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Os últimos Dragões de Estratosverius

FADE IN

EXT. PRAIA DE SANTIAGO – AMANHECER

O sol lança seus primeiros raios iluminando o mar imenso. Nas areias negras e peculiares se encontram três jovens: o príncipe ELIJAH IZRRA (17 anos), cabelos pretos e compridos presos em um coque alto, está sentado afiando sua machadinha. Ao seu lado, deitado e olhando as estrelas cintilantes que se despedem no céu, está seu irmão, o príncipe NICOLAS MARTÍN (14 anos), cabelos pretos e curtos. Ambos estão usando calças pretas de couro, camisa branca, um colete preto de couro e botas pretas.

A princesa AURORA VIOLET (15 anos), irmã dos príncipes, cabelos lisos e castanhos presos em uma única trança e usando uma túnica vestido de cor amarelada, se aproxima segurando seu arco.

 

AURORA

Vocês estão aí distraídos, 

Não viram aquela embarcação 

em alto mar?

 

Elijah levanta a cabeça encarando o mar à sua frente. Nicolas senta-se na areia fazendo o mesmo.

POV dos jovens: uma embarcação corpulenta se intensifica em direção à areia, com o sol cada vez mais brilhante atrás. Na proa da mesma, uma bandeira negra com o desenho de um dragão cuspindo fogo, vem tremulando com o vento matutino.

 

NICOLAS

Quem será?

 

ELIJAH

Esta bandeira não me é estranha. 

O pai já comentou em algum momento 

sobre embarcações vindo do Norte com 

o símbolo do dragão cuspidor de fogo.

 

Desconfiados e posicionados lado a lado, Elijah segura firme sua machadinha, Nicolas cata sua espada do chão e firma a mão no cabo da mesma, enquanto Aurora já prepara o seu arco.

Como um raio, a IMAGEM se transporta para

EXT. ALTO MAR – AMANHECER

SONOPLASTIA: ENGLISH BARD

 

Próximo da orla onde a embarcação atraca. 

Um HOMEM, de quase dois metros de altura, corpo robusto e cabeça raspada, usando uma túnica de cor escura, desce com alguma dificuldade carregando uma caixa que parece bastante pesada.

CLOSE em seus pés descalços que pisam e são encobertos pela água do mar, enquanto ele caminha contra a correnteza. 

CAM ABRE e, às suas costas no navio, vários guerreiros negros e com o corpo descoberto mostrando seus músculos, se posicionam segurando seus escudos de carvalho e suas lanças.

POV do homem: parados, lado a lado, na areia negra, os três irmãos com as armas preparadas, atentos à qualquer movimento.

ESCUTA-SE BATIDAS e um cântico em uma língua desconhecida começa ser entoado aumentando o volume gradativamente se sobressaindo à sonoplastia. Enquanto o homem caminha em direção às areias negras, seus guerreiros no navio cantam e batem com suas lanças sobre os escudos de carvalho.

 

FIM DA SONOPLASTIA

 

EXT. PRAIA DE SANTIAGO – AMANHECER

O homenzarrão se aproxima dos jovens sem apresentar perigo iminente. Quando chega há +ou- uns três metros dos jovens se ajoelha sobre o joelho direito fazendo uma leve reverência e largando a caixa pesada em frente.

 

HOMEM

(olhar fixo no chão)

Sou SOLOMON, do reino de 

Estratosverius. Vim em uma missão 

de paz à mando do Rei Guzmón.

 

Elijah, assumindo o papel de herdeiro mais velho, baixa sua machadinha e faz sinal para que os irmãos também abaixem suas armas.

 

ELIJAH

À vontade, Solomon.

 

O homem se levanta, mas mantém os olhos fixos no chão.

 

SOLOMON

Como estão as mais novas

 Princesas de Paladia?

Os irmãos se entreolham.

 

NICOLAS

Como você sabe das 

novas princesas?

 

SOLOMON

(erguendo a cabeça e apontando para o céu)

As estrelas nos mostraram.

 

Solomon, enfim, encara os jovens.

 

SOLOMON

(cont.)

E o vento nos revelou toda a

 importância delas daqui pra

 frente. Nosso Rei é sensato e

envia um presente para as princesas.

