EM TEMPOS DE PANDEMIA.

“Como foi seu dia?”

Vítor Rodrigues.

 

 

Personagens:

 

Jonas – 17 anos. Ele é um jovem que vive com a mãe. Um pouco mimado. Desde que começou a pandemia ele tem atitudes contraditórias com o que os profissionais da saúde pedem.

Maria – 39 anos. Uma mulher dedicada, e que tenta ser justa em tudo. Ela está tentando de tudo fazer com que seu filho, Jonas, tome juízo. Ela é completamente apaixonada pelo filho.

Giovanna – 17 anos – Namorada de Jonas. Ela vive com a avó já de idade. Ela faz de tudo para proteger a avó, que corre risco, por ser de idade.

Guilherme – 17 anos – Melhor amigo de Jonas. Ele não tem preocupações com a vida e responsabilidade. Ele só quer se divertir.

Bruno – 30 anos – Vizinho de Maria, ele é um jovem e dedicado médico.

 

 

 

Minas Gerais/ Itaúna.

Cena 1/ Itaúna/ Tarde.

Apartamento de Maria.

Maria caminha do corredor para a sala segurando seu tapete de meditação. Ela se senta em frente à sua enorme janela onde a luz do sol entrava e deixava a sala iluminada e acolhedora. Ela coloca o tapete no chão e senta cruzando as pernas uma em cima da outra. Faz a posição das mãos para meditar e fecha os olhos.

Jonas entra em casa estressado e joga a mochila no sofá assustando Maria.

Maria: Como foi seu dia, filho?

Jonas: Um saco. Vão fechar a escola também. Tudo por causa dessa doença. Malditos chineses.

Maria: Eu não gosto dessa ideia de fecharem as escolas, mas já você? Eu achei que ia gostar. Sempre é um custo te fazer ir pra escola.

Jonas: Eu detesto mesmo. Mas isso só vai atrapalhar eu me formar. Que ódio. Não sei como você consegue ficar aí, assim. Querendo meditar.

Maria: Meditar me ajuda a acalmar, a ficar focada. Você devia tentar.

Jonas: Obrigado. Mas não acredito nessas bobagens. A loja fechou também?

Maria: Sim. Pelo decreto vamos ficar fechados por 15 dias.

Jonas: Espero que passe logo tudo isso.

Maria: Eu também. Mas pelo menos vamos poder fazer aquele piquenique que eu tanto quero.

Jonas: Tô fora. Que coisa mais sem graça, mãe. Piquenique. Chamei a Giovanna pra jantar com a gente hoje.

Maria: Que bom. Adoro ela. Espero que dessa vez esse namoro dê certo. Você não para com ninguém.

Jonas: Não começa, mãe.

Jonas vai pro quarto e Maria tenta voltar a sua meditação.

Cena 2/ Itaúna/ Noite.

Apartamento de Maria.

Na sala, sentada em frente à TV, Maria assiste ao jornal.

Voz do repórter: O estado de São Paulo confirmou na manhã de hoje a primeira morte pelo novo covid vírus no país. Três semanas depois do registro do primeiro caso. São Paulo tem o maior número de casos de covid confirmado no Brasil. Até ontem eram 152 casos confirmados e em todo o país são 232.

Maria: Misericórdia. Espero que as coisas não piorem.

Jonas entra na sala de TV.

Jonas: Mesa está servida. Vamos jantar?

Cena 3/ Itaúna/ Noite.

Apartamento de Maria.

Sentados à mesa do jantar, Maria, Jonas e Giovanna jantam.

Giovanna: Esse macarrão está uma delícia. Você cozinha muito bem. Já pode abrir um restaurante.

Maria: Obrigado. Jonas não gosta muito. Diz que atrapalha a dieta dele.

Jonas: Mas é verdade. Eu estou comendo hoje porque a Gi está aqui.

Maria: Que absurdo.

Jonas: Absurdo foi a senhora deixar a gente aqui arrumando tudo enquanto você estava assistindo TV.

Maria: Me desculpe, Giovanna. Eu estava assistindo o jornal. Morreu a primeira pessoa de covid. Eu estou tão assustada. Era um Vírus que estava do outro lado do mundo. E agora está aqui perto.

Giovanna: Não se preocupe, Maria. Eu assisti uma notícia dessas mais cedo também. Era um homem de São Paulo, né? Eu também estou preocupada. Eu moro com minha avó. Ela está no grupo de risco. Eu tô ouvindo tudo pra poder protegê-la.

Jonas: Não é pra isso tudo gente. Foi um caso isolado.

Giovanna: Não foi. O Brasil está com mais de 200 casos confirmados.

Jonas: Perto de toda a população brasileira é pouco. Mas o jeito que vocês falam eu tô ficando assustado já. Não vamos falar de coisa ruim. Não quero estragar o jantar com essas coisas.

Maria: Você tem razão. Culpa minha, desculpa.

Cena 4/ Itaúna/ Noite.

Apartamento de Maria.

Na sala, Jonas e Giovanna namoram sentados no sofá. A sala está com pouca iluminação, apenas um abajur aceso no canto da sala. Giovanna com as pernas em cima das pernas de Jonas. Eles se beijam.

As luzes da sala acendem e os dois se afastam no susto, e olham para o lado e veem Maria.

Maria: Desculpe atrapalhar. Juro que não foi a intenção. Eu só vim buscar meu celular que eu tinha esquecido aqui.

Maria pega o celular sobre a mesa de centro.

Maria: Você vai dormir aqui hoje?

Jonas: Mãe…

Giovanna: Não, eu já estou indo pra casa. Está tarde já.

Maria: Se quiser dormir. Não tem problema. Só avise sua avó. Eu vou me deitar. Boa noite.

Maria vai para o quarto.

Jonas: Minha mãe tem razão. Está tarde. Por que você fica e dorme aqui?

Giovanna: Está louco? Essa foi a deixa que era pra eu ir para casa.

Jonas: Nada disso. Minha mãe é super tranquila com essas coisas. Se quiser dormir aqui não tem problema nenhum. Muito pelo contrário, eu vou adorar.

Giovanna: Eu também ia. Mas eu não quero preocupar minha avó. Eu também tô preocupado com ela. Ela já é senhora.

Jonas: Não fica pensando besteira. Não vai acontecer nada com sua avó. Eu prometo isso

Giovanna: Você não pode prometer isso. Mas obrigado por tentar me tranquilizar. Eu já vou indo.

Jonas: Eu te levo. Não vou deixar você ir pra casa sozinha.

Giovanna: Eu chamo um carro no aplicativo. Não precisa me levar.

Jonas: Claro que não. Eu te levo. O carro da minha mãe está aí.

Giovanna: Você não tem habilitação.

Jonas: A polícia não vai nos parar nesse horário. Vamos?

Cena 4/ Itaúna/ Manhã.

Apartamento de Maria.

Na sala, Jonas chega à sala vestido de pijama e deita no sofá mexendo no celular.

Maria entra em casa com algumas sacolas de compra na mão. Ela leva todas para a mesa.

Jonas indo atrás de Maria: Trouxe algo gostoso?

Maria: Não mexe ainda. Eu tenho que limpar.

Jonas: Você tá limpando as coisas já tem uns 20 dias. Não precisa disso mais.

