Olá, leitor(a)! O Observatório da Escrita está no ar e traz de volta um quadro clássico. Curioso(a)? Vamos em frente!

 


 

Hoje vou comentar sobre alguns deslizes gramaticais que tenho visto não só nas redações do ENEM como também em textos do Mundo Virtual e do Wattpad. Vários deles nem são tão óbvios, mas podem causar olhares espantosos em quem lê.

 

1 – “VAMOS FALAR SOBRE.

Sobre o quê, afinal?

Na língua inglesa, é comum que preposições venham isoladas no final da frase. Exemplo: What are you talking about? No português, porém, esse fenômeno não existe. Toda preposição exige um complemento e não pode ficar sozinha. Se usar o sobre, complemente-o. Exemplo: “Vamos falar sobre isso.”.

Do mesmo jeito, não são possíveis construções como “Comprei este livro para.” ou “Ela mora em.”. Ficam incompletas, não é mesmo?

 

2 – CRASE ANTES DE VERBO

A crase, no principal caso, ocorre a partir da contração da preposição a (= para) com o artigo definido a. Assim, é usada antes de substantivos femininos que pedem esse artigo. Por exemplo: “Vou à praia.” = Vou ‘a a’ praia. = “Vou para a praia.” Se a substituição do “à” por “para a” for possível, a crase fica presente.

Contudo, antes de verbos, o acento grave não pode aparecer. O motivo é que nenhum verbo pode vir precedido do artigo feminino. Exemplo: “A partir de hoje, os portões serão abertos às 7h.”.

 

3 – REPETECO

Redundância é o vício de linguagem conhecido pela repetição de uma mesma ideia em mais de uma palavra. Por exemplo: “subir para cima”. É óbvio que quem vai para cima está subindo. Prefira “subir” ou “ir para cima”. Fica mais fluido. Outros: “erradicar pela raiz”, “teclar pelo teclado”, “surpresa inesperada”, “morte fatal”, “multidão de pessoas”.

 

4 – ATRÁS, ATRAZ, TRÁS E TRAZ

Atrás e trás têm sentido de algo traseiro: “O queijo está atrás do presunto.”, “Empurraram o carrinho para trás.”.

Traz vem do verbo trazer e nunca se confunde com trás. Uma frase: “Ele traz um livro para mim.”.

Atraz não existe.

 

5 – NADA HAVER

A forma correta é nada a ver, assim como a expressão similar tudo a ver.

Este tema não tem nada haver comigo. (incorreto)
Este tema não tem
nada a ver comigo.
Rebeca tem
tudo haver comigo. (incorreto)
Rebeca tem
tudo a ver comigo.

 

6 – DECAPITARAM O SUJEITO

É o que acontece quando separamos o sujeito do predicado com uma vírgula. Nunca faça isso, mesmo que o sujeito seja uma oração.

Thelma, furou as camisinhas do Danilo. (incorreto)
Thelma furou as camisinhas do Danilo.
Simone, ama Cristiano. (incorreto)
Simone ama Cristiano.
Quem ama, não mata. (incorreto)
Quem ama não mata.

Para confundir ainda mais a situação, tem o vocativo (chamamento), e este exige a presença da vírgula. Veja:

Júlia começou a chover. (gramatical, mas sem sentido)
Júlia, começou a chover. (falei algo para a Júlia)

Como saber quando usar a vírgula ou não? Se for chamamento, use-a; se for sujeito da ação ou de um estado, omita-a.

 

7 – VOÇÊ

Antes das vogais E e I, nunca se usa a cedilha. Por isso, a forma correta é você.

 

8 – AFIM OU A FIM?

Afim: em comum, que tem afinidade. Por exemplo: “Aquelas antologias têm um tema afim.

A fim: com intenção ou objetivo de alguma coisa, com simpatia ou atração por algo ou alguém: “Carmen Sanchez estaria a fim do Capitão Dan?”, “Estou a fim de ficar em casa.”.

 

9 – OBRIGADO OU OBRIGADA?

Eles devem dizer “obrigado”, e elas devem dizer “obrigada”, não importa a quem agradecem. A palavra concorda com quem fala, ou seja, com o sujeito.

Lembrando que na linguagem não binária existem formas como “obrigade”, “obrigadx” e afins de uso corrente, embora não estejam oficializados na gramática normativa atual. Portanto, evitem esses formatos em documentos e provas como o ENEM, pelo menos por enquanto. Houve milhares de redações zeradas por esse motivo.

 

10 – HOUVERAM

O verbo haver, no sentido de existir ou de tempo, é sempre conjugado na terceira pessoa do singular, em qualquer tempo e modo. O mesmo vale para locuções com esse verbo.

Houveram mais de três mil mortes por COVID no Brasil ontem. (incorreto)
Houve mais de três mil mortes por COVID no Brasil ontem.
Devem haver uns seis meses que ela voltou de Paris. (incorreto)
Deve haver uns seis meses que ela voltou de Paris.

 

11 – COVID E CORONAVÍRUS

COVID: é uma doença, então faz parte do gênero gramatical feminino;
CORONAVÍRUS: é um vírus, como diz o nome, então o gênero é masculino.

A COVID é causada pelo coronavírus.

 

12 – DÊS DE

Não existe. As formas corretas são desde e o erudito dês, que têm o mesmo significado.

O site está fora do ar dês de ontem. (incorreto)
O site está fora do ar
desde ontem.
O site está fora do ar
dês ontem.

Dês também é a flexão do verbo dar na 2ª pessoa do singular no presente do subjuntivo.

É importante que dês um presente para sua noiva.

 

Nos próximos programas, mostrarei outros vícios muito comuns na literatura virtual e nos textos em geral.

 


 

A votação para a próxima resenha está encerrada, e as obras vencedoras são Atos Subversivos e Nós & Ela.

A série de Wagner Jales virá na resenha da próxima semana, enquanto o conto de Cristina Ravela fica para o dia 18. Portanto não teremos enquete nesta semana.

 


O Observatório da Escrita fica por aqui. Tenha uma ótima semana com muita saúde e, claro, leituras. Até lá!

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