ESTAÇÃO MEDICINA

CAP 38

A SEGUNDA PESSOA

FADE IN

CENA 01/SÃO PAULO/JD AMÉRICA/MANSÃO MOÇA/INTERIOR/SALA DE ESTAR/NOITE

Mateus o fitava desesperado.

MATEUS – O que você está dizendo, amor? Que brincadeira de mau gosto é essa?

Goram encarou sério Bernardo que continuou.

BERNARDO – Não é brincadeira, amor. Eu realmente estou cansado de viver essa vida de aparências, sei que tenho conforto, tenho você, mas há tempos que sinto que nossa relação vem desgastando.

Goram bateu palmas em silêncio de longe.

MATEUS – Não é possível! ISSO NÃO É POSSÍVEL!

E desesperado, o vilão começa a quebrar seus vasos na frente de todos. Akiko sente receio do homem.

MATEUS – Como é que você pode fazer isso comigo? Depois de anos que estamos juntos? Você jurou a mim que ficaríamos para sempre juntos, um do lado do outro, fizemos um pacto de sangue depois de um ano de namoro lá na nossa adolescência…

Bernardo se sentiu mal. Ficou em silêncio. Goram fez sinal de longe para ele por logo um fim naquilo.

BERNARDO – Eu sei, mas os tempos mudam…

Mateus chorava.

MATEUS – Que dor! Como você me fala uma coisa dessas ? E agora pouco me dizia que me amava…

BERNARDO – Eu tava mentindo de novo para mim mesmo, desculpe.

Mateus se vira para ele revoltado. Suava.

MATEUS – Tem outra né? Tem outra piranha na área? Quem é? É aquela franguinha que você trouxe aqui? É aquela vagabunda outra vez?

BERNARDO – Não é ela, não tem ninguém!

Mateus se revolta ainda mais e parte para cima dele o jogando no sofá, começa a dar murros e pontas-pés.

MATEUS – PARE DE MENTIR! PARA! VOCÊ NÃO IA TROCAR TUDO ISSO SE NÃO TIVESSE ALGO AINDA MELHOR!

Bernardo sofria com os pontapés. Akiko olhou atônito para Goram que ria disfarçadamente da situação.

BERNARDO – PARA! PARA!

MATEUS – COMO VOCÊ PODE FAZER ISSO COMIGO? ME DEIXAR DEPOIS DE TUDO QUE VIVEMOS JUNTOS?

Bernardo jogou Mateus no chão, conseguindo escapar ofegante. O vilão, no chão, estava sem forças para levantar, só chorava, berrava de desespero.

BERNARDO – Eu sinto muito pelas coisas terem terminado assim, mas eu não podia continuar, eu não podia…

E retirou com muito pesar o anel de noivado, deixando na cabeceira de um mesinha.

BERNARDO – Eu volto amanhã para buscar minhas coisas…

Goram acenou fazendo joia para ele que o devolveu com um olhar de náusea. Mateus batia no sofá feito criança, Bernardo saiu abrindo a porta. Goram malicioso se jogou num sofá sorridente.

Mateus soluçava.

MATEUS – POR QUÊ ELE FEZ ISSO COMIGO? O que eu fiz para ele além de dar carinho e amor?

Instrumental crescente, Goram se esgueirou como uma serpente o abraçou cínico de lado, sentado a seu lado.

GORAM – Eu sinto muito, Matt. Goram ficou muito py’andýi com a decisão do Doutor Bernardo, você não merecia passar por isso, que situação!

Mateus se largou nos braços dele, Goram fez cafuné, em determinado momento, os olhos do indígena encontraram o de Akiko que o olhava impressionado. Instrumental explosivo.

CENA 02/SÃO PAULO/TATUAPÉ/HOSPITAL ORLANDO MOÇA/ INTERIOR/ENFERMARIA DE TRAUMATOLOGIA/NOITE

André está assistindo uma série numa televisãozinha de teto quando se recorda de Romeu.