Maria: Claro que precisa. Você não viu as recomendações dá OMS.

Jonas: Acho exagero.

Maria: Mas não é. E eu comprei mais máscaras pra você. Não estou vendo você usar.

Jonas: Eu não aguento. Fica me sufocando.

Maria: Me incomoda também. Mas é preciso. Comprei mais álcool gel, esse vai ficar perto da porta. Quando sair, passa álcool. Quando chegar passa o álcool.

Jonas: Tá bom, mãe.

Maria: Você podia ir trocar de roupa. Já são quase meio dia. Você assistiu a aula hoje? Desde que começou o EAD você deve ter assistido 5 aulas no máximo.

Jonas: Não acordei a tempo. Mas está salva, mais tarde eu assisto.

Maria: Você vai fazer isso a quarentena inteira?

Jonas: Funcionou por dois meses. Pode funcionar o resto.

Maria: Você podia aproveitar esse tempo que temos que ficar em isolamento para estudar algo novo. Inglês, artes, qualquer coisa. Ao invés de ficar dormindo o dia inteiro.

Jonas caminhando pro quarto: Tô de férias, mãe.

Maria: Isso não é férias. É uma pandemia.

Cena 5/ Itaúna/ Tarde.

Calçada.

Na calçada, Jonas com a máscara pendurada no queixo, corre com Guilherme do lado.

Sentados no banco da praça, Guilherme e Jonas conversam.

Jonas: Ela me obriga a usar máscara para ir pôr o lixo na rua. Você acredita?

Guilherme: Sério? Cara, que mico.

Jonas: Mas é necessário, né. Os casos só aumentam. Já estamos com quase mil mortos. Foi muito rápido.

Guilherme: Os que estão morrendo são os velhos. Ou quem já tem problema. Esses que tem que ficar passando álcool. Usando máscaras e ficando em casa. A gente é novo. Treina. No máximo se a gente pegar vai ser como se fosse gripe.

Jonas: Sei não. Minha mãe já me pôs medo. Eu acho exagero o que ela faz, mas não me arrisco a não fazer também.

Guilherme: Se ficar assistindo esses jornais que adoram colocar medo nas pessoas, você fica assim mesmo. Eu não confio não. Acho que eles gostam de pôr o terror. E outra, o presidente já disse que é só uma gripezinha. Ele é o presidente, é lógico que ele estudou para falar as coisas. Ele tem uma equipe boa em volta dele. Se fosse tão grave assim, ele não falaria isso.

Jonas: Será?

Guilherme: Vai por mim. Isso tudo é a indústria do terror querendo por medo na gente. Eu não estou de máscara. Não acredito nesse terror. Agora bora correr. O descanso acabou.

Cena 6/ Itaúna/ Tarde.

Apartamento de Maria.

Na sala, Jonas e Giovanna entram no apartamento e veem Maria falando ao telefone. Giovanna pega o álcool gel na estante e passa nas mãos, enquanto Jonas observa Maria conversar.

Maria: Eu sei que está atrasado. Mas não estou trabalhando. Não dá pra vender as coisas com a loja fechada. Eu sei que eu estou funcionando por mensagens, mas não é a mesma coisa. Eu preciso de mais tempo. Eu não o dinheiro do aluguel. Me deixa te pagar mês que vem? Eu pago dois meses de uma vez… Pensa e mais tarde a gente conversa.

Jonas: Quem era? O que aconteceu?

Maria: O dono do cômodo da loja querendo o dinheiro do aluguel. Você já passou álcool nas mãos? Aposto que não. Vai passar. Você estava na rua.

Jonas pega o vídeo de álcool gel e despeja na mão.

Giovanna: Você acha que ele vai deixar você pagar mês que vem?

Maria: Espero que sim. Porque eu não tenho esse dinheiro. A loja não vende bem apenas com vendas online.

Jonas: E toda hora tem um decreto novo. Fecham as lojas, abrem as lojas, fecham de novo. Não tem como conseguir vender. Ainda mais produtos de meditação. Eu queria tanto te ajudar, mas não estão contratando por causa dessa maldita pandemia. Estão demitindo.

Giovanna: Verdade. Um vizinho foi demitido depois de 14 anos na empresa.

Jonas: O mundo tá de cabeça pra baixo.

Giovanna: Você precisa se reinventar, Maria. Usar a internet a seu favor.

Maria: Eu não sei usar a internet direito. O Jonas não tem paciência pra me ensinar.

Jonas: Que mentira, mãe.

Giovanna: Por que você não faz vídeos ajudando as pessoas a meditar e relaxar? Você não disse que isso te ajuda a não pirar? Deve ajudar outras pessoas também.

Maria: Eu não sei fazer isso.

Giovanna: Aprende. Eu posso te ajudar.

Jonas: Você quer que minha mãe vire blogueira?

Jonas dispara a rir.

Giovanna: Não sei se pode chamar de blogueira. Mas ela pode fazer vídeos e conseguir público para vender os produtos da loja. Quem sabe ela consegue publicidade de marcas famosas.

Maria: Eu não sei fazer isso. Definitivamente.

Jonas: Eu tenho que ver isso. Minha mãe falando ” oi meus amores, os recebidos de hoje”.

Giovanna: Pára de debochar da sua mãe. Isso é sério.

Maria: Obrigado, Gi. Mas eu não consigo fazer isso.

Cena 7/ Itaúna/ Noite.

Apartamento de Maria.

No quarto, Jonas deitado na cama observa Giovanna passando creme em frente ao espelho.

Giovanna: Amanhã sou eu quem vou ficar com a minha vó.

Jonas: Ela está melhor?

Giovanna: Está na medida do possível. Ela reclama todo dia que não pode sair. Você acredita que ela estava tentando pular o portão.

Jonas ri.

Giovanna: Uma senhora de quase 70 anos querendo pular um portão para sair pra rua. Ainda bem que o Felipe estava lá.

Jonas: Quem é Felipe?

Giovanna: Meu primo. Estamos revezando em quem fica com ela. Pra ela não ter que sair. Amanhã eu vou pra lá.

Jonas: Tem que ter cuidado com ela mesmo. Ela é do grupo de risco.

Giovana deita sobre o peito de Jonas: Amor, posso te pedir uma coisa?

Jonas: Claro. Pode falar.

Giovana: Toma cuidado.

Jonas: Como assim?

Giovanna: Você não toma muito cuidado com as coisas. Sempre esquece a máscara. Não usa direito. Quase não passa álcool gel nas mãos. Começa a fazer mais essas coisas.

Jonas: Eu esqueço. Não é por querer. Mas eu não sou grupo de risco. Não precisa se preocupar comigo. Eu aguento as coisas numa boa. Tenho histórico de atleta.

Giovanna: Eu sei que você não é do grupo de risco. Mas minha avó é.

Jonas: É só não deixar ela sair.

Giovanna: Já não deixamos, Jonas. Mas se caso você se contamine e me passe o vírus eu posso passar pra ela. Mesmo que não seja intencionalmente. Mas isso pode acontecer.

Jonas: Não vou pegar, pode ficar tranquila.

Giovanna: Tomara. Mas você pode tomar mais cuidado? Você pode fazer isso por mim?

Jonas: Claro.

Os dois se beijam.

Cena 9/ Itaúna/ Manhã.

