Com os olhos marejados de emoção e o rosto vermelho de vergonha, olhei em volta, todo aquele jardim estava repleto de alegria. A presença dos irmãos da minha mãe me travou um pouco, mas logo desviei o olhar e procurei curtir o momento.
– Bem-vinda de volta, Camille!! Gritou Dona Neusa com entusiasmo seguida de festejos e aplausos dos convidados.
Meu pai aproximou-se de mim e me deu um forte abraço.
Quando meu pai me reencontrou no hospital, ele me pediu perdão. Pra mim, aquilo foi assustador, afinal, não era o que eu esperava naquele momento, eu só queria um abraço e sentir o quanto ele me amava. Dizem que o perdão liberta, pode até ser verdade, mas para mim, o perdão se conquista naturalmente.
– Que você seja muito feliz minha filha! Eu te amo! Declarou ele emocionado
– Eu também te amo, Pai. Obrigada. Respondi imediatamente.
– Pessoal me desculpem, mas eu já segurei demais a fome, to vendo que tem várias comidinhas aqui não é mesmo? Dizia Yuri enquanto apressava-se pra chegar perto das travessas de comida.
– Você já sabia de tudo? Questionei Yuri, inconformada.
– Era surpresa pra você, não pra ele, minha querida… Defendeu Dona Neusa.
– Dona Neusa, Obrigada! Muito obrigada por tudo! Agradeci.
Nos abraçamos e por trás dela pude ver meus tios sentados à mesa, eles conversavam e me olhavam discretamente.
– O que eles estão fazendo aqui, dona Neusa? Perguntei, aflita.
– Eles querem muito conversar com você. Filha, você precisa resolver isso logo, eles são sua família e você terá que decidir o que fazer. Como será daqui pra frente? Não sei o que eles tem a dizer. Dona Neusa segurava meus ombros enquanto me aconselhava olhando nos olhos.
Ela tinha razão, não dava mais pra adiar. Eu estava determinada a recomeçar e meu futuro ainda era incerto. O primeiro encontro com eles foi péssimo, estava no cemitério, enterrando minha mãe, eu estava abalada demais para dar atenção e conhecê-los melhor.
Episódio: O Perdão liberta
Naquela tarde, todos curtiram a festa, comeram e sorriram. Ao final, pedi que dona Neusa os avisasse que eu estaria os esperando na varanda da casa.
Já estava anoitecendo e o pôr do sol era a coisa mais linda de se ver em Itaguaçu. Aquele ambiente me ajudaria a refrescar as ideias, conversar com calma.
– Que festa linda! Chegou dizendo, meu Tio Jocélio com largo sorriso no rosto.
– É, e só pra esclarecer, nós chegamos aqui sem saber que aconteceria uma festa. Justificou minha tia Marinha.
– Ah, então pelo menos não fui a única a chegar sem saber. Respondi.
Sorrimos juntos.
– Camille, viemos até aqui para te desejar coisas boas, estamos muito felizes por você estar bem. Ficamos muito preocupados quando descobrimos o que te aconteceu. Disse a Tia Marinha.
– Estamos gratos a Deus por este milagre. Completou o Tio Jocélio.
– Obrigada! Realmente foi um grande milagre. O acidente foi tão … Terrível, que não sei como mensurar, foi… doloroso e assustador. Confessei emocionada.
– Sem dúvidas, foi grande a sua luta para sobreviver a isso. Concordou a Tia Marinha.
– Camille, nós viemos de Vitória, o Jocélio trabalha, é casado, tem dois filhos e eu também sou casada, sou professora de ensino fundamental lá em Vitória e tenho uma Filha adolescente. Voltamos hoje pra Itaguaçu com um único propósito: Te encontrar! Queremos nos retratar, te devemos algumas explicações sobre nossa verdadeira relação com a nossa irmã Lucélia. Que Deus a tenha. Tia marinha dizia com certo nervosismo enquanto se benzia.
– Verdadeira relação? Vocês não se davam bem? A minha mãe parecia tão entusiasmada em voltar pra cá, eu lembro muito bem que ela estava louca pra reencontrar vocês.
– Camile, a Lucélia era uma mulher muito forte e decidida, desde jovem, ela sempre foi a mais esperta e mais proativa de nós, e quando alguém… de certa forma, atravessava seu caminho, esse seria motivo para uma grande confusão. Ele defendia como ninguém seus desejos e seus interesses. Explicou a Tia Marinha com certo embaraço.
– Tentando ser mais direto, Camille, nós não estávamos bem com a sua mãe. Uma coisa muito séria aconteceu em nossa família, e isso nos afastou por anos. Foi algo que nos magoou demais. Disse Tio Jocélio tentando resumir.
– Só um segundo… vocês estão me dizendo que minha mãe fez algo pra vocês se afastarem dela? Fez algo ruim contra os próprios irmãos? Questionei aflita e surpresa com todas aquelas insinuações.
– Fica tranquila, meu amor. Nós vamos chegar nesse ponto, só precisamos de um pouco da sua atenção. Tia Marinha tentava me acalmar.
– Tudo bem, o problema é que a minha mãe era alguém muito especial, eu não quero lembrar dela com remorso. Se vocês querem me dizer algo que vá mudar minha maneira de pensar nela, é melhor nem me contar. Avisei.
– Camile, precisamos te contar, essa página precisa ser virada. Antes de virar a página, é preciso ler até a última linha. Insistiu a Tia Marinha segurando mina mão.
Meu coração estava apertado. Uma lágrima já percorria meu rosto denunciando meu medo e aflição.
– No dia em que vocês chegaram aqui em Itaguaçu, nós não estávamos lhes esperando. Nós dois não sabíamos que ela estava vindo, nós nem morávamos mais aqui. Nós nem sabíamos que a Lucélia tinha uma filha. Há anos nós não tínhamos nenhum tipo de contato com a Lucélia. Camille, certamente ela estava entusiasmada para nos reencontrar, porque já não aguentava mais viver com tanto remorso, ela queria nos pedir perdão por tudo o que nos fez. A Tia Marinha chorava enquanto falava com toda sua sinceridade no olhar.
Paralisada, eu apenas esperava por mais explicações.
Próximo episódio: Mais um recomeço
Disponível em: 22/02/24