Ligar flashback rápido: André se recorda de Romeu andando com aquele cara alto, ambos brancos, na área externa da universidade. Casal homossexual perfeito e padrão. Focar na feições de Romeu, porte atlético, olhos claros, cabelo moreno, atleticano, popular. Mostrar André de longe o encarando apaixonado e vidrado.

Desligar flashback. André se emocionava e sentia nojo de si mesmo pela cor, pelos braços e pernas finas, sua canela! Mostrar isso pelas expressões faciais que ele fazia quando se olhava.

Ele vê então uma reportagem na televisão sobre bomba e uso de anabolizantes e mesmo a reporte reafirmar: “Isso mata”. Seus olhos ficam fascinados diante aquela oportunidade.

CENA 03/SÃO PAULO/BIXIGA/APARTAMENTO DE JOSÉ/INTERIOR/QUARTO DO MEIO/NOITE

Marcela terminava de colocar lençol de cama.

MARCELA – Eu sinto muito de não conseguir te abrigar melhor, numa cama que não estava sendo ocupada com tanta tranqueira em cima!

FABIANA – Imagina, amiga. Eu só tenho a agradecer você por ter me ajudado e ao…José né?

MARCELA – Isso, José! Mas pode chamar Zé.

FABIANA – E ao Zé também. Sem vocês, eu teria que ir para minha casa e engolir mais esse sapo, sem ter essa oportunidade de provocar essa reflexão na minha mãe.

MARCELA – Imagina, eu vou tomar um banho agora e depois conversamos mais. Você costuma beber, tem um vinho do porto antigo aí, Zé ganhou de um amigo, mas ele detesta vinho e eu não tenho coragem de tomar sozinha.

Fabiana riu.

FABIANA – Te acompanho, miga.

Marcela sorriu e sumiu no corredor. Fabiana se sentou na cama e ligou o celular, percebeu que havia muitas ligações, inclusive de Guto. Ela sentiu saudades.

LIGAR FLASHBACK RÁPIDO: Mostrar Guto encontrando Fabiana na estação de metrô, ela fugindo dele e ele a prendendo na parede e roubando um beijaço inesquecível. CALOR.PAIXÃO.PROIBIDO.

Desligar flashback. Ela riu, levou o celular junto ao peito, apertou forte.

CENA 04/SÃO PAULO/MARGINAL TIETÊ/NOITE CHUVOSA

Com a roupa encharcando, ela corre apressada sobre as poças d’agua, estava com frio, semblante amedrontado e perdido. Solitária, Heloísa encontrou um abrigo, embaixo de uma marquise embaixo de uma árvore, o temporal que começava era forte. Farol dos carros ofuscava sua visão. Sofria.

CENA 05/SÃO PAULO/CENTRO/APARTAMENTO DE ARAPONGA/INTERIOR/SALA DE ESTAR/INTERIOR/NOITE CHUVOSA

 Araponga abriu a porta às pressas, Bernardo estava cabisbaixo, correu a abraçá-la.

ARAPONGA – Oh, homem de Deus! Não fica assim…

Ele se desmontou na frente dela, ela tentou puxá-lo para dentro.

ARAPONGA – Égua mãe! Me ajuda, né? Um porrudo desse não aguento levar não!

Bernardo a abraçou e se arrastou quitinete a dentro.

BERNARDO – Minha vida acabou, Araponga. Goram acabou comigo.

ARAPONGA – Eu não consigo entender como aquele curumim virou o jogo? Havíamos descoberto tudo sobre a tembiasakue dele. Estava por um triz daquele corno de seu ex-noivo descobrir.

BERNARDO – Ele fez uma filmagem!

ARAPONGA – Que filmagem?

Bernardo fechou a porta e pediu que ela se sentasse na cama, sentou-se ao lado dela.

BERNARDO – Eu cometi um crime.

ARAPONGA – Sim, Araponga sabe, aquele assassinato do passado de Goram…

BERNARDO – Não estou falando deste, estou falando de um mais recente, escute, confie em mim?

ARAPONGA – Leseira Baré! Lógico que confio em ti, tu é meu porã galalau.

BERNARDO – Pois muito bem, uma ex-empregada lá de casa acabou descobrindo a minha participação e a de Mateus neste crime de passado, passou a me chantagear, ameaçar, eu acabei arquitetando a sua morte.

