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Solidão anunciada


SOLIDÃO ANUNCIADA

Fade in

Efeito de fumaça dissipando – Surge o cenário – Interior – luz de abajur. Suposto consultório psicológico. Câmera fecha no personagem. Plano americano. Olhar curioso e estranhamento. Uma leve fumaça ergue-se do lado esquerdo do personagem. Como se ele estivesse fumando. Mas o cigarro não aparece em nenhum momento. Ele se prepara para se expor meio sem jeito.


(Inquieto e ansioso para começar a falar)

Nosso tempo é curto. Serei breve. Não vou atrapalhar. É a minha primeira vez.  Finalmente! É uma sensação… uma sensação de estar vivo! Isso, vivo. Aliás, foi uma tremenda sorte vir parar aqui; agradeço a indicação que me deram. Senti uma espécie de empatia assim que a vi.

(Câmera mostra a suposta terapeuta de costas e cabisbaixa enquanto escreve).

Às vezes um desconhecido pode lhe dar mais atenção do que um membro da própria família (Irônico). Eu…

que interessante! (Interrompe o que ia falar. Fica curioso) O que você escreve tanto? Cá para nós, esse seu trabalho não deve ser fácil. Não perde nadinha do que eu falo, hein? Tudo bem, eu entendo. Terapeutas são assim mesmo. Pelo menos encontrei alguém que me escuta mais do que fala. Serei breve.

(Câmera fecha nele agora com a fumaça a subir do lado direito do personagem)

Meu nome é Denis Vidal. O apelido é Dê, e já que estou aqui para falar de mim, pensei em começar pelas lembranças de infância, mas acho que tomaria tempo demais. É melhor adiantar um pouco. Afinal, ninguém merece ouvir uma chatice dessas.

Começarei do dia em que me dei conta da minha incapacidade de ser ouvido. É um problema que adquiri ao longo da vida. Fui obrigado a segurar a língua. Sei que soa como uma bobagem, eu sei, mas acho legal essa coisa de expressar sentimentos, expor o que angustia, os medos, expectativas, sonhos. Nunca consegui. Nunca deixaram!

Talvez por que as pessoas me vissem como uma válvula de escape. Sempre pronto a ouvir e a aconselhar. Foi assim desde menino.

(Flashback – V.O.)

Transição para outra cena com efeito de fumaça

Externo – Parque. Menino de 13 anos sentado no banco com uma menina que não para de falar. Ele a observa.

A princípio, como eu era mirrado, nada atlético e ainda por cima sem grana, eu precisava chamar a atenção de algum jeito. Então, não me importava de servir de pinico mental para os outros. Se alguém acabasse de me conhecer, logo se abria. Confidenciava todos os segredos, os mais íntimos, os pensamentos mais obscuros. 

(Flashback – V.O.)

Externo – Mesmo parque e banco. Outra menina. O menino continua calado, mas agora com discreto sorriso de vaidade.

De certa forma isso me envaidecia. Aí eu pensava: “Puxa, como sou importante e respeitado”. Sentia como que exercendo um magnetismo irresistível sobre as pessoas.

(Flashback – V.O.)

Externo – Parque. Agora o menino está em pé e pede a menina para namorar. Ela faz que não com a cabeça e segura a sua mão e justifica que são só amigos.

Era uma oportunidade de me aproximar das meninas, mas elas me viam apenas como um bom amigo. Um sucesso como conselheiro sentimental. Mais e mais gente vinha falar comigo. Não importava a hora do dia, na escola ou em casa.

(Flashback – V.O.)

Externo – Porta da casa do personagem com 16 anos. Várias meninas e amigos em sequência tocando a campainha. Um de cada vez, porém, seguidamente até altas horas da madrugada.

E o número aumentava. Por causa disso, minha vida se tornou um inferno. Para se aliviarem da miséria emocional, as pessoas invadiam minha privacidade. Eu aceitava. Fazer o quê? Era melhor do que ficar sozinho.

Transição da cena com efeito de fumaça para tempo presente – Suposto consultório. Fumaça do suposto cigarro alternando para a mão esquerda.