Apartamento de Maria.

No banheiro, em frente ao espelho, Jonas escova os dentes, ele ouve uma notificação tocando no celular que está em cima da cama. Jonas vai até a cama, pega o celular e ouve o áudio de Guilherme.

Voz de Guilherme: Fala Jonas, tudo bem? Vamos aproveitar que a prefeitura abriu tudo e vamos tirar o atraso na pelada. Já marquei com geral aqui. Falta só você pra confirmar.

Jonas pega o celular e manda um áudio: Tudo bem, Gui. Eu acho que não vai dar pra eu ir não. Ainda tá cedo pra gente juntar assim. Geral tá pegando o covid. Eu vou ficar em casa mesmo. Valeu.

Jonas volta para o banheiro e termina de escovar os dentes, ele volta pro quarto e ouve outra notificação.

Voz de Guilherme: Tá de zuação com a minha cara? Só pode. Relaxa que não dá nada pra nós não. Já te expliquei, grupo de risco que morre. Os velhinhos. Esses tão tudo em casa. Fica sussa. Tô passando aí pra gente ir jogar essa pelada. Sabadão desse, uma lua dessa…

Cena 10/ Itaúna/ Manhã.

Apartamento de Maria.

Na cozinha, Maria bate um bolo e vê Jonas passando em direção a sala com uma mochila nas costas. Ela vai até ele.

Maria: Você vai sair?

Jonas: Vou. Vou jogar bola. O dia está muito bonito pra ficarmos em casa.

Maria: Meu filho, o tanto de morte que está tendo. Você não está assistindo jornal?

Jonas: Não. Esses jornais só servem para amedrontar a gente. A senhora não percebeu isso? E também, a prefeitura reabriu tudo. Sinal que está melhorando.

Maria: Eu não fico tranquilo com você saindo assim não. Atoa. Fica aqui em casa. Tô fazendo um bolo de chocolate que você gosta. Obedece à sua mãe.

Jonas: Relaxa, dona Maria. Não vai acontecer nada de ruim.

Maria: Então espera.

Maria vai até o quarto e volta com um frasco de álcool gel e uma máscara e entrega a Jonas.

Jonas: Vou usar isso não, mãe. Me sufoca. Não consigo.

Maria: Vai sim. Você tem que se proteger. Vai usar a máscara e vai passear o álcool.

Jonas: Que saco. Não adianta ficar nessa frescura. Todo mundo vai pegar. Só assim as coisas vão se resolver. A gente pega e cria anticorpos.

Maria: Misericórdia, não vamos pegar. Porque você vai usar o álcool e a máscara. Igual eu estou fazendo sempre que eu saio.

Jonas: Qualquer coisa tem a Cloroquina. É só tomar.

Maria: Não tem eficiência contra a covid. Você deveria assistir mais ao jornal comigo. Ao invés de ficar criticando.

Jonas: Eu acredito mais na cloroquina do que na máscara. Tô saindo. Beijo.

Maria: Usa a máscara.

Jonas: Vou pensar.

Maria: Por favor. Pela sua mãe.

Jonas: Tá bom mãe.

Jonas coloca a máscara no rosto e sai do apartamento. No caminho até o elevador ele tira a máscara.

Cena 11/ Itaúna/ Manhã.

Quadra de futsal.

Na quadra, Guilherme e Jonas jogam futebol com mais alguns amigos.

Sentados na quadra, eles conversam.

Guilherme: Esse tempão todo parado. Fiquei até cansado.

Jonas: Fala não. Tô me sentindo um senhor de 70 anos com asma.

Guilherme: Mas você nunca foi bom também.

Jonas: Quem fez os dois gols foi eu.

Amigo 1: E mesmo assim perderam.

Guilherme: Podia aproveitar que estamos aqui mesmo e irmos tomar uma cerveja. Animam?

Amigo 2: Eu vou pular fora. Aglomerar num bar é arriscado.

Guilherme: Aqui na quadra pode? Qual a diferença?

Amigo 2: Eu sei que também é errado. Mas pra mim tem uma grande diferença, a gente aqui jogando uma bola e indo pro bar beber. Eu confio em você. Acredito que tão se cuidando. Agora no bar. Gente estranha pra todo lado. Eu tô fora.

Amigo 1: Eu também não vou animar ir pro bar não. Arriscado demais.

Guilherme: Amarelaram mesmo. Tu também vai amarelar, Jonas?

Cena 12/ Itaúna/ Tarde.

Bar.

Sentado na mesa do bar, Guilherme e Jonas, junto com mais 5 amigos, brindam com os copos de cerveja e bebem.

Guilherme: Uma gelada é uma gelada. Não é não?

Jonas olha em volta e percebe que o bar está cheio.

Guilherme: Tá preocupado? Põe a máscara e passa o álcool.

Jonas: Tá me tirando? Eu não vou passar essa vergonha aqui no bar.

Guilherme: Então relaxa. Tá comigo, tá com Deus.

Cena 13/ Itaúna/ Tarde.

Apartamento de Maria.

Na sala, Maria sentada no tapete faz exercícios de respiração, enquanto Giovanna do outro lado do tapete, filma.

Maria: Vamos puxando o ar fundo. O máximo que conseguimos e depois soltamos com calma. Devagar. E repete o exercício. Respira, solta o ar.

Giovanna: Você é muito boa nisso. Você transmite paz e leveza. Eu tô mais relaxada só de ver você fazendo. Eu vou fazer depois.

Maria: Eu posso te responder? Não atrapalhar o vídeo?

Giovanna: Eu edito depois. Pode ficar tranquila.

Maria: Eu acho que você devia fazer mesmo. Vai te ajudar muito. Todo mundo tá ficando louco com essa pandemia. Ninguém aguenta mais.

Giovanna: Acho que você já pode encerrar o vídeo. Pra não ficar muito grande.

Maria: Como eu faço isso?

Giovanna: Não sei. Agradece, dá tchau. Improvisa.

Maria: Eu vou ficar por aqui hoje. Obrigado a todos. Um beijo – Maria dá uma pausa – Ficou bom?

Jonas entra em casa e vê que Giovanna está filmando Maria.

Jonas: Eu não acredito que você levou a sério essa história de fazer canal no YouTube.

Giovanna: Sua mãe foi muito bem. Vai fazer sucesso.

Jonas: E depois vai fazer as dancinhas também?

Maria: Tem que dançar? Eu não sei dançar não. Não vou dançar não, Giovanna.

Giovanna: Não precisa dançar, Maria.

Giovanna se aproxima de Jonas.

Giovanna: Você está cheirando a cerveja. Não acredito que você saiu pra beber. O tanto que eu te pedi pra tomar cuidado. Eu tenho certeza que nem a máscara você usou. Claro que não usou, você chegou aqui sem ela.

Jonas: Eu não tô entendendo o motivo desse show todo. Eu só fui jogar bola com o Guilherme e nós bebemos duas cervejas. Não tem nada demais nisso.

Giovanna: Claro que tem. A gente está em uma pandemia. Tem tudo demais nisso.

Jonas: Eu não sou grupo de risco.

Giovanna: Mas a minha avó é do grupo de risco. Eu te pedi pra não se arriscar por causa da minha avó. Você se lembra? Você disse que ia tomar cuidado. Mas pelo visto…

Jonas: Todo mundo vai pegar, meu bem. E infelizmente alguns vão morrer. Mas faz parte da vida.