Instrumental catastrófico fraco. Araponga esbugalhou os olhos, surpresa.

ARAPONGA – Continue…

BERNARDO – Goram me seguiu e filmou tudo às escondidas.

Instrumental catastrófico forte. A face de Araponga se transformou instantaneamente.

ARAPONGA – O que é  Bernardo está dizendo?

BERNARDO – Isso mesmo que você ouviu! Ele descobriu tudo, teve a pachorra de me mostrar o vídeo na televisão da mansão e me obrigou a separar de Mateus.

Araponga se levantou irada.

ARAPONGA – Mas quem esse anã retã, pensa que é, para fazer isso com você? Mas que vontade de dar na cara dele, porã, o que ele quer, Bernardo?

BERNARDO – Assumir o meu lugar, aproximar-se de Mateus, não sei. Ele tá sedento de vingança, eu vi nos olhos dele, ele é psicótico, sádico, ele tava se deliciando do meu sofrimento, você precisava ver.

ARAPONGA – Borra-Botas! Vontade de dar uma bisga na fuça dele!

BERNARDO – Mas eu não posso deixa-lo vencer, eu corro perigo, Mateus corre perigo!

ARAPONGA – E eu, Bernardo e nós?

Bernardo se aproxima dela, beijando-a.

BERNARDO – Oh, minha Araguaia! Você sabe que eu penso sobre nós, vamos construir uma vida juntos, quando tudo isso acabar.

ARAPONGA – E quando isso vai acabar? Araponga não nasceu para ser amante. Admiro você ter me deixado a par disso desde o começo, mas isso cansa, disse que iria ser tesoka’y e conseguir alguns bens, zarpar fora, mas não vejo movimento seu para isso, você parece que quer voltar a ocupar a posição de noivo desse broeiro.

BERNARDO – Eu não quero, mas preciso, financeiramente ainda sou muito dependente dele. Tenho o carro que está no meu nome, alguns milhares de dólares que coloquei num paraíso fiscal, porque não sou bobo, mas só.

ARAPONGA – E tu não acha que com isso podemos recomeçar?

BERNARDO – Eu não estou te entendendo, mulher. Pensei que quisesse acabar com Goram tanto quanto eu.

ARAPONGA – Pois Araponga quer.

BERNARDO – Então pronto. Vamos ter nossa vida, mas antes precisamos virar esse jogo contra o Goram. Agora, vamos comer algo, estou com fome. Quero espairecer também, mudar os ares. Tô pensando em passarmos no Burguer King na Marginal Tietê.

ARAPONGA – Vamos, amor.

E eles saem da quitinete, batendo a porta.

CENA 06/SÃO PAULO/JD AMÉRICA/MANSÃO MOÇA/INTERIOR/SALA DE JANTAR/NOITE CHUVOSA

Aposento iluminado apenas com luz de velas. Na cabeceira, Mateus com olhar perdido e triste deixa as lágrimas escaparem do rosto, enquanto Goram o observa satisfeito dando colheradas em seu prato.

GORAM – Não fique assim, Mateus não merece!

Mateus virou de leve a cabeça e Goram limpou as lágrimas do vilão com seu indicador.

GORAM – Tu vai dar a volta por cima! Eu sei que vai!

Mateus sorriu meigo e acariciou as mãos do jovem que escondeu sua náusea tentando nascer pela rima da boca pelo seu olhar.

Catarina entra trazendo sobremesa.

CATARINA – Fiz pudim de doce de leite, Seu Mateus, sei que o senhor gosta.

MATEUS – Obrigado, querida. Você quer, Goram?

GORAM – Eu adoraria, mas Goram preciso ir, ko’ero tenho muitas provas, mas volto aqui de noite para nossa aula de inglês.

Ele limpa a boca com o guardanapo. Mateus o segura e o faz um pedido.

MATEUS – Dorme aqui essa noite!

Instrumental crescente, a face de Goram se transforma em contentamento, ele esconde o deboche nos lábios.

GORAM – Que convite mais chúko, não tem como eu recusar, mas ange não dá para mim, talvez amanhã.

