PERSONAGENS EM DESTAQUE NESTE EPISÓDIO SÃO DA SÉRIE RAÍZA
ARI
RAFAELA
ATO DE ABERTURA
NILO
(V.O)
“Hoje, eu tive um sonho. Sonhei que tudo de ruim na minha vida havia se apagado. E como todo sonho estranho, acordei em um pesadelo”.
FADE IN
CENA 1 INT. – IGREJA – DIA
Legenda: Continuação do episódio anterior…
Todos animados diante da alegria contagiante de Nilo e Ari. Ambos caminham na direção da saída, quando Nilo avista RAFAELA (jovem morena, cabelos pretos e longos e olhos verdes) com cara de insatisfeita. Nilo não entende. Assim que atravessam a porta, a forte luz cobre a tela e /
CENA 2 EXT – REDAÇÃO CARIOCA NEWS – DIA
Nilo se vê sozinho, sem entender nada. Ele avista Rafaela de costas, andando apressada. Nilo segue.
Rafaela é abordada bruscamente por Vince. Ambos discutem, não dá para ouvir o que dizem.
NILO
Vince?
Nilo se apressa, mas quando está se aproximando /
= = CORTE DESCONTÍNUO = =
Nilo se vê diante de uma bela casa, dois andares, pintura rosa e janelas compridas. Árvores circundam o local. Um funk toca nas proximidades, uns moleques correm por ali.
Nilo olha bem atento para um deles, que se mostra acuado. Some. Nilo volta a sua atenção à casa. Sorridente, prepara-se para abrir a porta e /
CENA 4 INT. – CASA DESCONHECIDA – DIA
Nilo depara-se com um corredor sombrio, paredes pichadas em vermelho com a mensagem: “ASSASSINO! ASSASSINO!”. Reconhecemos ser a casa de VINCE.
Nilo, assustado, chega à sala, toda bagunçada, móveis fora do lugar, livros e retratos jogados ao chão. Uma zona. A TV ligada exibe um trecho da série Raíza, no qual Nilo aparece no cemitério, aos prantos.
Gritos abafados vêm do alto da escada.
NILO
Ari? ARI?
Nilo puxa algo da sua cintura e aponta ao léu, fazendo alusão a uma arma. Corre pelas escadas, aflito.
NILO
Não vou deixar isso acontecer de novo!
Não há ninguém nos corredores, mas a porta de um quarto está derrubada. Nilo, temeroso, avança sobre o
QUARTO
e dá de cara com LILA, ensaguentada e MORTA no chão. O berço manchado de sangue, ainda balança sozinha. Nilo, desesperado, GRITA de pavor e tristeza.
NILO
NÃAAAAAO!
Nilo chora copiosamente, cai de joelhos, vencido pelo baque. E no meio do seu grito /
FADE TO BLACK
FADE IN
RAFAEL
(O.S)
Mataram a pessoa que você ama, Nilo. Você precisa fazer alguma coisa.
CENA 5 INT. CARRO DE RAFAEL – NOITE
Nilo DESPERTA bruscamente. O olhar em transe, como se ainda presenciasse a trágica cena do sonho. Rafael ao lado, instigante, mãos enluvadas.
RAFAEL
Eu sei de quem é a culpa. É de Moni Vasco!
Nilo encara-o, seu rosto transfigura-se em ódio, hipnotizado.
RAFAEL
Agora, você precisa acabar com ela, Nilo
(exibe o celular com a foto de Moni). Moni Vasco mandou
matar sua esposa de forma mais cruel possível.
(soletra, firme) Você-vai-matá-la!
Nilo faz que sim. Rafael abre o porta-luvas e pega uma 38.
RAFAEL
Carregadíssima.
Em seu olhar malicioso.
FADE OUT
FIM DO ATO DE ABERTURA
EPISÓDIO 7
EU ESTAVA NO MEIO DO ALGO…
PRIMEIRO ATO
FADE IN
CENA 4 EXT. – REDAÇÃO CARIOCA NEWS – NOITE
Lila fazendo uma ligação, enquanto ao fundo estão Roger, Paulinha e Murilo.
LILA
Então tá certo, Moreira. Vamos continuar mantendo
contato e descobrir quem matou Vince Lemos. Boa noite.