Maria: Jonas…

Giovanna: Me faz um favor, me esquece.

Giovanna pega a bolsa e a câmera e sai do apartamento.

Maria vai até Jonas.

Maria: Meu filho, eu não acredito que você disse isso.

Jonas: Não enche também, mãe. Tô cansado dessas suas frescuras.

Jonas vai para o quarto e bate à porta.

Cena 14/ Itaúna/ Noite.

Apartamento de Maria.

Na cozinha, Maria sentada em frente ao balcão, ela bebe chá na caneca enquanto lê um livro. Jonas entra na cozinha, vai até a geladeira e pega água. Ele e Maria se olham.

Jonas: Eu sei o que você vai me dizer e eu sei muito bem que eu estou errado.

Maria: Que bom que você sabe que está errado. Duas vezes errado. Por ir ao bar e por falar daquele jeito com a Giovanna. Coitada da menina. Preocupada com a avó e você dizendo que todo mundo vai morrer. Você tem que parar de minimizar essa doença. Todos nós corremos risco.

Jonas: Sem sermão, mãe. Eu já estendi. Eu estou errado. Mas você podia me ajudar.

Maria: Eu não. Não me envolve nessa. Liga pra ela e pede desculpas. É tudo com você.

Jonas: Ela não me atende. Eu já tentei um monte de vezes. Não quer falar comigo.

Maria: Não tiro a razão dela. Bom pra você aprender.

Jonas: Tá do lado de quem?

Maria: Do lado dela.

Maria se levanta e vai pra sala, Jonas vai atrás.

Jonas: Por favor, mãe.

Maria se senta no sofá e Jonas senta no braço do sofá.

Jonas: Ela te adora. Eu tenho certeza que ela vai te ouvir. Por favor. Eu juro que eu não apronto mais. Uso máscara e álcool gel sempre e sem reclamar.

Maria: Eu vou falar com ela. Mas você vai ter que cumprir o combinado. Máscara e álcool.

Jonas: Juro de mindinho.

Jonas e Maria cruzam seus mindinhos um no outro.

Cena 15/ Itaúna/ Tarde.

Calçada do prédio de Giovanna.

Na calçada do prédio, Giovanna e Maria, usando máscara, conversam.

Giovanna: Eu acho um absurdo ele pedir a senhora pra vir aqui. Nem pra se desculpar ele vira homem.

Maria: Ele me disse que tentou te ligar a tarde inteira. Mas você não atendeu.

Giovanna: E nem vou. A senhora ouviu o absurdo que ele falou. Eu preocupada com minha avó, não sou obrigada a ouvir esse tipo de coisa.

Maria: Eu sei minha querida. E eu concordo com vc em tudo. É muito absurdo o que ele disse. Eu briguei com ele também. Conversamos bastante, eu acredito que ele se arrependeu do que ele disse. Ele gosta de você, Giovanna.

Giovanna: Também gosto do seu filho. Mas eu não confio mais. Ele não se protege. Eu tenho medo de estar com ele e acabar levando o vírus pra minha avó por descuidos dele.

Maria: Pois ele me prometeu que se eu viesse conversar com você, ele vai começar a usar máscara e álcool. E sem reclamar. Acho que ele está tentando mudar. Talvez você devesse dar uma chancezinha pra ele.

Giovanna: Você acha mesmo que ele merece?

Maria: Não. Merecer ele não merece. Mas é meu filho. Eu odeio ver ele triste.

Giovanna: Não me leve a mal, Maria. Mas eu vou entrar. Eu preciso cuidar da minha avó.

Maria: Claro. Eu que peço desculpas por vim te incomodar. Mas o que eu falo pro Jonas?

Giovanna: Que eu vou pensar.

Giovanna entra no prédio.

Cena 16/ Itauna/ Noite.

Prédio de Maria.

Saindo do elevador, Maria encontra com Bruno. Os dois de máscara.

Bruno: Boa noite.

Maria: Boa noite. Indo pro plantão.

Bruna: Sim. O hospital está uma loucura. Lotado.

Maria: Mesmo? A gente sempre ouve falar que tá cheio. Mas eu achava que era pra amedrontar o povo. Porque ninguém respeita as normas de segurança. Teve festa no andar de baixo ontem. Você ouviu?

Bruno: Ouvi sim. No apartamento da Cintia. Mas denunciaram ela pra síndica. Vai pagar até uma multa.

Maria: Bem feito.

Bruno: Ninguém tá respeitando, Maria. E o hospital está cheio sim. Os leitos praticamente todos estão cheios. Só Deus. Deixa eu ir antes que me atrase.

Maria: Bom trabalho.

Bruno entra no elevador e Maria vai para o seu apartamento.

Cena 17/ Itaúna/ Noite.

Apartamento de Maria.

Deitado no sofá, Jonas assiste vídeos pelo celular. Maria entra em casa e tira a máscara.

Jonas levanta: Como foi?

Maria: Está muito magoada com você. Com razão também.

Jonas: Não adiantou de nada então. Droga.

Maria: Isso se chama consequência. Você fez besteira e tá pagando por isso.

Jonas: Eu sei, mãe. Mas eu me arrependi de verdade. Eu gosto dela. Tá sendo muito difícil ficar brigado.

Maria: Para de show. Não tem nem uma semana que vocês brigaram. Ela precisa de um tempo. Ficar em cima agora não vai adiantar.

Jonas: Eu vou tentar ligar pra ela.

Maria: Não liga agora. Ela pediu um tempo. Respeita esse tempo dela. Se ela sentir que pode confiar em você, ela vai te procurar.

Cena 18/ Itaúna/ Manhã.

Calçada do prédio de Giovanna.

Giovanna sai do prédio e vê Jonas de máscara no rosto e com um buquê de flores nas mãos. Ela vai até ele.

Jonas: Eu sei que você pediu um tempo pra pensar. Mas eu não tô conseguindo ficar longe de você. Eu tô fazendo tudo direitinho dessa vez. Tô de máscara. Tem álcool aqui no meu bolso.

Giovanna: Eu ainda tô chateada com você. Eu te pedi tanto pra não se arriscar e na primeira oportunidade você foi para o bar.

Jonas: Porque eu sou burro. Mas eu prometo que não vou mais fazer isso. Eu fui seguir a cabeça do Guilherme e acabei me ferrando.

Giovanna: Não põe a culpa no Guilherme. Você foi porque você quis.

Jonas: Eu sei. Mas quando ele fala com a gente parece que ele entra dentro da cabeça e quando eu vou perceber eu já estou fazendo o que eu não queria.

Giovanna: Eu não vou mentir pra você. Eu estou com saudades também. Mas eu perdi a confiança em você.

Jonas: Justo. Eu fiz por merecer isso. Mas eu juro que vou recuperar a sua confiança de novo. Você só precisa me dar só mais uma chance. A última. Eu sou um novo homem.

Giovanna: Tá bom. Mas é a última chance que eu dou.

Jonas: Não vai precisar de outra.

Os dois se beijam, Giovanna pega o buquê de flores.

Cena 19/ Itaúna/ Manhã.

Alguns dias depois.

Apartamento de Maria.