 Um presente em sinal de todo

 o respeito de Estratosverius para 

com Paladia. Agora, meus jovens,

 será que poderia entregar em mãos

 para o Rei e sua Rainha?

 

NICOLAS

Eu…

 

Ele olha para o príncipe Elijah e para a princesa Aurora.

 

NICOLAS

(cont.)

…eu posso lhe acompanhar 

até o castelo.

 

EXT. CASTELO DE PALADIA – DIA

 

SONOPLASTIA: CASTLE BARD

Um castelo imponente onde, na sua fachada, se vê um enorme portão duplo com duas torres altas, uma de cada lado.

O grande portão se abre lentamente na medida em que o príncipe Nicolas se aproxima seguido de perto pelo homenzarrão. No alto das torres, guardas fortemente armados observam atentos a chegada dos dois. 

Nicolas e o homem adentram os portões. No pátio do castelo, jardins floridos de ambos os lados e um caminho de pedra que leva até a entrada principal. Uma fortaleza que, há séculos, é considerada intocável, onde homens mal encarados fazem a guarda do lugar em todos os cantos para onde se olha. 

FIM DA SONOPLASTIA

INT. CASTELO DE PALADIA – DIA

Um salão largo e alto, com quadros e adereços dourados nas paredes laterais e mesas dispostas estrategicamente enfileiradas com castiçais ornamentais em cima.

No fundo do salão, o rei MARCUS VINICIUS (47 anos) e a rainha ANGEL BEATRICE (46 anos) estão de costas. Ele usando um longo agasalho negro de pele de lobo e ela um longo agasalho esverdeado com adereços prateados e exibindo seus longos cabelos loiros presos em duas longas tranças. 

À frente deles uma MULHER VELHA / CURANDEIRA (75 anos), de trajes esfarrapados e rosto visivelmente cansado e enrugado cantarola algo em um idioma desconhecido, enquanto faz movimentos suaves e circulares sobre os corpos de duas bebês nuas e recém nascidas. As bebês CHORAM.

A porta grande se abre e Nicolas entra seguido do homenzarrão chamando a atenção do rei e da rainha que se viram e da curandeira que interrompe seus cânticos. Aqui se vê as expressões serenas de Marcus, com sua barba e cabelos grisalhos e da rainha Angel, com seus olhos azuis brilhantes.

Nicolas e o homenzarrão se aproximam à passos firmes. O homem faz para Marcus e Angel a mesma reverência que fez aos jovens na praia.

 

NICOLAS

Solomon, do reino de 

Estratosverius, meu rei.

 

MARCUS

Eu sei quem ele é.

 

O rei Marcus se aproxima do homenzarrão estendendo sua mão para ele. Este a beija e se levanta encarando o rei.

 

MARCUS

O que faz por aqui, Solomon?

 

SOLOMON

Vim à pedido do rei Guzmón.

 

Solomon estende o braço entregando a caixa para o rei Marcus.

 

SOLOMON

(cont.)

É um presente especial de Estratosverius 

para as novas princesas.

 

Solomon lança o olhar para os lençóis brancos onde as bebês já parecem mais calmas.

POV de Solomon: as bebês recém nascidas se contorcendo. Angel se agacha próxima às filhas. A curandeira observa atenta a conversa.

Marcus examina a grande caixa e a entrega para a velha curandeira.

 

MARCUS

O reino de Estratosverius, na figura 

do rei Guzmón, sempre foi nosso 

forte aliado. Diga ao rei que 

agradecemos a gentileza, Solomon.

 

Solomon faz mais uma reverência.

 

SOLOMON

Nossos reinos sempre foram e sempre 

serão aliados em quaisquer circunstâncias. 

É uma honra poder compartilhar momentos 

com o povo de Paladia…nem que estes sejam 

bons ou mais momentos.

 

MARCUS

Os tempos são de paz. Há luas que 

não precisamos combater lado a lado.

 

A curandeira pigarreia.

 

CURANDEIRA

Mas os tempos tendem a mudar.

 Nem tudo dura para sempre. Nem a

 guerra, nem a paz. Nem o rei Guzmón

 de Estratosverius e nem você, rei Marcus 

de Paladia. Nem esta velha curandeira 

aqui vai durar para sempre.

 

Marcus sorri.

 

MARCUS

Que história é essa?

