ATO DE ABERTURA

FADE IN

CENA 1 INT. – CASARÃO / FAZENDA SANTOS / SALA – DIA

Alessandro se levanta, indignado. Todos estupefatos após a leitura do testamento.

           ALESSANDRO
Isso é um jogo? Quem sobreviver, leva a grana? Era assim que a Catarina me via? Um jogador?

           NOEL
(sarcástico)
Tá surpreso que você não é o único que gosta de jogar, né?

           ALESSANDRO
Você fica na tua, malandro!

           JOÃO
Por favor, querem parar? O Rafael acabou de dizer que se vocês não quiserem essa grana, os 50% iriam para caridade. Pronto!

           AVELINO
Pronto? Você disse pronto? A sua filha escolhe a 
minha fazenda pra eu ouvir que o Noel se tornou seu herdeiro e você diz “pronto”? Tá desejando que a grana vá para caridade, fale a verdade, fale.

           JOÃO
Você quer saber?
(Avelino aguarda, provocando)
Eu faria muito gosto de tornar esses dois meus herdeiros. Com uma cláusula bem explícita: Que eles nunca vendam a parte deles. (ri) Ficou chocado, fale a verdade, fale.

Cícero, Walter e Maria José disfarçam o riso. Alice se mantém quieta, absorta.

           AVELINO
Isso é deboche na minha própria casa?

           RAFAEL
Por favor, senhores! A cláusula está bem clara. Se nenhum dos beneficiários aceitar o acordo, basta assinar abrindo mão da herança. (se enerva) E pronto!

Bate um silêncio, até que /

           ALESSANDRO
Onde é que eu assino? Vou assinar agora!

Mazinho quase salta em sua direção, segura seu braço.

           MAZINHO
Peraí, rapaz! Vamos com calma. Não precisa tomar decisão nenhuma agora não.

           NOEL
Isso, tio! Incentiva seu sobrinho a abocanhar essa grana. Afinal, já casou né?

           ALESSANDRO
Eu vou te ensinar a calar essa boca!

Alessandro parte pra cima de Noel, mas Alice entra na frente e segura seu braço.

           ALICE
É só isso que tu sabe fazer, né? Quando a violência não é física, é violência moral.

Os dois se encaram fortemente. Alessandro se solta dela, revoltado.

           ALICE
Eu já to cheia disso tudo.

E SAI. Noel vai atrás. Climão entre os que ficaram.

CENA 2 EXT. – CASARÃO / FAZENDA SANTOS – DIA

Alice vem andando, depressa e logo atrás, Noel.

           NOEL
Alice! Espera!

Alice, inconformada, ira impregnada em seus olhos, não dá ouvidos. Noel alcança e puxa seu braço.

           NOEL
Peraí, Alice!

           ALICE
Cê viu? A Catarina quis me colocar no meio do furacão, pra quê? (imita Rafael) “Pra estreitar os laços familiares”, aham, como se isso fosse possível.

           NOEL
Você pode abrir mão da herança, Alice. Ninguém tá te obrigando a nada.

           ALICE
Mas a Catarina sabia que a minha presença aqui não é bem-vinda. Sabia como eu era tratada, poxa! Parece que a intenção era só beneficiar o Alessandro, porque eu não vou conseguir engolir esse cara.

Noel toca seu rosto, carinhoso. Alice respira fundo.

           NOEL
Calma, tá? Super aprovo qualquer decisão que você tomar, mas a Catarina só fez isso para tentar unir as famílias. Você a conhecia tão bem. Ela nunca se conformou de te ver longe daqui, e agora, ela te quer perto.

           ALICE
Só que ela não tá mais aqui
(esforça pra não chorar).
Cara…Ela não tá mais aqui!

Noel abraça Alice, ambos em desalento.
CAM BUSCA ao longe, Walter, ao batente da porta.

CORTA PARA

Vista aérea da cidade. Uma geral pela praia tranquila, os bares no calçadão, os restaurantes, a praça arborizada e a pequena igreja, ao fundo.

CORTA PARA

Uma casa amarela, humilde, e de muro baixo.
Um TÁXI estaciona em frente /

CENA 3 INT – CASA DE TARSILA E WAGNER / SALA – DIA

Abre em um ambiente simples, mas jeitoso. Pisos na cor caramelo, paredes brancas; Uma mesa de madeira redonda e cadeiras do mesmo material estão próximas da janela, perto da porta. Os dois sofás mostarda e os móveis pretos complementam o cenário.

Em WAGNER (50 anos, branco, magro, trajando camisa listrada e calça social preta), de pé e pasmo.

           WAGNER
(para Noel)
Caraca, hen? Foi deserdado pelo pai, agora vira herdeiro do rival. Avelino deve tá quicando de tanta raiva (ri).

           ALICE
Pai!

           WAGNER
Ué, to mentindo?

Alice, atrás do sofá, visivelmente cansada e chateada; Noel sentado, relaxado, ao lado de TARSILA (43 anos, morena, magra, de longos cabelos castanhos, trajando uma blusa de renda branca e calça jeans).

           TARSILA
Catarina gostava muito de vocês pra fazer isso.

           ALICE
É, só que me deixou numa sinuca de bico. Se eu abrir mão da grana tudo vai pro Alessandro. É tipo entregar o ouro ao bandido.

           TARSILA
Que isso, filha? Isso é jeito de falar?

           NOEL
Mas é verdade, tia. Meu irmão planejava entregar metade da herança dele pra Catarina, mas a ideia era não casar. Parece que a intenção era de que meu pai cancelasse tudo. Como casou…

           ALICE
…A Catarina morreu.

Tarsila se levanta, horrorizada.

           TARSILA
O que vocês estão insinuando?

           NOEL
Ué, tia, pensa comigo /

           WAGNER
(por cima)

Não, ninguém vai pensar contigo não, moleque. Cê tem uma mente que Deus me livre. Avelino pode ser tudo, menos assassino.

