Wei Ying – Parte 1
O sino dos ventos tocava suavemente ao embalo do som límpido da quqin, WangJi dedilhava suavemente as cordas com maestria sentado na varando de seu Jingshi. Desde que chegou ao local, ficou em meditação e cumprindo uma rigorosa penitência imposta por Lan QiRen para lhe permitir que testasse a influência da energia ressentida em Wei Ying. Com isso descartar qualquer indício que o garoto poderia ser rebelar contra o mundo do cultivo na sua essência passada.
WangJi compreendia as palavras de Wei WuXian através do sonho de Wei Ying, a visão dele se jogando ainda feria o coração da jade de Gusu. No entanto, só seria possível manter sua reencarnação a salvo se WangJi pudesse provar que ele era normal e não havia reencarnado para procurar vingança.
XiChen estava apoiando e conversando frequentemente com seu tio, apesar de ele ser o líder do clã Lan atualmente, ainda cabia decisões dos anciões milenares. Convencer o tio a submeter o rapaz ao teste era a forma que encontrou para o irmão não cometer nenhuma imprudência como fez no passado. XiChen sabia que se nada desse resultado, WangJi partiria levando o rapaz para longe de todos afins de protege-lo.
Caminhando pelo belo jardim, o líder do clã Lan parou diante do irmão mais novo que continuava a dedilhar as cordas de sua guqin. Aguardou silencioso admirando aquele som suave e ao mesmo tempo questionador. Por alguma razão XiChen acreditava que tudo se resolveria, porém somente o tempo iria ajudar aquele impasse.
WangJi encerrou a melodia, estava de olhos fechados e ao abrir virou o rosto para o irmão. Este estava sentando na almofada ao seu lado.
— WangJi, hoje é o último dia da sua penitência, o tio possivelmente conversará logo mais ao entardecer. – Olhou-o preocupado apesar de esboçar suave sorriso. – Se a resposta for negativa, pense antes de agir, não atraia atenção mais do que já atraiu.
WangJi olhava o jardim sem esboçar nenhuma reação, ouvindo as palavras do irmão sentiu sua preocupação, abriu ligeiramente os lábios quando lhe falou suavemente.
— Wei Ying não sabe cultivar, ele está desprotegido e se descobrirem… – Voltou a face para o jardim. – Não posso deixa-lo sozinho.
XiChen inspirou suavemente fechando os olhos, sentiu a suave brisa da tarde tocar a face enquanto pensava naquele impasse.
— Jovem Mestre Wei é de fato merecedor de proteção, apesar de suas máculas passadas perpetuarem por milênios ainda assim, hoje ele é só uma criança.
— Hn.
XiChen queria evitar que seu irmão fosse caçado por todo mundo do cultivo por ajudar a Wei Ying, sabia que ter aprovação do clã Lan para aquela proteção resultaria virar todos contra Gusu, porém ver o irmão em fuga protegendo-o era uma dor que ele não queria repetir.
— WangJi, espere a resposta do tio.
— Não preciso esperar, já sei a resposta. – WangJi embrulhava sua guqin e ao terminar, levantou. – Irmão, não vou obrigar o clã a apoiar a proteção, mas eu continuarei cuidando e protegendo Wei Ying.
XiChen suspirou e balançou a cabeça suavemente.
— WangJi, não quero que pense que sou contra, só não quero que a situação perca o controle.
— Não acontecerá. – WangJi uniu as mãos a frente do corpo e curvando.
XiChen levantou e fez o mesmo. Logo que se despediram e o líder do clã Lan deixou-o a só, WangJi retornou para o seu quarto.
Tão logo que entrou, notou seu smartphone piscar a tela algumas vezes, recebera mensagens e pelo horário sabia exatamente de quem eram.
WangJi olhou a tela do chat por um instante, já havia se passado alguns minutos que Wei Ying enviara as mensagens perto da hora do almoço.
WangJi encerrou a conversa, um discípulo havia chego com uma mensagem de seu tio, solicitando sua presença. Estranhou por um momento aquele adiantamento da conversa. Se bem que preferiria resolver logo a questão, com isso se direcionou para o salão de estudos para encontrar com Lan QiRen.
Em Pequim…
Wei Ying estava olhando a tela do seu smartphone, navegando nos sites que gostava, estava ansioso para falar com WangJi e mesmo depois de falarem rapidamente no chat não foi o suficiente. Nesse instante ouviu suaves batidas na porta e logo em seguida sua avó entrou.
— Wei Ying, venha me ajudar no pátio, precisamos empurrar a neve abrir caminho até o portão. – A senhora pegava no guarda roupas do rapaz vestes pesadas de frio.
O inverno parecia mais rigoroso, tanto que aquela noite de dezembro perto do natal, nevara forte formando no pátio amontoados de neve deixando o chão escorregadio.
— Claro vó Su. – Wei Ying pegou o casaco e gorro e colocou. Guardou no bolso o seu telefone e seguiu atrás de Meng Su.
Quando chegaram no pátio do templo, foram ao pequeno galpão e pegaram as pás de neve.
— Wei Ying, tire a neve daquele lado. – A senhora observava o neto empurrar a neve com a pá. Suspirou baixo e se aproximou. – Meu neto, tem conversado com Sr. WangJi?
— Sim, vó Su quase todos os dias desde que viajou. – O garoto continuava a empurrar a neve.
— Sr. WangJi está bem?
— Sim. – Olhou para a vó. – Ele combinou de me ligar quer saber como fui nas provas.
— Muito bem… Muito bem… – A senhora voltou para a varando de entrada da residência. — Está ótimo, vamos entrar.
Meng Su estava apreensiva desde que o sr. Chao lhe trouxera a informação sobre a saída repentina de Lan WangJi da cidade.
— Sra. Meng acho que tenho algo interessante para lhe contar. – Sr. Chao falava ao telefone com a senhora.
— Conte-me, sr. Chao.
— Na última conferência, foi aberto uma sessão especial para julgar um primogênito cultivado pelo ataque a um rapaz assistido por HanGuang-Jun. – Ele fez uma breve pausa e depois prosseguiu. – Sabemos bem quem são as pessoas envolvidas e Sr. WangJi chamou atenção levantando questionamentos sobre seu neto.
Meng Su inspirou profundamente e pediu para o outro continuar o relato.
— O menino chamou atenção e ao que parece alguns cultivadores questionam os motivos de HanGuang-Jun, além disso há uma acusação forma na agencia governamental que… – Ele suspirou demonstrando tensão na voz.
— Que acusação? – Meng Su apertou seu leque na mão direita.
— Acusaram que HanGuang-Jun mantinha seu neto aprisionado no prédio da Gusu S/A e devido a isso ele vem sendo monitorado pelo governo e a empresa está sendo em vigilância.
