Apesar da pouca idade Ângelo Azuos era considerado um gênio na pacata cidade onde morava. Ele tirava as melhores notas da turma, não havia uma única matéria em que não fosse ótimo, ele sempre foi elogiado pelos professores por ser um aluno exemplar.
Diziam que ele tinha uma carreira promissora em qualquer que fosse a profissão que escolhesse, pois era um rapaz inteligentíssimo e super dedicado aos estudos, e isso era a mais pura verdade. Ângelo era o orgulho de sua família, ─ Um prodígio. ─ Como dizia sua mãe.
Az, como ele gostava que o chamassem, era filho único, ganhava tudo o que queria dos pais, bastava apenas ele estalar os dedos e lá estavam eles realizando seus desejos, computador de última geração, IPhone, CDs, roupas caras, tudo do bom e do melhor.
A mãe, Elizabeth era uma das mais conceituadas estilistas da região, ela mesma criava e costurava seus modelos, que eram exibidos em eventos de moda dentro e fora do país. O pai era dono de uma rede de hipermercados e por essa razão vivia viajando por toda a região fiscalizando cada lugar e formulando novas possibilidades de negócios.
Toda essa fama e caprichos fizeram dele um garoto solitário.
As constantes viagens de negócios dos dois fizeram o garoto se acostumar a não tê-los por perto, ele aprendeu desde cedo a se virar sozinho, aos nove anos ele já tomava conta das finanças da família, fazia todas as transações financeiras para o pai e para a mãe, cuidava também da contabilidade e de pagar todos os gastos domésticos (água, luz, telefone, gás supermercado e os vários empregados) tudo sem sair do quarto.
Muito bem educado Az aprendeu com os pais a fingir gostar das pessoas, a ser aquilo que as pessoas queriam que ele fosse. Ele estava sempre sorrindo, era muito amável e prestativo com os mais velhos e isso lhe rendia elogios e mais elogios.
Passava boa parte do seu tempo em casa trancado no quarto, suas atividades eram os estudos e jogos online. Ele quase nunca saia do quarto para nada, a não ser vez ou outra quando visitas apareciam de repente em sua casa e sua mãe fazia questão de exibi-lo como um troféu de um concurso importante.
Ele não conversava com ninguém, a não ser que fosse extremamente necessário, era daqueles alunos que se sentavam na primeira fila, fazia perguntas e respondia aos questionamentos em sala. ─ Um tremendo puxa saco. ─ Era como todos o chamavam, coisa que ele pessoalmente não ligava.
Sentava-se sozinho no pátio da escola na hora do intervalo, na quadra durante as aulas de educação física ou na biblioteca quando faltava algum professor. Sua única companhia eram os livros, os grandes clássicos eram a sua paixão. Devido a isso ele aprendeu Inglês, Frances, Alemão e Italiano sem nunca frequentar um cursinho ou aulas especiais. Às vezes, muito raramente ele era visto com jogos de tabuleiro e RPG criando e anotando estratégias de jogo. Ele era o típico garoto que sofria bulling, por não se adequar as regras dos grupos escolares conhecidos como “os descolados”.
Na verdade ele nunca quis se adequar aquela cidade inferior, ele odiava tudo aquilo. Az se imaginava longe de tudo aquilo, comandando uma multinacional de jogos online onde ele poderia misturar duas de suas paixões a informática e os jogos de tabuleiro.
***
Há mais ou menos um ano toda a sua rotina diária havia mudado drasticamente. Aluno do turno matutino desde que se entendia por gente, Az mudou para o horário noturno depois que Alice chegou à cidade para poder ficar perto dela.
O caminhão de mudança chegou durante o dia, arrumou as coisas na casa e saiu da mesma forma sem dizer uma única palavra, os vizinhos enxeridos passavam a cada minuto em busca de novidades. As donas do lugar só apareceram ao cair da noite em um carro preto que lembrava o antigo Impala 67 com melhorias adicionais. As rodas de liga leve cromadas, motor de um BMW tunado com potencia de 400 cavalos indo de 0 a 100 em quatro segundos.
O carro estacionou na frente da casa, as duas mulheres descarregaram a bagagem que traziam no carro e se resguardaram dentro da casa. Não havia luzes acesas, mesmo assim elas pareciam enxergar tudo com clareza.
