ATO DE ABERTURA

FADE IN

CENA 1 INT. – CASARÃO / FAZENDA SANTOS / SALA DE JANTAR – DIA

PLANO GERAL – Ambiente com pisos e azulejos claros, pouca mobília, uma mesa de madeira comprida contendo um café da manhã, farto. A empregada está de pé, um pouco afastada da mesa; Avelino está sentado na ponta; Mazinho, Alessandro e Cícero lado a lado; De frente, Maria José e Walter. Todos se servindo. Percebe-se que não há mais cadeiras no local.

Alice e Noel surgem na entrada, alguns dão aquela olhada de asco, menos Walter.

            EMPREGADA 
Desculpe, vou pegar mais cadeiras.

Mal termina de falar e Avelino faz um gesto com a mão.

            AVELINO 
Não se preocupe. Eu já terminei.

Avelino limpa a boca com uma pequena toalha e se levanta. Mazinho e Alessandro fazem o mesmo.

            NOEL 
(sonso) Não me diga que é porque chegamos?

            AVELINO 
(grosso) O que acha?

            NOEL 
(debocha) Cuidado, hen pai. Serão 12 meses sem se alimentar direito. Na sua idade eu não me arriscaria não.

Alice, Maria José e Cícero seguram o riso. Avelino faz cara feia e SAI. Mazinho e Alessandro passam por Alice e Noel, olham de cima a baixo e esbarram, de propósito. Eles SAEM.

Noel nem se abala e senta-se à mesa, ávido de fome. Alice faz o mesmo.

           CÍCERO 
Como as crianças passaram a noite, hen? Dizem que a primeira noite aqui depois de tantos anos causa pesadelos (risadinha).

           NOEL 
Pesadelo é quando a gente acorda.

TODOS riem. Maria José dá de cara com Alice e fecha o sorriso.

           ALICE
Pode me passar a manteiga, Walter?

Clima. Walter sorri, sem graça e passa a manteiga para ela.

           MARIA JOSÉ 
Que esquisito! Sobrinha chamar o tio pelo nome.

           ALICE 
(alfineta) Que esquisito! Pai que rejeita o próprio filho.

           WALTER 
Ficamos um bom tempo sem nos ver, né? Eu entendo.

           MARIA JOSÉ 
Isso porque toda vez que você ia na casa da dona Tarsila, raramente a Maria Alice estava, né? Parece até que queria se esconder…

Alice disfarça e volta sua atenção para o pão, enquanto Noel observa a cara de sonsa de Maria José. Walter olha estranho para Alice.

           NOEL 
(provoca) Tá sabendo, seu Cícero? Os pais da Alice vieram passar um tempo na fazenda do seu irmão.

           CÍCERO 
Ué? Mas por quê? (ironiza) Waguinho perdeu o emprego e a casa por conta do boato, foi? (risadinha)

           NOEL 
Ah, não, eles querem tomar conta da filha e do seu futuro patrimônio como uma das herdeiras da família. (Dá uma cotovelada amigável no braço de Cícero) Agora a família toda tá reunida, não é o máximo?

Noel torna a comer seu pão. Cícero e Maria José trocam olhares cúmplices.

CENA 2 INT. – CASARÃO / FAZENDA SANTOS / QUARTO DE CÍCERO – DIA

Maria José volta-se, irada, com os punhos fechados.

           MARIA JOSÉ 
Que ódio! Que ódio! Vontade de enfiar aquele baguete no meio do /

           CÍCERO 
(corta) Calma, filha! Quanto mais você fica com raiva, menos você raciocina. A menina Alice não vai aguentar o clima aqui não. Duvido. Tá muito pesado pra ela.

Maria José anda de um lado para o outro, pelo quarto pequeno, meio apertado e todo branco. Ela rói as unhas, tem um olhar disperso.

           MARIA JOSÉ 
Dane-se que ela vai aguentar ou não, pai! A imbecil da Catarina nomeou uma amiga como herdeira, e não eu, a prima dela. Nos deixou de fora como o tio João é bem capaz de fazer contigo.

Cícero bate três vezes na madeira da rack.

            CÍCERO 
Vira essa boca pra lá, filha! Com a morte da pobrezinha da Catarina, eu sou o herdeiro direto dele.

            MARIA JOSÉ 
(pensa alto) Eu preciso dar um jeito deles se mandarem daqui. Aí, o Alessandro abocanha a grana e casa comigo.

Cícero estala os dedos diante dela. A garota desperta de seu devaneio.

            CÍCERO 
Você se esquece do Walter, é? O rapaz é bom, gosta de você e também é herdeiro disso aqui.

CORTA PARA O

EXTERIOR DO QUARTO

Walter vai passando quando ouve a conversa. Ele para rente à porta.