— Absurdo, nós não formalizamos nada para fazerem essa acusação. – Meng Su estava estranhando os motivos e uma acusação a qual não foi feita por ela e nem pelos seus outros netos.
— Cara amiga, a situação é delicada.
— Presumo que o fato do segundo mestre Lan ter retornado para Gusu tem relação direta com todos esses fatos.
— Precisamente.
— O que pretende fazer? Pelo que entendi, seu neto está bem próximo do segundo mestre Lan.
— Não sei, vou refletir sobre o assunto. – Meng Su não gostou do tom daquela última frase. – Quanto o meu neto está próximo a HanGuang-Jun é perfeitamente natural, já que sr. WangJi o salvou a vida um par de vezes.
— Sim, sim… Está certa. – Sr. Chao pigarreou e voltou a dizer. – Ele é um bom menino, creio que a situação do segundo mestre Lan possa se tornar mais complicada e será bom o rapaz saber que é a causa do problema.
— Obrigada pelas informações Sr. Chao, verei como lidarei com tudo.
— Conte sempre comigo cara amiga.
Meng Su se despediu e encerrou a chamada, estava apreensiva, sabendo do que está acontecendo decidiu negar o pedido de WangJi para ser o tutor legal de Wei Ying, além de não assinar o documento que faria do seu neto o herdeiro.
Era noite quando Wei Ying recebeu a chamada de WangJi, já estava em seu quarto distraindo-se na internet quando atendeu rapidamente a ligação.
— Lan Zhan, você demorou a ligar, aconteceu algo?
— Não, estou voltando a Pequim.
— Sério?!!!
— Hm.
— Está voltando hoje?
— No caminho, devo chegar em uma hora.
— Estou feliz, finalmente vou te ver.
— Eu quero vê-lo, amanhã vou ao orfanato.
— Promete?
— Hm.
Wei Ying ouvia a voz de WangJi e se sentia ainda mais ansioso, afinal desde que voltaram de Gusu naquele fim de semana, não se viram mais. Seu coração pulsava tanto que chegou a ofegar baixo ao ouvir que logo iriam se ver.
— Lan Zhan, o natal está perto a cidade está decorada, vamos lá ver?
— Sim.
— Eu quero tirar muitas fotos com você em frente a decoração de natal.
— Claro.
Nesse momento, Wei Ying teve uma ideia e para isso precisaria encerrar a chamada.
— Lan Zhan, vou precisar desligar a vó Su pediu para tirar a neve do caminho até o portão. – Sorrindo, mordeu a ponta do lábio inferior.
— Não se preocupe, ligo logo mais quando chegar.
— Combinado, boa viagem de volta Lan Zhan.
Wei Ying logo que desligou a ligação, correu para seu guarda roupas e remexeu em uma mochila, tirou de dentro um item que vinha guardando e não contou a ninguém. Naquela época quando estava internado, trouxeram alguns dos seus pertences que encontraram e junto estava o cartão chave do apartamento de WangJi.
Agitado, andou pelo quarto trocando a roupa e vestido agasalho mais espeço para se proteger do frio. Para não levantar suspeita arrumou a cama de modo que parecesse que estava deitado dormindo. Pouco minutos depois, estava pulando o muro dos fundos e correndo pela viela até a rua principal.
— Hahahahaha vou fazer uma surpresa, quando você chegar estarei lá te esperando.
Satisfeito seguiu para a estação do metrô indo direto para o bairro onde ficava o prédio de Gusu Lan.
“Lan Zhan disse que em uma hora chegava, devo levar uns trinta minutos até lá, ahhhh… Vou chegar em cima da hora… Espera, mas para ser surpresa tenho que chegar antes dele… Hummm… Se eu correr da estação do metrô ganho alguns minutos… hehehehehe… Ele vai levar um susto.”
Wei Ying fez exatamente o que planejou, logo que saiu da estação correu pelas ruas que aquela hora da noite não estavam tão movimentadas. O frio havia espantado a população que preferia evitar ao máximo sair as ruas, no entanto, ainda haviam pessoas transitando às 7 horas da noite.
Quando finalmente chegou à portaria do prédio, parou ofegante colocando as mãos nos joelhos, correu tanto que estava suando e o vento frio o fez espirrar algumas vezes. Satisfeito ao perceber que conseguiu ganhar alguns minutos, entrou no prédio e foi até a portaria. Como já o conheciam, Wei Ying pediu para o recepcionista não contar que ele estava no prédio já que era uma surpresa para seu amigo. Precisou implorar um pouco, já que o rapaz não queria fazer tal promessa. Porém, o persuadiu tanto que conseguiu. Feliz, seguiu para o apartamento, entrando no elevador principal.
Ele estava eufórico para ver WangJi e quando entrou no apartamento seu corpo ficou tremulo. O aroma de sândalo sempre permanente era algo que adorava, depois de fechar a porta andou pelo lugar com uma leve sensação saudosista. Tudo estava impecavelmente arrumado e Wei Ying sorriu balançando levemente a cabeça.
— Lan Zhan… Lan Zhan… Sempre fazendo tudo certinho… hahahahahahahaha….
Curioso, seguiu pelo corredor onde ficavam os quartos e parou de frente a porta naquele que dormia enquanto estava no apartamento. Abriu a porta de correr e se surpreendeu, o lugar estava como era, todo arrumado e com algumas coisas que Wei Ying lembrava de ter comprado. Aquele lugar estava pronto para receber alguém, havia TV, notebook e aparelho de som.
Caminhou até o guarda roupa e abriu. As roupas estavam lá penduradas em cabides e dobradas nas gavetas. Wei Ying inspirou fundo e ficou confuso.
— Lan Zhan não desmontou o quarto, mas ele levou todas as minhas roupas para o orfanato. – Coçou a cabeça e fechou a porta do armário. – Por que ele tem tudo isso aqui preparado?
Ficou parado uns minutos no meio do quarto tentando imaginar o que o outro pretendia mantendo aquele quarto pronto.
“Lan Zhan perguntou se eu viajaria com ele e esse quarto pronto que claramente é para mim, as roupas no armário são todas do meu tamanho e estilo que gosto… Hummm… Será que Lan Zhan vai querer que eu volte a morar no apartamento?”
Os lábios do rapaz foram se curvando lentamente os cantos para cima, seus olhos brilharam no mesmo instante. E pensando nessa possibilidade quando ouviu vozes vindo do lado de fora do quarto. Rapidamente correu para fechar a porta de correr bem de vagar e não fazer barulho, de lá ficou quieto esperando ouvir a voz de WangJi.
