A RAZÃO DO MEU AFETO

Logo depois dos primeiros dias que me descobri apaixonado pelo Matheus, comecei a buscar por filmes com temáticas românticas, gênero do qual sempre que posso procuro passar longe. Não tenho muita paciência para histórias que oferecem mais do mesmo, abarrotadas de clichês, roteiros recheados de frases bonitas e pomposas, mas sem conteúdo, mocinhas/mocinhos sofredores, vilões implacáveis, e, evidente, músicas ao fundo habilmente manipuladoras.

Ah! E os inevitáveis finais felizes que quase sempre põe em xeque a nossa inteligencia emocional. 

Por muito, muito pouco não perdi o que restou da minha paciência em meio a essa jornada desafiadora. Acho que nem mesmo Ulisses teve tanta dor de cabeça quando precisou lidar com o canto daquelas Sereias canibais, e tampouco Perseu deve ter se estressado além do necessário para conseguir derrotar a horrorosa da Medusa. 

Mas entre mortos e feridos e com muita, muita fé, acabei esbarrando com o filme As canções de amor, um drama musical francês, que conta a história de um jornalista, Ismael, que namora Julie, porém vive um romance com Alice e os três compartilham momentos de alegria e ciúme, andando pelas ruas de Paris, até que a morte repentina de Julie rompe o triângulo amoroso e muda os rumos da história.

Sim. Um plowt twist antes mesmo de chegarmos ao final da primeira metade do filme, e que não soa forçado e nem pretensioso. Simplesmente bem articulado. Diferente de muitos exemplares superestimados da sétima arte com suas reviravoltas previsíveis e sem graça. 

Pois bem. Depois de um tempo e lá pelas tantas, Ismael, perdido e confuso, decide passar a noite na casa de um amigo, Erwann, um jovem que nutre uma atração silenciosa por ele e que não tem a menor ideia de como se declarar, mas que resolve, entre receoso e aflito, já que a ocasião faz o ladrão, tentar seduzi-lo à medida que os dois travam um dueto inusitado, porém delicioso, cantando As tu Déjà Aimé, música escrita por Alex Beaupain. Aliás, autor de todas as canções maravilhosas que compõem a trilha sonora deste filme.

Foi impossível não me identificar com a angústia refletida nos olhos do Erwann e que aos poucos, mas sem se ausentar por completo, dá lugar a uma esperança improvável durante o tempo em que ele acredita que esteja bem próximo de seu objetivo. Ao passo que vai incitando o amigo Ismael com meias palavras e frases propositalmente deixadas pelo meio do caminho, carregadas de segundas intenções.

Assim como também não consigo esquecer a expressão de tristeza mal administrada no seu semblante adolescente, sugerindo o quão desesperado e assustado se encontrava por não ter reunido o tanto de coragem suficiente para se declarar sem alusões ou uso de metáforas.

É o mesmo terreno no qual venho caminhando, as mesmas sensações com a quais venho convivendo neste quase um ano que passou enquanto busco descobrir uma maneira de confessar a Matheus o que sinto por ele, sem colocar em risco o caminho já trilhado por nossa amizade.

Repito: não sei em que momento tudo isso começou, mas agora não deixo de me questionar o porquê de não ter me apaixonado antes, de não ter enxergado o meu melhor amigo com outros olhos, pois é humanamente impossível não se encantar por Matheus quando se está diante do seu estilo descolado, irreverente e autêntico; diante de seus olhos extraordinariamente brilhantes e expressivos; sua pele clara; seus cabelos encaracolados com raízes morenas contrastando com o tom loiro platinado de seus cachos…

Aliás, Matheus é lindo por fora e por dentro e definitivamente é impossível não se encantar por ele quando se está diante de sua silhueta discretamente malhada realçando seus braços longos e pernas compridas e tampouco resistir às covinhas que se formam em suas bochechas quando sorri…

Talvez eu esteja soando um tanto exagerado, ou até mesmo desesperado, procurando justificar o injustificável, contudo, nesses tempos de amores líquidos, cínicos, descartáveis, ele, o amor, por incrível que pareça, ainda continua sendo a força vital que move o mundo, ainda que tentemos mantê-lo afastado de todas as maneiras possíveis e imagináveis.

Até mesmo Albert Einstein ressaltou a necessidade da existência dessa energia poderosa e desconhecida ao ponderar que se um dia tivéssemos que escolher entre o mundo e o amor não poderíamos nos esquecer de que se por acaso optássemos pelo mundo ficaríamos sem o amor, mas se escolhêssemos o amor, conquistaríamos o mundo.