           NOEL
Eu nem falei nada, viu?

Wagner nem tem tempo de retrucar.

           ALICE
É verdade. Se meu tio fosse assassino ele teria matado os irmãos pra poupar todo mundo de descobrir o ladrão que ele é.

BAQUE. Tarsila cambaleia, Wagner segura em seus ombros, sem saber como agir.

           ALICE
Diz pra mim, mãe, que a senhora tá tão surpresa quanto eu. Tudo que o meu tio tem é fruto de um roubo.

           WAGNER
Quem te falou isso, menina?

           ALICE
(altera) Ouvi da boca do Mazinho, contando com ar de escárnio. Diz, mãe, a senhora foi enganada? O Walter tá metido com essa safadeza toda?

           TARSILA
Não fala do Walter que ele é a única coisa boa daquele lugar.

           ALICE
(sarcástica)
E nunca conseguiu sair de lá, né?

           WAGNER
Não to gostando do rumo dessa conversa. Você não pressiona sua mãe.

           NOEL
Eu não acho certo ver a minha tia dando duro, enquanto o meu pai usufrui do que é dela também.

           WAGNER
Você fica na tua pra não pôr mais lenha, garoto.

           TARSILA
Tudo bem, gente!
(pensa / encara a filha)
Eu fiz isso pra você não ser presa
(Alice e Noel trocam olhares, pasmos). Avelino abafou aquele caso. Você foi pega com drogas, Alice!

           NOEL
Que bandido!

           WAGNER
Que isso, garoto?! É seu pai!

           NOEL
Vergonha de ter um pai assim. Fala aí, tia, as drogas apareceram nas coisas da Alice depois que a senhora tentou reivindicar a herança? Como a senhora soube?

           TARSILA
Walter me contou. Mas o Avelino não ia fazer isso com a Alice /

           NOEL
(indignado / corta)
 Não. Ele só é capaz de atos nojentos uma só vez, né? (T) Com licença. Depois dessa, me exauri.

Noel se afasta e some pelo corredor.

           WAGNER
O moleque se exauriu. Ouviu isso?

Alice encarando Tarsila, sem ação.

CENA 4 INT – CASA DE TARSILA E WAGNER / QUARTO DE ALICE – DIA

Alice acaba de sentar na cama, apoia os cotovelos sobre os joelhos e mãos no rosto, pensativa. Noel adentra e fecha a porta.

O quarto é pequeno, uma cama de solteiro, mobília antiga, mas bem conservada. A cômoda contém alguns poucos objetos de porcelana, e maquiagem.

           ALICE
Você viu? Minha mãe perdeu a herança por minha causa.

Noel senta ao seu lado. Abraça.

           NOEL
Negativo! A culpa é do meu pai. Ele rouba, chantageia e você é a culpada?

           ALICE
Vai ver eu devia ter ido presa mesmo. Assim minha mãe brigava pela grana e pagaria minha fiança.

           NOEL
É, só que até ele pagar você mofaria numa cela imunda junto de criminosas de verdade. Ficaria com a ficha suja e teria que sair fugida da cidade, porque o boato se transformaria em um fato muito bem noticiado.

Alice esfrega as mãos no rosto, sem saber o que fazer.

           NOEL
Sua mãe pensou só em você. E agora, por ironia do destino, você recebe uma herança de quem nem era do seu sangue. É grana alta, cobre até mesmo o que meu pai roubou da tia Tarsila.

Alice se levanta, incomodada.

           ALICE
Sério que você estaria disposto a engolir seu pai de novo, durante um ano?

           NOEL
Não estaria se não soubesse o que ele fez. Cara, seus pais dão duro naquele restaurante, enquanto meu pai vai deixar tudo, o que inclui o montante do roubo, para o Alessandro. Pensa se isso é justo?

Alice rói a unha, pensa um pouco. Faz a negativa.

           ALICE
Só de pensar
(fecha a mão, com raiva).

Noel, rapidamente, se levanta e segura sua mão. Encara a prima, firme.

           NOEL
Eu faço o que você quiser. Mas lembre-se: Se a gente deixar pra lá, Alessandro abocanha essa grana, e o assassino de Catarina sairá impune. Assim como meu pai. Estamos falando da metade do que pertence à família Guerra e você sabe a obsessão que meu pai tem por aquelas terras, não sabe?

            ALICE
O crime já saiu impune, Noel. Não viu que a polícia encerrou o caso?

            NOEL
Vi. Vi que foi um crime muito bem executado.
(T / respira fundo, desanimado)
Mas ok, talvez não valha a pena mesmo ajudar a nossa amiga a descansar. Eu só lamento pelo seu João.

Noel abaixa a cabeça e SAI da tela. Em Alice, refletindo.

FADE OUT

FIM DO ATO DE ABERTURA

CAPÍTULO 3

OITO OU OITENTA

PRIMEIRO ATO

FADE IN

Na fachada de uma CLÍNICA VETERINÁRIA, toda branca, portão verde com a seguinte placa: Aberto.

CENA 5 INT. – CLÍNICA VETERINÁRIA / CONSULTÓRIO – DIA

Ambiente todo branco, limpo, contendo uma mesa alta onde está um filhote de pastor alemão. Alessandro, trajando um jaleco, cumprimenta uma mulher negra de uns 40 anos.

            ALESSANDRO
Já sabe: Ele precisa tomar esse remédio todos os dias. Quero ver esse garotão daqui a uma semana pra gente ver se precisa continuar a dose, ok?

Alessandro pega o cachorro no colo.

            ALESSANDRO
Ouviu, Thor? Vamos melhorar rapidinho?

O cachorro faz manha. Ele a mulher sorriem. Alessandro entrega o cachorro a mulher e ela vai saindo. Na porta, esbarra com Maria José (trajando uma blusa curta e branca de babado, legging de couro preta, que a deixa bem vulgar, e coturnos da mesma cor), que sorri ao ver o animal.

