A semana passou tranquila, Felipe conseguiu alguns bicos e pagou algumas contas atrasadas, com Rodrigo estava tudo na aparente calma, o “namorido” o bajulou a semana toda sendo gentil e companheiro como sempre. Felipe estava feliz por isso, momentos de paz como era no começo do relacionamento.

Durante esse período, Thiago mandava mensagens com frequência, quase todos os dias eles conversavam até tarde da noite, mas quando Rodrigo estava em casa preferia evitar e lhe dar atenção.

Felipe estava muito animado quando na sexta-feira Thiago informou que conseguiu para ele uma entrevista para assistente em um escritório de paisagismo de uma amiga dele, ela precisava de alguém com experiência administrativa.

Felipe estava nas nuvens, anotou o endereço e na segunda-feira iria ao centro do Rio para entrevista. Comentou com Rodrigo que o parabenizou, pois o achou muito otimista com essa colocação dada como praticamente certo a vaga, aproveitando o momento disse que merecia uma comemoração no fim de semana. Felipe concordou, afinal, fazia tempo que ambos não saiam juntos para se divertirem.

Sábado a noite, Felipe se arrumava assim como foi combinado com Rodrigo que ao chegar da academia, iriam comemorar. Enquanto trocava mensagens com Thiago ouviu a campainha tocar e foi até a porta estranhando, pois, achou que seu “namorido” esqueceu a chave. Para sua surpresa, era Júlio e outro rapaz que ele não conhecia.

— Olá, Júlio… – Felipe olhou-o curioso e sorriu sem jeito. – Rodrigo não está…

— Ele está subindo aí, mandou a gente vir na frente. – O rapaz que estava com Júlio respondeu sorrindo e olhando Felipe de cima a baixo. – Uau, como Digão falou, muito bonito.

Júlio olhou para o rapaz e apresentou a Felipe.

— Esse é um amigo nosso, Marcelo, sabe o Rodrigo disse que iriamos comemorar sobre seu novo emprego.

Felipe não conseguiu disfarçar sua frustração ao ouvir aquilo, ele pensou que seria um momento de casal e não com amigos. Fez um gesto dando passagem a dupla para entrarem.

— É finalmente consegui um trabalho, na verdade, é uma entrevista, mas quase certo de ficar já que a minha futura chefe gostou de meu currículo.

A dupla entrou e ficaram à vontade no apartamento, Marcelo era o mais atirado e foi falando sem parar com empolgação além do normal.

— Pow cara, muito legal, agora que conseguiu temos mesmo que comemorar.

Quando Felipe ia falar algo, Rodrigo entrou com duas sacolas, uma havia diversas latas de cerveja e outra havia petiscos para preparar. Empolgado, foi direto para a cozinha, dizendo a todos para se sentarem que viria com as coisas para comer e beber.

Felipe sorriu sem jeito aos dois e virou-se para ir atrás de Rodrigo, quando estavam na cozinha falou ao outro em tom baixo.

— Rodrigo, a gente ia comemorar juntos?

— Sim, vamos comemorar.

— Mas… Era só nós, íamos sair.

— Não, vamos comemorar com nossos amigos, é mais divertido.

— Digão, mas eu queria sair com você.

Rodrigo bufou e mostrou um pouco de irritação dizendo em tom baixo:

— Lipe, eu já os convidei, quer que os mande embora? Seria muito sem noção. – Deu leve tapinha no ombro dele e continuou: – Vamos fazer assim, hoje comemoramos com eles, depois vamos sair só nós e fazer essas coisinhas de casal, que tal?

Felipe apesar de chateado, acabou concordando e pegou as latas de cerveja colocando no balde com gelo enquanto Rodrigo preparava os petiscos para levar a sala.

Eles ficaram conversando e bebendo até tarde, ouvindo música e o papo começou a seguir um tom mais sexual. Nesse momento, Felipe tinha certeza do que iria rolar, mesmo a contragosto, acabou aceitando as insinuações, já estava bêbado e praticamente nos braços de Júlio.

Aquela noite de sábado para domingo foi como Rodrigo queria, a pequena orgia aconteceu até perto do amanhecer. Felipe estava cansado quando se afastou deles e foi ao banheiro, tonto, só pensava em se banhar para dormir. Nu, parado de frente ao espelho, ele murmurou:

— No fim, conseguiu o que queria…

*****

— Felipe, acorda…

Felipe se assustou com aquele solavanco no ombro, abriu os olhos ainda confuso, resmungou:

— Digão, me deixa dormir… – Virou para o lado se enrolando no lençol.