Sei que estou andando por uma estrada sinuosa, quebradiça e infestada de armadilhas, pois já fiz esta escolha antes, e me dei mal. Aos 15 anos me agarrei com unhas e dentes à máxima do amar e amado ser e descobri que confiar em alguém só nos traz problemas.

Amar uma pessoa é uma experiência cativante, maravilhosa, transcendental até, porém, quando não somos correspondidos, se torna algo devastador e que buscamos apressada e desesperadamente esquecer, enterrar, o que é impossível, afinal, não existe dor maior que a dor da rejeição, a merda de um tormento sem fim.

Ok. Não estou sendo nem um pouco coerente ao enaltecer o amor em um segundo e o desvalorizar logo em seguida, mas sempre que me lembro dessa parte da minha vida, dessa experiência que tive com o futuro cunhado da minha irmã Maria Clara, que hoje enxergo como uma experiência confusa, traumática e que ainda não processei muito bem, apesar do tempo decorrido, fico um pouco desorientado, com raiva daquela versão ingênua e idiota do Kadu de dois anos atrás.

Enfim, não vou estragar a minha narrativa trazendo à tona esse fantasma. Talvez num futuro (bem distante) quem sabe eu decida encará-lo; perguntar a Gabriel o que de fato signifiquei para ele… Ou se fui apenas mais uma diversão, uma conquista que se deixou fascinar por sua aparente gentileza e amabilidade… 

Resumo da ópera rock que é a minha vida O amor é uma droga: me empenhei de todas as formas e maneiras para guardar os quilômetros de distância necessários desta energia supostamente inofensiva, pois não queria sofrer mais uma vez o desprezo, ser ignorado, sentir o sabor amargo do desamor, colocando o meu orgulho sob a sola dos pés, como bem definiu Shakespeare nas estrofes finais de seu Soneto LXXXVIII.

Porém tenho certeza de que os deuses, com suas mentes frias como gelos, decidiram, enquanto estavam apostando os seus dados, que o tombo que levei há dois anos não foi suficiente. Que não sou merecedor de um pouco de paz de espírito. Fazer o quê? Decerto devo ser uma espécie de coringa dentro dessa jogatina, já que mais uma vez fui arremessado para a arena dos corações partidos sem qualquer chance de defesa, assistindo, impotente, cada uma das minhas convicções em me manter neutro e afastado de toda essa balburdia ruírem como castelos construídos na areia.

Ok. Não vou negar que lá, no fundo, bem lá, no fundo, escondido de tudo e de todos, eu gostaria de ser amado e também ter alguém para amar. Para trocar presentes no Dia dos Namorados. De ser piegas. Assim como também adoraria que meu pai fosse mais participativo nos assuntos da família e minha mãe um ser humano bem menos intransigente e a sociedade superasse os obstáculos por ela mesma levantados sobre qualquer orientação sexual.

Entretanto, não podemos ter tudo nesta vida, e então para evitar expectativas tolas e ficar dando murro em ponta de faca, aprendi a me conformar com o lugar meramente utópico que alguns projetos e desejos precisam ocupar dentro da minha existência. Todavia como agir, ou reagir, quando da noite para o dia é preciso começar a lidar com sentimentos incontroláveis que se alternam a cada dois milésimos de segundos por aquela pessoa que até então eu enxergava como um grande irmão?

Óbvio que achei a minha repentina atração pelo Matheus uma situação completamente ridícula, uma impressão equivocada que iria embora da mesma maneira que havia chegado. Contundo, os dias foram se passando e fui ficando cada vez mais assolado, enredado em um conflito absurdo e desafiador até que não aguentei mais e acabei fazendo o que qualquer outro teria feito no meu lugar. Busquei me afastar de Matheus, inventei as mais estapafúrdias desculpas e justificativas e coloquei nossa amizade em risco só para ter a certeza de que tudo o que eu sentia não passava de fogo de palha.

A propósito, todos os meus esforços foram em vão e a duras penas, e por um honorável sentimento de covardia, optei por manter nossa amizade como sempre fora, mas deixando verdades escondidas pelo caminho, acobertadas por silêncios angustiantes à medida que passei a construir um novo Kadu, rendido diante da conclusão de que não escolhemos o amor e sim ele que nos escolhe.

Das duas paixões que tive na vida, nenhuma delas, mesmo não tendo sido correspondido nem por uma, e nem por outra, me desestabilizou a ponto de ponderar a mais ínfima possibilidade de me declarar, de me assumir, sair da minha zona de conforto, jogando-me, como agora, no precipício do desespero ao tentar imaginar, por mais surreal que possa parecer, um futuro aonde deverei conciliar minhas escolhas sem ferir minha família ou as pessoas que amo. Se eu conseguir que Matheus corresponda ao menos metade do que sinto por ele, e daí nos tornássemos namorados, o meu amigo não suportaria viver na clandestinidade.