CURANDEIRA

Ora, meu rei. Você sabe, eu sei, 

o povo sabe que a minha hora está 

chegando. Este ciclo está se completando. 

E, sempre que um ciclo se fecha, 

notícias ruins se espalham até 

que as coisas voltem aos eixos.

SOLOMON

Bom, minha missão aqui está feita.

 Com a sua licença, meu rei, precisamos 

retomar o caminho de volta.

 

O homenzarrão faz uma última reverência e se vira passando pelo príncipe Nicolas e seguindo em direção à porta. Cruza por Elijah e Aurora que chegam ao local e já se dirigem para junto dos demais.

A curandeira fecha os olhos passando a mão por toda a grande caixa. Todos a observam. Ela começa entoar um CÂNTICO LÍRICO e sereno. Abre a caixa e

CLOSE no interior da caixa: dois grandes ovos de dragão. Um mais claro e um mais escuro.

 

EXT. CASTELO DE PALADIA – DIA

Sob olhares dos guardas de Paladia, Solomon segue seu caminho através dos portões do castelo em direção à praia.

 

INT. CASTELO DE PALADIA – DIA

Com todo o cuidado, a velha curandeira retira um por um os ovos de dragão de dentro da caixa, entregando-os nas mãos do rei Marcus. Ela repara em um pergaminho solto dentro da caixa. O pega, abre e começa ler com sua voz rouca.

 

CURANDEIRA

“Estimados rei e rainha do reino da Paladia, 

é com imenso prazer que eu,rei Guzmón, em 

nome de todo o reino de Estratosverius, 

vos presenteio com algo único e raro. Estes 

ovos de dragões são os últimos de sua espécie 

e vocês podem ter absoluta certeza que eles 

irão proteger estas princesas do momento em 

que nascerem até os seus últimos suspiros. 

Mondragon e Estrela de Fogo são predestinados. 

Chegarão à este mundo com esta missão e assim 

a cumprirão. Não duvides, pois a Força 

Maior assim deseja.”

 

Do seu rei, Guzmón de Estratosverius.

O rei Marcus, a rainha Angel e seus filhos ficam incrédulos com o que escutam. Rei e rainha olham para as gêmeas, já bem mais calmas, e ele larga um ovo ao lado de cada gêmea.

SEQUÊNCIA DE CENAS

SONOPLASTIA: MOUNTAIN STORM

EXT. PRAIA DE SANTIAGO – DIA

O homenzarrão se lança ao mar em direção ao navio onde os guerreiros o aguardam. Quando já está dentro do navio, alguns guerreiros começam remar para alto mar. A embarcação parte com destino à Estratosverius.

 

INT. CASTELO DE PALADIA – DIA

 

A curandeira sente uma tontura e é amparada pelo príncipe Elijah. Ela tosse várias vezes como se estivesse engasgada. A princesa Aurora enche uma taça de água de uma pia ao fundo do salão e corre para ajudá-la.

O rei Marcus e a rainha Angel pegam as gêmeas no colo. Nicolas corre para trancar a porta principal.

 

EXT. PRAIA DE SANTIAGO / LADO LESTE – DIA

Um frota de monstruosos navios surgem ao longe chegando em direção à orla da praia. Nas proas se vê flâmulas com desenhos de cruzes e coroas cristãs tremulando com o vento.

 

FIM DA SONOPLASTIA

FIM DA SEQUÊNCIA DE CENAS

 

EXT. PRAIA DE SANTIAGO – ENTARDECER

Da orla da praia se vê cinco grandes navios se aproximando e exibindo suas flâmulas cristãs.

De pé à frente do Primeiro Navio, um HOMEM (50 anos), usando uma túnica marrom, retira o capuz que encobre seu rosto revelando uma face deformada na lateral. É o bispo DEMÉTRIUS, também comandante da frota. Atrás dele e nos outros navios, vários homens com espadas, escudos e lanças já se preparam para o desembarque.

Um HOMEM mais velho (70 anos), careca e de longa barba grisalha, se aproxima ficando ao lado de Demétrius observando a praia deserta de Santiago.

 

HOMEM

Eles não desconfiam de nada. 

Nenhum guarda de vigia na praia.

 

DEMÉTRIUS

Estes malditos irão sentir a força do 

nosso Senhor. O Radagaismo não pode e 

não vai crescer se depender de nós.