Alessandro está lavando as mãos num pequeno lavatório.

            MARIA JOSÉ
(maliciosa)
Incrível como o número de mulheres com animais de estimação aumentou, não acha?

Alessandro seca as mãos numa toalha.

            ALESSANDRO
Fazer o que se sou o dogtor mais charmoso daqui?

Ele ri, mas Maria José se chateia, vai se aproximando.

            MARIA JOSÉ
Ah, para! Você agora pode comprar isso aqui, botar gente pra trabalhar, e ter mais tempo pra mim.

Ela quase abraça Alessandro, mas ele se esquiva, senta numa cadeira, diante do computador. A mesinha é uma pequena bagunça; Suporte com canetas, calendário marcando o mês de outubro, pote com clipes, cadernetas, um smartphone, papéis espalhados.

            ALESSANDRO
Você nem devia ter vindo, Maria José. Se o Walter te pega /

Maria José toca os ombros dele, massageando.

            MARIA JOSÉ
Ele nunca me pega, vai. Você disse que o casamento não ia durar muito e veja: Não durou mesmo.

Ela rouba um beijo no pescoço dele, aos risos, mas Alessandro se levanta, indignado.

            ALESSANDRO
Que comentário foi esse, Maria José? Também tá achando que eu tive alguma coisa a ver com isso?

            MARIA JOSÉ
Não, calma! Só to relatando um fato. Até porque, segundo a Maria Alice, alguém incitou o cavalo e pelo que sabemos, você tava no meio da festa, né? (ri).

Alessandro fita a garota, seriamente, até decidir empurrá-la na direção da porta.

            ALESSANDRO
Melhor você ir, né? Deixa eu trabalhar em paz, vai.

            MARIA JOSÉ
Ai, eu tava brincando.

            WALTER
(O.S) Alessandro?

Maria José encara Alessandro, preocupada.

            MARIA JOSÉ
Jesus! O Walter não pode me ver aqui.

Ambos titubeiam. A garota se esconde ao lado do armário, no instante em que Walter aparece da porta. Ele dá uma batida.

            WALTER
Opa! Pensei que tava com alguém.

            ALESSANDRO
Nada, entra aí, tio.

Alessandro se afasta do armário e vai até Walter. Dá um tapinha em seu ombro.

            WALTER
Vim saber se tá tudo bem contigo. Você podia tirar um dia. O seu patrão ia entender.

            ALESSANDRO
O melhor que eu faço é trabalhar. (abraça Walter, enquanto vai levando-o até a porta) Vamos lá pra fora.

Alessandro dá uma sacada rápida em
MARIA JOSÉ
e SAI.

CENA 6 EXT. – CLÍNICA VETERINÁRIA / CONSULTÓRIO – DIA

Uma caminhonete marrom (o mesmo da cena 1 – capítulo 1) estacionado em frente. Alessandro e Walter saem.

            WALTER
Você acredita que a Catarina possa ter sido assassinada mesmo?

            ALESSANDRO
Sério que o senhor acreditou nisso?

            WALTER
Maria Alice não ia mentir /

            ALESSANDRO
(por cima / chateado)
 Por favor, né tio! A garota já foi pega com drogas, me acusou de ter armado o flagra e deve ter falado bobagem pra Catarina.

            WALTER
Vocês nunca se deram bem, mas você também nunca ajudou, né? Implicava com ela só por causa do jeito dela…

            ALESSANDRO
Meio homem?

            WALTER
Eu não ia dizer isso.

Alessandro abraça Walter, rindo.

            ALESSANDRO
Ah, qual é? Todo mundo alí sabia que ela só gostava de brincar com meninos, vai.

            WALTER
E você espalhava isso que eu sei. Por acaso foi você que andou espalhando aquela bobagem?

            ALESSANDRO
Que bobagem?

            WALTER
Tão dizendo que ela provocou a morte de Catarina porque já sabia do testamento.

Alessandro cobre a boca, se faz de surpreso. Ri.

           ALESSANDRO
Olha…É uma boa teoria.

Walter se chateia e contorna o carro.

           WALTER
Ah, eu vou trabalhar!

Alessandro tenta conter o riso, enquanto segue o tio.

           ALESSANDRO
Peraí! Juro que não espalhei nada. (Walter entra na caminhonete / ambos se encaram) Mas que é uma excelente teoria…

           WALTER
Vai trabalhar, vai!

Walter liga o carro e vai embora. Alessandro alí, rindo, até dar de cara com Maria José, da porta da clínica. Ela sorri, maliciosa; Ele faz a negativa sem tirar o sorriso de malandro.

FUSÃO PARA

A vista panorâmica da Fazenda Guerra /

CENA 7 INT. – FAZENDA GUERRA / SALA – DIA

Paulo acaba de entrar ao lado de Avelino e um homem (45 anos, alto, moreno, usando camisa listrada, calça jeans e coturnos pretos). João e Helô aparecem da outra extremidade, de olhares sinuosos pra cima da visita.

            PAULO
O senhor quer que eu fique por perto?

            JOÃO
Não será necessário, Paulo. Obrigado. Acho que o Avelino não veio caçar briga na 
minha fazenda, né?

Avelino apenas sorri, debochado. Paulo ainda espia o capataz de Avelino, mas SAI.

            HELÔ
Fala logo, Avelino, sem enrolação.

            AVELINO
Olha, eu vim na paz, juro. Sei que perder alguém querido é muito difícil, mas é minha obrigação fazer algo por você, João.

            JOÃO
(na defensiva)
Você já fez, Avelino. Pedindo pra polícia agilizar o caso e encerrá-lo ao mesmo tempo.