Eu e Matheus temos a mesma idade, estudamos no mesmo colégio e sala de aula, e ele passa a semana e alguns sábados e domingos com os seus padrinhos no mesmo condomínio onde moro com minha família.

Desde que Matheus passou a meio que morar aqui, isso quando tinha uns seis, sete anos, começamos uma amizade muito legal. Mesmo não sendo vista com bons olhos pela minha mãe. Uma amizade que com o passar do tempo acabou se tornando uma relação muito próxima, fraternal e que invariavelmente nos fez amigos inseparáveis a ponto de passarmos a compartilhar segredos, medos e ansiedades. Enfim, compartilhar quase tudo. É claro que ele não sabe, e nem sequer desconfia, da minha orientação sexual e muito menos que é o amor da minha vida há quase um ano.

Como não se apaixonar por alguém que sempre te tratou bem, com carinho e respeito?

Não sei se foi a maneira como passei a encarar Matheus depois que meu coração o escolheu, mas de alguns meses para cá, posso, e não gostaria de estar enganado, venho percebendo alguns sinais de afeto bem incomuns por parte dele em relação a mim. Demonstrações de carinho e atenção que se tornaram constantes, como suas mãos quase sempre se encostando aos meus braços enquanto conversamos; ou ele se apoiando em meus ombros de forma longa e gentil; ou seu sorriso, com ou sem razão cada vez que os nossos olhares se encontram; ou ele decidido a assistir algumas séries que eu sugeri há tempos; ou até mesmo seus abraços mais longos que o de costume quando nos encontramos, ou nos despedimos…

Talvez essa mudança tenha acontecido depois que Matheus viu uma foto sua que coloquei de propósito (num momento de completa insanidade) na tela de bloqueio do meu celular. Pensei na ocasião que finalmente havia chegado o momento decisivo, que eu seria confrontado e para o bem ou para o mal o meu suplício terminaria. Entretanto, Matheus achou o meu gesto engraçado, meramente engraçado, e apesar disso, dessa sua reação indiferente, ainda sigo ignorando o óbvio, de que estou, sim, imaginando coisas, por que nosso cérebro tem uma vocação tremenda para se apegar aos significados que criamos, mesmo diante de evidências que contradizem aquilo que foi estabelecido.

Até onde sei e todo mundo também, o meu melhor amigo é hétero e não foram poucas as vezes que ouvi suas confissões e histórias mirabolantes com as garotas. Ainda me lembro do quão horrível foi vê-lo com uma nova namorada depois que eu estava apaixonado. Senti-me traído, trocado, magoado, como se tivesse levado uma facada no peito e quase saí gritando que o amava mais que Romeu à Julieta e minha existência só seria completa ao seu lado…

Acabei me acostumando, claro, que outro jeito?

Todavia não consigo mais deixar de ficar mega preocupado com sua vida, colocando-o à frente de todas as minhas decisões ao tempo em que vou semeando dúvidas e reticências em cada canto do meu cérebro.

É igual para todo mundo: quando se está apaixonado não paramos de pensar na pessoa amada em nenhum instante. Tudo o que fazemos, olhamos e sentimos nos faz lembrar sua imprescindível existência no universo e realmente não sei como tudo isso vai terminar, mas espero não desenvolver uma alarmante tendência masoquista enquanto aguardo o resultado (e coerente, se possível) para a briga de foice que meu coração e cérebro vêm travando.

Sim. Mesmo não enxergando o menor sinal de uma luz no fim deste túnel, pois está cada vez mais difícil lutar contra este sentimento por Matheus, que inunda cada espaço do meu ser, da minha aura, da minha realidade e, principalmente, das minhas entranhas.

Às vezes me pergunto se de fato amo o meu melhor amigo ou se estou apenas tomado por uma paixonite desvairada, uma sensação arrebatadora e turbulenta de um desejo sexual reprimido, à medida que tento lidar com esse misto de inocência e pecado, lidar com o descompasso do meu coração, lidar com a fúria de hormônios que avançam de modo avassalador por cada centímetro da minha virilha, me irritando, mas também me dando prazer, ao preencher minha mente com pensamentos abarrotados de erotismo e sedução, dos quais não ousaria revelar a ninguém.

Cada dia, ocultar esta montanha russa de desejos à la O Terceiro Travesseiro, de Nelson Luiz de Carvalho, livro, aliás, que já li três vezes e em todas elas devorei cada uma de suas páginas, está se tornando uma tarefa praticamente impossível de se cumprir, um alvo notoriamente difícil de se alcançar, que supera toda e qualquer fronteira imposta pela natureza humana.