Wei Ying tentava ouvir, mas não entendia o teor da conversa. Percebeu que seu amigo não estava respondendo, apesar de ouvir várias vezes o nome dele.
— Essa voz é do tio de Lan Zhan e a outra voz provavelmente é do seu irmão. – Murmurou consigo ainda tentando ouvir, decidiu por fim abrir uma fresta da porta para ter mais facilidade para escutar.
— WangJi, não pretendo que essa situação se propague. – QiRen sentou na poltrona. – Faremos os testes, mas isso não quer dizer que aprovarei qualquer uma de sua atitude referente a esse garoto.
Wei Ying abriu os olhos surpreso pelo teor da conversa ser justamente sobre ele, afastou mais um pouco a porta, deitou no chão de madeira nobre silencioso para ouvir mais daquela conversa.
“Testes?”
— Meu tio, primeiro vamos conversar com o rapaz, faremos tudo que for necessário e só depois peço ao tio que decida um bom caminho a seguirmos. – XiChen mostrava-se complacente com a situação.
— Muito bem, WangJi trará o rapaz amanhã e colocamos um ponto final nessa situação. – QiRen levantou e ajeitou seu casaco de frio, pouco depois estava na porta do apartamento se despedindo dos sobrinhos. – As três da tarde traga-o aqui, WangJi.
— Obrigado, tio. – WangJi curvou a ele.
Wei Ying ouviu a porta da sala fechar e escorregou de volta para dentro do quarto e manteve uma fresta aberta para ouvir mais daquela estranha conversa.
“Eles falam de mim, tenho certeza, mas por que o tio QiRen quer me testar? Que coisa mais estranha.”
— WangJi, espero que com isso fique mais tranquilo. – XiChen sentou na beira do sofá.
— Irmão, o tio precisa entender que é o melhor a fazer. – WangJi sentou logo em seguida. — Wei Ying é um garoto normal e se for necessário o manterei como está.
— Eu creio que esse é o melhor caminho a seguir, talvez se o jovem mestre Wei não for iniciado na Cultivação, não haverá riscos para todos os cultivadores.
Wei Ying estreitou os olhos e ao ouvir aquelas palavras esboçou um sorriso surpreso se questionando o que seria cultivação. Continuou quieto para ouvir mais daquela conversa.
— Hm.
— Bem, vou deixa-lo descansar amanhã estarei aqui com o tio. – Levantou e curvou ao irmão com as mãos unidas, virou-se sendo seguido por WangJi até a porta. – Mais uma coisa e o processo de tornar o jovem mestre Wei seu herdeiro como está o andamento?
— Praticamente concluído, falta somente o aval da senhora Meng Su.
Wei Ying arregalou os olhos e levou a mão sobre os lábios.
— Herdeiro, eu?! – Incrédulo balbuciou ainda sem entender aquele fato. – Isso quer dizer que Lan Zhan vai me adotar? Ele vai… ser meu pa… i? – Um arrepio percorreu a espinha dele e seu peito o coração pulsava tão forte que podia sentir querer sair pela boca. – Espera… Não pode ser… Ele quer ser meu pai. – A voz foi diminuindo o tom até ficar sussurrante ao pronunciar a palavra pai.
Wei Ying estava perdido murmurando seus pensamentos quando o baque da porta fechando lá na sala o despertou, rapidamente ele fechou por completo a porta e tentou colocar os pensamentos no lugar. Se iria aparecer na frente de WangJi com aquela surpresa, teria que ficar com a melhor face, totalmente despreocupada e divertida.
Inspirou e expirou várias vezes para se acalmar, no entanto as palavras martelavam na sua cabeça sem parar.
— Eu deveria saber que poderia ser algo assim, mas… hahahahaha… – Sorriu baixinho cobrindo os lábios com a mão. – Eu deveria está feliz, mas… por que meu coração está doendo? – Engoliu seco e caminhou devagar pelo quarto até abrir lentamente a porta e olhar pelo corredor, vendo que estava vazio, saiu sorrateiro para ver onde WangJi estava, ouviu vindo do quarto dele o som de chuveiro. Se afastou e foi para a sala para espera-lo.
WangJi terminou o banho e trocou a roupa, colocando uma calça e blusa de manda longa folgada, saiu do banheiro e logo depois do quarto. No final do corredor parou olhando para Wei Ying que estava no meio da sala de pé olhando para ele.
Ambos se olhavam silenciosos, Wei Ying percebeu que o amigo não parecia surpreso com a presença dele, pensando se por acaso o recepcionista havia contado sobre ele está no prédio. Desviou os olhos e sorriu sem jeito.
— Eu queria te fazer uma surpresa, mas acho que não consegui…
WangJi caminhou até perto dele, seus olhos claros na face fria tinham um leve brilho emotivo.
— O quanto você ouviu?
— Eu?! Ouvi?! Errr… – Coçou a ponta do nariz e sorriu sem jeito. – Nada… Quer dizer, ouvi palavras soltas… algumas frases, eu estava com fone de ouvido e não ouvi muito… – Olhando o outro pelo canto dos olhos percebeu que não teria como enrolar muito. – Eu ouvi seu irmão se despedindo e saindo. – Voltou a encarar os olhos claros de WangJi. – Desculpa, eu vim sem ser convidado, mas juro que não ouvi nada além de seu tio e seu irmão dizer que virão amanhã. – Abriu um largo sorriso. – É uma reunião importante?
WangJi aproximou dele e inclinou o rosto mostrando o sofá.
— Vamos conversar?
— Ah, claro. – Wei Ying sentou no sofá.
— Posso presumir que veio escondido? – WangJi sentou ao lado de Wei Ying.
— É… – Fitou-o com leve rubor na face.
WangJi suspirou suavemente e pegou do bolso da calça seu telefone.
— Vai ligar para vó Su?
— …Depois que conversarmos o levarei para casa.
Wei Ying concordou e se ajeitou no sofá, logo que WangJi falou com a senhora Meng, passou o telefone ao garoto que ficou um bom tempo ouvindo a senhora ralhar lhe prometendo um bom castigo quando chegasse.
WangJi recebeu o telefone de volta e falou algumas palavras com a senhora lhe garantindo que o levara para o orfanato. Finalizando a chamada WangJi disse:
— Wei Ying, por que não esperou?
— Só queria fazer uma surpresa, Lan Zhan. – Murmurou coçando com o dedo a ponta do nariz.
— Entendo, mas não faça escondido, sua família ficou preocupada.
— Eu não pretendia.
— Pense antes de agir.
— Hum, tá bom.
— Eu pretendia conversar com você amanhã juntamente com sua família. – WangJi observava as reações de Wei Ying. – No dia que viajamos para Gusu, eu conversei com sua avó sobre lhe tornar meu herdeiro.