 

O homem mais velho se inclina estendendo o braço direito e passando a mão na água gelada do mar.

 

HOMEM

Que nosso Senhor nos proteja.

 

Demétrius faz o sinal da cruz e beija o crucifixo pendurado no seu pescoço.

 

DEMÉTRIUS

Ele nunca nos abandona.

 

INT. CASTELO DE PALADIA / QUARTO NORTE – ENTARDECER

 

O rei Marcus está pensativo e de pé diante da janela admirando o pôr do sol no horizonte.

 

Se vira para o quarto grande com uma cama de casal ao centro, dois criados mudo mas laterais, uma cômoda com puxadores dourados e um grande armário também com puxadores dourados. Sobre a cama a caixa os dois ovos de dragão. Mais adiante, na porta entreaberta, um guarda faz a ronda.

 

MARCUS

Soldado.

 

O soldado que faz a ronda se vira entrando no quarto. Marcus pega a caixa sobre a cama e entrega ao seu homem.

 

MARCUS

Eu quero que você leve e guarde isto em 

segurança no celeiro. Ninguém pode lhe

 ver indo pra lá. Ninguém pode saber o

 conteúdo desta caixa.

 

O soldado pega a caixa e se espanta com o que vê.

 

MARCUS

É bem isso que está pensando, soldado. 

E, caso você abra a boca sobre o que tem

 aí, você não verá seus filhos crescerem e

 o seu corpo servirá de comida para estas

 criaturas quando nascerem.

 

SOLDADO

Terei todo o cuidado, meu rei. 

E ficarei de boca fechada.

 

O soldado pega a caixa e está se retirando do quarto quando a velha curandeira chega.

 

MARCUS

Estás melhor?

 

A curandeira se aproxima da janela e fica olhando para fora.

 

CURANDEIRA

Estou sim, obrigada meu rei. 

Mas isso foi um sinal.

 

MARCUS

Sinal de quê? Você viu alguma coisa?

 

Ela se vira para o rei.

 

CURANDEIRA

Ver eu não vi. Não está claro.

 

Ela volta olhar para fora. O rei se aproxima e fica ao seu lado.

POV dos dois: um céu rubro no horizonte.

 

CURANDEIRA

Há coisas chegando do leste. Não consigo

 ver o que é. Você precisa redobrar 

os cuidados nos muros do castelo

 antes que seja tarde demais.

 

Ambos ficam lado a lado encarando aquele céu vermelho no horizonte. Vermelho que, aos poucos vai se transformando em escuridão e uma lua cheia se acende.

 

EXT. PRAIA DE SANTIAGO – NOITE

No céu a lua é encoberta pelas nuvens, enquanto tochas cristãs iluminam a praia deserta. Sob gritos raivosos os soldados cristãos desembarcam e avançam em direção às ruelas de Paladia.

 

EXT. RUELAS DE SANTIAGO – NOITE

CLOSE em vários pares de botas “surradas” que avançam correndo pelas ruelas de pedra.

CAM abre e revela vários soldados de armaduras pesadas e com lanças, espadas e escudos em mãos. Alguns moradores locais começam sair de seus casebres e são surpreendidos pelos golpes impiedosos dos soldados cristãos.

Um senhor corcunda, de longa barba branca e longos cabelos, sai assustado de dentro de sua casa, quando avista a tropa se aproximando. Tenta correr de volta para dentro, mas é surpreendido e atingido por uma lança perfurando suas costas. Cai de cara nas pedras. Em seguida, a tropa de soldados passa depressa não se importando com seu corpo estatelado no chão e o pisoteia.

Dois soldados, armados com espadas, invadem um casebre e, em questão de segundos, arrastam para fora duas mulheres e um jovem. Os levam como reféns arrastando-os pelo caminho.

GRITOS de raiva se misturam à GRITOS de desespero pelas ruelas.

Pelas tendas os soldados passam derrubando as caixas de mercadorias espalhando frutas e legumes pelo chão. Seguem se dividindo entre as ruelas e causando um caos total.

PLANO GERAL do ALTO mostra as diversas ruelas todas tomadas pelos soldados cristãos. Há duas quadras o imponente Castelo de Paladia se destaca. Ele é o grande alvo daqueles homens que vão se juntando novamente para invadirem a fortaleza.

