Apartamento nº 3.

A velha senhora conferiu o dinheiro, entregou as chaves do quarto e conferiu a assinatura do recibo, depois guardou tudo em uma gaveta.

 Saindo detrás do balcão para acompanhá-lo num tour pela velha pousada, como era de costume em uma cidade do interior. Aquele pequeno gesto tinha o intuito de fazer com que os hóspedes se sentissem acolhidos. O lugar era simples, porém muito aconchegante, mostrando a hospitalidade interiorana. A mulher parecia estudá-lo com os olhos esperando uma brecha para puxar assunto, ela estava com um olhar caloroso e um largo sorriso.

Sem muito mais o que fazer, a mulher decide começar o assunto.

O que pretende aqui? Ela perguntou desviando o olhar. Passeios ou negócios?

Estou apenas de passagem, não devo me demorar. Disse ele.

De onde o senhor é?

Eu sou um peregrino, não tenho nenhum lugar para ir ou para retornar.

Que interessante. Nunca hospedei um peregrino antes.

O homem apenas sorriu em resposta, um sorriso sem a menor vontade. Era como se ele dissesse” eu não dou a mínima para isso.”.

  As refeições são servidas às 12:00 o almoço e as 18:00 horas o jantar. Não servimos o café da manhã. Ela disse de maneira automática, percebendo a indireta, ela apenas o guiou em silêncio pelo salão, mostrando a ele um portão de ferro fundido.

O sorriso em seu rosto simplesmente desapareceu, ela havia entendido a mensagem do novo hospede, “eu não estou a fim de conversa”.

Tem um mercado com uma mini padaria a duas quadras seguindo a rua aqui em frente. Lá você poderá fazer um lanche ou comprar qualquer outra coisa que precise. Ela completou ainda com a voz doce, porém comedida.

Tudo bem. Ele respondeu indiferente.

Seu chaveiro abre três portas. Ela continuou mostrando-lhe um portão de ferro que dava acesso à rua. A primeira abre este portão, a segunda aquela porta. Ela disse apontando para o topo da escada. A terceira abrirá a porta do seu apartamento.

Como se memorizasse mentalmente o que a mulher dizia Sam a acompanhou até o andar de cima onde ficavam os apartamentos, carregando consigo apenas uma velha mochila surrada de viagem.

O acesso ao restaurante só é permitido aos hóspedes a partir das 10h da manhã, quando começamos a preparação do almoço.

O grande vão servia de recepção e restaurante, o que fazia com que os clientes atravessassem uma fila de mesas e cadeiras até chegar ao balcão da recepção. Uma plaquinha de papelão pregado em uma porta ao lado da recepção indicava o banheiro.

De onde eles estavam ele pode perceber o movimento que vinha da parte de traz do balcão, algumas vozes distintas cochichavam e ouviam-se risinhos baixos, foi então que de longe o homem notou estar sendo observado, presumindo ser ele mesmo a causa de tal histeria.

A mulher remexeu em seu chaveiro rapidamente até encontrar a chave que cabia na porta de entrada, apressando-se em mostrar ao homem o acesso à parte superior do lugar.

A mulher estava vermelha de vergonha, suas bochechas estavam tão coradas que mais pareciam dois tomates maduros.

Uma das garotas que estavam na cozinha soltou um “quero um desses no meu quarto.” Enquanto varria a entrada da cozinha.

Queira desculpar, as meninas não fizeram por mal. Ela se apressou em dizer, percebendo a conversa que elas tinham a respeito do viajante.

Tudo bem, não se incomode. Isso é normal aos jovens.

Eles subiram as escadas sem dizer uma palavra a respeito do que acontecera a pouco, a senhora não conseguia esconder a vergonha que estava sentindo.

Ela aparentava ter não mais que 50 anos, estava usando um vestido floral rodado preso por um elástico abaixo dos seios volumosos e flácidos, tinha a estatura mediana e estava um pouco acima do peso. Seu rosto era sofrido, cheio de rugas e manchas escuras, suas mãos calejadas tremiam como se esperasse uma represália.

A porta é antiga Ela disse quando chegaram ao topo. Você tem que fazer uma forcinha para abri-la.

A porta dava acesso a uma espécie de antessala onde uma rede balançava sozinha de frente para uma janela aberta, do lado oposto a essa janela ficava a porta de numero três, que correspondia ao seu apartamento.

Aquele espaço comportava cinco quartos de igual tamanho dispostos em um corredor estreito, sendo todos numerados com emborrachado verde na porta, ficando do um ao três de um lado e o quatro e cinco do outro.