            MARIA JOSÉ 
(O.S) Herdeiro de quê? Quando o idiota do Avelino morrer, isso tudo será do Alessandro. Quem se importa se ele roubou dos irmãos? Te contei, né? Walter é tão paradão que se recebesse dez mil já sairia doando. Contenta-se com pouco.

Walter, desolado, mas com cara de quem está acostumado com aquilo, deixa a cena.

VOLTA EM

Maria José, que continua com os seus impropérios.

            MARIA JOSÉ 
Tá cada dia mais difícil manter esse relacionamento, pai. Se o Alessandro não tomar uma decisão, eu tomo.

Nela.

CENA 3 EXT. – FAZENDA GUERRA – DIA

Vista aérea do imenso campo cheio de ovelhas. CAM dá uma geral em outro ponto onde João e Wagner estão debruçados sobre a cerca.

CORTA PARA

CAMPO

João e Wagner espiam as ovelhas pastando.

            WAGNER 
Não sei se isso dará certo, João. Não quero dar trabalho.

            JOÃO 
Deixa disso, homem! A casa ficou muito vazia sem a minha filha. Eu e a Helô estamos felizes em receber os pais dos herdeiros que Catarina escolheu.

            WAGNER 
Eu acho isso muito novo pra mim. A Catarina tinha uma prima, né?

            JOÃO 
Pois eu dou graças a Deus que ela deixou a Maria José de fora. Seria bem capaz de vender pro Alessandro ou pro Avelino a qualquer preço.

Pelo PONTO DE VISTA de ambos, Paulo cavalga entre as ovelhas.

            WAGNER 
Sabe, eu lembro, vagamente, que você e o Avelino eram mais próximos antes da Catarina nascer. Nunca entendi o que de fato aconteceu.

            JOÃO 
Avelino foi uma decepção pra mim. Certeza que se meu pai fosse vivo teria se arrependido de tê-lo empregado e dado referências ao antigo dono daquela fazenda. Tarsila deve ter te contado que ele trabalhava na fábrica de tecidos do meu pai, né?

            WAGNER 
Sim, inclusive eu saí do Rio porque ela queria ficar perto da família, quando Avelino veio pra cá.

            JOÃO 
Pois é. Avelino podia ter sido um grande amigo. Mas ter conseguido a fazenda apenas mostrou o lado ganancioso dele.

            WAGNER 
Mas o patrão deixou a fazenda aos cuidados de Avelino, antes de morrer. Olha, senti pena do filho, viu. Morreu a mãe, depois o pai…Eu posso até não gostar do Avelino, mas ele ter cuidado do garoto, achei digno.

Em João, olhar de rancor.

            JOÃO 
Era o mínimo que ele podia ter feito.

            WAGNER 
Como assim?

João disfarça, nem encara o amigo.

            JOÃO
O garoto sofreu o acidente junto da mãe, né? Podia ter ficado traumatizado a vida inteira.

Wagner mal responde, e Paulo aproxima-se com o seu cavalo todo marrom, altivo. Ele segura uma pequena vara em uma das mãos.

            PAULO 
Bom dia! Bom dia!

            WAGNER
Bom dia! (faz carinho na cabeça do cavalo) Garoto bonito esse, hen.

Eles riem.

            WAGNER 
Morro de medo de cavalgar, confesso. Prefiro até andar a pé. Nem carro eu gosto.

            JOÃO 
Eu não pretendo mais cavalgar tão cedo. Não me traz boas lembranças.

            PAULO 
O senhor me desculpe, cabeça minha (vai descendo). Se achar melhor, eu nem cavalgo perto do senhor.

            JOÃO 
Não, de maneira alguma! Isso faz parte do seu trabalho.

            PAULO 
Bom, de qualquer maneira, vou deixar o rapaz descansar, né?

E Paulo ACERTA a vara no lombo do cavalo, que DISPARA.

            WAGNER 
Ai, gente, não machucou não?

Os outros riem.

            PAULO 
Que nada! Dei de leve. É um truque. Quando faço isso ele só corre a uma certa distância. Depois para.

            WAGNER 
(pra João) Você tem um domador de cavalos, hen.

            JOÃO 
Melhor do que ele só o pai dele foi.

Paulo sorri, constrangido.

FADE OUT

FIM DO ATO DE ABERTURA

CAPÍTULO 4

BALAIO DE GATOS

PRIMEIRO ATO

FADE IN

CENA 4 INT. – CASARÃO / FAZENDA SANTOS – DIA

Rafael sentado num sofá, diante de Alice e Noel.

            RAFAEL 
É importante que vocês não se ausentem por vinte e quatro horas daqui, a não ser por motivo de força maior. Caso contrário, o Alessandro pode revogar a herança alegando a renúncia de vocês.

            NOEL 
Então melhor reforçar a segurança, pra gente não amanhecer perdido numa ilha (ri).