Plano fechado no personagem


(Controladamente nervoso)

Mas, então, notei que as pessoas pouco ligavam se eu estava disposto a ouvi-las. Simplesmente sentavam ao meu lado e se abriam. Pareciam até sofrer de incontinência verbal. Os assuntos eram sempre os mesmos: desilusão no amor, incompreensão dos pais, briga de amigos e por aí vai. Já estava farto de ouvir aquilo. Ai de mim se mostrasse algum traço de tédio. Além de perder a amizade, seria difamado pelo bairro, coisa que me aconteceu algumas vezes.

(Flashback – V.O.)

Transição de cena com efeito de fumaça

Externo – Parque – Personagem rapaz de 16 anos e garota da mesma idade. Sentados no banco. Ela fala compulsivamente. Ele só ouve.

A primeira – acho que eu tinha uns dezesseis anos – uma amiga, que me torrava a paciência toda a semana, veio com a mesma ladainha:

Garota
(Ansiosa e nervosa)

– Dê, estou esquisita. Meu peito dói, sinto vontade de me matar. Perdi o apetite. Ele foi embora! Até quando vou sofrer assim? O que você acha, Dê? Me fala, vai.

(V.O. – comentário do personagem narrador)

Eu já não aguentava mais. Decidi dar um basta. Então disse:

Dê – garoto (Entediado)

-Quer mesmo saber o que eu penso?

Garota
(Olha fixamente para ele na ansiedade da resposta)

-Claro! A troco de que eu estaria aqui perdendo meu tempo?

Dê garoto

-Quer saber como aliviar seu peito?

Garota
(Ansiosa)

– Por favor, Dê, me fala, me tira disso!

Dê garoto

(Pretensioso e um sorrisinho)

– Arranje um cara que te dê um cato legal e tudo isso aí que você sente vai passar.

Garota

(Indignada)

– Aposto que esse cara é você, não é! Seu cachorro.

(Ela se levanta, o esbofeteia, e dá as costas. Narrador Dê prossegue descrevendo a cena no parque)

Tomei um tapão na cara, ela se levantou, empinou o nariz, bateu o cabelinho em sinal de desprezo e saiu pisando duro.

(Flashback – V.O.)

Garoto Dê

Interno – Casa. Tarde. Sentado diante da mãe que o olha furiosa.

Naquela tarde, fui duramente repreendido por mamãe.

Dê garoto

(Entediado já sabendo o que esperar)

– Qual a acusação?

Mãe Eugênia

(Furiosa e aos berros)

 

– Assédio, safado.

Prossegue o narrador (V.O.)

Respondeu dona Eugênia, de bate e pronto com os olhos chispando de raiva, pois se tratava da filha de sua melhor amiga.

Transição de cena com a fumaça – Tempo presente – Suposto consultório –

Câmera fechada no personagem Dê.

Alternar de mão a fumaça.

Pois é, minha vida sempre foi assim, repleta de desencontros. Enfim, acabei me conformando. Me adaptei. É como sempre digo: Quem não se adapta vira fóssil. Falando em fóssil, não lembro de ter conseguido conversar sobre mim com a minha mãe. Nossa, minha mãe! Que mulher filha da…

(Flashback – V.O.)

Transição de cena com a fumaça

Interno – Escritório advocatício

Rapaz Dê com 19 anos

Um dia, na época em que eu ainda trabalhava num escritório advocatício – Era estagiário -, colocaram na minha mesa uma petição. Eu tinha o hábito de ler todos os documentos e vi uma coisa que não concordei. Pensei e pensei no que deveria fazer. Imaginei que pudesse ser útil se apontasse o erro, mas quem era eu? Um simples estagiário. Depois de relutar e quase desistir resolvi falar. Fui até a sala do advogado que havia assinado o documento e ao vê-lo com aquela fisionomia tão… tão firme, simplesmente travei. Ele ficou me olhando com aquela cara

Advogado de óculos

 Compenetrado no trabalho. Para e olha sério para o personagem Dê rapaz e pensa em dizer.