Será que estou viciado em sexo? Tenho medo de estar ultrapassando o limite ideal da racionalidade (se é que existe) com fantasias sexuais em que Matheus sempre é o protagonista, com seu corpo seminu, ou algumas das vezes, completamente despido, sempre me deixando observá-lo, tocá-lo, sempre permitindo que beije sua boca, acaricie seus cabelos, suas costas, sinta seu cheiro, sua respiração, sua pele…

Sempre me permitindo passear livremente por sua bunda, por seu pau, instigando o seu sexo com minhas mãos, meus lábios, até fazê-lo liberar toda sua tensão, levando-o ao ponto máximo do prazer enquanto suas pernas estremecem e sua respiração, ofegante, mal consegue conter o batimento acelerado do seu peito.

Não. Não estou viciado em sexo. Estou apenas respondendo aos meus instintos. Gabriel me ensinou a lidar, a derrubar barreiras em relação aos meus desejos mais primitivos. Como ele mesmo dizia, o único gay assexuado na história do mundo foi o representado pelo Tom Hanks em Filadélfia, mesmo tendo um Antônio Banderas (maior gato na época) ao seu lado, e foi por isso que talvez, ele, o Tom, tenha levado para casa, em 1994, o Oscar de melhor Ator em papel principal.

*   *   *

Bem, agora aqui estou eu, pensativo, às 16h22, aguardando os poucos minutos que faltam para o término da aula do curso de espanhol. Mi cabeza está golpeando y mi corazón está ansioso. Onde Matheus se enfiou? Ele hoje não deu as caras no CGAM e desde ontem à tarde que não o vejo e tampouco consigo qualquer retorno de sua parte e a última vez que conversamos foi por telefone e isso antes da sua madrinha chamá-lo para jantar.

Eu não posso acreditar que ele foi capaz de perder um dia de aula, pior, perder uma prova, apesar das avaliações escolares não estarem na sua lista de prioridades, mas daí chegar a esse extremo? Matheus não age dessa maneira inconsequente nem mesmo depois dos finais de semana estressantes que é obrigado a passar com a sua família biológica.

Então o que pode ter acontecido?

Na verdade não preciso ser um Sherlock Holmes para deduzir o que há por detrás desse mistério: é obvio que tem alguma garota nova no pedaço, mas quem será essa poderosa que fez Matheus jogar tudo para o alto? A propósito, quero ver a desculpa esfarrapara que ele vai arranjar para requerer uma segunda chamada, que só é concedida por motivo de força maior e devidamente comprovada perante a direção do colégio…

Dou de ombros e decido aproveitar o instante que o professor está de costas, escrevendo sobre a superfície lisa do quadro branco, para apanhar, com um gesto sorrateiro, o celular que está descansando no vão entre as minhas pernas.

Pela enésima vez miro o visor do aparelho a fim de me certificar de que realmente não há qualquer ligação ou mensagem perdidas do meu amigo. A esperança é a última que morre e seria aguardar demais da sorte, eu sei, ainda mais diante de uma nova temporada prestes a começar de “eu vou abandonar o Kadu”.

É sempre assim quando Matheus está de olho em alguma garota, e se por acaso o namoro já estiver rolando, o que é bem provável, eu vou ter que me contentar com o tempo que sobrar. Aliás, já não é de hoje que esse tipo de tratamento vem me incomodando muita coisa. Quem  disse que o platonismo pode até ser algo romântico, que com suas migalhas preenche parte da gente, não se enganou, mas só até certo ponto.

Confiro mais uma vez a tela do celular e nada mudou. Que seja! Concluo com indisfarçável desdém enquanto devolvo o aparelho para “o seu esconderijo”. Dos males, o menor. Prefiro a expectativa ao desapontamento de ter mais uma mensagem não respondida ou mais uma tentativa de ligação que com certeza Matheus, o Judas, não iria atender.

O professor se vira e anuncia o final da aula.

Já não era tempo.

Atrás dele, sobre o quadro branco, em letras bem chamativas, como se já não bastasse o pincel usado para escrever ser vermelho, o titulo de um dos filmes de Pedro Almodóvar, Mulheres à beira de um ataque de nervos, mas no original, em espanhol, é claro. Antes mesmo que um dos alunos faça menção em se levantar, ele informa que na próxima semana iremos assistir la película, sem legendas, óbvio, e em seguida travaremos uma pequeña discusión.