            RAFAEL 
Melhor não rir. Já vi briga feia por causa de terras, teve até mortes. Deus que me perdoe, mas nem em parente dá pra confiar.

            ALICE 
E considerando a polícia da região…

            RAFAEL 
Bom, vocês têm o meu apoio. Catarina tinha muito apreço pelos dois. Não tenho nada contra o Alessandro, mas o testamento ficou claro que a preferência é por vocês. Só posso desejar boa sorte.

            ALICE 
Vamos precisar.

Ao fundo, Mazinho ESPIA, com cara de quem não gostou.

CORTA PARA

CENA 5 EXT. – CLÍNICA VETERINÁRIA – DIA

            MAZINHO 
(O.S) A gente tem que fazer alguma coisa, Alessandro!

Corta para o INTERIOR

Mazinho não para quietodaquele jeito malandro, enquanto Alessandro faz curativo na pata de um gato preto.

            MAZINHO
Conheço o Noel e junto com aquela lá eles não vão dar sossego nãoCapazes de sumirem contigo pra dizer que tu renunciou.

            ALESSANDRO 
E o que podemos fazer? Se nem a má fama e o desprezo da gente foram suficientes.

            MAZINHO 
Tu eu não sei, mas eu vou dar um jeito. (aproxima-se do gato) E qual é desse gato, hen?

Quando Mazinho passa a mão no dorso do gato, este mostra os dentes. Mazinho se afasta.

            MAZINHO 
Eu hen. Odeio gatos. Não dá pra confiar em nenhum. To saindo. Fui!

Mazinho some pela porta. Alessandro acaricia o gato, agora manso.

CENA 6 INT. – CASARÃO / FAZENDA GUERRA / QUARTO DE HÓSPEDES – DIA

Tarsila arruma as roupas nos cabides. O local é espaçoso, metade da parede em cores neutras; Outra metade, branca. Cama de casal, móveis de madeira boa, envernizada. Ambiente bonito e relaxante.

A porta sendo aberta, Wagner adentra, afoito.

            WAGNER 
Bora visitar nossa filha? Temos que marcar presença, mostrar que ela não tá sozinha.

            TARSILA
Você fala de um jeito como se ela estivesse no meio do perigo. É a minha família, bem ou mal…

Wagner a abraça pelas costas e beija sua nuca.

            WAGNER 
É, eu sei, não dá pra escolher, né? Mas você vem comigo, não vem?

Tarsila esquiva-se e guarda a roupa no armário.

            TARSILA 
O Avelino não deve tá em casa. Quando ele estiver, eu vou só pra pisar. Eu quero vê ele me aguentar agora.

            WAGNER 
(ri/safado) Hmm, tá pro crime, gostei disso. Mas tu vai ficar aqui sozinha? A Helô tá por aí?

            TARSILA 
O João não tá em casa hoje?

            WAGNER 
Por isso mesmo. Não dê muita trela pra ele não. Dá pra ver a ânsia dele em destruir o Avelino, e você é a irmã. Veja só, o cara ficou com a esposa do inimigo.

Tarsila lança um olhar fulminador. Para até o que está fazendo.

            TARSILA 
Como é? Só por isso você quer que eu te acompanhe? Cê tá achando que eu /

            WAGNER 
Não, de maneira alguma. É que os dois vivem de guerra e eu não quero que sobre pra você, (sorriso sacana) né meu amor?

            TARSILA 
Aham, sei.

Tarsila guardando a roupa; Wagner ainda sorrindo, pisca pra ela.

CENA 7 INT. – CASARÃO / FAZENDA SANTOS / QUARTO DE ALICE – DIA

CAM dá uma geral no ambiente espaçoso, em cores claras. Cama de solteiro, coberta por uma colcha em xadrez, móveis rústicos. SOM de chuveiro ligado. CAM vai BUSCAR a porta do banheiro fechada e

ADENTRA-O

Na silhueta feminina por trás do box de vidro, tomando banho.  O lavabo grande com um extenso espelho de canto a canto, alguns objetos por alí.

Corta para o interior do BOX

CLOSE em Alice debaixo do chuveiro e de olhos fechados.

PLANO DETALHE nas mãos de Alice, que desligam o chuveiro em clima de SUSPENSE.

Alice passa as mãos nos olhos, quando um SOM tipicamente de cobra chama atenção. No que Alice abre os olhos

HÁ UMA JIBOIA NO CANTO DO BOX

Alice leva um SUSTO, esquiva-se, tenta sair e acaba CAINDO do outro lado. Rapidamente, apanha a toalha e enrola-se nela. A cobra vem se aproximando. Alice, no desespero, abre a porta

ATRAVESSA O QUARTO E SAI PARA O

CORREDOR

Onde acaba escorregando e indo ao chão. Mazinho bate PALMAS, aos risos.