Wei Ying abriu levemente os olhos e engoliu seco preferindo ficar apenas ouvindo o que o outro tinha a lhe falar.
— O processo está finalizado e para concluir preciso somente da assinatura da senhora Meng Su que é sua responsável legal.
— Lan Zhan… Eu nem sei o que dizer é tão estranho…
— O que é estranho?
— Lan Zhan é muito bom comigo, não sei se mereço tanto… – Wei Ying olhou-o receoso.
— Quero garantir que tenha um bom futuro e principalmente proteção.
— Ah, entendo.
— Wei Ying, não parece feliz…
— Feliz? Estou feliz sim… hahahahahaha… Quem diria que um dia algo assim me aconteceria, não é mesmo? Hahahahahahaha…
WangJi ficou olhando-o por alguns segundos e voltou a dizer:
— Eu gostei.
— Ah?! – Olhou-o confuso.
— Você aqui.
— Hahahahahahaha… Eu queria que fosse surpresa, mas não consegui te enganar…
WangJi olhou para o corredor e levantou, voltou a face por cima do ombro e o chamou.
Wei Ying o seguiu e ambos entraram no quarto que WangJi havia preparado para ele.
— Eu deixei algumas coisas essenciais, mas se faltou algo só dizer que mando trazer.
Wei Ying olhava o quarto e voltou o rosto para ele, negando com a cabeça.
— Eu achei tudo muito bom e gostei de tudo. – Voltou para WangJi. – Lan Zhan é perfeito em tudo.
WangJi curvou leve a cabeça e esboçou um leve sorriso quando se virou para sair do quarto.
— Espere-me na sala, vou pegar casaco e as chaves do carro. Está ficando tarde vou leva-lo para o orfanato.
— Sim.
Cerca de quarenta minutos depois, WangJi estacionava o carro em frente ao portão do orfanato, durante o trajeto ficou ouvindo o rapaz tagarelar sobre a escola e as notas, além de pedir para passear no centro e verem a decoração de natal. Percebia que vez ou outra Wei Ying parecia tenso e algumas vezes receoso, sabia que possivelmente ele ouvira mais do que deveria.
Era fato que precisavam de uma conversa mais séria e demorada. Conversa essa que teria com ele no dia seguinte quando fosse levar para o teste com seu tio.
Na sala principal do templo, Meng Su estava sentada em sua cadeira olhando-os atenta e silenciosa. YanLi aproximou de Wei Ying e estreitou os olhos suspirando.
— Eu achando que você amadureceu moleque. – ZuXian aproximou da noiva e cruzou os braços.
— Desculpe a todos. – Murmurou e coçou a ponta do nariz com dedo.
— A-Ying, você prometeu que não faria mais essas fugas. – YanLi olhou para WangJi e inspirou fundo. – Vamos, se despeça do sr. WangJi e vá para seu quarto.
— Adeus Lan Zhan, desculpe o incomodo. – Curvou para o outro se despedindo e seguindo para o quarto.
— YanLi e ZiXuan podem ir dormir, vou acompanhar sr. WangJi até a porta. – Meng Su levantou e seguiu para a porta de saída, sendo seguida por WangJi.
No lado de fora, ambos estavam silenciosos quando caminhavam pelo lugar seguindo ao portão de entrada do templo.
— Sr. WangJi. – A senhora estendeu a pasta para ele. – Seus documentos.
WangJi pegou a pasta estranhando a expressão da senhora.
— Eu soube dos fatos que estão lhe infringindo e causando diversos problemas. – Meng Su encarou-o. – Esqueça a ideia de ter meu neto como herdeiro.
WangJi estreitou as sobrancelhas nitidamente surpreso com aquelas palavras, quando abriu a boca para falar foi interrompido por um gesto de mão da senhora.
— Wei Ying vai permanecer aqui conosco e pretendemos dispensar suas ofertas de ajuda para nós e isso inclui a escola que vem custeando para ele.
— Não. – WangJi apesar de sua face inexpressiva em seu interior estava tenso e tremulo. – Não pode negar minha ajuda.
— Não só posso como estou negando. – Meng Su apesar de falar suavemente era categórica. – Sua palavra não foi cumprida e agora meu neto está envolvido em uma situação que o segundo mestre Lan provocou. – Ela se aproximou dele. – Não quero ter que enfrentar cultivadores em busca de vingança por descobrirem quem ele é, afaste-se de nós e afaste-se dele.
Meng Su virou-se indo para o portão e abriu-o.
— Segundo Mestre Lan, foi uma honra recebe-lo em minha humilde residência tenha um bom regresso.
— Posso protege-lo.
— Boa noite Sr. WangJi.
Meng Su mantinha-se irredutível esperando que WangJi se retirasse.
WangJi curvou a senhora e saiu logo em seguida, entrou em seu carro olhando para o tempo que agora estava de portão fechado. Ofegou ao segurar com as mãos tremulas o volante do carro, antes de dar a partida.
“Irei protege-lo, querendo ou não.”
Ligou o carro e partiu de volta a centro e ao seu apartamento, não sabia o que iria fazer em seguida, mas era fato que não iria se afastar de Wei Ying.
Wei Ying estava sentado na cama, esfregava entre as mãos o seu smartphone, sua ansiedade não o deixava ficar parado, levantou e andou pelo quarto de um canto ao outro. Digitando uma mensagem a WangJi, quando a porta do quarto abriu e sua avó olhou-o séria.
Um leve calafrio correu a espinha do rapaz, não que ele temesse a bronca de sua avó, apesar dela sempre lhe repreender nunca era pra faze-lo se sentir triste e sim ensina-lo. No entanto, aquele olhar frio e desapontado o fez estremecer. Suspirou fundo e murmurou um pedido de desculpas.
A senhora baixou o olhar para o smartphone na mão dele e estreitou os olhos, ainda mais chateada caminhou até Wei Ying e estendeu a mão.
— Entrega.
— Ah?! Mas… Vó Su… – Murmurou olhando para o aparelho em sua mão. – Eu sinto muito… Eu…
— Entrega o telefone Wei Ying. – O tom de voz da Meng Su era taxativo.
Wei Ying mordeu leve a ponta dos lábios e estendeu o aparelho entregando a sua avó, prendendo o fôlego levantou o rosto encarando o olhar de Meng Su.
A senhora pegou o aparelho e apertou o botão ao lado para desliga-lo.
— Vá dormir, amanhã conversamos.
— Vó Su… – Wei Ying tentou em vão falar algo em sua defesa.