MATEUS – Eu sou o sócio majoritário daquela instituição, mudo a data da suas provas, justifico.

GORAM – Égua! Nada disso! Goram é uma pessoa honesta, Mateus, direitos iguais a mim em relação aos outros estudantes, mesmo Goram tendo essa oportunidade de intercâmbio e representar a instituição em muitas tendas, sou um estudante de pohãnohara como qualquer outro.

MATEUS – Ai Goram, vejo você olhando assim e fico pensando que você ainda vai viver muito para entender que o mundo é dos espertos, mas admiro a sua postura moral, por ora o meu dinheiro possa não soar atrativo aos seus olhos, mas certamente em algum momento irá, porque ele dita as regras do mundo.

Goram estranha aqueles dizeres.

GORAM (V.O) – Cara de pau! Roubou tudo que era dos nossos rus depois que teve a pachorra de mandar mata-los e agora diz que o seu pirapire, suas notinhas, pode servir para me aproximar dele? Quem tem muito que viver é ele, que nem desconfia que voltei para acabar com sua vida!

Ele se levanta, Mateus faz o mesmo.

MATEUS – Amanhã te aguardo, por favor venha.

GORAM – Eu irei.

MATEUS – Peço para meu motorista de levar em casa e é claro te acompanho.

GORAM – Imagina, ani precisa.

MATEUS – Faço questão.

Goram fingiu sorrir e Mateus o roubou um beijo na bochecha. Assim que Mateus saiu, ele limpou com as mãos visceralmente e com uma cara de asco completa. Instrumental explosivo.

CENA 07/SÃO PAULO/BARRA FUNDA/REPÚBLICA DE ESTUDANTES 2/INTERIOR/SUÍTE DE MIGUEL/NOITE

Miguel entra no chuveiro para tomar banho…

Ligar flashback rápido: se recorda do flagra que deu no amigo nu no vestiário masculino da quadra de vôlei. Sentimento de DESEJO.

Desligar flashback.

Miguel começa a enxugar o corpo, quando algumas imagens invadem sua mente.

ALUCINAÇÕES: Lábios quentes de Vitor. Lábios carnudos, pele negra, braços masculinos, pelos no antebraço.

Miguel cai em si e começa a reclamar.

MIGUEL – Nossa, não! Que isso, velho! O que tá acontecendo?

Ele troca de roupa apressado.

CENA 08/SÃO PAULO/TATUAPÉ/UNIVERSIDADE OLIMPIUS/BIBLIOTECA/INTERIOR/NOITE CHUVOSA

BIBLIOTECÁRIO – Infelizmente nenhuma menina com essa descrição esteve aqui ou está.

CACAU – O Senhor tem certeza?

Ele confirmou com a cabeça.

CACAU – Minha nossa senhora Aparecida! E agora, meu rapaz, nem sei mais onde procura-la.

GUTO – O Pior é que nem treino de basquete, ela teve hoje, então nenhum das meninas sabe dela, pedi para uma conhecida jogar no grupo e ninguém sabe dela.

CACAU – Cadê minha menina?

Ela pôs a mão na cabeça sentindo um remorso por tudo que ocorreu.

EXTERIOR DA BIBLIOTECA.

Viviane conversava com Vitor, seu amigo de república, indo para o estacionamento, quando Guto foi a seu encontro.

GUTO – Hey? Vivi, você viu a Fabiana?

Os dois pararam imediatamente.

VIVIANE – Fabiana? Não! Por quê?

GUTO – Ela sumiu desde cedo!

VIVIANE – Eu me lembro de tê-la visto mais cedo no refeitório, estava com Suzy que estava procurando por Heloísa e Marcela.

CACAU – Será que minha menina foi para casa de uma dessas pessoas? Eu não vou me perdoar se algo estiver acontecido com ela!

VITOR – Acalme-se minha senhora, vai dar tudo certo!

GUTO – Fica calma, sogrinha! Eu vou ligar para Suzy e Marcela, uma das duas deve saber o paradeiro da minha princesa.

Guto disca para Suzy.