 

INT. TORRE DO CASTELO – NOITE

Um guarda está deitado em um canto da torre com a mão sobre sua espada. Ele acorda assustado com os GRITOS que parecem cada vez mais próximos. Levanta segurando firme a sua espada e avista, através da pequena janela da torre, o caos que se instala em Paladia e se aproxima do castelo. Imediatamente, ele TOCA o sino repetidas vezes.

POV do guarda: o bispo Demétrius à frente de um grande grupo já bem perto do castelo.

 

INT. CASTELO DE PALADIA / QUARTO NORTE – NOITE

O rei Marcus e a rainha Angel despertam na grande cama com o sino tocando. Marcus vai até a janela e observa o alvoroço dos seus servos nas dependências do castelo. A rainha logo chega às suas costas lhe abraçando.

ANGEL

O que está acontecendo?

 

MARCUS

Eu não tô entendendo. Mas não

 parece ser nada bom.

Ele estende o olhar tentando descobrir algo. Vê que o portão principal começa ser forçado.

 

MARCUS

Malditos! Estão tentando 

invadir o castelo.

 

Marcus procura por seu agasalho. Encontra-o pendurado em um cabideiro de madeira ao lado da janela. Veste-o.

 

ANGEL

Quem está tentando invadir?

 

MARCUS

Eu não sei. Não faço ideia de 

quem possa ser.

 

Marcus segura os ombros da rainha encarando seus olhos azuis.

 

MARCUS

(cont.)

Escuta. Procure a princesa Aurora e se 

escondam no quarto do último andar.

 

ANGEL

Eu vou levar as bebês junto!

 

MARCUS

Não! Precisamos ser espertos. A família

 não pode permanecer juntas neste momento.

 

ANGEL

Mas não posso deixar as meninas…

 

Lágrimas começam escorrer dos olhos da rainha. Marcus lhe abraça por um instante.

 

MARCUS

Elas vão ficar bem. Vou pedir que as 

levem até o celeiro. E lá estão os ovos 

de dragão. Lembra o que estava escrito 

no pergaminho? Aqueles seres estão

 destinados a protegerem as meninas.

 

Ele olha para as bebês que começam a ficar inquietas. Olha denovo pela janela e…

 

POV do rei: o portão principal parece que não aguentará muito mais tempo. Guardas tentam protegê-lo com grandes troncos servindo de tranca, mas parece ser uma ideia equivocada.

 

MARCUS

Não temos muito tempo. Vá.

 Chame Aurora e a leve junto.

 

Nicolas e Elijah invadem o quarto às pressas segurando suas armas.

 

ELIJAH

Pai? Mãe? Eles chegaram! Os malditos 

cristãos chegaram sem piedade. Estão

 escalando as muralhas e forçando o

 portão principal..

 

MARCUS

Vai, minha rainha.

 

Angel CHORA enquanto veste um agasalho de pele de lobo por cima da sua túnica de dormir. Dá um último abraço no rei e sai.

Seu filho, o príncipe Nicolas, corre até a mãe e tira um punhal da cintura, entregando pra ela.

 

MARCUS

Príncipe Elijah? Príncipe Nicolas? 

Vão para a última torre de vigia. 

Levem dois homens com vocês. Eu vou 

tentar manter a segurança daqui.

 

Faz sinal para que o guarda do lado de fora se aproxime. O guarda obedece a ordem.

 

MARCUS

Soldado. Eu preciso que você jure por 

Helena de Radagais, que você vai 

seguir minha ordem sem questionar…

 

Marcus estende sua espada. O soldado se ajoelha diante do rei e baixa o olhar.

 

MARCUS

Seu nome, soldado.

 

SOLDADO

TÂNIS, filho de Igbertinson 

de Mangathan.

 

MARCUS

Com o poder à mim destinado, eu,

Rei Marcus de Paladia, retiro de 

você todos os seus pecados.

 

A ponta da lâmina da espada do rei toca a fronte do soldado, que levanta o olhar encarando seu superior.

 

MARCUS

Soldado Tânis de Paladia, a missão 

que será dada à você, é pra que você 

tenha a força necessária para combater 

este mal que se alastra e possa assim, 

libertar-se e libertar alguns guerreiros.

 

Marcus retira a lâmina da espada da fronte do seu soldado.