            MAZINHO
O que foi? Tem medo de cobra, é? (aproxima-se) Da próxima eu arrumo uma peçonhenta pra você.

E SAI rindo. Alice, respiração ofegante, trinca os dentes e soca o piso, de raiva.

CENA 8 INT. – CASARÃO / FAZENDA SANTOS / SALA – DIA

Mazinho desce as escadas, rindo. Maria José e Cícero, sentados e com celular nas mãos, não entendem.

            CÍCERO 
(provoca) O que tu aprontou, hen Mazinho? Coisa boa não foi.

            MAZINHO 
Sabe quando duas cobras se encontram? (senta-se) É disso que to rindo.

O cara gargalha, fazendo Maria José também rir. Cícero espanta-se com o que vê fora da tela.

            CÍCERO 
Epa, epa! Que isso?!

Alice, só de toalha, desce as escadas, furiosa e segurando a cobra pela cabeça. Mazinho percebe e olha para trás. Levanta, com cara de safado.

            ALICE 
Tá aqui a sua cobra, Mazinho!

E ao tentar jogar em cima de Mazinho, este desvia e a cobra CAI sobre Maria José. A garota GRITA e SALTA do sofá, jogando a cobra no chão.
Noel surge no alto da escada, sem entender. Da porta, Wagner e Walter entram, preocupados.

            WALTER 
Quem gritou? O que tá acontecendo?

Assim que bate os olhos em Alice, ainda escorrendo água pelo corpo, Walter paralisa, desvia o olhar, constrangido.

            WAGNER 
(indignado) Mas o que é isso? O que você faz nua aqui na sala, Maria Alice? (pra geral) O que tá havendo aqui, posso saber?

Nos olhares de cada um, até chegar em Alice, de cara amarrada.

CORTE DESCONTÍNUO

Walter segura a jiboia. Wagner, mãos na cintura, aguarda uma explicação, e Noel já está alí, ao lado de Alice.

            WAGNER 
Quem começa?

            ALICE 
Foi o Mazinho, pai. Ele colocou essa cobra no banheiro e disse que da próxima seria uma peçonhenta.

            MAZINHO 
Qual é, garota? Jiboia tá sempre aparecendo na região, né não Walter?

            WAGNER 
Cê aprontou uma dessas pra cima da minha filha pra enxotá-la daqui, né? Pois agora mesmo que ela não sai!

            MAZINHO 
Eu não tenho culpa de nada não, ô! A fazenda tem desses perigos, quer ficar, fica. Walter sabe do que to falando, diz aí, irmão.

            WALTER 
Nenhuma cobra foi encontrada no quarto de ninguém, menos ainda num banheiro, Mazinho.

            MAZINHO 
Pra tudo tem uma primeira vez, né não?

Noel toma a frente e aponta o dedo pra o tio.

            NOEL 
Você tem ideia de que poderia ter infartado a Alice? Ou tava topando qualquer coisa pra tirá-la daqui?

            MAZINHO 
EU NÃO FIZ NADA! INFERNO!

            WALTER 
Já chega! Vamos tentar viver em paz, vamos, Mazinho?

Maria José encara Walter, chateada.

            MARIA JOSÉ 
Como assim, Walter? O Mazinho acabou de dizer que não fez nada. Acredita mais numa sobrinha que você não vê há anos do que no seu irmão?

            CÍCERO 
Mas o Mazinho a gente conhece bem, né? (risadinha)

            WALTER 
(sem graça) É isso…

            MARIA JOSÉ 
E a Alice você não conhece nada.

            WAGNER 
Mas eu conheço bem e é bom você medir suas palavras antes de falar nela, garota. (pra Alice) Vai trocar de roupa, vai.

Alice encara Mazinho, com raiva, e este devolve com ar de escárnio. Alice sobe as escadas e Noel quase vai junto. Wagner põe a mão de contra seu peito.

            WAGNER 
Você fica.

Noel e Wagner de cara feia pra cima de Mazinho. Walter acompanha Alice PELO OLHAR até ela sumir no corredor, sem perceber Maria José encarando-o, com ódio.

CENA 9 INT. – CASARÃO / FAZENDA SANTOS / QUARTO DE WALTER – DIA

Walter SAI do banheiro secando o rosto com uma toalha. Um quarto bem rústico, diferente do quarto de Alessandro. Paredes na cor pastel, móveis de madeira, cama de casal coberta por uma colcha verde.

A porta é aberta e Maria José adentra, batendo a porta com força.

            WALTER 
Que isso, mulher?

            MARIA JOSÉ 
(furiosa) Que isso? Você pergunta “o que é isso?”, Walter? Alice mal chegou e já acusou metade dos parentes disso ou daquilo outro, mas você preferiu ficar do lado dela do que do seu irmão.