Ela abriu a porta do apartamento. (Se é que aquilo poderia ser chamado de apartamento), ali continha apenas uma cama de casal e um colchão de espuma velho com dois lençóis dobrados e um travesseiro puído na cabeceira.

O quarto é simples. Disse a mulher em tom de desculpa.

Não se preocupe com isso. Ele respondeu. Está ótimo para mim.

O banheiro fica ali. Disse ela apontando para uma porta dentro do quarto. O chuveiro demora um pouco para funcionar e a água é fria. Qualquer coisa estou às ordens.

Obrigado. Ele disse automaticamente colocando a bolsa na cama.

Samuel olhou o quarto mais uma vez, enquanto ajeitava a mochila, procurando por alguma coisa fora do normal. Parou em frente à janela apreciando um pouco a vista, na rua o barulho dos carros e o movimento das pessoas era frenético, a pousada se localizava próximo ao centro comercial da cidade.

Disponha. Ela respondeu educadamente. Se precisar é só dar um pulinho na recepção. Eu me chamo Aurora. Espero sinceramente que aproveite a estadia.

Farei isso dona Aurora.

A senhora se retirou fechando a porta, deixando o hospede recém-instalado sozinho em seus aposentos.

 

***

 

Depois de alguns minutos sozinho, Samuel verificou o corredor, tudo estava tranquilo. Em seguida pendurou do lado de fora da porta uma plaquinha feita de papelão com um “NÃO PERTURBE” escrito em tinta vermelha com uma caligrafia quase hieroglífica e indecifrável, fechou a porta na chave para ter certeza de que ninguém o incomodaria.

Agora ele podia se concentrar em sua verdadeira tarefa, o verdadeiro propósito de ele estar ali. Samuel abriu a mochila e retirou um saquinho de veludo e de dentro dele quatro pequenas pedras, cada uma com uma cor diferente, e as colocou sobre a cama em uma ordem que lembrava um pentagrama.

Procurou nos bolsos ate encontrar um pedaço de papel amassado e uma caneta quase sem tinta, ele verificou o papel e então rabiscou no colchão da cama um pentagrama entre as quatro pedras.

Em seguida colocou bem no centro dele um livro grosso com capa de couro marrom e páginas amareladas pelo tempo. Por uma fração de segundos aquele homem de meia idade pareceu se perder, vagando em antigas lembranças.

Em sua mente uma única cena se repetia dia após dia, a voz de seu melhor amigo e mentor ainda parecia viva em seus ouvidos.

Encontre os novos guardiões!”

Em seu leito de morte o mestre entregou a ele a última pedra elementar para que ele, o último guardião ainda vivo, procurasse a nova geração e os guiasse para a maior missão de suas vidas.

Agora cabe a mim encontrá-los. Ele pensou. Eu não posso desistir agora. Disse Sammy retirando um cordão de seu pescoço.

A pequena pedra presa ao cordão de prata irradiava uma fraca luz branca, que fez as outras pedras na cama flutuarem em círculos próximos ao livro.

Terra, fogo, água e ar, unam se em um para a criação concretizar. Mostrem-me o caminho, revelando meu verdadeiro destino.

No centro do círculo formado pelas pedras flutuantes, o cordão irradiava cada vez mais energia, fazendo o quarto se iluminar com as varias cores formando uma pequena aurora boreal no teto.

Em meio às luzes multi coloridas seis rostos surgiram diante dele. Rosto que ele certamente não conhecia, mas de algum modo ele iria encontrá-los.

Ele quase não acreditou no que seus olhos contemplavam. Samuel passara boa parte de sua vida viajando todo o mundo à procura dos descendentes das antigas tribos e agora eles estavam próximos.

Minha centelha de poder está se esvaindo. Chegou a hora de passá-la adiante.

As pedras voltaram a sua formação dentro do pentagrama desenhado sobre a cama, ao colocar o colar de volta em seu pescoço, Sam sentiu a pedra queimar seu peito. Um calor aconchegante que ele não sentia há muito tempo. Um novo ciclo se iniciaria em breve.

Sua busca estava próxima do fim.

A Widcyber está devidamente autorizada pelo autor(a) para publicar este conteúdo. Não copie ou distribua conteúdos originais sem obter os direitos, plágio é crime.

Pesquisa de satisfação: Nos ajude a entender como estamos nos saindo por aqui.

Publicidade

Inscreva-se no WIDCYBER+

O novo canal da Widcyber no Youtube traz conteúdos exclusivos da plataforma em vídeo!

Inscreva-se já, e garanta acesso a nossas promocionais, trailers, aberturas e contos narrados.

Leia mais Histórias

>
Rolar para o topo