agora, vamos, aperte o play. – ela apontou para a televisão.

Estava tudo ótimo, o vinho, a pizza, o tempo com sua mãe. Tudo aquilo fazia Harry se esquecer do dia péssimo que tivera, e também não queria conversar sobre o que estava acontecendo para sua mãe. Ela, aliás, depois de comer a pizza e beber uma boa quantidade de vinho, acabou dormindo no sofá. Harry se levantou para pegar um cobertor para ela, quando seu celular recebeu uma notificação.

Ele sorriu, provavelmente seria Mason lhe dando alguma palavra de boa noite. Ele até se sentia aliviado, mas por pouco tempo. Não era a mensagem que ele esperava.

 

SENTIRAM A MINHA FALTA?

VOCÊS SÃO CEGOS? COMO PODEM SER TÃO BURROS? AS RESPOSTAS ESTÃO NA CARA DE VOCÊS, O QUE ESTÃO ESPERANDO?

UM POUCO ÓBVIO DEMAIS, NÃO?

OK, VAMOS LÁ. MINHA MISSÃO AQUI É EXPOR ALGUNS FATOS QUE VOCÊS NÃO CONSEGUEM ENXERGAR. OU APENAS FINGEM QUE NÃO ENXERGAM.

BRIDGIT TRAIU MICHAEL NA NOITE DO BAILE DE BOAS VINDAS? SIM.

COM QUEM? COM SEU EX NAMORADO, HARRY COOPER? É CLARO!

POXA HARRY, AQUELA NOITE FOI UMA NOITE E TANTA!

JÁ CONTOU AOS SEUS AMIGOS QUE TAMBÉM FICOU COM MASON CARTER?

NÃO? POXA, ME DESCULPE! ACHO QUE ELES ACABARAM DE DESCOBRIR!

 

ASSUMA AS SUAS MERDAS, HARRY COOPER.

 

Ele não conseguia pensar direito. Sua visão estava turva, parecia que ia desmaiar a qualquer momento. Queria sair dali e correr para algum lugar distante. A escuridão agora o engolia por inteiro, uma mistura de ódio com horror fervia em seu peito.

Harry só percebeu que estava fora de casa quando as luzes dos postes da vizinhança pareciam extremamente estouradas em sua vista. Ele estava correndo, mas não sabia para onde. Estava se deixando levar. Suas pernas agiam no automático, como uma máquina.

Estava no metrô, reconhecia a luz fraca do vagão, agora vazio por causa do horário. Harry respirava com dificuldade, a cabeça latejando. Quando a voz anunciou que estava parando na estação, suas pernas o levaram até a superfície.

Agora estava em rua enfumaçada e muito escura, já não conseguia ver muita coisa. Mas ouvia uma sirene, pelo menos ele achava que era uma sirene. Correndo ainda mais, ele viu de onde vinha o som.

As lágrimas finalmente rolaram pelo seu rosto.

Harry estava na frente da casa de Mason. Agora conseguia ver a ambulância parada no meio fio ao lado da casa, e uma movimentação de pessoas ao seu redor. Ele queria ver o rosto de Mason, mas não conseguia achá-lo.

– Mason – Harry murmurou.

As pessoas ao redor da ambulância olharam para o garoto, ele repetiu o nome de Mason. Mais uma vez. E outra. Onde ele estava? Uma sombra surgiu na sua frente de repente.

Harry sorriu ao sentir seu calor, sua respiração sobre seu pescoço. Mas Mason não parecia feliz em encontra-lo, Harry sentiu as lágrimas caírem e molharem seu moletom.

– Mason…- Harry disse, colocando as mãos ao redor de suas costas.

– Não…não fale nada, por favor. – Mason sussurrou.

Os dois estavam juntos, entrelaçados em um abraço, em silêncio. Enquanto os socorristas levavam um corpo imóvel até o interior da ambulância. O corpo da mãe de Mason.

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