Lila mal desliga o celular e Roger vai até ela, cismado.
ROGER
E aí? O delegado queria o quê com o Nilo?
LILA
Nilo não tá lá, Roger.
ROGER
Como assim, mulher?!
LILA
Eu apenas sondei e o Moreira não falou nada.
Se o Nilo estivesse lá, ele teria falado.
Roger estranha. Murilo e Paulinha chegam junto, curiosos.
MURILO
E então, gente? Nilo foi chamado na polícia pra quê?
ROGER
(nervoso)
O que os urubus da Novo Dia querem aqui? Um furo de reportagem
contra o Nilo? (faz a negativa com o dedo) Podem dando meia volta.
MURILO
Cara, eu não vim aqui atrás de furo nenhum, eu /
ROGER
(encara, pose de durão)
Veio atrás de quê, então?
Murilo engasga, vacila o olhar.
PAULINHA
Olha, a gente viu o Nilo ser levado pela polícia, ok?
E se ele não tá na delegacia, ele pode tá em perigo.
A gente sabe que tem muito policial por aí fazendo servicinho extra.
MURILO
Ha! White problems! Nilo é loiro do olho azul.
A única enquadrada que ele levaria é /
LILA
(corta / durona)
Nem completa, Murilo! Do mesmo jeito que você difamou
e fez acusações contra o Nilo, pode ter alguém querendo matá-lo.
São mídias como essa pra qual vocês trabalham
que levam uma pessoa ao fundo do poço.
Murilo engole mais essa. Roger gosta, sorri satisfeito.
PAULINHA
Tá bom, né? O esculacho já foi dado, Lila.
Será que vocês querem saber pra onde o Nilo foi levado?
LILA
Qual é a sua ideia, garota?
CENA 5 EXT. – BAIRRO VALQUÍRIA – NOITE
Takes pontuados, revelando uma área deserta, barzinho fechando. Homem entra em casa rápido. Um silêncio paira no ar.
Corta para o MORRO
Um barulho de moto ao longe. Um funk toca em algum lugar dali.
CENA 6 INT. – BAR 94 / VALQUÍRIA – NOITE
Nenhum cliente. O barman loiro, saradão, acaba de dar uma limpa no local. Vai até a porta, dá uma conferida e, quando se prepara para fechar /
Nilo INVADE com tudo, empurrando o loirão, que cai sobre as cadeiras. Nilo empunha a arma na direção do barman.
NILO
Moni Vasco.
O barman hesita, dá uma de espertão e tenta acertar uma pernada na mão do herói, mas Nilo está mais aceso do que nunca. Desvia e dispara uma bala, que pega de raspão no braço do barman. Este resmunga de dor.
DO OUTRO LADO, NA CASA DE MONI /
Butuca e um outro homem se alarmam diante de uma mesa cheia de bebidas e armas. Butuca se levanta, empunhando seu rifle.
BUTUCA
Que parada foi essa?! Tá rolando tiro, cumpadi!
O comparsa pega a pistola de cima da mesa e já vai pra porta.
COMPARSA
Bora vê o que é isso, antes que a Moni acorde e /
A porta é aberta abruptamente na cara do comparsa, que vai ao chão. Nilo aparece, olhar vidrado, arma apontada. Butuca já na mira.
BUTUCA
Tu é maluco, rapá! Pensa que impressiona com essa pose
de máquina mortífera? Tu não pode entrar aqui assim não!
COMPARSA
É o Nilo!
BUTUCA
Podia ser o Papa. Tu vai morrer!
NILO
Você morre primeiro.
É quando ele recebe uma porrada na nuca. Nilo perde as forças e cai. Branco aparece pelas suas costas, com uma pistola, cercado por outros homens, já preparados. Butuca faz cara feia.
BRANCO
Ué, gente? Nera pra abater não?
CENA 7 EXT. – VALQUÍRIA – NOITE
Raul, dentro de um sedan preto parado, fala ao telefone qualquer coisa. Em segundo plano, um crossfox vermelho estaciona.
Corta para o INTERIOR do crossfox
Lila ao volante, atenta à movimentação. Roger ao seu lado. Atrás, Murilo e Paulinha, preocupados.
LILA
Olha lá. É o Raul Antunes.