— Wei Ying obedeça, vá dormir. – Ela colocou o aparelho no bolso de seu casaco e virou-se para sair do quarto e antes de fechar a porta voltou a lhe falar. – Amanhã conversaremos, não quero falar com você agora ou poderei lhe magoar.
Wei Ying abriu os olhos alarmado e ofegou soltando o ar que prendia no peito, estava aturdido com a forma que ela agiu. Ele sentiu algo estranho e não conseguiu avançar nas palavras. Era como se algo o impedisse de argumentar ou se defender.
Meng Su caminhava pelo corredor quando encontrou com YanLi, olhou para a neta por alguns segundos até balançar a cabeça levemente, lamentando tudo que estava acontecendo.
— Vó Su, vou conversar com ele. – YanLi se direcionou para o quarto de Wei Ying.
Wei Ying havia tirado a roupa de frio, um pouco atordoado ele se deitou na cama, olhando o teto do quarto pensando em Lan WangJi.
“Eu sei que errei, mas por que estão tão estranhos comigo? Vó Su estava estranha, não era como das vezes que ralhava comigo por algo errado que eu aprontasse. E por que não consegui falar com ela? O que está acontecendo?”
Suaves batidas despertaram o rapaz de seus questionamentos e olhou para a porta que se abriu em seguida. Sua irmã estava de pé olhando-o com aquele ar preocupado apesar de esboçar um sorriso gentil.
— Vamos conversar?
— Sim. – Wei Ying sentou no meio da cama cruzando as pernas.
— Não vou falar exatamente do seu erro dessa noite. – YanLi sentou na beira da cama. – Afinal, você não sabe o que está acontecendo de fato.
Wei Ying estranhou e quando ia abrir a boca para perguntar foi interrompido com um gesto da mão para cima de sua irmã.
— Apenas escute tudo que irei lhe contar. – Ela suspirou baixo e começou a relatar a situação de WangJi diante da família e a supervisão do governo.
Conforme a jovem relatava que havia um processo e a agencia nacional estava em constante vigilância sobre a empresa Gusu e principalmente WangJi, Wei Ying começou a se assustar.
No final, YanLi omitiu a parte da qual WangJi quer tornar o rapaz seu herdeiro e ser seu tutor até completar maior idade.
— O fato de ter fugido para a residência de sr. WangJi só fez a vó Su ficar ainda mais triste com toda essa situação.
— A-Li… Eu… Não imaginava que era assim… – Wei Ying murmurou ainda mais entristecido com tudo que ouviu.
— Eu sei, como disse, não podemos culpa-lo de todo já que não sabia o que estava acontecendo. – YanLi ergueu a mão e afagou a bochecha do irmão. – Vó Su sabe que apesar de ter “fugido” essa noite, não foi nada a mais do que suas travessuras de sempre. – Afastou a mão e voltou a face para frente. – Ela se preocupa com todos nós.
Wei Ying esfregava as mãos nervosamente, queria perguntar a WangJi por que não contou a ele tudo que estava passando. Essa falta de confiança o deixou um pouco magoado.
— Se eu soubesse, não iria lá… – Suspirando fundo sentiu seu peito doer ao imaginar que não o veria por um longo tempo.
— Realmente, mas agora que sabe é melhor fazer o que a vó Su lhe mandar. – YanLi levantou e ajeitou a roupa.
— Lan Zhan me contou que quer me fazer herdeiro dele, vocês sabiam?
— Ah ele lhe contou… – Um pouco surpresa YanLi não pode negar. – Sim, no dia que viajaram, sr. WangJi deixou uma pasta com os documentos que a vó tinha que assinar para autorizar a tutela e claro aval oficial. Com essa assinatura, Sr. WangJi continuaria o processo e o tornaria seu herdeiro.
Wei Ying estremeceu, então de fato era real, WangJi iria torna-lo seu herdeiro. Aquela informação caiu sobre o rapaz como um balde de água fria. Ele baixou o rosto olhando para suas mãos que estavam fechadas em punho demonstrando a tensão que ele sentia.
YanLi abaixou e tocou as mãos unidas do irmão em tom doce o confortou.
— Vamos esperar, deixar o tempo resolver toda essa situação.
— Eu não vou mais vê-lo?
— Espere, acredito que sr. WangJi vai resolver toda essa situação e o futuro veremos como ficará. – Afastou a mão, aproximando o rosto para lhe dá um beijo suave na testa. – Nós te amamos.
— Eu também amo vocês. – Wei Ying esboçou um leve sorriso, mesmo com semblante triste.
— Vá descansar. – YanLi saiu do quarto fechando a porta.
Na sala da biblioteca, Meng Su guardava o telefone na gaveta de sua escrivaninha e trancou com chave. Para fazer o neto entregar o aparelho e evitar que ele argumentasse algo usou um arranjo que deixou aturdido.
— Será melhor assim, todos nós não deveríamos ter nos envolvidos para começo de conversa.
ZiXuan estava observando atento a vó Su.
— Eu acredito que tenha razão, mas proibi-lo de ver o sr. WangJi não é exagero?
— Que seja, mas ao menos ele aprende que não vamos mais ter o apoio dele e muito menos esse homem atrás do meu neto.
ZiXuan olhava-a preocupado.
— O que acha que o sr. WangJi quer com Wei Ying?
— Não sei e não quero perder tempo questionando, já deixei claro que o quero longe de nós e de meu neto. – A senhora sentou em sua cadeira e pegou seu leque, abrindo-o e fazendo leves movimentos se abanando. – É melhor para ele e a sua família que se afaste de todos nós.
— Eu realmente não queria ter o governo me monitorando. – ZiXuan deu de ombros. – No fim, vó Su está certa, esse afastamento é bom para sr. WangJi.
YanLi deu batidas suaves na porta e entrou, parando ao lado de ZiXuan.
— Wei Ying já dormiu, contei sobre a situação do sr. WangJi, realmente ele não sabia.
— Supus que sim, como ele reagiu?
— Vó Su estava certa, ele ficou muito surpreso e triste.
ZiXuan olhou a noiva.
— Ele vai se comportar?
— Acredito que sim, não estava bem diante de tudo. – YanLi sentou ao lado do noivo. – Ele me disse que sr. WangJi contou sobre o processo de lhe tornar herdeiro.
Ambos olharam para a jovem aguardando o relato.
— Wei Ying ficou surpreso e ao que parece, não está feliz com isso. – Suspirou suave antes de continuar. – Acho que saber de tudo o deixou um tanto triste.
Meng Su continuava abanando o leque quando encostou na cadeira. O neto ainda estava sobre o efeito do arranjo, era natural que não reagisse de imediato.
— Disse a ele que era para esperar e deixar que o tempo arruma tudo.