CORTAR PARA:

CENA 09/SÃO PAULO/CARRO DE RITA/INTERIOR

RITA – Ela saiu correndo da prova? Mas ninguém a viu?

SUZY – Eu perguntei para as meninas que estavam na fila depois de mim e nada. Um dos porteiros disse que a viu entrar numa cabine de metrô, mas eu já chequei pelas gravações e ela não passou por lá, deve ter sido um engano. Rondei nas vizinhas, voltei para república e nada.

RITA- Bom, se você rondou tudo e não encontrou nada, ela deve ter pego algum meio de transporte ou estar na casa de alguma conhecida.

SUZY – Não conhecemos ninguém que mora naquela região. Mas Helô vivia reclamando que estava sem dinheiro, deve ter pego um ônibus com a carteirinha.

RITA – Isso restringe nossas possibilidades, porque ali perto da universidade, são cinco linhas que passam apenas. Ela pode ter andado alguns quarteirões até a Melo Freire, mas ela teria que andar muito.

SUZY – Também acho que ela pegaria ônibus. Qual a linha que mais passa por lá?

RITA – Deixe-me ver, deixa eu ativar o volante automático, pesquisar aqui no smart…é a que vai para o Centro Histórico passando atrás do Parque do Piqueri.

SUZY – Perfeito.

RITA – Vamos fazer o trajeto da linha, vou colocar no waze aqui.

SUZY – Perfeito Doutora.

Seu celular começa a tocar.

SUZY – Alô. Fala Guto. Como é? Fabiana também sumiu, coincidência porque Heloísa também e estou com Doutora Rita procurando por ela, quê? Não tô te entendendo, ligação tá ruim…

RITA – Desconecta o meu, conecta o seu no carro, som fica mais alto, você fala pelo painel.

Doutora Rita puxa, mas seu celular escapa e cai abaixo de Suzy que conecta o seu e sintoniza a conversa.

SUZY – Pode falar irmão que agora estou ouvindo!

Ela se abaixa para pegar o celular da Doutora Rita. Instrumental explosivo. Vê como wallpaper de tela a imagem dela com Goram abraçados parecendo casal.

SUZY – GORAM?

Rita pega o celular da sua mão sem graça.

RITA – Obrigada, querida.

VOZ DE GUTO NO PAINEL- Suzy, você tá aí?

SUZY (ainda perturbada com a imagem) – Tô sim.

VOZ DE GUTO NO PAINEL – Qual foi a última vez que tu viu Fabiana?

SUZY – No refeitório, eu acho. Ela estava conversando com Marcela.

VOZ DE GUTO NO PAINEL – Não viu mais depois?

SUZY – Não vi. Dá uma ligada para Marcela, ela deve saber.

VOZ DE GUTO NO PAINEL – Pode deixar.

SUZY – Me mantenha informada.

VOZ DE GUTO NO PAINEL – Pode deixar. Valeu valeu.

A ligação terminou.

Suzy olhou para o celular de Rita que logo o reconectou no waze.

RITA – Coincidência outra garota sumir hoje, né?

SUZY – É…realmente! Muita coincidência.

Rita sorriu sem graça e pisou no acelerador, aumentando também a velocidade do para-brisa.

CENA 10/SÃO PAULO/VILA MADALENA/EDÍFICIO DE ADELAIDE/EXTERIOR/NOITE CHUVOSA

A limusine parou. Goram fez que iria abrir a porta. Mateus o segurou.

MATEUS – Espere, eu vou até com você lá em cima.

Seus olhares pareciam querer devorar o indígena.

GORAM – Imagina, Matt, eu…

MATEUS – Faço questão, vim até aqui, não vim?

Goram sorriu e virou a face para o lado com cólera.

SALA DE ESTAR DO APARTAMENTO DE ADELAIDE

Goram abriu a porta da sala. Themise disparou como um foguete em sua direção, Laurinha foi atrás.

THEMISE – Goram! Você não sabe o que aconteceu?

Ela gelou quando viu que ele estava acompanhado.

MATEUS – Bom…parece que a noite está apenas começando para você.