No quarto, Jonas termina de se trocar e Maria entra no quarto toda animada.

Jonas: Que animação toda é essa? Ganhou na loteria?

Maria: Muito melhor. Acabou de anunciar que a vacina foi aprovada. Graças a Deus essa vacina saiu. Obrigado Meu Deus.

Jonas: Eu preferia ter ganhado na loteria.

Maria: Eu só conseguia pensar nessa vacina. Espero que consigam vacinar todo mundo rápido.

Jonas: Todo mundo eles não vão vacinar. Eu não vou tomar.

Giovanna: Que conversa é essa de não vai vacinar. Claro que vai. Todo mundo vai precisar vacinar.

Jonas: Tô fora. Ainda mais essa vacina que veio da China. É capaz de ter algo pior que o covid.

Maria: Eu não tô acreditando que você vai tentar estragar meu dia falando essas coisas.

Jonas: Mas eu não estou mentindo, mãe. Uma vacina leva anos para ser desenvolvida. Aí de uma hora pra outra aparece essa vacina, que veio da China pra fazer teste na gente. Tô fora de ser cobaia deles.

Maria: Eu sinceramente tô começando a desistir de você. Seu prazer é me deixar chateada. Vim toda animada te contar essa notícia maravilhosa e você me fazendo raiva. Mas hoje você não vai me afetar. Eu estou feliz demais por essa notícia. Tchau.

Maria sai do quarto.

Cena 20/ Itaúna/ Tarde.

Apartamento de Maria.

No quarto, Guilherme e Jonas conversam enquanto jogam videogame.

Guilherme: Tu sempre perde pra mim nesse jogo. Fica até sem graça.

Jonas: Cala boca. Você vai perder dessa vez. Pode ter certeza.

Guilherme: Como se fosse possível isso. Você vai ter que pedir ajuda a sua namoradinha.

Jonas: Como se eu precisasse de ajuda para acabar com você em um jogo de luta.

Guilherme: E cadê ela?

Jonas: Ela quem?

Guilherme: Sua namorada.

Jonas: Ela vai ficar cuidando da avó hoje. Ela e os primos revezam. Mas por que tudo quer saber? Tá interessado nela?

Guilherme: Claro que não. Como se eu precisasse de uma mulher comprometida.

Jonas: Acho bom.

Guilherme: Mas já que a Giovanna não vai se encontrar com você hoje. Tem um rolê no sítio hoje a noite…

Jonas: Nem precisa continuar. Que eu tô fora. Da última vez que eu fui caçar rolê com você eu me ferrei.

Guilherme: A culpa não foi minha. Você que chegou dando bobeira pra ela. Mas confia em mim. Vai ser uma festa muito top. Cheio de gatas, bebidas. A gente descola até uma bala.

Jonas: Festas estão proibidas. O decreto saiu há mais de uma semana.

Guilherme: Decreto é para os trouxas. Eu quero é curtir a vida. E você devia fazer o mesmo. Quando você ficar velho vai se arrepender de não ter aproveitado tudo que podia.

Jonas: Eu prometi pra Giovanna que eu não ia fazer nada pra por a avó dela em risco. Não posso, mano. Valeu.

Guilherme: A Giovanna só vai ficar chateada com você se ela ficar sabendo. Eu não vou contar, você vai?

Os dois se encaram.

Cena 21/ Itaúna/ Noite.

Sítio.

No sítio a festa acontece. Vários jovens espalhados pelo sítio. Todos com longnecks na mão. Pessoas dançando. Outras beijando. Guilherme e Jonas dançam junto de um grupo de garotas.

Guilherme: Olha que festão. E você fazendo draminha pra poder vir.

Jonas: Cara, tá muito cheio. Não é perigoso?

Guilherme: Relaxa. Curti a festa. Olha a Paulina te dando mole. E você atrapalhando o rolê.

Jonas: Talvez você tenha razão. Tô preocupado atoa. O que de pior pode acontecer?

A festa continua. Muita tumoto. Música alta. Jovens bebendo. Outros se drogando. Na entrada do sítio três viaturas da polícia se aproximam. Os policiais entram no sítio aos berros acabando com a festa.

Policial: Acabou a festa. Para o som e vai todo mundo pro canto. Encostados na parede. Agora.

Guilherme: Sujou.

Jonas: Minha mãe vai me matar.

Cena 22/ Itaúna/ Noite.

Apartamento de Maria.

Deitada na cama, Maria dorme e é acordada pelo toque do celular. Maria atende e se assusta.

Maria: Alô… Você está onde?

Cena 23/ Itaúna/ Noite.

Delegacia.

Na sala de espera, Jonas sentado no banco fica apreensivo. Maria sai da sala do delegado.

Jonas: Mãe…

Maria: Cala a boca. Em casa a gente conversa. Ele já está liberado?

Delegado: Está sim. Só dessa vez. A próxima vez as consequências vão ser piores. Onde já se viu, caçar festa em plena pandemia.

Maria: Isso não vai se repetir, delegado. Eu te prometo.

Cena 24/ Itaúna/ Noite.

Apartamento de Maria.

Maria e Jonas entram em casa.

Maria furiosa: O que eu faço com você, Jonas? Me diz?

Jonas: Eu sei que eu mandei mal. Mas graças a Deus deu tudo certo. Não do preso.

Maria: Mas deveria. Pra ver se cria juízo nessa sua cabeça. Pelo amor de Deus. Festa em sítio. E estava lotada. O delegado me disse que foram 79 pessoas apreendidas. Ou vocês todos já foram vacinados ou no sítio o covid não chega. Porque não tem outra explicação.

Jonas: Você está exagerando, mãe. Está exagerando com tudo. Com o sítio com esses cuidados loucos de covid. A pouco tempo atrás você estava passando álcool no pacote de arroz. Isso é loucura.

Maria: Loucura é você ver nos jornais morrer gente igual está morrendo, mais de mil pessoas por dia, e continuar agindo como se fosse imune a doença. Não ser do grupo de risco não te faz imune. Imortal. Você pode achar que os meus cuidados são exagerados, mas ao contrário de você eu tenho medo da doença. Tenho medo por mim. Por você. Pela Giovanna e pela avó dela. Coitada da Giovanna, eu dei a minha cara pra vocês se acertarem e você faz isso. Com que cara eu vou olhar pra essa menina agora?

Jonas: Ela não precisa saber. A senhora não pode falar pra ela. Vai destruir meu namoro se ela ficar sabendo.

Maria: Você tem noção de que você não está detido porque o delegado era amigo do seu pai? Você é muito irresponsável. Eu não sei onde foi que eu errei já sua criação. Mas eu juro que eu vou consertar isso. Nem que eu tenha que te bater pra isso.

Jonas: Eu não tenho mais idade pra você me bater, mãe.

Maria: Mas se você continuar agindo da forma irresponsável que você está agindo, eu juro que você vai apanhar. Agora vai pro seu quarto e só saí de lá quando eu mandar.

Jonas: Castigo nessa idade?

Maria: Sim. Castigo nessa idade. Vai agora.

Jonas vai pro quarto.

Cena 25/ Itaúna/ Manhã.

Apartamento de Maria.

Na sala, Maria abre a porta e Giovanna entra toda empolgada.