— Fez bem minha neta, amanhã conversarei com ele. – Meng Su levantou e caminhou dando a volta na mesa. – Vamos todos descansar, já está muito tarde para ficarmos nos preocupando. – Caminhando até a porta ela abriu. – E a decisão já foi tomada, não assinei e não assinarei a tutela para sr. WangJi.
A dupla se olhou e ambos levantaram sem questionar a vó, confiavam em suas decisões e por fim todos foram dormir.
Alguns dias depois, véspera de Natal…
Era uma tarde fria, o sol estava timidamente aparecendo entre as nuvens, o dia apesar de frio foi propício para aquele passeio. ZiXuan alugou uma mini van para levar as crianças para um passeio no centro e ver a decoração de Natal. YanLi estava junto com as crianças sendo ajudada por Wei Ying que cantava músicas natalinas para distraí-las até o local.
Vez ou outra o rapaz olhava para as ruas movimentada e se recordava de WangJi, principalmente pelo fato de querer tirar fotos com ele na véspera do Natal. Suspirou triste quando foi chamado pelas crianças. YanLi notou aquele olhar triste, procurando sempre alguma atividade para lhe distrair e não ficar pelos cantos triste. ZiXuan sempre tentava animar o rapaz, provocando para fazer suas implicâncias habituais. Funcionava algumas vezes, porém na grande maioria era ignorado.
Quando chegaram, ficaram a tarde toda andando pelas ruas tirando fotos e ajudando as crianças para se divertirem. Wei Ying sorria entre elas, mas seu sorriso era forçado para parecer que estava bem.
Diante de uma enorme árvore de Natal, Wei Ying parou e ficou olhando as luzes coloridas. O grupo já estava distante quando YanLi percebeu, voltou para chama-lo.
— A-Ying? – Ela percebeu seu olhar distante. – A-Ying?!
Nesse momento, ZiXuan voltou com as crianças ao seu lado.
— Vamos todos, vou pagar lanches.
YanLi olhou-o e fez um sinal para esperar.
— A-Ying, eu sei que está se esforçando, mas tente se divertir pelo menos hoje?
Wei Ying finalmente baixou o olhar e virou o rosto para ela.
— Por favor, me deixe ir vê-lo?
— Ah?! Ver… Eu não sei… – Ela virou o rosto para ZiXuan.
— Você quer ir ver sr. WangJi? – ZiXuan parou ao lado dele.
YanLi se juntou as crianças.
— Por favor, prometo que vou e volto antes de irmos pra casa. – Wei Ying olhava para ambos suplicando. – Eu só quero desejar feliz natal, volto rápido e encontro vocês no edifício garagem.
ZiXuan olhava-o por uns segundos, depois baixou a cabeça e virou para YanLi buscando uma decisão em conjunta com ela.
— Ok, você tem uma hora, se não aparecer vamos ter problemas com a vó Su.
Wei Ying vibrou e quase abraçou ZiXuan.
— Ei… Olha a reputação. – Estreitou os olhos.
— Em uma hora volto.
— Vamos está na praça de alimentação do shopping. – ZiXuan apontou o local na rua de frente a eles. – Uma hora garoto ou vou atrás de você.
YanLi sorriu e ajudou as crianças a darem as mãos para atravessarem a rua.
— Cuidado e por favor, não demore. – YanLi sorriu ao irmão.
Wei Ying correu pelas ruas acenando para eles, precisava chegar até o prédio e voltar em uma hora.
— Sim, volto em uma hora.
Poucos minutos depois ele chegou na entrada do prédio da empresa, satisfeito por conseguir aproveitar aquele tempo sorria mais abertamente. Seu coração batia no peito tão forte que precisou tomar um pouco de fôlego antes de entrar no prédio.
“Lan Zhan por favor, esteja no apartamento…”
Desde que a sua avó tirou o seu smartphone, Wei Ying não sabia mais nada de WangJi, se ele tivesse ido para o interior passar o natal em família, provavelmente iria dá com a porta na cara.
Quando ia entrar no prédio ouviu ao seu lado uma voz lhe chamar. Virou o rosto e se deparou com SiZhui.
— Dr. SiZhui. – Sorriu feliz, pensando que se ele estava ali era porque WangJi estaria.
— Olá Wei Ying, veio ver HanGuang-Jun presumo.
— Lan Zhan está?
— Acredito que sim, vamos entrar e descobrir?
Os olhos de Wei Ying brilharam e concordou seguindo atrás do outro, assim ambos entraram no prédio, após passarem pela recepção seguiram no elevador para o andar da cobertura de WangJi.
Tão logo o elevador se abriu, ambos saíram e se deparam no corredor onde de frente a porta do apartamento estavam QiRen e um casal que sorridente chamavam por uma moça muito bonita que se aproximou.
— Ele concordará, em breve poderemos anunciar o noivado. – O homem altivo e elegante falava com QiRen todo sorriso satisfeito.
— Certamente. – QiRen demonstravam uma animação anormal.
SiZhui olhou o grupo e caminhou se aproximando.
Wei Ying ao ver o tio de WangJi parou no meio do caminho e se esgueirou para o canto atrás de um enorme vaso de planta, parado ali ouviu aquela conversa.
— WangJi ficará satisfeito. – QiRen confirmava.
— Nos poderemos combinar o casório posteriormente. – O homem deu o braço a jovem e depois a senhora elegante ao lado. – Aguardaremos seu contato.
“Lan Zhan vai casar?”
Wei Ying engoliu seco e se afastou sem que SiZhui notasse correu de volta para o elevador, nervoso tocou o painel para abrir a porta, como havia acabado de chegar o mesmo ainda estava ali parado, entrou e a porta fechou descendo para o térreo.
SiZhui virou e viu o rapaz sumir elevador a dentro e estranhou, no entanto, antes que pudesse ir atrás foi chamado pelo QiRen.
— Sim tio-avô. – Apesar de ir atender o chamado do tio ficou preocupado com Wei Ying.
No hall do edifício Gusu, Wei Ying correu sem ligar pelo protesto da recepcionista, saiu do prédio e voltou a andar pela calçada com a mente zonza e seu coração batendo forte.
“Lan Zhan vai casar… Ele quer me adotar como filho, aquela moça vai ser minha… mãe?”
Levou as mãos a cabeça e balançou levemente.
— Para com isso Wei Ying, por que você está assim? – Bufou e baixou os braços.
Sem rumo certo passou a andar pelas calçadas, primeiro por está confuso e sentindo variados sentimentos e segundo por não querer que sua irmã e ZiXuan o visse naquele estado.
— Preciso me acalmar. – Murmurou.
— Wei Ying?!
Ao ouvir seu nome virou de brusco e quase tropeçou sendo segurado pelo braço pela pessoa que o chamou.