ROGER
Ficou fácil. Seu fã.
Murilo aproxima-se dos dois, apreensivo.
MURILO
Eu vou falar de novo que é pra não terem dúvidas:
eu não entro aí, ok? Paulinha já rastreou o celular
do amiguinho de vocês. Eu nem teria vindo, sério.
ROGER
(debocha) Vai dá pra trás, Murilo?
LILA
Deixa, Roger. Talvez ele prefira sair e ir andando por essas ruas. Refletir, né? Faz bem.
Murilo volta ao seu lugar, Paulinha cutuca-o, chateada. Roger acha graça.
CAM AFASTA-SE do carro, faróis piscam. Raul percebe, desliga o celular, desconfia. Abre a porta e desce. Põe a mão na cintura onde tem uma arma e aproxima-se do crossfox. A janela é abaixada, revelando Lila. Raul sorri, aliviado, não disfarça a admiração.
RAUL
Lila Machadão? (olha pro interior) Ih, agora tá de comitiva
pra me entrevistar, é, linda?
Juro que nem fiz nada desta vez (ri, safado).
LILA
To aqui pelo Nilo, Raul. Rastreamos o celular dele. Tem como tu ajudar nessa?
RAUL
Nilo? Aqui? Pô, neguinha, se eu soubesse que vocês tudo estariam
aqui eu tinha até passado umas colônias (sorri, sedutor).
ROGER
O papo é sério, cara.
RAUL
(levanta a voz) To falando contigo, camarada?
Roger emudece.
LILA
Nilo foi trazido pra cá à força. Pode ajudar ou não?
RAUL
Vai depender. Tem ideia de onde exatamente ele tá agora?
Lila e Roger entreolham-se.
FADE OUT
FADE IN
PLANO AÉREO do morro de Valquíria durante o amanhecer.
CENA 8 INT. – CASA DE MONI / QUARTO – DIA
No rosto de Nilo, dormindo. Até que desperta no susto. Pelo seu PONTO DE VISTA, a imagem desfocada vai revelando, aos poucos, Butuca e o restante da gangue, composto por homens e mulheres. Todos com as armas nas mãos.
Moni Vasco passa a frente deles, olhar sacana e sorrisinho arteiro.
MONI
Como tá o garotão? Teve bons sonhos?
A imagem torna-se nítida, todos riem. CAM afasta-se e mostra Nilo deitado na cama, com as mãos amarradas à cabeceira. Ele tenta se desvencilhar.
NILO
O que eu to fazendo aqui? Quem são vocês?
MONI
Ele não sabe quem somos.
Pessoal ri. Moni estende a mão.
MONI
Prazer (percebe o erro / corrige), ops! Meu nome é Vasco. Moni Vasco. Um mito. Uma deusa. Uma lenda.
Sorri, sedutoramente.
CENA 9 INT. – CASA DE MONI / SALA – DIA
Branco vem com uma travessa contendo café, torradas e pães. Serve à mesa, onde Lila, Roger, Paulinha e Murilo estão. Roger e Murilo não escondem o deslumbre com a casa.
BRANCO
Taí, gente, tudo do bom e do melhor. Moni disse que nóis tem
que tratar bem os amigos do Nilo, senão vamo tudo parar no jornal.
Branco dá uma risada. Paulinha disfarça o riso e Branco percebe. Pisca pra ela. Branco dá uma sacada na pulseira de ouro de Murilo. Olho chega a brilhar.
BRANCO
Pô, maneira essa pulseira aí. Da boa mermo?
Paulinha e Murilo trocam olhares. Murilo hesita, mas retira a pulseira.
MURILO
(mente) Presente de uma antiga namorada. Se quiser ficar com ela…
Branco pega, maravilhado, coloca no pulso.
BRANCO
Caraca! Valeu mermo! Nunca consegui nada sem esforço.
Mas ó, se Moni perguntar, diga que foi presente teu, tá?
Se ela achar que eu tracei, ela me pipoca todo.
Ri de novo. Todos na expectativa, receosos, mantendo a calma.