            WALTER 
Cobras nunca apareceram num banheiro, Maria José. Só fui razoável.

            MARIA JOSÉ 
Me explica então por que não tirou os olhos dela?

            WALTER 
(dá de ombros) Do que você tá falando?

Walter ignora e aproxima-se do armário, mas Maria José puxa-o pelo braço.

            MARIA JOSÉ 
Eu to te perguntando por que olhou pra ela com cara de bobo apaixonado?

Em Walter, surpreso e indignado.

            WALTER 
Você tá maluca, Maria José? Ela é minha sobrinha, caramba!

            MARIA JOSÉ 
Só por isso? Sobrinha não é filha, Walter.

Walter exalta-se e agarra a garota pelos ombros.

            WALTER 
Você nunca mais repita isso, ouviu bem? Nunca mais! Isso é falta de respeito!

Os dois encaram-se, fortemente. Walter a larga, meio arrependido.

            WALTER 
Desculpe…Mas eu não esperava ciúmes por conta de uma parente minha, né?

Maria José, contorcendo-se de raiva.

            MARIA JOSÉ 
Imagina…Eu que peço desculpas. Esqueço que ela é da família.

Walter faz que sim e dá as costas. Em Maria José.

FADE OUT

FIM DO PRIMEIRO ATO

SEGUNDO ATO

FADE IN

VISTA PANORÂMICA da Igreja /

CENA 10 INT. – IGREJA – DIA

A medida em que a CAM aproxima-se do corredor, algumas pessoas olham, receosas, e até cumprimentam; outras olham com asco. Todos vão afastando-se, indo embora. O padre Batista, no altar, apenas encara a CAM, sem receio algum.

            BATISTA 
É um pouco raro vê-la na igreja, senhora.

CAM revela dona Tina trajando uma calça jeans, blusa branca sob o mesmo manto verde. Direciona um olhar desafiador pra cima do padre.

            TINA 
Não tenho nada contra a Casa de Deus, o senhor sabe. Mas senti falta de sua presença. Sempre se consulta comigo, todo mês.

Batista desce, rapidamente e com certa fúria no olhar.

            BATISTA 
(murmura / nervoso) Aqui não é lugar pra falarmos disso! Venha!

Tina segura-o pelo braço. Batista espia.

            TINA 
O que tenho pra falar não vai lhe tomar mais do que dois minutos. Você já arranjou um substituto?

Batista confere ao seu redor pra ver se não há alguém por perto.

            BATISTA 
(impaciente) Já sabe por que não voltei pro seu barraco, não é? (enfatiza) Daqui eu não saio. Aqui é o meu lugar, vê se entende!

E solta-se dela, ríspido. Tina não se intimida.

            TINA 
Esse lugar não te faz bem, garoto. Já te falei isso.

Batista vai pra cima, alterado, mas sempre mantendo o tom para não chamar a atenção.

            BATISTA 
Quem a senhora quer proteger? O todo poderoso Avelino? Ou a sua cria, hen?

Tina vai pra trás, tensa.

            BATISTA 
Veja! A senhora sabe da minha vida, mas eu também sei da sua. Então pense antes de vir aqui me cobrar alguma coisa.

O padre vai saindo, mas logo retorna.

            BATISTA
Ah, e eu não tenho medo de suas macumbas, tá? Praga de padre pode ter mais efeito.

E o padre dá as costas. Em Tina, inconformada.

CENA 11 INT. – CASARÃO / FAZENDA SANTOS / QUARTO DE ALICE – DIA

Noel adentra e fecha a porta, em seguida. Alice penteia os cabelos diante do espelho da pequena mobília.

            NOEL 
Que barra, hen! Mazinho já começou pegando pesado.

            ALICE 
Pra você ver só onde viemos parar. Não sei se é lucro continuar com isso não, viu. Daqui a pouco ele joga uma anaconda aqui dentro, nem sei.

Noel, já sentado na cama, deita e espreguiça-se nela.

            NOEL 
Se preocupa não. Ele não tem uma dessas, senão venderia. Se é que você me entende.

Alice lhe dá uma olhada e ambos riem.

            ALICE 
Seu bobo! O caso é sério. Ainda que eu ache que eles só querem tocar o terror, mas é melhor prevenir. Nunca se sabe.

            NOEL 
Prevenir como? Saindo daqui? (Alice faz a dúvida) Você tem certeza de que foi um crime, não é? E já conversamos sobre isso. João tá confiante que podemos ajudar.

Alice senta na cama, Noel levanta-se, sentando-se também.

            ALICE 
É, eu sei, mas não será fácil pegar o seu pai, Noel. Também não sabemos se foi ele mesmo ou a mando dele.