— Quem é?
— Oi, esqueceu de mim? – O rapaz que o ajudou era nada mais que Mo XuanYu.
— XuanYu, mas… – Wei Ying piscou os olhos e se ajeitou. – Você saiu do internato?
Mo XuanYu sorriu e coçou a cabeça.
— Sim, tem alguns dias que sai e voltei para aquela casa maldita. – Riu com olhar estranho. – E você, está bem depois de tudo.
— Hahahahaha… – Wei Ying sorriu desconfiado daquele olhar. – Sim, estou bem.
— Perdão. – XuanYu juntou as mãos como quem fosse fazer uma prece e curvou para o garoto. – Foi tudo minha culpa.
— Ahhhh, para com isso, fomos vítimas deles, mas já passou e acredito que não vão fazer de novo.
— Está certo… – XuanYu se ajeitou e olhou em volta. – Vamos beber algo, chocolate quente?
— Seria bom, mas estou sem dinheiro.
— Eu estou convidando, vamos.
Wei Ying deu de ombros e concordou, de repente conversar com o amigo assuntos diferentes o faria se sentir melhor e aí poderia voltar para a irmã e ZiXuan.
A dupla entrou em uma típica lanchonete onde vendia a bebida, sentaram e conversaram. XuanYu tagarelava sobre o que passou no internato e a volta para casa. Wei Ying bebia goles pequenos da bebida quente enquanto ouvia os lamentos do outro.
— XuanYu, acho que você deveria seguir sua vida, deixe essa família, está mais que claro que eles não gostam de você.
— Eu queria, mas eles fizeram tanto inferno comigo, que nem posso ser dono do meu destino. – Bufou e tomou gole do chocolate. – Eles me declararam judicialmente incapaz e por isso não posso ser independente e aí me internam sempre que tenho alguma crise. – Suspirou.
— Que situação. – Wei Ying lamentou.
Alguns segundos em silêncio, XuanYu voltou a falar.
— E você, estava andando por ai sem rumo é? – Ele curvou a cabeça encarando os olhos do rapaz. – Eu vi sair do prédio da Gusu S/A.
— Ah, viu? Hahahahahaha… – Wei Ying disfarçou.
— Foi ver HanGuang-Jun?
— Ah, como você?
— Sabe, apesar de ser lunático, as pessoas falam coisas e eu presto atenção em tudo.
— O que falam?
— Hum, que o segundo mestre Lan enfrentou o tio por causa do garoto que ele salvou. – XuanYu olhava para ele. – Você.
— Eu sei disso e tem a agencia do governo.
— Hum, sim tem isso também… O que me leva a questionar, por que?
— Por quê, o quê?
— O segundo mestre Lan se sacrifica tanto por você?
Wei Ying deu de ombros e voltou a tomar goles do chocolate quente.
— Wei Ying, eu imagino que sei o motivo.
Wei Ying olhou para o outro e sentiu uma leve sensação de desconforto.
— O que você está insinuando XuanYu?
— Ele gosta muito de você.
Wei Ying estremeceu, desviando o olhar e tomando novamente goles da bebida quente.
— E você gosta dele.
— Não fale besteiras. – Rapidamente retrucou nervoso.
XuanYu suspirou e ficou em silêncio por alguns minutos, até que voltou a tagarelar brincando com o canudo dentro do copo.
— Eu não sei os motivos reais, mas só posso dizer que se perder a chance pode se arrepender.
Wei Ying finalizou a bebida e colocou a taça na mesa, virou o olhar para o outro e mesmo nervoso preferiu ignorar aquelas palavras.
— Não há nada de errado no que sente amigo.
Wei Ying ficou mudo, não sabia como retrucar aquele comentário, poderia ser verdade o que o outro insinuou? Não tinha certeza.
— Lan Zhan não me ver dessa forma. – Rolou os olhos e se levantou. – Obrigado pelo chocolate quente e a conversa, mas agora tenho que encontrar minha irmã. – Se afastou da mesa.
— Wei Ying, se ele não te ver dessa forma, por que ele está enfrentando todo mundo por você?
— Por que ele só quer ser meu pai, vai me adotar…
— Quem disse?
— Ele… Vai ser tutor e me tornar herdeiro dele.
— Hahahahahahahaha…
— Ei, para de rir, as pessoas estão olhando… – Se aproximou da mesa. – Por que está rindo?
— Wei Ying, você está me decepcionando. – XuanYu levantou o rosto. – Tutor é como um mestre e para ser herdeiro de alguém não precisa ser filho. – Piscou no final para ele. – Ele quer você para ele, por que ele te ama… – XuanYu levantou e acenou para o garçom deixando na mesa dinheiro para pagar o que ambos consumiram.
— Lan Zhan não me ama dessa forma, para de maluquices XuanYu.
Wei Ying ficou irritado e se virou deixando-o outro para trás, saindo do estabelecimento.
XuanYu rapidamente se colocou ao lado dele caminhando juntos pela calçada.
— Wei Ying, eu só fiz deduções diante dos acontecimentos, vamos lá, pensa comigo… – Começou a gesticular. – Tudo que ele vem fazendo por você, não é nada além disso, ele te ama.
— Para de falar essas coisas.
XuanYu olhou-o atentamente notando o rosto corado do rapaz.
— E você… Sabe disso, só não quer acreditar.
— ELE NÃO ME AMA.
O grito de Wei Ying chamou atenção de todos, XuanYu parou atordoado e ficou olhando-o com olhos arregalados.
— Ele não me ama… Eu… Não… – Wei Ying estava tremendo nervoso, seu coração batia forte. De repente, várias lembranças vieram à tona desde que conhecera WangJi. Realmente por tantas vezes notava aqueles olhares, no entanto, preferia fingir que não era aquilo que imaginava.
Ele se arrepiava ao ver a face de WangJi na sua mente, ofegou baixo e levantou o rosto para encarar XuanYu.
— Ele só ama a imagem de alguém do passado que ver em mim.
XuanYu ficou calado e depois balançou a cabeça lamentando.
— Se ele amasse alguém do passado, estaria com essa pessoa certo?
— Não tem como a pessoa morreu.
— Ei, e você se parece com essa pessoa?
Wei Ying voltou a caminhar pela calçada, dessa vez iria ignorar o outro.
— Bom, quem está vivo afinal, é você… – XuanYu andava ao seu lado. – E você tem medo de arriscar por isso?
— Não vou responder suas perguntas, vai embora ou vou gritar que é lunático e a polícia vai leva-lo. – Fitou-o sério.
— Você não faria essa maldade comigo. – XuanYu fez um leve beicinho.
Wei Ying abriu a boca para tomar fôlego e começar a gritar.