Giovanna: Você não vai acreditar na notícia maravilhosa que eu tenho pra você. Eu postei seu vídeo novo ontem a noite e hoje eu fui conferir já tem quase 100 mil visualizações. Seu canal já tá com quase 70 mil inscritos. Tá bom, né? Começou não tem nem um mês. Já é um YouTuber.

Maria desanimada: Que bom.

Giovanna: Que cara é essa? Aconteceu alguma coisa? Não gostou da notícia.

Maria: Gostei sim. Fiquei empolgada. Só não tive uma noite muito boa.

Giovanna: O Jonas aprontou de novo?

Maria: Não. Só não dormir bem.

Giovanna: Tem certeza?

Maria: Não. Eu não posso te enganar, minha querida. Eu não ia conseguir olhar na sua cara se eu mentir. O Jonas aprontou sim. Nós precisamos conversar. Nós três. Você chama ele lá no quarto, por favor.

Cena 26/ Itaúna/ Manhã.

Apartamento de Maria.

No quarto, Jonas deitado na cama, ele grava áudio pelo celular.

Jonas: Você não sabe a confusão que você me meteu, Guilherme. Minha mãe tá uma fera comigo. Ouvi demais a madrugada inteira. Tá contigo, tá com Deus… Nunca mais eu ando com você. Má influência – Jonas dispara a rir – Mas a festa estava muito irada. Eu vi que você tirou umas fotos minha com a Paulinha. Você tem que apagar essas fotos. Vai dar ruim pra mim.

Jonas envia o áudio e joga o celular na cama. Ele pega o celular de volta e grava outro áudio.

Jonas: Me manda essas fotos? Quero ver como ficou.

Jonas joga o celular na cama e vai para o banheiro e fecha a porta. Giovanna entra no quarto.

Giovanna: Sua mãe disse que você aprontou… O que você fez?

Giovanna percebe que não tem ninguém no quarto, ela ouve as notificações chegando no celular. Ela olha o celular desbloqueado e vê a foto de Jonas e Paulina se beijando.

Jonas volta pro quarto e vê Giovanna com o celular na mão.

Jonas: Giovanna…

Giovanna: Que merda é essa?

Jonas pega o celular e vê a foto.

Jonas: Droga, Guilherme. Você tinha que tirar foto disso.

Giovanna: Você é um moleque. Como que eu pude me enganar com você desse jeito?

Jonas: Calma amor. Deixa eu te explicar o que aconteceu.

Giovanna: Explicar o que? Que você estava em uma festa em plena pandemia ou que você estava me traindo em uma festa em plena pandemia ?

Jonas: Não tem como eu negar, diante dessas fotos eu não tenho nem argumentos.

Giovanna: Não tem mesmo. Eu confiei em você. Muito. Para que? Pra nada. Eu devia ter ouvido minhas primas quando diziam que você não prestava. A escola inteira falava isso e eu quis acreditar que você era um cara legal. Mas não é.

Jonas: Eu sei que eu errei. Eu sei, Giovanna. Eu queria muito poder voltar no tempo e nunca ter ido nessa festa. Eu queria muito ter ficado quietinho aqui em casa. Eu fui preso por causa dessa festa, minha mãe teve que me buscar na delegacia. Mas infelizmente eu não posso. Eu só posso te pedir desculpas.

Giovanna: Guarde essas desculpas pra você. Eu não quero ouvir nada.

Jonas: Minhas desculpas são sinceras. Eu fui até preso ontem, não quero isso mais. Eu aprendi a lição. Pode ter certeza. Te ver assim na minha frente, decepcionada comigo, só me faz ter mais remorso ainda.

Giovanna: Não me procure mais. Seja homem pelo menos nesse momentos e não me procura mais

Maria entra no quarto.

Maria: Ele te contou que foi pra uma festa? Eu ouvi vocês brigando. Queria que essa conversa fosse com nós três.

Giovanna: Ele não só foi a uma festa, Maria. Ele me traiu nessa festa.

Maria: Isso é verdade, Jonas?

Jonas: Não piora mais as coisas, mãe.

Giovana: Maria, eu gosto muito da senhora e te respeito muito, mas não vem atrás de mim interceder pelo seu filho. Ele pode te pedir de joelhos isso, mas se você for até minha casa tentar fazer com que eu dê outra chance pro seu filho, nós vamos brigar.

Jonas segura o braço de Giovanna.

Jonas: Espera, vamos conversar direito.

Giovanna dá um tapa em Jonas.

Giovanna: Nunca mais encoste essa mão nojenta em mim.

Giovanna sai do quarto.

Cena 27/ Itaúna/ Noite.

Apartamento de Maria.

Na cozinha, Jonas escorado no balcão, ele vê as fotos de Giovanna no celular. Maria entra em casa, tira a máscara e passa álcool nas mãos que está perto da porta. Maria caminha até a cozinha e sente o cheiro de comida queimada. Ela vai até o fogão e apaga o fogo.

Maria: Jonas, a comida queimando e você aí parado mexendo no celular. Aposto que estava jogando esse jogo de tiroteio.

Jonas: Não vi que estava queimando, mãe. Foi mal.

Maria: Tá fedendo queimado. Como você não percebeu?

Jonas: Eu não senti. Desculpa.

Maria encara Jonas: Você não sentiu cheiro de queimado?

Jonas: Não.

Maria vai até o banheiro pegar um frasco de creme e leva até Jonas.

Maria: Cheira.

Jonas: Não sinto cheiro de nada.

Maria: Ai meu Deus. Será que você tá de covid?

Jonas: Misericórdia. Meu corpo estava doendo ontem, mas eu achei que era por ter dormido de mal jeito.

Maria: Eu vou ligar pro médico. Vou marcar uma consulta amanhã cedo. Um exame. Não sei.

Jonas: Será?

Cena 28/ Itaúna/ Manhã.

Apartamento de Maria.

Na sala, sentada no sofá, Maria conversa no telefone.

Maria: Não querida. Eu não te liguei porque o Jonas pediu. Na verdade ele nem queria que eu te ligasse.

Voz de Giovanna: Eu tô muito chateada, Maria. Não me pede pra dar outra chance pra ele. Não vai rolar.

Maria: Eu não vou pedir pra vocês voltarem. Eu jamais pediria isso depois de ver o que aconteceu. Eu vi as fotos no telefone. Eu fico tão envergonhada. Eu insisti pra você dar outra chance pra ele, porque ele tinha mudado e ele faz pior que dá outra vez.

Voz de Giovanna: A senhora não tem culpa. Fica tranquila.

Maria: Eu te liguei na verdade porque o Jonas testou positivo. E eu fiquei preocupada com sua avó. Já tem 4 dias na verdade. Mas eu não tive coragem de te falar.

Jonas chega na sala com dificuldade de respirar.

Jonas: Mãe, me ajuda. Eu não tô conseguindo respirar. Meu peito tá doendo…

Maria: O Jonas está piorando. Depois a gente conversa.

Maria desliga o celular e levanta.

Maria: Fica calmo. Eu vou te levar pro hospital agora. Tenta respirar devagar.

Maria ajuda Jonas e os dois saem do apartamento.

Cena 29/ Itaúna/ Noite.

Hospital.

Na sala de espera, Maria e Bruno conversam.