 

MARCUS

(cont.)

Você vai levar minhas filhas, as 

princesas Giulia e Valentine para o 

celeiro. Para o mesmo lugar onde você 

levou aquela caixa. Deixe as meninas em 

segurança e ordene que dois homens 

façam a vigia do celeiro.

 

O CHORO das bebês chama atenção dos presentes. Marcus vai até elas e as enrola em grossos cobertores. Pega Giulia, faz um sinal sobre seu peito, fecha os olhos e pronuncia algumas palavras sussurradas. Entrega a princesa Giulia para o guarda. Pega Valentine no colo e repete o mesmo gesto entregando-a em seguida nos braços do mesmo guarda.

 

MARCUS

Agora vá, soldado.

 

Assustado, o soldado não questiona. Se retira do quarto com as bebês obedecendo as ordens do seu rei.

 

EXT. CASTELO DE PALADIA – NOITE

CLOSE em um par de mãos grossas que se agarram nas pedras da muralha do castelo. As mãos começam escalar enquanto a

CAM abre mostrando vários soldados cristãos subindo pelos muros de pedra.

No alto da torre os guardas de Paladia chamam por reforço. Os que vão chegando já vão atirando suas flechas contra àqueles que sobem. Alguns são atingidos e despencam estatelados no chão.

Os que conseguem chegar na torre sacam suas espadas ou lanças e abatem os poucos guardas de Paladia. 

Dois homens descem rapidamente as escadas tortuosas da torre e se dirigem para o grande portão onde, pelo lado de fora, alguns soldados já forçam querendo abri-lo.

O TILINTAR das espadas se mistura aos GRITOS do combate. Mais soldados descem as escadas. Mais ou menos vinte guardas de Paladia contra uns trinta soldados cristãos. Lanças perfuram corpos. Espadas cortam membros. O sangue cobre o chão de pedras irregulares.

Dois homens da tropa do bispo Demétrius se posicionam um de cada lado do grande portão. Puxam os troncos que servem de tranca e o portão se abre. Do lado de fora, ansiosos para entrar, estão uma tropa de setenta soldados armados, liderados pelo bispo e comandante Demétrius, que sorri à frente deles batendo com a espada contra seu escudo.

 

INT. CASTELO DE PALADIA / QUARTO NORTE – NOITE

O rei Marcus observa o ataque de trás da cortina. Corre até a porta entreaberta do quarto e chama dois de seus homens. Em segundos, dois soldados vestindo armaduras pesadas e munidos de escudos e espadas surgem diante dele.

 

MARCUS

Izequiel…Castro…

Os dois homens fazem uma leve reverência ao seu rei.

 

MARCUS

(cont.)

…eu preciso que vocês reúnam a rainha, 

a princesa Aurora e os príncipes Elijah 

e Nicolas. Encaminhem eles em segurança 

para o celeiro. Eu me equivoquei 

em separar a família.

 

IZEQUIEL / CASTRO

Às ordens, meu rei.

 

MARCUS

Eu vou em seguida. Encontro vocês 

todos no leste do castelo, próximo 

à fonte. Quem chegar primeiro aguarda.

Os dois se retiram do cômodo para sua missão. Marcus corre para trás da cortina.

POV de Marcus: o ataque se intensifica causando grandes perdas para Paladia.

 

EXT. RUELAS DO CASTELO DE PALADIA – NOITE

Dois pares de botas pretas pisam com cuidado na calçada de pedra e param.

CAM abre devagar mostrando Izequiel e Castro com suas espadas em mãos. Logo atrás deles aparecem a rainha Angel, a princesa Aurora e os príncipes Elijah e Nicolas. Todos de capas escuras e capuz.

Mais à frente deles um grupo de soldados cristãos saqueia a gruta do Castelo colocando todos os artefatos de ouro dentro de bolsas de couro.

Izequiel se vira e coloca o dedo indicador sobre a boca pedindo silêncio à todos. Castro faz sinal para que se escondam atrás de uma charrete de mercadorias.

Do outro lado surge o rei Marcus, também usando uma capa escura e capuz e segurando uma espada em punho. Ele abraça a rainha se juntando à eles atrás da charrete.