            NOEL
Olha, se Catarina tinha poucos amigos, e nem estranhou seu agressor num estábulo, é porque o criminoso vive 
aqui. É mais fácil ser alguém dessa fazenda do que de qualquer outra. Já subimos um degrau, pelo menos.

            ALICE 
Resta saber com quem ela conversaria amigavelmente e, principalmente, porque se assustaria a tal ponto de não conseguir controlar o cavalo.

            NOEL 
Hmm, um caso para Sherlock Holmes.

Ambos sorriem.

CORTA PARA

Cícero, ATRÁS DA PORTA, escutando tudo.

CORTE DESCONTÍNUO

CENA 12 EXT. – CASARÃO / FAZENDA SANTOS / ESTÁBULO – DIA

Mazinho, trajando roupa de montaria, prepara a cela de um cavalo. Cícero vem chegando alí, com um risinho frouxo.

            CÍCERO 
E aí, Mazinho? Cuidado pra não cair do cavalo, hen.

            MAZINHO 
Tá me estranhando, velho? Sou bom nisso aqui.

            CÍCERO 
Você não conhece a expressão popular, não? (ri) A queda pode ser feia, hen.

Mazinho para, lhe dá uma olhada, mas ignora.

            MAZINHO 
Não to pra jogo não, viu.

E Mazinho sobe no cavalo, prepara-se para seguir.

            CÍCERO 
Noelzinho tá querendo descobrir quem matou a doce Catarina. (surpresa em Mazinho) Parece que ele comprou a ideia da Maria Alice, né?

            MAZINHO 
Quem te falou isso?

           CÍCERO 
Eu ouvi. Tão tramando até fechar o cerco contra o Avelino.

Mazinho olha ao léu, preocupado.

           CÍCERO 
Uma cobra só não parece suficiente, não?

O velho ri, mas Mazinho mantém-se sério, distante.

CENA 13 INT. – CASARÃO / FAZENDA GUERRA / COZINHA – DIA

Local amplo, azulejado em tons claros, armários de canto a canto. Duas mulheres preparam a comida, enquanto Paulo descasca uma laranja. Pela janelinha, surge a empregada da fazenda Santos. Paulo espia.

CORTE DESCONTÍNUO

Paulo e a tal mulher cumprimentam-se pelo lado de FORA da cozinha.

            EMPREGADA
Vim rapidinho antes que o seu Avelino e o seu Mazinho voltassem. Tu bem que podia ter um celular, né?

            PAULO 
Tá, mas e aí? Como anda lá na fazenda?

            EMPREGADA 
Você não vai acreditar. O seu Mazinho colocou uma cobra no banheiro da dona Maria Alice.

            PAULO 
Como assim, Ana?!

            ANA 
E mais! A garota saiu enrolada na toalha pra devolver a cobra. Foi um escândalo!

Paulo coça a nuca, pensativo.

            PAULO 
Eu queria poder ajudar, sabe? Mas diz aí, sabe se a Maria Alice continua insistindo que houve crime?

            ANA 
Isso eu não sei não. Mas por que você quer que eu te mantenha informado?

Paulo titubeia.

            PAULO 
Ué, cê sabe que eu gostava da dona Catarina, né? E ela gostava muito da Maria Alice e do Noel. O mínimo que eu posso fazer é tentar ajudá-los.

            ANA 
Melhor que você pode fazer é não se meter nisso, Paulo. Se houve crime mesmo o assassino pode tá bem perto, quem sabe até pagando suas contas.

Paulo arregala os olhos, assustado.

            PAULO 
Que isso, Ana?! Seu João jamais faria uma coisa dessas. Ele é pai, né?

            ANA 
Mas esse boato que anda por aí? Que ele e a Maria Alice /

            PAULO 
(corta / ríspido) Isso é fofoca e de péssimo gosto. (olha para trás, preocupado) Agora é melhor você ir. Deve tá na hora do seu patrão chegar.

Ana faz que sim, ambos se abraçam.

            ANA 
Tchau! E vê se compra um celular.

Paulo faz que sim, mas sua expressão denota ansiedade.

CENA 14 INT. – CASARÃO / FAZENDA SANTOS / SALA – DIA

Avelino acaba de entrar, nitidamente cansado. Mazinho surge a sua frente, agitado.

            MAZINHO 
Preciso falar contigo!

            AVELINO 
To cansado. Negociar boi cansa, sabia?

            MAZINHO 
É papo sério, Avelino! É sobre aquele acidente. Bora pro escritório, vem!

Avelino estranha, mas o acompanha.
No TOPO da escada, Noel ouviu tudo.

CORTE DESCONTÍNUO

CENA 15 INT. – CASARÃO / FAZENDA SANTOS / ESCRITÓRIO – DIA

Mazinho volta-se, indignado.