Maria: Eu não entendi o que aconteceu. Ele ficou em casa, descansou. Tomou vitaminas e os remédios. Eu achei que ele ia melhorar. Aí ele fica sem ar e você me diz que ele tem que ficar internado.

Bruno: São os procedimentos, Maria. A saturação dele tá um pouco baixa. Ele vai ficar aí, vai tomar as medicações, vai receber oxigênio. Você precisa ter calma.

Maria: Meu filho tá internado de covid e você quer que tenha calma?

Bruno: Nós vamos fazer o máximo que podemos. Confia em Deus. Tudo vai ficar bem.

Maria: Posso ver ele pelo menos?

Bruno: Você sabe que não, Maria. Pacientes com covid estão em uma ala separada. Não podem receber visitas. Mas ele está com o celular. Eu preciso voltar lá pra dentro. Tenta ficar calma. Ele vai precisar de você agora.

Cena 30/ Itaúna/ Manhã.

Hospital.

Na capela do hospital, Maria ajoelhada faz suas orações.

Maria: Meu Deus, eu te peço pelo meu filho. Eu sei que ele não foi a pessoa que mais cooperou. Ele abusou de tudo. Não se protegeu. Mas eu não sei como vai ser minha vida sem ele. Eu confio na sua misericórdia, Pai. Não abandone o clamor de sua filha nesse momento tão difícil.

Giovanna entra na capela e caminha para perto de Maria. As duas se olham.

Giovanna: Alguma notícia do Jonas?

Maria: Depois de dois dias?

Giovanna: Não me condene assim, Maria. Eu tive meus motivos.

Maria: Eu sei que ele te traiu. Mas ele estava internado.

Giovanna: Minha avó também estava.

Maria se levanta e as duas sentam em um dos bancos da capela.

Maria: Sua avó está bem? Eu não sabia.

Giovanna: Graças a Deus sim. Ela chegou a ser entubada. Mas já está melhor. O médico disse que a previsão de alta para amanhã.

Maria: Que bom. Me desculpa. Eu fiquei com raiva de você ter sumido. Mas você não tem obrigação nenhuma de estar por perto.

Giovanna: Eu fiquei com raiva. Você me avisou que o Jonas estava com covid depois de 4 dias. Logo em seguida minha avó também testou positivo. Eu fiquei achando que era por culpa do Jonas. Fiquei com muita raiva.

Maria: Eu também errei querida. Eu devia ter te falado antes. Eu fiquei com medo da sua reação e acabei te prejudicando.

Giovanna: Mas não foi o Jonas que passou pra minha avó. Foi meu primo Natan. O Jonas não precisa se sentir culpado por isso. E como o Jonas está?

Maria: Eu não sei se eles mentem pra mim. Mas só dizem que ele está instável. Tem dois dias que ele está instável. Eu quero que ele esteja melhorando, não instável. Eu não posso ver meu filho. Eu não posso ficar perto dele. Isso é horrível.

Giovanna: Você não pode desacreditar. Ele precisa muito de você agora. Das suas orações. Vamos orar nós duas…

Giovanna e Maria se ajoelham e oram juntas.
“Pai nosso que estais no céus, santificado seja o vosso nome… “

Cena 31/ Itaúna/ Noite.

Prédio de Maria.

No corredor, Maria fica na porta do apartamento esperando alguém. As portas do elevador se abrem e ela vai até Bruno que sai do elevador.

Maria: Que bom que você chegou. Fiquei te esperando a tarde inteira. Eu fui ao hospital saber do Jonas, mas acho que eles estão mentindo pra mim.

Bruno: Por que mentiriam?

Maria: Sei lá. Eu pergunto sobre o Jonas e sempre me falam que ele está estável. Eu não confio mais. Mas eu confio em você. Você é meu vizinho, não vai mentir pra mim. Como o Jonas está?

Bruno: Realmente ele está estável.

Maria: Tem mais de uma semana que ele está lá internado. Ele tem que estar melhorando. Eu estou cansada de ouvir isso.

Bruno: Maria, é uma doença nova. A gente não tem muitas informações precisas como deveria. Estamos fazendo o máximo para todos. Tem muita gente morrendo, todos os dias. Se o Jonas está estável, agradece que ele não está piorando.

Maria: Eu tô com tanto medo.

Bruno: Todos nós estamos. Precisamos vacinar a população o mais rápido possível. Só assim as mortes vão cair de vez.

Cena 32/ Itaúna/ Manhã.

Hospital.

No quarto do hospital, Jonas deitado na cama com bastante dificuldade de respirar, Bruno se aproxima.

Bruno: Nós estamos tentando de tudo, mas seu quadro está piorando. Vamos precisar te entubar. Seus pulmões já estão fracos.

Jonas: Entubar não. Eu só escuto coisas ruins sobre quem é entubado.

Bruno: Já estamos sem tempo e sem opções.

Jonas: Deixa eu falar com minha mãe? Por favor. Deixa eu falar com a minha mãe?

Cena 33/ Itaúna/ Manhã.

Apartamento de Maria.

No quarto de Jonas, Maria está sentada na cama com uma foto de Jonas nas mãos. Ela observa a foto.

Maria: Você vai sair dessa. Eu tenho certeza.

O celular de Maria toca, ela pega o celular em cima da cama e atende a chamada de vídeo. Ela vê Jonas deitado na cama do hospital com a respiração ofegante e com bastante dificuldade de respirar.

Jonas: Mãe. Eles vão me entubar. Eles vão me entubar. Eu não quero morrer.

Maria: Não fala isso. Você não vai morrer.

Jonas: Eu juro que se eu sair dessa eu vou naquele piquenique idiota que você tanto quer fazer.

Maria: Você vai sair dessa e nós vamos fazer um piquenique.

Jonas: Promete.

Maria: Eu prometo.

Jonas: Eu te amo.

Maria: Eu te amo demais, meu filho.

Jonas desliga a ligação. O médico pega o celular. Os enfermeiros seda Jonas e começam o processo de intubação. Os olhos de Jonas começam a se fechar aos poucos até fechar por completo.

Tudo fica preto.

Cena 34/ Itaúna/ Manhã.

Parque

Jonas caminha pela grama do parque. Ele percebe que o parque está vazio e mais a frente sentados sobre uma toalha, Maria, Giovanna e Guilherme o esperam. Jonas se aproxima dele e se senta sobre a toalha.

Jonas: Como vocês conseguiram o parque vazio?

Guilherme: Tudo isso pra você.

Jonas: Como eu sou importante.

Maria: Você é importante.

Giovanna tira uma ampulheta de dentro da cesta de piquenique e entrega a Jonas.

Jonas: Pra que isso?

Giovanna: Eu não sei. Você que precisa dela.

Jonas sem entender coloca a ampulheta sobre a toalha.

Giovanna: Você tem que virar. Pra areia cair pro outro lado.

Jonas: Tá bom.

Jonas vira a ampulheta e a areia começa a cair de um lado para o outro.

Guilherme: Sabe o que eu estava lembrando esses dias. Você se lembra de quando nós fomos escondido pra capital no show daquele cantor ruim que só você gosta.

Jonas: Não fala essas coisas na frente da minha mãe. Você quer me ferrar?

Maria: Relaxa. Eu não vou ficar brava.