“- Que porra você faz aqui, estagiário? ”

Naquele momento, sem dizer absolutamente nada, decidi que seria melhor fazer outra coisa na vida. (Personagem Dê rapaz desiste e faz que vai jogar o documento para o alto)

Mas antes, queria uma opinião de mamãe. Fiz uma tentativa. Talvez a hora não fosse apropriada, mas foi assim:

Interno – Cozinha da casa – Noite – Mãe e filho sentados na mesa jantando

Dê rapaz

(Mexendo no prato sem apetite)

– Mãe, posso falar com a senhora? (Mãe sem levantar os olhos do prato responde com uma pergunta seca)
-Agora? Não vê que eu estou jantando?
-É sobre…
– Olha aqui, não me venha com problemas. Chega os meus. Você tem idade pra se virar sozinho. (Dê rapaz se cala chateado)

A mãe Eugênia
(Mastiga apressadamente a comida e começa a falar nervosamente)


– Sabe, filho, a vizinha do andar debaixo reclamou do zelador. Ele é novo no prédio. Eu não fui com a cara dele. Bati os olhos naquele…

Transição de cena com a fumaça para tempo presente

Câmera enquadra a suposta terapeuta (P.V.de Dê) que prossegue escrevendo.

A narrativa prossegue:

Na minha juventude só arranjei namoradas que falavam muito. Ou eu falava de menos. Ou não me impunha. Sei lá… Lembro da minha primeira vez no motel.

(Flashback – V.O.)

Interno – Quarto de hotel espelunca)

Dê rapaz 19 anos e moça da mesma idade. Ele – de cueca –  animado por ser sua primeira vez. Ela – de calcinha – agitada procurando se esconder debaixo do lençol. Ambos desajeitados.

Eu tinha uma namorada. Ela se chamava Eulália. Ia ser a nossa primeira vez. Éramos virgens. Escolhi uma suíte bacana, a melhor que o meu salário de estagiário podia pagar. Depois de dividirmos uma caipirinha de vodca, (Ele tira da mochila uma garrafa de água um limão, cachaça e açúcar. Não há nenhuma vodca) trocamos carícias, beijos, palavras macias e (Ela o empurra, fala demais, asperamente), de repente, ela saltou da cama e foi ao banheiro. Voltou branca.

Câmera enquadra os dois e ela assustada.

Transição da câmera com fumaça para o tempo presente.

Rosto do personagem enquadrado enquanto a fumaça passa pelo seu rosto.

(Desiludido)

Disse que não estava preparada.

Câmera corta para a cena do hotel. Dê rapaz na cama e a moça em pé falando sem parar. (V.O.)

Então, cometi a besteira de perguntar por quê. Foram três horas de justificativas que iam desde sua educação rígida devido a superimposição moralista dos pais até as apreensões de animais silvestres que o Ibama fez em sua casa causando-lhe grande trauma. Brochei. (Dê ergue o lençol e vê que não tem jeito)

Interno (V.O.) – Agora diferentes quartos de motéis. Câmera corta para outros momentos. Dê transa cada vez com uma garota diferente. Câmera enquadra somente o rosto do casal. Eles fazem sexo enquanto Dê tapa a boca da garota.

A partir daí a fila andou, e a primeira coisa que eu fazia na hora da transa era tapar a boca da fulana. Elas achavam estranho. Uma pensou até que estava sendo estuprada. Eu justificava aquele ato dizendo que era só uma espécie de fantasia.

Transição de cena com fumaça. Tempo presente. Suposto consultório. Câmera enquadra Dê. Fumaça do suposto cigarro alterna de mão.

(Lembra com saudade) 

O tempo passou e eu finalmente casei. Aí já não cabia mais essa estória de tapar a boca da Eunice. Ah, minha esposa Eunice, que doçura! Acertei na lata a mulher com quem passaria o resto da minha vida. Nos conhecemos na empresa de seguros. Eu era um dos corretores e ela, a secretária do gerente. Então, numa festa de final de ano a pedi em namoro. Aliás, ela que se antecipou. E o tempo passou, o tesão acalmou e descobri que a vida girava somente em torno de Eunice. Toda e qualquer situação acabava na Eunice. Toda conversa continha frases que remetiam à Eunice. Ela anunciava tudo o que acontecia em seu corpo e outras coisinhas mais:

Flaschback – Interna – Casa – Diferentes ambientes da casa (cozinha, quarto, sala, banheiro…) Dê com 27 anos e Eunice da mesma idade. Ela sempre falando:

Eunice

(Sempre se lamentando)

(Quarto – cama do casal) estou com dor de cabeça…, (Sala) minhas costas hoje estão me matando…, (Cozinha durante o café da manhã) minha menstruação atrasou. Será que eu engravidei…, (Sala enquanto Dê assiste ao jogo de futebol) você não me dá atenção… quando eu morrer, aí sim, você vai se lembrar de mim… (Na garagem enquanto Dê lava o carro) amor, você parece tão feliz hoje! Que bom, graças a mim.

Transição de cena em fumaça para o tempo presente. – Interno – Suposto consultório. Câmera fechada em Dê narrador. Fumaça que sobre alterna de lado.

Pensativo


-O típico monólogo centrípeto. É, pensando bem, talvez a física explique seu comportamento. Como eu disse, tudo se concentrava nela e no seu precioso amor por mim. Um dia ela disse:

Flashback – Interna – Casa – Câmera corta para Dê casado aos 27. Esposa Eunice realiza as tarefas de casa e para. Olha para Dê que está sentado na poltrona lendo o jornal e ela diz:

-Sabe o que eu percebi? Você não fala muito sobre seus sentimentos. Por quê?

Câmera fecha no rosto de Dê.

Ele com olhos esperançosos. Esboça um sorriso. Ele estufa o peito. Vai falar pela primeira vez. Tudo é mostrado enquanto a narrativa prossegue:

Foi então que senti naquele momento um fogaréu se acender. Transformou-se num vulcão. Depois de dez anos de casado, veio uma enorme vontade de falar o que pensava. Uma avalanche de pensamentos me assolou naquele instante. Tudo que estava represado há anos seria liberado. Meu Deus, agora chegou a minha vez. Finalmente. Aquela era a oportunidade de ouro. Minha boca se encheu para falar. Era agora ou nunca. Foi quando soltei a voz:

Dê aos 27

 É interrompido pelo toque do telefone

– Sabe, querida, eu me sinto…

Aquela merda tocou bem quando eu ia falar. Eunice me deu as costas e correu para atender. Foi o mesmo que um coito interrompido. Definitivamente meus sentimentos não eram tão importantes, nem pra ela, nem pra ninguém. O telefone sim deveria ser mais. E advinha quem era? Minha sogra. Queria uma carona ao shopping. Engoli as palavras. O vulcão se aquietou.

Câmera corta para outra situação.

Interno casa. Tempo passou. Ambos aos 45 anos. Almoço de Natal – Parentes convidados visitam Dê e esposa.  (Dê – V.O.)

Ah, sim, claro! Como poderia deixar escapar essa. Lembro de um natal. Sabe como são estas épocas especiais. Sempre achei uma besteira. Imagine: marcar data para sermos felizes. Mas isso é tradição e em tradição não se mexe. Bem, depois de um ano sem ver ou telefonar pra mamãe, lá estava eu, sentado diante dela.


Sentindo-se deslocado ao falar com a mãe


-Mãe, como a senhora está bonita!

Mãe Eugênia
Pouco demonstra seus sentimentos

– Sempre fui. Teu pai também achava.

Enquanto procura os copos para servir uma bebida para a mãe

– Pensei em ligar, mas eu tive um problema na empresa… (É interrompido)

Mãe Eugênia

Nem se importa e não tira os olhos dos convidados, Surpresa

– É. Olha quem chegou! (P.V. Da mãe – Mostra mulher) Você não falou que ia convidar a sua tia.

(P.V. dele)

Para de servir e olha em torno procurando identificar de quem a mãe se refere


– De qual tia a senhora está falando?

Mãe Eugênia

Inveja

– Daquela ali. Que roupa feia…


Interrompe. Segura a mãe pelo braço e a conduz para a mesa de jantar


– Mãe, a senhora quer sentar-se à mesa? Vem comigo.