Goram se virou para Themise, fazendo sinal para ela aguardar.

GORAM – Égua de Largura! Pois é.

MATEUS – Há algo que eu possa fazer?

Indagou o vilão olhando para Themise.

THEMISE – Acho que não. Problemas de família.

MATEUS – Entendo. Bom, Goram, você está entregue! Só espero que amanhã você consiga comparecer a mansão, estarei te aguardando para as aulas e o nosso jantar.

GORAM –  Claro.

E o vilão o beijou no pescoço. Goram olhou para as meninas tremendo de náusea.

MATEUS – Até amanhã.

Goram sorriu de novo de volta.

GORAM – Ahátama.

Esperou ele sair e fechou a porta, respirando aliviado e se limpando.

LAURINHA – Como você permite que ele te toque desse jeito?

THEMISE – Laurinha! Isso não é assunto para criança!

LAURINHA – Sinceramente, idade não traz experiência, é só olhar para você e eu, melhor exemplo não há.

THEMISE – O que você quer dizer com isso?

LAURINHA – Eu não deixo paixão nenhuma por homem me derrubar.

THEMISE – QUÊ?

Goram interrompeu sem paciência.

GORAM – Onça-Pintada! O que aconteceu que tu ia contar Themise?

THEMISE – Heloísa desapareceu.

GORAM – O QUÊ?

THEMISE – Isso mesmo, aquela amiga dela asiática, a Suzy, ligou aqui atrás de você, parece que ela e Doutora Rita estão refazendo os passos possíveis dela.

GORAM – POR MAÍRA, MACUNA-ÍRA! MAS O QUE HOUVE COM HELOÍSA?

THEMISE – Ela surtou numa prova, parece.

GORAM – Por tupã, não é a primeira vez que isso acontece. Goram vai ligar para Suzy!

THEMISE – Você quer algo para comer?

GORAM – Fica de buiuia, não precisa se preocupar, Goram já jantou.

Ela senta e liga para Suzy.

CENA 11/SÃO PAULO/SÉ/CLINICA ONCOLOGIA/INTERIOR/CORREDOR/NOITE CHUVOSA

Através do vidro, Cacau mostra Guilherme, que repousa, para Guto.

CACAU – E foi assim que tudo aconteceu…Guilherme me fez sofrer muito, mas sinto que essa reaproximação com a Fabi é positiva. Ele está tentando recuperar o tempo perdido, fazer valer a pena cada segundo a mais de vida que ele tem, porque as chances dele são muito dificeis. 

GUTO – Ainda que seja isso, Dona Carol. Que a Fabi tenha nascido assim. Ele tá se arrependendo, Fabi precisa saber que ele é o pai dela, ela precisa saber disso, para entender que tudo isso, sim, aconteceu no passado, foi muito pesado, mas agora, ele não é mais assim e só quer o bem dela.

CACAU – Eu não sei se ela vai perdoar ele, ela acredita que o pai morreu numa viagem. Saber do que esse cara fez para mim e ainda por cima ser o pai dela, não sei. 

GUTO – Que tipo de câncer ele tem ?

CACAU – Pelo que o médico falou uma hora, é de pâncreas, um dos piores que tem. 

GUTO – Minha nossa, tô ligado, o álcool, gordura, essas paradas predispõe para caramba. 

Eles percebem que uma equipe médica entra por outra porta lateral e param alguns minutos para conversar a beira leito. Guilherme dormia.

GUTO – Queria ser uma mosquinha agora para saber o que eles estão conversando ?

CACAU – Deve ser a equipe dos cuidados paliativos, iriam visitá-los hoje e conversar sobre parar com a quimioterapia.

GUTO – É uma área que tá crescendo muito, hoje em dia se brisa muito se realmente dar o melhor tratamento de saúde é usar as drogas mais potentes, até mesmo quando as chances de sobrevida são muito reduzidas. 

CACAU – Eu só espero que eles consigam se conversar e se perdoarem antes do pior acontecer… Eu quero encontrar minha filha, menino, onde ela foi se meter ?

Ele abraça a senhora, percebendo que seu celular está vibrando. 

