Inimigos
1938… Areias, confins da Bahia
Josué mal teve tempo de saltar para trás a fim se esquivar do golpe certeiro e fatal que levaria no pescoço, porém a sorte não lhe foi de toda favorável, já que não conseguiu escapar do corte que lhe rasgou o canto esquerdo da face, abaixo do nariz até a altura dos olhos. Com a mão direita percorrendo o lado do cara tangida e confirmando de pronto o ferimento ao divisar o vermelho de seu sangue empoçado na palma exposta, ele esbravejou. Num gesto instintivo de proteção, Fabiano ergueu a mão esquerda no intuito de se resguardar, sem sucesso, pois Josué já havia partido ao seu encontro empunhando o facão de modo feroz, cravando sem qualquer piedade, na base de sua clavícula, um golpe certeiro: a lâmina pontiaguda da arma cortou sua carne, seccionando suas artérias e trespassando o seu coração. Alheio ao que acontecia ao seu redor, como se estivesse anestesiado, Josué viu Fabiano cair de joelhos à sua frente, agarrando-lhe o abdômen, escorregando por suas pernas até tombar por definitivo sobre o solo, dando o seu último suspiro de vida. De imediato se viu diante do filho mais velho de sua vítima, que o encarava, estagnado como se fosse uma estátua. Josué não soube exatamente o que viu nos olhos daquela criança, mas a imagem de seu semblante impassível com toda a certeza o acompanharia por toda a vida.
1972 Fazenda Olho d’Água, Minas Gerais
“Todo o sofrimento de minha santa mãe pela morte traiçoeira do meu pai vai ser pago quando eu te fizer sangrar igual a um porco, coronel Josué Ferreira”…
Miguel seguiu adiante com o rosto fogueado, sem piscar os olhos.
“Espero que nunca tenha se esquecido do que fez lá em Areias, até porque, a marca da injustiça que meu pai deixou em seu rosto deve lembrá-lo todos os dias”.
Josué Ferreira não podia acreditar no que tinha acabado de ouvir. Retirou a mão de sobre os olhos e a passou pela cicatriz que atravessava o canto esquerdo da face e sentiu como se estivesse sendo ferido novamente, naquele mesmo lugar. Voltou a sombrear as vistas, erguendo o rosto sem demora para encontrar nos olhos do capataz o mesmo olhar impassível daquele menino, há trinta e quatro anos, que o fitava estagnado, como uma estátua, ausente de qualquer reação após ver o pai perder a vida na ponta de uma peixeira.
… Porém há uma justiça
Que ocultamente trabalha
Pelo bem dos inocentes:
Não cobra nem uma palha,
Na pista de um assassino demora…
Porém não falha,
É a justiça que disse
O Messias Prometido
Que quem com ferro ferisse,
Para que fosse punido,
Com aquele mesmo ferro
Também seria ferido.
Antes de sair em busca de vingança, cave duas covas.
FICHA TÉCNICA
Francisco Siqueira
Autor: Francisco Siqueira
Tipo: Web Série
Total de Episódios: 9
Classificação indicativa: +16
Temporadas: 1
Lançamento: 2017