            AVELINO
(mente / dramatiza)
Confesso que fiquei tão passado quanto você. Mas eu não pedi pra encerrar nada. Por isso, vim disposto a lhe ajudar. Não acho justo esse boato de que você colaborou com a morte de sua filha /

           JOÃO
EI, calma aí! Que boato?

           AVELINO
Eu não queria ser portador dessa notícia, mas /

           JOÃO
Desembucha!

           AVELINO
O pessoal da cidade tá dizendo que você sabia do testamento e, pra beneficiar sua amante /

           HELÔ
Que amante?

           AVELINO
Maria Alice.

Helô se mostra horrorizada. João se enche de ódio e /

           JOÃO
Agora cê passou dos limites!

Quase avança, mas Helô segura. O capataz até se aproxima, olhar ameaçador. Avelino leva a mão, pedindo calma.

           AVELINO
Por favor, eu to apenas reproduzindo o que ouvi por aí. Ou você acha que eu to satisfeito em ver alguém da minha família envolvido nesse escândalo?

           HELÔ
Avelino, todo mundo sabe que você nem considera mais a Alice como alguém da sua família, então nos poupe.

           AVELINO
Calma! Não fique nervosa, Helô. O João não iria te trocar como você me trocou.

Helô quase responde, mas João toma a frente.

           JOÃO
Basta! Era essa a ajuda que você tinha pra dar?

           AVELINO
Não, veja bem, a sua situação não tá muito boa na cidade, e eu sei que deve tá sendo muito difícil suportar essa perda. A polícia só abafou o caso por intermédio meu, porque /

           JOÃO
(indignado)
“Porque” o quê? Eu posso ser preso ainda? É isso?

           AVELINO
Isso seria injusto, claro. Por isso dou meu total apoio pra você recomeçar em outro lugar. Acredito que o quanto antes para suas terras não desvalorizarem, porque outro comprador /

João gargalha, cobre a boca, admirado pela audácia.

           JOÃO
Você ouviu isso, Helô? Tudo armado pra me ver longe daqui. Se aproveitando da morte da 
minha filha pra me expulsar da minha fazenda, da cidade onde eu nasci! (T) Fora daqui!

           HELÔ
Calma, João!

João vai empurrando Avelino, o capataz se põe na frente. João não se intimida.

           JOÃO
Não me olhe assim, não rapaz. Fora os dois!

Avelino volta, aponta o dedo.

           AVELINO
Eu to sendo razoável, João. Você não vai querer pagar por um crime que não cometeu, né?

Olho no olho. João acerta UM SOCO em sua cara. Avelino é amparado pelo capataz. Helô se põe na frente de João, encarando o empregado.

           HELÔ
Leve seu patrão daqui. (para Avelino) Já deu por hoje.

Avelino limpa a boca suja de sangue. Ele e João se encaram.

CENA 8 EXT. – CLÍNICA VETERINÁRIA – DIA

Uma PICKUP PRATA (a mesma da cena 1 – cap1) para em frente. No banco do motorista, Mazinho BUZINA, com aquela cara de safado, risonho. Alessandro surge da porta usando um SOBRETUDO PRETO. Fecha o portão e se aproxima do carro. Ao abrir a porta /

INTERIOR DO CARRO

Alessandro entra.

            ALESSANDRO
(simpático)
O senhor sabe que não gosto que peguem o meu carro, né?

            MAZINHO
Ah, qual é? Vim buscar meu sobrinho querido pra comemorar sua grande tacada.

            ALESSANDRO
Tacada? Do que tá falando?

            MAZINHO
Ah, se faz de bobo comigo não. Agora toda a cidade acha que Maria Alice é amante do João e planejou a morte de Catarina.
(cara de tacho de Alessandro)
Agora eu duvido que ela volte. A grana já é tua, rapá!

            ALESSANDRO
Peraí! O tio Walter chegou a comentar sobre o boato, mas era da Maria Alice já saber do testamento. Apenas.

            MAZINHO
Tu vai me dizer que não tem nada a ver com isso?
(em Alessandro)
Ah, tá de brincadeira! Bela sacada! Nem ela nem o Noel pisarão aqui depois disso. Vamos comemorar!

Mazinho liga o carro. Alessandro toca seu braço, pensativo.

            ALESSANDRO
Só tem um problema.

            MAZINHO
Hã? Qual que é?

            ALESSANDRO
Ela precisa saber.

Os dois se olhando, até que ambos riem. Mazinho abre a mão e Alessandro bate, num gesto de concordância.

            MAZINHO
Esse é o meu garoto!

Risos, enquanto o carro se afasta. CAM permanece alí, diante da clínica.

CENA 9 INT. – CASA DE TARSILA E WAGNER – DIA

Na TELA DA TV, exibindo uma cena de ação e tiroteio em um filme qualquer. Wagner assiste, sentado no sofá e comendo pipoca. Tarsila espia, apressada, enquanto usa seu smartphone.

           TARSILA
Ai, Wagner, não sei como tu aguenta esse tiroteio todo. Ainda mais depois do que aconteceu.

           WAGNER
Tem coisa melhor que aproveitar minhas férias assistindo a clássicos?

Alice aparece logo atrás de Tarsila, já com outra roupa. Um casaco preto por cima da blusa regata branca, e calça jeans preta. Os coturnos pretos complementam o visual meio despojado da garota.

            ALICE
Mãe, vê se consegue uma vaga lá no restaurante pra mim e pro Noel?

            TARSILA
(sem tirar os olhos do celular)
Deixa comigo. Acho que estão precisando de ajudante de cozinha.
(espanto)
Mas o que é isso?

Até Wagner tira o foco da TV.

            ALICE
O que foi?

Tarsila dá uma olhada em Alice, desconfiada.

            TARSILA
Tão dizendo aqui no facebook que você e o João são amantes.

Wagner quase engasga com a pipoca. Noel aparece por alí, ouvindo tudo.

           WAGNER
Mas o quê?