No instante em que elas desceram do carro Az ficou simplesmente petrificado, seus olhos azuis se fixaram do outro lado da rua, acompanhando cada movimento que as duas garotas faziam. Todos os pelos de seu corpo se eriçaram da ponta do dedo mindinho ate o último fio de cabelo ruivo em sua cabeça.
As duas mulheres eram realmente magníficas, a mais velha aparentava não ter mais que 30 anos usava um vestido azul longo, sapatos de salto e tinha os cabelos presos num coque no topo da cabeça.
A mais nova parecia uma boneca de porcelana, sua pele era tão pálida, lembrava a prata em seu estado líquido. Seu rosto era sofrido, o olhar languido lhe dava um ar de fragilidade que inspirava cuidados.
Os vizinhos curiosos fizeram questão de dar as boas vindas à nova família, a mãe de Az não era diferente, tratou logo de pegar a melhor garrafa de vinho na pequena adega nos fundos da casa para dar de presente às recém-chegadas.
─ Sejam bem vindas. ─ Disse Elizabeth batendo na porta entre aberta. ─ Eu sou Elizabeth Azuos e estou aqui para dar-lhes as boas vindas à nossa cidade.
─ Olá! ─ Respondeu Eurídice retirando mais uma das caixas que estava no carro. ─ Eu sou Eurídice Pacheco. É um prazer conhecê-la.
As duas se encararam por um momento como se estudassem uma a outra.
Eurídice olhava de cima de seu salto agulha de 22 cm a nova vizinha, ela era uma mulher baixinha, seus cabelos castanhos exibiam um corte arredondado que parecia ter sido alisado a força.
Elizabeth era uma mulher elegante, não havia dúvida alguma, vestia uma saia e um blazer vermelho, sapatos bico fino num salto modesto.
─ Eu trouxe isto. ─ Disse ela entregando a garrafa de vinho a Eurídice.
─ Obrigada. Gostaria de nos acompanhar nessa garrafa?
─ Seria uma honra. ─ Elizabeth respondeu interessada.
─ Por favor, não reparem na bagunça. ─ Disse Eurídice mostrando a entrada da casa.
***
Alice veio da cozinha trazendo duas taças de vinho, alguns petiscos e uma lata de refrigerante, para Az que continuava na porta como se esperasse pelo convite dela para entrar.
Aquela era uma visão sublime, o garoto havia encontrado com uma deusa grega, se é que aquilo era possível. Alice parecia uma estátua de mármore branco imponente esperando ser admirada pelos meros mortais.
Ela era ainda mais bonita de perto, seu olhar era intenso, pareciam mudar de cor conforme a luz do ambiente, o cabelo desenhava um rosto perfeito, limpo sem os sinais da juventude. Alice vestia uma blusa preta com uma foto da banda Legião Urbana e uma jaqueta de couro por cima, uma saia rodeada de babados e tules que lhe davam certo volume, uma bota preta próxima à altura do joelho arrematava o figurino.
Ela agora era sua vizinha, a casa dele ficava em frente à dela era apenas ele atravessar a rua para encontrá-la. Isso fazia dele a pessoa mais feliz do mundo, morar perto da garota dos seus sonhos.
Ele observou cada movimento que ela havia feito desde que Alice lhe entregou a bebida, por um instante os dedos dele tocaram os dela. Sua pele era tão fria quanto um cubo de gelo.
O garoto sem jeito e desengonçado ficou ali parado na porta enquanto a mãe se sentou no sofá e ficou admirando a nova cara que a família daria ao local.
─ Quer um pedaço de bolo querido. ─ Disse Eurídice estendendo um prato para ele.
Az continuou estático a porta sem ao menos piscar, seus olhos ainda estavam grudados em uma única direção.
─ Ângelo, Eurídice esta lhe oferecendo um pedaço de bolo. ─ Disse sua mãe levando uma garfada generosa à boca.
─ Ahn?
─ Você quer bolo? ─ Ela perguntou novamente estendendo o prato para que ele pegasse.
Ele pegou o pratinho com bolo apenas por educação, Az não estava interessado em nada que estava acontecendo ali, a única coisa que ele queria naquele momento era poder ficar a sós com Alice.
Suas mãos estavam suadas, seu coração acelerado, respirava com um pouco de dificuldade. O garoto sem jeito e desengonçado sentia algo esquisito na boca do estômago.
Aquilo não podia ser real, ele sentia arrepios por todo o corpo, sentindo um desejo ardente de ter Alice só para ele. Az estava se apaixonando por Alice.
-” ”>-‘.’ ”>