 

EXT. CASTELO DE PALADIA / CELEIRO – NOITE

Um homem de túnica marrom e com uma cruz pendurada ao pescoço se afasta de um grupo de soldados cristãos e se aproxima do celeiro. Sorri e faz o sinal da cruz beijando seu crucifixo. Ao seu redor o fogo já consome algumas charretes de mercadorias. 

O homem retira o arco pendurado às suas costas, coloca uma flecha, pega um pedaço de pano e o chamusca no fogo, pendurando-o na ponta da mesma. Puxa mirando na direção do celeiro. 

Atrás de uma construção já em chamas, surgem os soldados, o rei Marcus e sua família. Vêem quando a flecha sai do arco em direção ao celeiro.


Em CÂMERA LENTA e SILÊNCIO TOTAL

 

A flecha chamuscada dança pelo ar e atinge as palhas do celeiro. Em questão de segundos o fogo começa se alastrar.

A rainha Angel estende o braço e cai de joelhos aos prantos. Marcus se ajoelha ao seu lado tentando lhe consolar.

Nicolas GRITA e ameaça correr até o homem, mas é contido pelo soldado Izequiel. Elijah ampara a princesa Aurora que quase desmaia. Castro segura sua espada em frente à todos como se protegessem eles.

TUDO VOLTA AO NORMAL

E se ESCUTA o chamuscar do fogo consumindo o celeiro. A fumaça preta se espalha pelo ar e todos TOSSEM.

 

EXT. CASTELO DE PALADIA / CELEIRO – NOITE

A fumaça se dissipa consideravelmente e as chamas vão diminuindo, porém, tudo está em destroços.

ESCUTA-SE então, um RUGIDO em meio ao que sobrou do celeiro e dois pequenos dragões, um de tom alaranjado e um de tom cinza escuro, voam em círculo.

Elijah aponta com o dedo na direção das criaturas.

 

ELIJAH

Olhem isso! Como pode?

 

Todos levantam o olhar, ainda engasgados com a fumaça e incrédulos com que vêem.


NICOLAS

São os dragões! Eu jamais imaginei 

que isso fosse acontecer.

UM CHORAMINGAR vindo do meio dos destroços do celeiro chama atenção de todos.

A rainha Angel é a primeira a correr, sendo seguida pelos demais, enquanto no alto os dragões continuam rugindo e sobrevoando, inclusive, dando alguns rasantes na direção deles. 

Começam vasculhar em meio aos destroços.

O rei e sua família avistam as duas princesas recém nascidas chorando em meio às cinzas.

ANGEL

Minhas bebês!

Quando a rainha ameaça correr para perto das bebês, o pequeno dragão de tom alaranjado RUGE ferozmente e se posiciona ao lado de Giulia, enquanto o dragão de tom cinza escuro repete o gesto se posicionando ao lado de Valentine.

Todos interrompem o que estão fazendo e ficam intactos. As bebês param de choramingar parecendo confortáveis sob os cuidados das criaturas.

 

EXT. CASTELO DE PALADIA / ARREDORES DO CELEIRO – NOITE

Suja e machucada, a curandeira de Paladia observa o rei, sua família, as princesas gêmeas e os dragões.

POV da curandeira: o rei Marcus se vira para ela e caminha na sua direção deixando a família no celeiro. Quando chega próximo, faz uma reverência e beija sua mão.

 

MARCUS

E a terceira profecia de Helena 

se concretizou, não é mesmo?

 

PLANO ABERTO

 

A curandeira apóia a mão trêmula sobre a cabeça do rei, sorri, se vira e começa se afastar.

ESCUTA-SE RUGIDOS

O rei levanta a cabeça e vê os dragões voando mais alto enquanto a rainha Angel com Giulia no colo, a princesa Aurora com Valentine no colo, e os príncipes Elijah e Nicolas se juntam à ele.

 

Todos observam a curandeira que se afasta em meio ao cenário destruído.

 

CURANDEIRA

A Terceira Profecia de Helena 

de Radagais fala que em uma 

noite escura as chamas ardentes

 e cristãs iriam se alastrar e 

consumir com ferocidade todo o 

reino da Paladia. E isso aconteceria 

logo após o nascimento daquelas 

que seriam protegidas pelos 

últimos de sua espécie.

 

Os dragões continuam RUGINDO enquanto parecem fazer uma dança sincronizada pelo ar cruzando um pelo outro.

 

FADE OUT

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