— Está bem … Está bem… Estou indo. – XuanYu caminhou apressado se afastando dele. – Você não está sendo bom amigo, mas tudo bem vou desculpar por conta daquela vez com o idiota do meu primo.
Wei Ying suspirou aliviado pelo outro se afastar e deixa-lo em paz. Olhou a hora no relógio em seu pulso e percebeu que ainda tinha bons minutos para usar, preferiu caminhar devagar para encontrar o pessoal no shopping.
“Lan Zhan, eu queria muito entender tudo que está acontecendo. Queria te ver e perguntar todas essas coisas, mas não tenho coragem. Por quê? Geralmente esse tipo de coisa sou… Arrrrrrrr, deixa para lá…”
Wei Ying chegou na praça principal em frente a decoração de Natal, olhou todo o lugar com seus olhos cheios de lágrimas, seu coração estava apertado e com todos os pensamentos misturados. Fungou baixinho e esfregou os olhos para enxugar as lágrimas.
— Wei Ying.
Um arrepio correu pelo seu corpo ao ouvir aquela voz suave chamar seu nome, seus olhos ainda estavam focados nas mãos que se afastaram do rosto. A voz que o tranquilizava, a voz que o fazia sorrir…
— Lan Zhan… – Sussurrou.
— Hn.
Wei Ying soltou um sorriso nervoso e virou lentamente o rosto para encontrar o do outro. A face de WangJi era bela misturada aquelas luzes multicoloridas, mesmo fria e inexpressiva, seus olhos claros tinham um brilho intenso para o rapaz. Wei Ying não segurou as lágrimas e virou-se para se jogar naqueles braços.
— Lan Zhan… – Murmurou entre soluços e lágrimas.
WangJi o abraçou forte, encostando o rosto na cabeça dele e afagou os cabelos dele.
— SiZhui disse que você veio me ver.
Wei Ying somente balançava a cabeça confirmando, mantinha o rosto afundado no casaco de frio do outro.
— Por que não esperou?
Wei Ying abraçou mais forte WangJi e murmurou algo que o outro não compreendeu.
— Wei Ying. – WangJi estranhou e voltou a chama-lo. – Wei Ying?
Wei Ying se afastou tremulo e como quem quisesse tomar fôlego disparou a falar de uma vez tudo que sentia e que lhe contaram.
— Eu não esperei, por que vi seu tio, ele estava com uma família e tinha uma moça bonita e sorriam sem parar… Eles estavam falando de você, não espera… Eles falavam sem parar de casamento… Eu não entendi nada e fiquei nervoso e fui embora… – Wei Ying falava entre soluços e tentando juntar o ar e ofegando bastante. – Eles… Não espera, está tudo errado. – Wei Ying voltou a se aproximar de WangJi e segurou a gola do casado do outro. – Lan Zhan, não se casa… Não quero, eu… eu… Lan Zhan, eu amo você…
WangJi ficou assustado com o estado de Wei Ying, segurou os braços dele, transmitindo energia espiritual para se acalmar, mas o garoto parecia estar a um bom tempo sufocado, falando tudo de uma vez até que soltou aquelas palavras. WangJi abriu os olhos e seus lábios ligeiramente. Pego de surpresa não conseguiu dizer nada. Sem pensar muito e ignorando as pessoas a volta deles o puxou novamente para seus braços, cortando o fluxo espiritual das mãos e envolvendo-o naquele abraço.
Ambos ficaram abraçados por alguns minutos, até que WangJi sussurrou aos ouvidos do rapaz tremulo em seus braços.
— Eu o amo, Wei Ying.
Wei Ying afastou o rosto e encarou aqueles olhos claro.
— Vamos, precisamos conversar.
WangJi afastou e segurou a mão de Wei Ying, caminharam de volta ao prédio onde morava, não demorou muito e estavam no apartamento.
Wei Ying olhava-o com o peito ardendo de tão nervoso que estava.
WangJi se aproximou, mas ainda havia uma pequena cautela, tocou o rosto de Wei Ying e acariciou a bochecha.
— Precisa se acalmar.
Nesse instante notou algo diferente na energia espiritual de Wei Ying, não precisou de muita análise para perceber que o garoto estava sobre efeito de um Arranjo mágico, possivelmente colocado para ele não questionar ou mesmo falar sobre algum assunto.
— Sua avó o proibiu de falar comigo?
— Sim.
WangJi voltou a segurar a mão de Wei Ying o conduzindo para se sentar no largo sofá da sala.
— Wei Ying, lembra sobre o que lhe falei sobre meditar?
— Ah? – Pensou um pouco e sorriu. – Sim.
— Feche os olhos.
Wei Ying não preciso de um segundo pedido, imediatamente fechou os olhos.
— Inspire e expire, concentre nesses movimentos e não pense em mais nada.
— Sim, não pensar em nada… Posso fazer isso… Não pensar em nada… – Wei Ying começou a fazer o que WangJi pediu.
WangJi imediatamente elevou os dois dedos a frente e criou um arranjo para desfazer o que estava sobre a cabeça de Wei Ying. Logo que o arranjo se desfez, Wei Ying não aguentou mais e desmaiou sendo amparado por WangJi.
WangJi o segurou e ajeitou para deitar no sofá, tirando seu tênis e ajeitando as pernas esticando o corpo de Wei Ying para deixar à vontade. Foi até o quarto pegando travesseiro e manta colocando sobre ele.
Alguns minutos se passaram e WangJi conversava com XiChen pelo telefone.
— WangJi, mantê-lo no apartamento nesse momento crítico vai somente piorar a situação.
— Ele não vai voltar.
— WangJi seja sensato.
— Ela usará arranjos, pode comprometer o núcleo.
— O núcleo dourado foi afetado?
— Sim. – XiChen suspirou. – Algum indício de energia ressentida?
— Não, mas preciso ficar próximo, se ele se for… – WangJi não conseguiu completar seus pensamentos.
Wei Ying no dia que foi espancado ao ser levado para sala de cirurgia, sofre várias paradas cardíacas vindo a óbito na última. WangJi para não o perder decidiu despertar o núcleo dourado do rapaz e com ajuda de SiZhui, ambos conseguiram e ressuscitaram o rapaz. No entanto, aquele ato de desespero colocou Wei Ying ainda mais em evidência e muitos começavam a questionar quem era ele de fato.
— WangJi, vou até vocês e decidimos o que faremos.
WangJi concordou e desligou a chamada. Caminhou até a poltrona sentando para aguardar seu irmão, seus pensamentos por todo o tempo eram nas palavras desesperadas do garoto.
“…eu… eu… Lan Zhan, eu amo você…”
Continua…
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