           TARSILA
E que você já sabia do testamento antes da Catarina morrer.

Alice se chateia e arranca o celular da mãe.

           ALICE
Deixa eu ver isso aqui. (Tempo / se revolta) Isso é uma calúnia!

           TARSILA
Alice, estão te acusando dessa morte!

Um celular TOCA. Alice procura pela sala, encontra seu celular em cima da TV. Atende.

            ALICE
(ao tel.)
Alô?

            ALESSANDRO
(V.O)
Então, Alice? Daqui pro inferno é muito longe pra você?
(gargalha)

Alice fecha a cara, olhar de ódio. A expressão de que vai surtar, até que

FADE TO BLACK

FIM DO PRIMEIRO ATO

SEGUNDO ATO

FADE IN

CENA 10 INT. – CASA DE TARSILA E WAGNER – DIA

Alice quase joga o celular no chão, mas Noel a impede, segurando em seu braço.

            ALICE
Foi ele! Só pode ter sido o Alessandro que espalhou esse boato!

Wagner se levanta, irritado. Deixa a bandeja de pipoca sobre a mesinha de centro.

            WAGNER
Eu vou dar uma coça nesse moleque que ele nunca mais vai esquecer na vida!

            NOEL
Ele já tá contando que você vai abrir mão da herança, Alice. Deve ter armado isso pra te tirar da jogada.

            TARSILA
Se for verdade ele passou dos limites. Isso é fruto da péssima educação que ele recebeu.

            ALICE
(nervosa)
Não, mãe! Noel teve a mesma educação e não saiu igual. Não tente amenizar o mau caratismo dele. Ele já fez isso antes.

            WAGNER
Vamos ter que agir, gente. Minha filha tá mal falada de novo, e agora com esse papo de amante. Se o João ainda fosse solteiro.

            ALICE
Pai!

            NOEL
Mas aí não teria escândalo.

            WAGNER
Em cidade pequena tudo vira motivo pra escândalo. É um mimimi do cacete. A pessoa não pode peidar que o outro lado já entra em pânico.

            TARSILA
Wagner, cê entende que a nossa filha tá sendo acusada de um crime?

            NOEL
Tia, a Alice não foi acusada formalmente. Isso é só uma jogada pra tirar a gente da reta. Enquanto isso, o assassino fica solto, rindo da gente.

            WAGNER
Ninguém tá rindo de você, garoto. Tá nesse rolo porque quer, porque podia voltar pra fazenda /

            TARSILA
Wagner, pelo amor de Deus!

Wagner faz careta, sem se importar com o que disse.

            NOEL
Tudo bem, tia. Não sou bem-vindo aqui nem lá. Sabe Deus onde mais. Mas lá eu não volto sozinho. Não volto.

Noel vai até a porta e SAI.

            TARSILA
Francamente, hen Wagner? O garoto apoia nossa filha, tá junto há dez anos.

            WAGNER
Ah, me exauri, pronto.

Tarsila faz a negativa com a cabeça, enquanto Alice se mostra pensativa.

CORTA PARA

Vista aérea da cidade, sua praia, ruas estreitas e suas encostas /

CENA 11 EXT. – CASARÃO / FAZENDA SANTOS / QUARTO DE ALESSANDRO – DIA

A porta sendo aberta, CAM adentrando o

INTERIOR

PLANO MÉDIO – Catarina vestida de noiva, morta sobre a cama. Há uma névoa estranha pairando próxima à janela, enquanto a CAM se aproxima. Revela-se Maria José, cautelosa, encarando a  prima e roendo a unha.

            MARIA JOSÉ
(murmura)
Parece que tá dormindo.

Ela aproxima-se. CLOSE no rosto sereno de Catarina. Maria José leva a mão até seu rosto, quando

CATARINA ACORDA E SEGURA SEU BRAÇO

            CATARINA
Eu vou te pegar!

Maria José se ASSUSTA, tenta se esquivar, mas Catarina não solta.

            CATARINA
Eu vou te pegar!

Maria José finalmente se solta e

CENA 12 INT. – CASARÃO / FAZENDA SANTOS / SALA – DIA

ACORDA no sofá, apavorada. Coloca a mão no peito, respiração ofegante. A mão masculina pousa sobre seu ombro. Maria José GRITA.

            MAZINHO
Qual é, princesa? Tava tendo pesadelo, é?

            MARIA JOSÉ
(ríspida)
Com a tua vó, acredita?

Mazinho levanta as pernas dela e se senta no sofá.

            MAZINHO
Ih, bateu a revolta, foi? Fala pra mim, tava sonhando que a Catarina voltava pra puxar seu pé?

Mazinho ri, e Maria José chuta-o, chateada.

            MARIA JOSÉ
Não enche! (vai se levantado) Nem tirar um cochilo eu posso.

            MAZINHO
Tu parece velha tirando cochilo após o almoço, eu hein. Vai fazer alguma coisa, mulher!

           MARIA JOSÉ
Olha só quem fala! Vai fazer alguma coisa você.

Mazinho sorri, safado e logo puxa a garota pra perto dele. Ela quase cai sobre seus braços.

            MAZINHO
Vamos fazer alguma coisa, juntos, então, hen?

Maria José tenta se esquivar, olha ao redor, preocupada.

           MARIA JOSÉ
Tá maluco? Se chega alguém?

           MAZINHO
Ah, que nada. Todo mundo saiu. Vamos comemorar a grana que o Alessandro vai receber, vamos.

A garota ri, concordando.

           MARIA JOSÉ
Você é louco.

Maria José cai nos braços de Mazinho, sumindo da tela.

[MUSIC ON – Boca Aberta – Pitty]

CAM BUSCA a empregada (loira, 30 anos, cabelos amarrados, trajando uniforme), à espreita do corredor, assistindo a tudo.