Mãe Eugênia
Ela o acompanha, mas não tira os olhos dos convidados


– E como você está, filho? (Pergunta por perguntar)


Vê uma oportunidade de falar sobre ele

-Ah, eu estou assim, como posso dizer….

Mãe Eugênia
Interrompe apontando para um prato

 

– Passa o prato pra mim. O que é aquilo?

Dê Suspira. Mãe Eugênia Faz cara de interessada em saborear o prato

 

 – Me sirva um pouco.


Tenta resgatar a conversa


– Mas, então, voltando à sua pergunta, eu me sinto meio…

Mãe Eugênia
Interrompe outra vez apontando para outro prato

 

– Cordeiro?


Um pouco irritado.

 


– O quê?

Mãe Eugênia

Insiste


-Aquilo é cordeiro?


Desgostoso

– É, é sim. Quer um pedaço?

 

Mãe Eugênia

Reacende a conversa

– O que você ia dizer mesmo?

Receoso

– Então, eu me sinto meio estranho ultimamente….

Mãe Eugênia
interrompe

– Oh, olha lá quem chegou! Faz anos que eu não o vejo. O bebum do seu tio Jorge. Aquele cachorro…


Dá uma bronca em voz baixa

-Mãe, posso falar sem ser interrompido? Eu preciso…

Mãe Eugênia
Entretida com os convidados e a comida

-.. vai chover mais tarde. Tomara que não alague a avenida.


Larga o prato e se afasta da mesa. Afasta-se dos convidados. Câmera mostra o desenrolar da festa – P.V. do personagem. – Todos conversam uns com os outros. (V.O.).

Desisti. Perda de tempo. Permaneci calado do começo ao fim daquela terna reunião familiar; aliás, que família! A corja unida em nome do amor. Só podia ser algum tipo de maldição ou coisa assim… Sabe, nunca tive medo da morte. Só tenho medo da solidão. Medo de não existir.

(Câmera corta para a suposta terapeuta. Nesse momento a terapeuta larga o lápis, une as mãos como se estivesse pensando. Os olhos permaneceram voltados para o papel dando a impressão de estarem semicerrados. Ela suspira.)


Ele se ajeita na cadeira. O semblante acende. Um grande insight acontece

– Hei, espere um pouco. Puxa, como nunca pensei nisso? Você acaba de me dar uma luz. Sim, é essa a resposta. Agora eu sei o porquê as pessoas falam tanto. É um grito, um grito disfarçado! Um pedido de socorro. É como se elas estivessem perdidas numa neblina. Então, gritam, gritam e continuam gritando, porque se sentem sozinhas. Mesmo que alguém esteja ao lado delas, simplesmente não enxergam. Agonia de se sentirem só. Minha nossa, é isso! Que alívio, uma luz afinal. Talvez esta seja a nossa missão, minha e sua: tirar as pessoas da solidão. Desculpe. Acho que tomei muito do seu tempo (ameaça se levantar). A senhora me curou da ansiedade de querer falar. Aliás, desde que cheguei, parou somente agora de escrever. Parece cansada; e aqui estou eu, falando sem parar. Mas é que pra mim esse momento foi tão importante… que ironia! Fiz com a senhora o que fizeram comigo a vida toda. Devo deixá-la agora. Muito obrigado por me ouvir. Prometo inverter os papéis da próxima vez.

Dê desaparece em meio a fumaça. A câmera corta para a suposta terapeuta que continua com os olhos abaixados. Um senhor se aproxima da mulher e a segura pelos ombros com delicadeza e cochicha algo aos ouvidos:

Senhor:

– Dona Carlota, dona Carlota, devagar, saia do transe bem devagar. É tempo demais neste estado. Vamos, vou ajudá-la. Precisa descansar. (Ele se volta para o outro lado da sala. P.V. do senhor – Pessoas sentadas numa sessão espírita. O senhor prossegue dizendo)

-Iniciemos agora o Pai Nosso.

A câmera mostra a sala do alto. Tomada geral dos frequentadores. Fumaça encobre a cena.

Vozes orando:

-Pai Nosso que estais no céu…

Fade out

FIM

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