            MAZINHO 
Como você não se preocupa? Maria Alice já enfiou na cabeça do Noel que aquilo foi um crime. Agora eles querem investigar. Vai dar ruim pra mim, hen.

            AVELINO 
(irritado) Bobagem! Eles têm o que contra você? Nada.

            MAZINHO 
Contra mim só não. Contra nós. Não se esqueça que eu só afrouxei a cela. A ideia não foi minha.

            AVELINO 
Tá bom, tá bom! Tente arrumar um jeito de tirá-los daqui definitivamente.

            MAZINHO 
Definitivamente…Seria…?

            AVELINO 
Faça como quiser. A última coisa de que preciso é perder a chance de ter aquelas terras. Não demora muito e o João vai preferir vendê-las a ser preso. E isso tem que acontecer.

Mazinho, ainda nervoso, coça o queixo.

CENA 16 EXT. – CASARÃO / FAZENDA GUERRA – DIA

Uma pickup preta aproxima-se do imenso portão de madeira. Pelo lado do carona, a CAM pega João que se prepara para sair, quando Noel o aborda.

            NOEL 
Seu João, tava te esperando.

            JOÃO 
Ô meu rapaz!

João SAI e cumprimenta Noel.

            JOÃO 
Como tá lá no casarão? Estão dando trabalho pra vocês?

            NOEL 
Tio Mazinho aprontou, mas vim por outra razão.

            JOÃO 
Não me diga que você descobriu alguma coisa?

Noel desvia o olhar, põe a mão na cintura. Titubeia.

            JOÃO 
Fala, garoto!

            NOEL 
Eu ouvi uma conversa estranha (João aguarda, impaciente). Tudo indica que o meu pai e o Mazinho mataram sua filha.

João engole a seco, paralisado.

            NOEL 
Pode ter sido pro Alessandro não cumprir a ameaça de dar a parte dele pra ela, mas…Foi bem mais pra te culpar e obrigá-lo a sumir daqui. Desculpe.

João não sabe o que dizer, abaixa a cabeça. Ele vai até o portão, abre e adentra o terreno, zampado. Noel não entende.

FADE OUT

FIM DO SEGUNDO ATO

ATO FINAL

FADE IN

Vista aérea da zona rural /

CENA 17 INT. – CASARÃO / FAZENDA GUERRA / COZINHA – NOITE

Alice e Noel deparam-se com um refratário grande com macarronada, em cima da mesa de madeira.

            ALICE 
Ai, que delícia! Sua mãe sempre inspirada.

            NOEL 
Eu a inspiro, claro.

Risos. Paulo aparece da porta dos fundos, com aquela expressão normalmente de preocupado.

            PAULO 
Opa! Boa noite!

            NOEL 
Paulo, boa noite, entra aí!

Paulo adentra, fazendo mistério.

           PAULO 
Não quero incomodar não, só queria saber como anda lá na fazenda. Eu estimava muito a dona Catarina e torço muito por vocês.

           NOEL 
Obrigado, mas ainda é cedo pra fazermos alguma crítica. (cutuca a garota) Né não, Alice?

           ALICE 
(sarcástica) Claro! Foi só uma cobra no meu quarto. Vamos aguardar mais alguns atentados para podermos discutir.

Noel ri, sem vergonha.

           PAULO 
Mazinho é um ser intragável, me desculpem. Sei que é tio de vocês.

            ALICE 
Relaxa! Só falou verdades.

            PAULO 
Se vocês quiserem, posso pedir pra Ana, a moça que trabalha lá, pra vigiar o Mazinho ou qualquer outro que esteja planejando afastá-los do casarão. Ana é minha amiga, de confiança.

            NOEL 
Hmm, sinto cheiro de trama policial. Adorando o clima. Ana tem uma boa câmera?

Alice bate no ombro dele, chateada.

            ALICE 
Noel!

            NOEL 
O que foi? O Paulo e a Ana querem ajudar.

Helô entra, toda agitada e feliz.

            HELÔ 
Olá, boa noite, Paulo! Já viram que eu dispensei as meninas e eu mesma preparei a comida predileta do meu filho?

            NOEL 
Macarrão com bacon e rúcula. Não me provoque, mãe. Se eu resolver passar vinte e quatro horas aqui por causa de sua comida, nós perderemos a herança.

Todos riem. Helô abraça o filho, orgulhosa.

            HELÔ 
Você já jantou, Paulo? Quer nos acompanhar?

            PAULO 
Já jantei, sim senhora. Só vim dar boa noite.

             HElÔ
E o seu patrão? Onde ele foi?

             PAULO 
Sei dizer não. Ele saiu e não quis papo.

Em Helô, curiosa.

CENA 18 INT. – IGREJA – NOITE

O padre Batista fazendo uma oração, concentrado. EM SEGUNDO PLANO, numa imagem desfocada, surge um homem ao seu lado. Batista termina a oração, quando percebe a presença. É João quem está alí.