CORTA PARA

Takes da cidade, ônibus estacionando, outros partindo. Uma geral pela praça, algumas pessoas sentadas nos bancos, outras entrando num restaurante à beira da praia, com fachada coberta por um toldo vermelho.

CENA 13 INT. – RESTAURANTE – DIA

[MUSIC OFF]

Local movimentado, típico ambiente familiar, com cores neutras, combinando com o tom vermelho das toalhas que cobrem as mesas de madeira. Próximo à porta está Tarsila, atrás do balcão do caixa. O balcão contém, além do computador, doces e  balas à venda, além de cartões de visita.

Walter se aproxima, trajando roupa, touca e avental brancos, típicos de quem trabalha na cozinha.

            WALTER
Tarsila, só vim rapidinho avisar que falei com o chefe sobre contratar a Alice e o Noel.

            TARSILA
E aí? Quando começam?

            WALTER
Infelizmente, não começam.

            TARSILA
Como assim? Somos tudo família.

            WALTER
Foi aquele boato, Tarsila. O chefe é bastante conservador. Você sabe que aqui na cidade o povo se divide entre respeitar o Avelino e o João, né? O patrão não quer uma guerrinha aqui dentro.

            TARSILA
Absurdo! Desse jeito eles terão que sair da cidade.

            AVELINO
(O.S)
Eu acho uma excelente ideia!

Ambos encaram Avelino, chegando alí com um sorriso de deboche.

            TARSILA
Tá achando bonito, Avelino? A minha filha tá mal falada por conta desse boato que o seu filho espalhou.

            AVELINO
Não sei por que o espanto; Não é a primeira vez, não?

Tarsila fecha a cara, mas nem tem tempo de retrucar; Avelino dá um tapinha no ombro de Walter.

            AVELINO
E aí, irmão? Qual o prato de hoje? Vim prestigiar sua comida.

E sai rindo, indo em direção às mesas.
Walter e Tarsila encaram-se, chateados.

CENA 14 INT. – CASA DE WAGNER E TARSILA / SALA – DIA

Alice acaba de abrir a porta para João. Wagner recua, preocupado.

            JOÃO
Boa tarde. Eu vim assim que eu soube desse boato ridículo.

            WAGNER
Você vai me desculpar, viu João, mas vir até aqui pode agravar ainda mais o caso.

            JOÃO
Não quero ser problema algum pra vocês, mas o Avelino passou dos limites.

            NOEL
Ele nunca teve limites, seu João.

João tem o olhar aceso, expressão de irritado, mas mantendo o controle.

            JOÃO
Verdade. Escuta essa, o Avelino teve a cara de pau de se oferecer como comprador das minhas terras, caso contrário, eu poderei ser indiciado como culpado pela morte de minha filha. Pode isso?

Wagner cobre a boca, admirado com a audácia.

            WAGNER
Gente, que horror! Ele disse isso?

            JOÃO
Praticamente, Wagner. Olha a jogada dele: Compra minhas terras, ao mesmo tempo que ajuda o Alessandro a ficar com a parte que deveria ser pra Alice e Noel. To passado a ferro.

Alice, de braços cruzados, expressão de ódio.

            ALICE
O Alessandro ainda veio de deboche pra cima de mim. Vontade de dar um /

            NOEL
(completa)

Troco. Ele e meu pai. A tia Tarsila acabou de ligar avisando que o emprego lá já era. Vamos fazer o quê? Ir pra cidade grande, enquanto meu pai e o Alessandro usufruem da grana? E ainda sem saber quem matou a Catarina?

João aponta o dedo, confiante.

            JOÃO
É isso, garoto! Estão querendo abafar o caso, porque o Avelino deve ter culpa no cartório. A polícia tá do lado dele, mas quero saber se vocês estão do meu lado?

Alice, Noel e Wagner entreolham-se, sem entender muito bem.

            WAGNER
Do seu lado de que maneira?

            JOÃO
Vamos combinar que o Avelino não é um cara de muita sorte. É mais fácil ele ter mandado matar a minha filha.

Wagner vai até ele, abraça, dá uma força. João mostra-se sofrido.

           WAGNER
Que isso, João, calma! A gente entende a sua dor, mas não se pode tirar conclusões precipitadas, né não, gente?

           ALICE
As pessoas tiram conclusões sobre mim, pai. Não vejo problema em fazer isso contra o meu tio.

           JOÃO
A herança pertence a vocês. Se vocês não lutarem por ela eu vou embargar esse testamento, mesmo que pra isso eu tenha que alegar insanidade da minha filha, nem sei.

           NOEL
Ela não ia merecer isso. Nem impunidade.

Noel dá uma olhada em Alice, indecisa.

           JOÃO
Isso significa que vocês topam?

Nos olhares entre Alice e Noel.

CENA 15 INT. – CABANA – DIA

O corte é feito imediatamente numa carta de tarô, com a imagem da Morte desenhada, sendo colocada por mãos femininas sobre outras duas. Paulo está sentado diante da CAM, tenso.

            PAULO
E então, dona Tina? Dias piores virão?

Tina, diante dele, pensa um pouco. Mexe nas cartas e, com um olhar triste, encara Paulo.

            TINA
Você devia partir. Um terremoto está prestes a acontecer por essas terras, e quem estiver nelas, sairá abalado.

Paulo inclina-se mais perto, preocupado.

            PAULO
A senhora disse que me ajudaria. Eu não quero ter que ir embora. Meu lugar sempre foi aqui.

            TINA
(firme)
Mas se descobrem o que você fez o seu lugar será atrás das grades!

Clima.
Paulo vai pra trás, injuriado.

            TINA
A gente sabe que o interesse do Avelino é tomar as terras do João, mas nunca se sabe quem passará a ser o alvo dele amanhã.

            PAULO
(abaixa a cabeça, expressão de choro)
Eu me arrependo do modo como tudo aconteceu, mas poxa…(encara Tina) Eu só queria que a Catarina desistisse daquele casamento. Nem o patrão apoiava.