Jonas: Vocês são testemunhas. Ela não pode me pôr de castigo.

Guilherme: O show era muito ruim. As músicas eram ruins. Eu sou muito seu amigo. Porque aquilo foi uma tortura.

Giovanna: Espero que tenha sido antes de me conhecer.

Jonas: Foi sim, amor. Mas o Guilherme é muito mentiroso. Você adorou o show. Dançou muito. Se divertiu bastante. Acho que foi a vez que eu vi você beijando mais bocas.

Guilherme: Confesso. Tava bem legal. O dia foi muito irado. Mas o show era péssimo. Arrisco a dizer que foi o melhor dia da minha vida.

Jonas: Que legal você falar isso. Também gostei muito daquele dia. E o seu Giovanna?

Giovanna: Eu não posso falar. Eu tenho vergonha.

Guilherme: Eu me expus. Você também tem que se expor.

Giovanna: Tá bom. Mas não vai ficar se achando, tá bom?

Maria: Vou até tapar meus ouvidos.

Giovanna: O dia mais feliz da minha vida foi quando nós tivemos a nossa primeira vez.

Guilherme: Fala sério.

Giovanna: É verdade. Foi lindo. O Jonas é carinhoso. Delicado. Sabe conduzir uma mulher. Eu acredito que eu me apaixonei de vez naquele dia.

Jonas: Eu sempre soube que eu mandava muito bem.

Giovanna: Convencido.

Jonas: E o seu, mãe?

Maria: O meu? Eu não preciso nem pensar. É claro que foi o dia em que você nasceu. Eu lembro como se fosse hoje. Você nasceu numa noite chuvosa, o parto foi normal. Foi simples. Sem muita complicação. O médico te colocou no peito e eu te olhei cheia de orgulho. Eu sinto até hoje meu peito quentinho. O lugar em que você deitou. Desde aquele dia, eu tive certeza que eu era a mulher mais feliz do mundo.

Jonas: Que lindo, mãe. Obrigado. Eu te amo muito.

Guilherme: E o seu?

Giovanna: A gente quer saber, qual foi o dia mais feliz da sua vida?

Jonas: Tem vários dias. Mas eu acho que é hoje. Depois de tudo que aconteceu. Eu achei que eu ia morrer. Eu fiquei com tanto medo. Tão desesperado. Mas agora está tudo bem. Estamos todos aqui. É isso que importa.

Giovanna olha pra ampulheta e vê que a areia está pela metade.

Giovanna: Já está na hora de eu ir.

Jonas: Ir pra onde?

Giovanna: Eu só tenho que ir.

Jonas: A gente não se acertou ainda, né?

Giovanna: Não vamos falar disso.

Jonas: Eu preciso falar. Eu me comportei como um idiota esse tempo todo com você. Você sempre me apoiou. Você sempre me ajudou. Você me pediu pra tomar cuidado. Me proteger. Eu debochei. Eu fiz tudo ao contrário. Até te trai. Eu sou um bosta. Mas eu quero que você saiba que eu te amo muito e me arrependo de todas as merdas que eu fiz.

Giovanna: Está tudo bem. Eu só preciso ir.

Giovanna se levanta e caminha pela direção direita do parque. Giovanna caminha enquanto Jonas a observa. Quando Giovanna toma distância de onde eles estão. Uma luz se apaga no lado onde ela caminhou. Jonas fica sem entender.

Jonas: O que aconteceu ali?

Guilherme: Eu também preciso falar com você.

Jonas: Espera, o que aconteceu ali? Que luz foi aquela que se apagou? Cadê a Giovanna? GIOVANNA.

Guilherme: Eu te dei vários conselhos ruins. Sempre te incentivei ao errado. Até dar no que deu.

Jonas: Você nunca me obrigou, Guilherme. É muito fácil eu colocar a culpa em você de todos os meus erros. Mas não foi assim. Claro, você tem uma parcela de culpa. Mas eu sempre fiz porque eu quis. Você nunca me obrigou. Vamos combinar assim, a gente se desculpa.

Guilherme: Pode ser. Até porque, a areia está acabando, eu também preciso ir.

Jonas: Ir pra onde? O que está acontecendo?

Guilherme: Não importa, amigo.

Jonas: Isso tudo está me assustando.

Guilherme se levanta e caminha para a direção esquerda do parque. Jonas o observa. Guilherme caminha e uma luz se apaga por onde ele caminhou. E fica escuro no lado que ele estava.

Jonas: Mãe, o que está acontecendo? Que lugar é esse? Isso não é real é? Eu fui entubado, eu me lembro. Eu te liguei, nós conversamos. Eu fui entubado e melhorei. Por isso eu estou aqui no parque em um piquenique. Quer dizer que eu me recuperei não é.

Maria: Filho, você ainda não entendeu? A ampulheta… seus amigos… eu… Nada disso é real.

Jonas: Eu morri? É isso?

Maria: Eu não sei.

Jonas: Eu estou morrendo ou já morri? Já aconteceu? Ainda dá tempo de me salvar?

Maria: Eu não posso responder isso. Porque eu não sou real.

Jonas: Só me responde uma coisa. Alguém já voltou desse lugar?

Maria: Jonas, não há um lugar. É só o seu cérebro passando pelo que parece que ele tem que passar.

Jonas: Eu queria tanto poder me desculpar com você, com a minha mãe. To confuso. Ela sempre fez de tudo pra me salvar. Cuidando de mim e eu fiz tudo exatamente o contrário. Eu decepcionei ela tanto. Eu tô tão arrependido.

Maria: Eu não sou real. Mas eu tenho certeza que ela se sentiu muito orgulhosa de você.

Os dois olham para a ampulheta e a areia está perto do fim.

Maria: Seu tempo está acabando. Você precisa ir.

Jonas: É muito assustador do outro lado?

Maria: Não. Eu acho que não. É do jeito que tem que ser. Tudo deve chegar ao fim.

Jonas: Te vejo do outro lado?

Maria: Meu bem, não tem outro lado. Isso é tudo.

Jonas se levanta e caminha para frente, ele caminha até que a luz se apaga na direção em que ele caminha. Jonas fica no limite da luz com o lado escuro.

Jonas: Não, eu não posso ir agora. Não está na minha hora.

Jonas se vira e corre na outra direção. Ele passa por Maria e continua correndo. Até que ele chega em um ponto em que a luz na sua frente se apaga, ficando novamente na divisa entre a luz e a escuridão.

Jonas: Droga.

Jonas corre de volta para perto de Maria.

Jonas: Por favor. Me ajuda. Me salva. Você me prometeu que ia ficar tudo bem.

Os dois se encaram, Jonas com um olhar desesperado, Maria com um olhar acolhedor. Até que a ficha de Jonas realmente cai.

Jonas: Não ficou tudo bem, né?

Maria: Exato.

Jonas: Eu fui entubado, mas não resisti?

Maria: Sim.

Jonas: Então eu morri. É isso.

Maria: É tarde demais. Nada disso é real.

Jonas: Se não é real, você pode ficar comigo então?

Maria: Claro.

Jonas com os olhos marejados, ele abraça Maria forte.

Jonas: Como foi seu dia?

Maria: Foi bom. Meu dia foi bom.

A areia da ampulheta cai toda por completo. A luz se apaga e tudo fica escuro.

Fim

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