CENA 12/SÃO PAULO/TATUAPÉ/HOSPITAL ORLANDO MOÇA/AMBULATÓRIO PSIQUIATRIA/INTERIOR/NOITE CHUVOSA.

Boina termina de organizar sua agenda em uma das salas. Um segurança, amigo dele, cumprimenta.

SEGURANÇA – Madrugando por hoje ?

BOINA – Quase! Hoje chegamos a 70 pacientes, surreal. Mas os internos e residentes mandaram bem. Terminamos rápido.

Ele puxa seu casaco e pega seu guarda-chuva. 

CORTE DESCONTINUO

Quando está descendo a rampa para saída do prédio, uma adolescente totalmente desesperada o aborda. Era uma de suas pacientes antigas, que recebera alto do ambulatório há meses.

QUITÉRIA – Doutor Boina, o senhor precisa me ajudar!

BOINA – Eu tô me lembrando de você, você acompanhou o ambulatório por um tempo, seus pais vinham na consulta. 

QUITÉRIA – Preciso que o senhor me atenda, é algo muito grave!

SEGURANÇA – Infelizmente o ambulatório já terminou, amanhã recomeça cedo. Pode voltar.

QUITÉRIA – Mas talvez só tenha esse momento, eu preciso resolver uma questão, mas não pode ser em qualquer lugar com qualquer pessoa. E eu confio no senhor, sei que vai me ajudar, Dr. Boina.

Doutor Boina fica sem saber o que fazer. Ele troca olhares com o segurança e toma uma decisão.

BOINA – Tudo bem, eu vou te receber. Vamos por aqui.

Eles sobem a rampa. Fechar na face do segurança sem entender.

CENA 13/SÃO PAULO/VILA MADALENA/APARTAMENTO DE ADELAIDE/INTERIOR/QUARTO DE GORAM/NOITE CHUVOSA

Goram desenhava num pedaço de cartolina branca, freneticamente, no chão. Themise entrou.

THEMISE – Conseguiu notícias de Heloísa ?

GORAM – Suzy ficou de ligar para Goram assim que tivesse alguma pysasu.

THEMISE – O que você está fazendo ?

GORAM – Goram está pensando nos próximos passos dele naquela oca, ko’yr com Bernardo fora do baralho.

THEMISE – Você acha que ele está totalmente fora ?

GORAM – Se a’e não estiver, ele sabe muito bem o que Goram é capaz de fazer!

Goram se levanta sombrio. Themise se assusta com o jeito que ele fala.

THEMISE – Você não tem medo ?

GORAM – Osykyîe de quê ? Daquele jejuka fazer alguma coisa contra mim ? Nem um pouco, minha raiva não deixa, foram mais de quinze anos da minha ekó, Themise. Agora Goram vai até o fim.

THEMISE – Eu pensei em medo de você se perder nessa história toda ? De você perder sua essência doce, de no final de tudo, não se reconhecer mais em quem você é ?

Goram ri.

GORAM – Não seja dramática, Themise. Goram sabe bem que eu é, eu sou a pessoa que vai fazer justiça pela morte dos próprios rus, que sempre deram tudo pelos filhos, uma ekó de luxo, que muitos brasileiros dariam tudo para ter o mínimo dela, mas que foram traídos, assassinados com pirang, covardemente enquanto dormiam a pauladas. Mateus não pode ser só preso, a’e precisa perder tudo, ir para monhangaba que é o lugar dele, mas longe dos moradores de rua, que são muito mais digno.

Themise o encara com preocupação. Goram se abaixa e aponta para o papel.

GORAM – Mas algo intriga Goram nessa história toda, falta uma peça nesse quebra-cabeça, a segunda abá

THEMISE – Segunda pessoa ?

GORAM – A segunda pessoa que estava naquele quarto desferindo as pauladas de ferro, a pessoa que jucá minha mãe. Porque meu pai eu já descobri que foi aquele segurança da mansão, agora falta saber quem foi esse infeliz. 

E aponta para um ponto de interrogação circulado num canto daquela cartolina branca. Instrumental cortante. Congela em seu rosto determinado. 

Continua…

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