            TINA
Escuta bem o que vou te dizer, Paulo, nenhuma disputa por terras termina bem. Principalmente quando um deles já provocou a morte de um inocente pra chegar onde está (impacto na cena).
Eu vejo uma sombra pairando neste lugar, garoto. Eu vejo ambição, vingança.

As MÃOS DE TINA afastando as cartas, lado a lado, e revelando a carta contendo a imagem de um homem, o diabo e a morte.

VOLTA PARA o rosto de Tina, fria.

            TINA
Eu vejo mortes.

Fecha em Paulo, alarmado.

FADE OUT

FIM DO SEGUNDO ATO

ATO FINAL

FADE IN

Numa IGREJA pequena, branca e com detalhes azuis. As portas de madeira e as janelas no topo revelam um lugar bem antigo, mas preservado /

CENA 16 INT. – IGREJA / CONFESSIONÁRIO – NOITE

Local feito de madeira, bem estreito e fechado por uma cortina. O padre Batista acaba de se sentar, dispõe a bíblia sobre o colo e abre numa página. Olha para uma janelinha de treliça por onde é possível ver um homem.

            BATISTA
A paz de Deus esteja convosco! Pode falar, irmão, o que lhe atormenta?

            AVELINO
(do outro lado / fazendo graça)
Irmão eu já tenho três, não preciso de mais um.
(ri / Batista fecha o semblante)
Perdão, padre, a ocasião faz a piada. Só vim mesmo reiterar a minha ajuda para a sua igrejinha. Missão cumprida é missão paga, né não? (ri)

            BATISTA
(sério, inconformado)

O senhor sabe o quanto foi custoso pra mim, não sabe?

            AVELINO
Ah, deixa disso! Somos parceiros há tanto tempo. Te vi crescer, garoto! Saiba que fez um bem à humanidade.

            BATISTA
A reputação de Maria Alice já foi destruída. Já pensou que a sua irmã pode sofrer represálias por conta desse boato?

            AVELINO
Boato não, verdade! Porque quando um padre espalha uma notícia, assim, como quem não quer nada, todo mundo acredita. E de mais a mais, Tarsila pode muito bem voltar pra cidade grande. Menos uma pra dar dor de cabeça.

            BATISTA
Percebo o quanto despreza sua família, seu Avelino. Quem dera eu ainda tivesse meu pai e minha irmã.

Do outro lado da janelinha, Avelino faz uma pausa, mas rapidamente apanha, do bolso do paletó, um punhado de dinheiro.

            AVELINO
Acho que isso aqui vai te animar, padre.

Ele enrola a grana e passa pelo vão da treliça.
Em Batista, engolindo a seco aquela propina.

            AVELINO
Vamos! Esse é o combinado. Lembra que eu jurei pro seu pai que cuidaria de você. Não me decepcione, garoto!

Avelino se levanta e vai embora.
Batista ainda fica olhando pra grana presa na janelinha. Apanha e esconde na mão.

CORTE DESCONTÍNUO

Batista já SAINDO do confessionário. Uma BEATA (morena, 50 anos, trajando vestido longo e em cores neutras, e cabelos pretos bem amarrados) segurando uma bolsa de um lado e bíblia do outro, se aproxima.

            BEATA
Ainda por aqui, padre? Procure descansar, o senhor trabalha muito.

            BATISTA
Sim, farei isso agora. Tenha uma boa noite. Descanse.

            BEATA
O senhor também.

A beata SAI, deixando o padre alí, pensativo. A bíblia debaixo do braço e a grana na outra mão, sendo comprimida a medida em que o padre esboça raiva.

            BATISTA
Eu ainda não posso descansar. (olha para a grana, faz mistério) Ainda não.

FUSÃO PARA

CENA 17 INT. – CASA DE WAGNER E TARSILA / QUARTO DE ALICE – NOITE

Alice apronta a mala sobre a cama. Dispõe roupas, dois pares de mocassins pretos, acessórios e cosméticos. Fecha a mala e pousa as mãos sobre ela, respira fundo. BATIDAS na porta. Noel ENTRA, trajando terno preto sobre a camisa branca não abotoada totalmente, e sem gravata.

            NOEL
Pronta?

Alice faz que sim, não muito confiante. Ambos se abraçam.

[MUSIC ON: Pequena Morte (intro) – Pitty]

CORTA PARA

CENA 18 EXT. – CIDADE – NOITE

A cidade tranquila, gente saindo da igreja; a praça com algumas pessoas. CAM dá uma geral pegando a praia.

Imediatamente encontramos a fachada do CASARÃO na FAZENDA SANTOS, iluminada pelas luzes dos pequenos postes /

CENA 19 INT. – CASARÃO / FAZENDA SANTOS / SALA – NOITE

[MUSIC OFF]

Uma conversaria animada. Alessandro, sentado no sofá, ao lado de Mazinho, ri de alguma coisa; Avelino, sentado numa poltrona, tomando café; Walter na outra poltrona, sério, não acha graça de nada; No braço desta poltrona, Maria José sorri maliciosamente para Mazinho, sem que Walter perceba; Logo atrás, Cícero está em pé, comendo biscoitos diretamente de um pote.

            AVELINO
Eu não acho uma boa você comprar o consultório, Alessandro. Não agora. As pessoas podem maldar. Deixa a poeira baixar.

            MAZINHO
Traduzindo: deixa as pessoas esquecerem a Maria Alice. Quando ela sumir da cidade, né? Porque se insistir em ficar…

Alguns riem, menos Walter.

            WALTER
Vocês se lembram que a Catarina morreu ontem?
(Mazinho faz cara de tédio)
E hoje vocês estão falando mal de um parente e pensando no que vão fazer com a grana?