Curto muito Almodóvar e espero estar bem melhor quando a próxima aula chegar, pois se meu psicológico continuar desse jeito, não será fácil presenciar Carmen Maura, mesmo num tom de comédia pastelão, se desesperando ao tentar encontrar o amante que a abandonou grávida, e isso se antes eu conseguir passar ileso pela abertura do filme com Lola Beltran cantando “soy infeliz, porque se que no me quieres, para que mas insistir”.

*   *   *

Após aguardar por pelo menos uns quarenta e cinco minutos sem que qualquer outro transporte comum de uso coletivo apareça, entro no ônibus que atende aos usuários do condomínio onde moro.

Sempre que tenho opção evito usar esse serviço, ainda mais quando estou assim, nem um pouco interessado em socializar, pois sei que vou acabar esbarrando com meia dúzia de conhecidos com caras de reboco mal acabado, aqueles filhos de moradores que aprenderam com seus pais a como andar de nariz em pé, certos de que são os últimos copos d’água no deserto, dispostos a camuflar seus complexos de inferioridade que salta aos olhos. Ou então alguns condôminos que insistem em colocar em prática o maçante protocolo social de puxar conversa só porque estamos dividindo o mesmo espaço, mesmo que por alguns instantes.

Se tiver de escolher, me enfio no meio do primeiro grupo; seus integrantes também sabem seguir à risca outra regra da sociedade: a do afastamento nessa terra de falsas simpatias e sorrisos forçados.

Sentado confortavelmente em sua cabina, o condutor acena com a cabeça quando termino de subir o último dos três degraus, me dispensando logo em seguida um “boa tarde” sonoro, cumprimento que devolvo apenas com um murmúrio ao mesmo tempo que estico a mão direita sobre a maçaneta da porta em curva, com área envidraçada, localizada na direção oposta à sua cabina, abrindo-a de pronto.

É inevitável o imediato contato visual com a meia dúzia de seres humanos sentados sobre as poltronas separadas em filas duplas por um estreito corredor que contrasta, de certo modo, com a amplitude sofisticada do interior do salão do ônibus.

Cada um destes espécimes está me encarando como se eu detivesse uma resposta para todos os segredos do universo e eu, decerto, os ignoro, e depois que fecho a porta atrás de mim, volto-me resoluto, focando o meu raio de visão nos assentos localizados na traseira do veículo, na esperança de encontrá-los completamente vazios.

Sem pestanejar sigo a minha rota de fuga enquanto me apoio nos bagageiros superiores, pouco me importando se estou esbarrando em algumas pernas e braços e conforme vou me aproximando do meu objetivo, semicerro os olhos e estico o pescoço para depois incliná-lo, em movimentos acelerados para o alto e para os lados, no intuito de me certificar de que não há nenhuma alma desconsolada, cuja matéria possa estar estirada sobre um desses assentos.

Graças aos céus não há ninguém ocupando os seis últimos lugares, constato tão logo me deparo com as derradeiras poltronas, e então me jogo sobre a última delas depois de retirar a mochila das costas para logo em seguida abraçá-la desesperadamente a fim de tentar amenizar a sensação arrefecida da “temperatura-era-do-gelo-padrão”, determinada, sem sombra de dúvida, pela Feiticeira Branca de Nárnia para o Tocha Humana sentado ao volante.

Já devidamente acomodado e com os olhos fechados, começo a fazer planos para quando chegar a casa, apesar de que planejar ter paz dentro do apartamento onde moro é como tentar encontrar uma agulha em um palheiro no meio de um tiroteio na faixa de Gaza. Mas é o que tem pra hoje, então irei me isolar no meu quarto, colocar meus fones de ouvido e viajar pela internet, terceirizando minha autoestima para as redes sociais, aonde vou chorar minhas mágoas anonimamente, “conhecer” pessoas por dez, quinze minutos, ou talvez um pouco mais. 

Se estiver com saco, convidarei minha arrogância para um chá enquanto tentaremos compreender os motivos que levam alguns adolescentes a buscar sites que ensinam brincadeiras para fazer com álcool, ou como adquirir cigarros ou ainda como se tornar anoréxica ou bulímica…

Enfim, espairecer.

Abro os olhos e retiro o celular do bolso da calça jeans e encaro o seu visor: Matheus definitivamente me esqueceu!

The Words – Christina Perri 

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  • Ahhh Kadu tbm né, quem não se apaixona assim?
    Olha o Matheus lindo de morrer… Fica assim não, ele não te esqueceu T___T

    Fran que lindeza de capítulo, fofo e cativante até na sofrência.

    Amor platônico ninguém merece </3

    Parabéns mais um texto incrível !!!

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