— Felipe, acorda, quero saber quem é Thiago? – Rodrigo puxou de forma brusca o lençol e pegou com força no ombro de seu namorado. – Tá me traindo cara?

— O que… – Sentiu o aperto no ombro e arregalou os olhos, sentando-se na cama empurrando a mão de Rodrigo. – Ficou doido Rodrigo?

— Doido? – Virou a tela do smartphone de Felipe mostrando as mensagens de Thiago. – Está me traindo com esse Thiago, foi ele que te arrumou o emprego, não é?

— Foi, mas de onde tirou que estou te traindo? Surtou? – Felipe tentou pegar seu smartphone da mão de Rodrigo. – Devolva, eu não fico mexendo no seu telefone, que direito acha que tem de ficar fuçando o meu?

— Ficou de cu doce o tempo todo com meus amigos. – Rodrigo bufava de raiva. – E descobri qual o motivo, está me traindo com esse Thia…

— Escuta aqui cara, para começar, eu não topei nenhuma das coisas que rolou ontem, mas acabei fazendo, tudo para te agradar. – Felipe se levantou e avançou pegando da mão de Rodrigo o aparelho. – Agora, não te dei o direito de ficar lendo as minhas conversas com meus amigos.

Caminhou pelo quarto indo à porta, estava com dor de cabeça por ser acordado de repente com toda aquela gritaria de Rodrigo, mas antes de chegar a abrir a porta sentiu um puxão forte pelo ombro o fazendo virar e bater as costas na porta. Rodrigo gritava de raiva e sacudia-o pelos ombros exigindo explicações. Felipe estava assustado e tentava se soltar e foi nesse momento que um baque forte no rosto e uma dor forte em seguida. Felipe levou a mão no rosto quando tropeçou e caiu sentado. Assustado, sentiu o sangue escorrer.

— ENLOUQUECEU?! – Felipe não aguentava a dor, o sangue escorrer pelo nariz e seus olhos se encheram de lágrimas.

Rodrigo estava andando de um lado para o outro pelo quarto colocando as mãos na cabeça e arregalou os olhos vendo o sangue escorrer do nariz de Felipe. Abaixou imediatamente e tentando ajudar.

— Desculpa, Lipe!!! – Ele tentava ajudar, mas o outro o empurrava.

— Não me toca. – Choramingou empurrando Rodrigo. – Sai de perto de mim. – ao se levantar, procurou uma toalha no guarda-roupa para estancar o sangue.

Rodrigo ainda tentava ajudar, demonstrando desespero ao ver que tinha machucado o namorado.

— Desculpa, deixa te ajudar.

— SAIIII… – Felipe estava com medo e chorava de dor.

Rodrigo se afastou e saiu apressado do quarto, indo ao banheiro pegar a caixa de remédios.

Felipe estava muito assustado, em todo o tempo que a relação deles ficou desgastada, Rodrigo apesar de sempre reclamar e até xingar por ter que sustentar tudo sozinho, ele nunca tinha sido agressivo aquele ponto.

*****

Felipe voltava da emergência do hospital geral Salgado filho que ficava em seu bairro, estava com uma faixa na face, seu nariz estava muito inchado, mas por sorte não quebrou nada. No entanto, ouviu piadinhas dos enfermeiros e médico que o atendeu que fingiu acreditar na história da porta que bateu no seu rosto. Rodrigo que o acompanhou, não sabia como agir e ficava adulando tentando se desculpar pelo que fez. Quando chegaram em casa, Felipe pediu para ficar sozinho, mas antes de se trancar no quarto diz a Rodrigo.

— Lipe, eu…

— Você não merece explicação, mas vou dar assim mesmo, afinal, quero acreditar que foi um momento de insanidade. – Felipe não olhava para Rodrigo quando continuou. – Thiago é como um irmão para mim, nossas famílias se dão desde que somos crianças… Ele é hétero e é noivo da Sofia, aquela influencer que você adora. Então, nunca que teria algo entre nós, se você realmente se importasse comigo, saberia que eu nunca iria te trair. – Virou-se e entrou no quarto trancando a porta com chave.

Felipe parou no meio do quarto, seu corpo tremia, em misto de dor, medo e nervoso. Olhou a tela de seu aparelho e viu nova mensagem de Thiago, aliás, havia várias que ele não respondeu. Rolou a tela e foi no nome de seu amigo, apagando a conversa e excluindo seu número.

— Não tem como ir amanhã à entrevista com essa cara quebrada, vai parecer que me meto em confusão. – Felipe se deitou e passou a tarde de domingo chorando baixinho, sentido ainda a dor de seu rosto inchado.

Continua…

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