            BATISTA
Seu João? Desculpe, eu já ia fechar a igreja.

            JOÃO 
Me dê um minuto, rapaz. Preciso lhe falar, mas em confissão. Podemos?

Em Batista.

CORTA PARA

CENA 19 INT. – CONFESSIONÁRIO / IGREJA – NOITE

Batista acaba de sentar-se, deixa a bíblia sobre o colo.

            BATISTA 
Que a paz do Senhor esteja convosco. Diga, o que lhe aflige?

DO OUTRO LADO da treliça, João mostra-se nervoso, esfrega as mãos, sem saber como começar.

            JOÃO 
Eu queria ter te contado há muito tempo, rapaz, mas a sua vida foi ameaçada.

Pela treliça, Batista mostra-se surpreso.

            BATISTA 
A minha vida?

            JOÃO
Sim, eu to com isso entalado há anos e, com a morte da minha filha, não vejo por que
 manter o silêncio. (T) A Catarina não era minha filha de sangue. (T) Era sua irmã.

Corta para o rosto espantado do padre. Forte clima até cortar para /

CENA 20 INT. – CABANA – NOITE

A porta sendo arrombada por Batista, com lágrimas nos olhos e expressão de ódio. Tina acaba de levantar-se, angustiada. Olho no olho.

            BATISTA 
Você sabia? Sabia, né? Sabia e ainda queria que eu fosse embora! Ele fez muito pior do que eu tinha imaginado, Tina. Muito pior. O Avelino é um monstro! Um monstro!

Os dois se abraçam, ele desaba em lágrimas.

            BATISTA
A Catarina era minha irmã! Por que você não disse antes? Por quê?

Batista chora compulsivamente. Tina lacrimeja, em sinal de lamento.

CENA 21 EXT. – CASARÃO / FAZENDA GUERRA – NOITE

Alice, Noel e Wagner caminham em direção a um carro preto, onde encontra-se Paulo, encostado à carroceria.

            WAGNER 
Vou levá-los pra aquele hospício. Quero ter certeza de que chegarão são e salvos.

Noel dá uma batidinha em seu ombro, sacana.

            NOEL 
Poxa, bom ver que o senhor se preocupa comigo.

Wagner observa, dando aquela olhada de reprovação.

            WAGNER 
Eu me preocupo com a minha filha, você faz parte do combo, eu hen!

Paulo ri e já vai abrindo a porta do carro.

            PAULO 
Pode deixar, seu Wagner. A fazenda é aqui do lado. Eu levo os dois.

            WAGNER 
Ah, não sei. Eu tava querendo espezinhar um pouco o Mazinho. (pensa) Ah, deixa pra amanhã. Vão, já tá tarde.

Alice e Noel entram no carro. Paulo faz o mesmo e bate a porta. Alice e Noel acenam para Wagner, este faz careta para Noel.

CENA 22 EXT. – CASARÃO / FAZENDA SANTOS – NOITE

O carro estaciona em frente ao grande portão de madeira. O muro é alto, cinza, boa parte ladeada por gramas e com pequenas aberturas retangulares nas paredes.

Alice e Noel descem do carro e espiam Paulo pela janela.

            ALICE 
Valeu, Paulo! Vamos entrar sem fazer alarde. (irônica)Detesto grandes recepções.

Paulo e Noel riem.

            NOEL
Gente, boa noite pra quem fica. Preciso ir ao banheiro, fui!

            ALICE 
Ô garoto!

Noel já foi.

            PAULO 
Já sabe, né Maria Alice? Pode contar comigo e com a Ana.

            ALICE 
Obrigada.

Paulo sorri e liga o carro. Ele parte.

CORTE DESCONTÍNUO

Alice, NO INTERIOR DA FAZENDA, caminha, despreocupada. Ao aproximar-se da pilastra, Mazinho SALTA em sua direção. Alice vai pra trás, sobressaltada.

            ALICE 
Tá maluco?! Quer me infartar de vez mesmo, é?

            MAZINHO 
Você sabe onde veio se meter, não é? Ou deve ser que nem a Alice do país das maravilhas? Não sabe onde está e pra onde quer ir.

            ALICE 
(sarcástica) Não me dê spoiler; Eu não terminei de ler.

Alice tenta passar, mas Mazinho não deixa. Encara-a com raiva, olhar ameaçador.

            MAZINHO 
Só vou te dar um recado: Aqui não é o teu lugar, mas se quiser ficar é bom tá preparada, porque aquela cobra foi só o começo. Se quiser insistir mesmo que houve crime, então eu monto um cenário pra você.

Forte tensão. CAM BUSCA Noel escondido por trás da janela, ouvindo tudo.

FADE TO BLACK

FIM DO CAPÍTULO

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