SOBE A SONOPLASTIA: Rock You Like a Hurricane – Scorpions
CENA 10 EXT. – RUAS DA CIDADE – DIA
Takes de vários pontos da cidade. A Baía de Guanabara; a Presidente Vargas repleta de gente, o vai e vem dos ônibus; a Rio Branco e o seu trânsito caótico; povo entrando e saindo dos metrôs.
Corta para os becos charmosos do centro da Capital, até a fachada da PUB MANDRAKE /
FIM DA SONOPLASTIA
CENA 11 INT. – PUB MANDRAKE / ESCRITÓRIO – DIA
Na TELA DO LAPTOP exibindo imagens de uma câmera de segurança na entrada do morro de Valquíria. De um carro, SAI Nilo, com a arma na mão, adentrando o morro.
RAUL
(O.S) Ainda bem que os moleques sabem que não podem mexer
com o nosso justiceiro (ri).
Vinnie, a frente do laptop, encara Raul. O bandido fecha o riso.
VINNIE
(sério) Parece que os moleques da Moni também sabem disso.
RAUL
Nilo tava drogadão. Daquele jeito, sabe?
Alguém quis ferrar bonito com o cara.
VINNIE
(pensativo) Não gosto quando os meus planos são interrompidos.
Se ao menos o Nilo tivesse matado a Moni, seria menos um
problema na minha vida. (encara Raul)
Já cuidou daquele nosso amigo?
RAUL
Pô, já foi pro saco. Uma hora alguém ia reconhecê-lo lá daquele prédio. Mas diz aí, o que é pra fazer?
Vinnie se levanta, Raul faz o mesmo imediatamente.
VINNIE
Você pode voltar pro teu serviço. (estende a mão) Daqui eu cuido.
Ambos se cumprimentam. Raul SAI de cena, deixando Vinnie ali, pensativo. Ele vira o laptop onde a cena do carro de polícia ainda é mostrada. No estranho olhar de Vinnie.
CENA 12 INT. – DELEGACIA / VESTIÁRIO – DIA
No coldre sendo colocado na cintura. CAM SOBE e revela Rafael, sorrindo, todo se achando.
RAFAEL
A essa altura, aquele herói de merda já deve tá em todos os sites. Pobre Nilo.
Ainda rindo, Rafael pega o dispositivo do armário e, ao fechar, SUSTO. Toninho bem ali ao lado, sisudão, como sempre.
RAFAEL
Pô, Toninho! Leva essa tua cara pra assustar tua vó, quase me mata!
Rafael termina de se arrumar, Toninho só na vigilância.
TONINHO
(sério, curioso) Por que o Nilo estaria em todos os sites?
RAFAEL
Quê? (disfarça) Ah, qualé, Toninho? Tá cedo demais pra implicar comigo, né não?
TONINHO
Pra onde tu levou o Nilo ontem à noite?
Rafael paralisa, mas finge que nem é com ele.
TONINHO
O delega sabe que tu usa o carro daqui pra dar um rolê com o garotão metido a justiceiro?
RAFAEL
Lá vem você com esse papo de (imita) “o delega sabe”?
Não se conforma de ficar em segundo plano, né? (aproxima-se,
quase mete o dedo na testa de Toninho) Põe uma coisa nessa tua cabeça:
eu sou o investigador daqui, você não.
Quem devia fazer as perguntas aqui sou eu, você não. Sacou?
TONINHO
(tom) Tu se acha, né? Saia desse pedestal, cara!
RAFAEL
Quando você sair aí de baixo, eu saio daqui de cima, que é pra eu não ter que pisar em falso.
Rafael se afasta, aos risos. SAI.
TONINHO
(resmunga) Eu ainda te mato, seu filho da puta!
Em seu olhar cheio de ódio.
CENA 13 EXT. – DELEGACIA – DIA
Rafael vai saindo, com aquele sorriso de deboche. Desce as escadas, quando avista alguém fora da tela. CAM SUBJETIVA enquadra-o através da janela de um carro. Rafael se aproxima.
RAFAEL
O que tá fazendo aqui, William?
William sorri, sonso.
WILLIAM
Entra no carro.
RAFAEL
Eu agora não posso, alguém /
WILLIAM
(por cima) Não é um pedido, Rafael.
Rafael se intimida, olha ao redor. Mostra-se vencido.
FADE OUT
FIM DO PRIMEIRO ATO