            ALESSANDRO
Ah, tio, por favor! É claro que sinto muito por tudo que aconteceu, mas a vida continua, não?

            MAZINHO
É isso, Alê! Tem que pensar no futuro.

            CÍCERO
Vocês só estão esquecendo que a menina Alice ainda não abriu mão da herança, né?

            AVELINO
Cícero, querido, seja menos. Ainda deve ter restado alguma vergonha na cara da Maria Alice. Se ela voltar será pra assinar o documento e sumir daqui.

            NOEL
(O.S)
Não seja pessimista, pai.

Alice e Noel adentram com as suas malas. Avelino se levanta, abruptamente.

            AVELINO
O que é isso? Que malas são essas?

Noel larga a mala no chão, sorri, irônico.

            NOEL
Ué? Viemos pra ficar. Não é essa condição que consta no testamento de Catarina?

            ALICE
(olhar sacana pra geral)
Boa noite…Ou não.

Noel abre os braços.

            NOEL
Que comecem os jogos!

[SOBE A MÚSICA: Pequena Morte – Pitty]

Nos olhares surpresos de cada um, até chegar em Alice, encarando todos, de expressão firme.

FADE OUT

A música termina nos créditos…

FIM DO CAPÍTULO

APRESENTANDO

CHRISTIANA UBACK…………………..Maria Alice Pimentel

JOÃO VÍTHOR OLIVEIRA…………………………Noel Santos

MARCO PIGOSSI………………………..Alessandro Santos

OSVALDO MIL…………………………….Mazinho Santos

JULIANA LOHMANN………………………Maria José Guerra

LUCINHA LINS………………………………Helô Castro

HERSON CAPRI……………………………..Avelino Santos

LUCCI FERREIRA…………………………..Walter Santos

MURILO GROSSI……………………….……………João Guerra

TONICO PEREIRA…………………………..Cícero Guerra

PARTICIPAÇÃO ESPECIAL

BIA ARANTES……………………………Catarina Guerra

 

ELENCO SECUNDÁRIO

RAPHAEL VIANA…………………………….Paulo Borges

CAIO BLAT……………………………….Padre Batista

CLÁUDIA NETTO………………………...………………Tina

DANI BARROS……………………………..Tarsila Santos

MARCO RICCA…………………………….Wagner Pimentel

ATORES CONVIDADOS NESSE CAPÍTULO

GENÉZIO DE BARROS…………………………Rafael Campos

JÚLIO MACHADO………………………………….Capataz

LUÍZA VALDETARO………………………...……………….Ana

TRILHA SONORA

BOCA ABERTA………………………...………………….Pitty

PEQUENA MORTE………………………...……………….Pitty

Essa obra não possui nenhum vínculo/contrato com os atores citados acima.

-” ”>-‘.’ ”>

A Widcyber está devidamente autorizada pelo autor(a) para publicar este conteúdo. Não copie ou distribua conteúdos originais sem obter os direitos, plágio é crime.

  • Morto que a Alice foi morar na casa do Carcará. Morto que ele é um cara de pau. Eu falo dele desse modo, mas acho que fundo até gosto do personagem. Que clima o da cena final. Parabéns!! Vou seguir lendo!!

    • Alice e Noel estão num balaio de gatos kkkkkkkk A partir do capitulo 4, muitas unhadas aguardam pelo casal de primos mais azarados da região. Obrigada pela visita! 😀

  • Morto que a Alice foi morar na casa do Carcará. Morto que ele é um cara de pau. Eu falo dele desse modo, mas acho que fundo até gosto do personagem. Que clima o da cena final. Parabéns!! Vou seguir lendo!!

  • Morto que a Alice foi morar na casa do Carcar&#225. Morto que ele &#233 um cara de pau. Eu falo dele desse modo, mas acho que fundo at&#233 gosto do personagem. Que clima o da cena final. Parab&#233ns!! Vou seguir lendo!!

    • Alice e Noel est&#227o num balaio de gatos kkkkkkkk A partir do capitulo 4, muitas unhadas aguardam pelo casal de primos mais azarados da regi&#227o. Obrigada pela visita! 😀

  • Morto que a Alice foi morar na casa do Carcará. Morto que ele é um cara de pau. Eu falo dele desse modo, mas acho que fundo até gosto do personagem. Que clima o da cena final. Parabéns!! Vou seguir lendo!!

    • Alice e Noel estão num balaio de gatos kkkkkkkk A partir do capitulo 4, muitas unhadas aguardam pelo casal de primos mais azarados da região. Obrigada pela visita! 😀

  • Morto que a Alice foi morar na casa do Carcar&#225. Morto que ele &#233 um cara de pau. Eu falo dele desse modo, mas acho que fundo at&#233 gosto do personagem. Que clima o da cena final. Parab&#233ns!! Vou seguir lendo!!

    • Alice e Noel est&#227o num balaio de gatos kkkkkkkk A partir do capitulo 4, muitas unhadas aguardam pelo casal de primos mais azarados da regi&#227o. Obrigada pela visita! 😀

  • Morto que a Alice foi morar na casa do Carcará. Morto que ele é um cara de pau. Eu falo dele desse modo, mas acho que fundo até gosto do personagem. Que clima o da cena final. Parabéns!! Vou seguir lendo!!

    • Alice e Noel estão num balaio de gatos kkkkkkkk A partir do capitulo 4, muitas unhadas aguardam pelo casal de primos mais azarados da região. Obrigada pela visita! 😀

  • Pesquisa de satisfação: Nos ajude a entender como estamos nos saindo por aqui.

    Publicidade

    Inscreva-se no WIDCYBER+

    O novo canal da Widcyber no Youtube traz conteúdos exclusivos da plataforma em vídeo!

    Inscreva-se já, e garanta acesso a nossas promocionais, trailers, aberturas e contos narrados.

    Leia mais Histórias

    >
    Rolar para o topo