Episódio escrito por Clayton Correia
Classificação indicativa:
PRIMEIRO ATO.
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Cena 01: (Fazenda – Dia – Int.)
A cena abre no interior de um quarto, de frente para uma porta. De um lado, um pequeno armário de duas portas, do outro espelho retangular. A porta se abre e Breff entra, com uma toalha enrolada da cintura para baixo e secando os cabelos com outra. Charlotte entra em seguida no quarto e fecha a porta. A imagem segue Breff mostrando o resto do cômodo, um móvel menor com quatro gavetas junto à parede, e uma poltrona de canto está colocada ao lado da janela, mostrando que o quarto está localizado no segundo andar da casa.
Charlotte: Tem certeza que já é seguro?
Breff: Sim. Essa hora meu irmão e o delegado já devem estar chegando à cidade. Você não corre o risco de encontrar com eles.
Um silêncio toma conta do quarto. Nesse momento Breff e Charlotte se abraçam e beijam-se intensamente.
Breff: (ofegante) Há quanto tempo eu estou esperando por isso. (beijam-se mais uma vez) Eu não aguento mais ficar longe de você.
Charlotte: Também tem sido difícil pra mim. Às vezes tenho vontade de largar tudo e…
Breff coloca o dedo indicador sobre os lábios de Charlotte e ela para de falar.
Breff: Shh. Não diz isso, que meu coração dói em imaginar você nos braços daquele cara.
Charlotte: Aquele cara é seu irmão Breff. O que estamos fazendo com ele também não é certo.
Breff: É eu sei. Mas esse é a única maneira de conseguirmos as informações que precisamos. Quantas pessoas nós já ajudamos com isso?
Charlotte: Falando nisso, você pensou sobre o que eu te contei?
Breff: Não sei. Você disse que esse garoto deu entrada no hospital e nunca mais foi visto?
Charlotte: Há alguns dias e eu não sei o que pensar.
Breff: Conversou com seu pai?
Charlotte: Meu pai não me quer por perto e isso só prova que estou certa.
Breff: (falando para si mesmo) Isso é exatamente o que aconteceu com…
Breff respira fundo e da uma pausa.
Charlotte: Aconteceu? Aconteceu com quem?
Breff: Com a Rose. A irmã do Pedro.
Charlotte: Você acha que Ben, está morto também?
Breff: (suspira novamente) Eu não sei o que dizer. (a imagem vista do lado de fora, mostra Breff olhando pela janela) Mas estou muito preocupado com ele.
A imagem se afasta da janela enquanto o diálogo entre Breff e Charlotte prossegue.
Charlotte (em off): Como ele está?
Breff (em off): Daquele mesmo jeito a dois dias. Não disse uma palavra, quase não come.
A imagem que desce da janela e agora mostra um homem sentado no chão, a uma certa distância e segue dirigindo-se a frente ao celeiro.
Charlotte (em off): Você acha seguro manter esse homem preso no celeiro ao invés de leva-lo para a delegacia da cidade?
Breff (em off): Não confio no Xerife Tuk, nem no meu irmão e lá na cidade é muito mais fácil para o seu pai aproximar-se dele.
A imagem se aproxima ainda mais do homem e agora gira entorno dele.
Charlotte (em off): E não acha que o Pedro pode tentar fazer alguma coisa contra esse homem?
Breff (em off): Ele só não fez ainda, por que não teve a oportunidade. Pelo menos aqui, posso ficar de olho nos dois.
A imagem gira em torno do rapaz até parar em frente ao mesmo, revelando Pedro com uma expressão cerrada e um olhar fixo e ameaçador em direção à porta do celeiro.
A imagem fecha em um baque.
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SEGUNDO ATO.
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Cena 02: (Casa de Dr. Burke – Dia – Ext.)
A imagem faz um panorama da fachada da casa em estilo campestre, com grandes janelas frontais e uma varanda decorada de forma aconchegante, com um grande sofá em vime e grandes almofadas de estampa floral. Podemos ver também uma mesinha igualmente de vime e alguns arranjos de flores espalhados pelo ambiente.
O carro de Charlotte estaciona na garagem localizada na parte lateral da casa. Ela caminha até a porta de entrada da casa, quando vê ao longe Nancy, saindo de um carro estacionado do outro lado da rua e se aproximando rapidamente.
Charlotte: Nancy?
Nancy: Oi Charlotte. Preciso conversar com você.
Charlotte: (curiosa e apreensiva) Claro vamos entrar.
Nancy: Não! Não posso correr o risco de que seu pai me veja aqui.
Charlotte: (desconfiada) É sobre o Ben, certo?
Nancy: Eu não posso te dizer muita coisa, só que ele ainda está no hospital.
Charlotte: Eu sabia! Sabia que meu pai estava mentindo!
Nancy: Mas ele vai embora hoje, para fora da cidade.
Charlotte: Pra onde?
Nancy: Eu não posso dizer. É mais seguro para todos. Mas você precisa impedir que ele saia de Mirella. Ele está correndo risco de vida. (Charlotte mostra preocupação) Vamos sair do hospital às 22 horas e eu não sei por onde vamos.
Charlotte: Você vai junto?
Nancy: Foi um pedido do seu pai.
Charlotte da um abraço em Nancy.
Charlotte: Obrigado Nancy! O Ben não vai sair dessa cidade, mas agora eu preciso correr.
Charlotte volta ao carro às pressas, e logo arranca em alta velocidade pela estrada de terra.
Nancy observa tudo ainda parada na varanda da casa.
Corta.
Cena 03: (Fazenda – Dia – Ext.)
Pedro permanece sentado em frente a o celeiro e não percebe a aproximação de Mimi. Ela carrega uma garrafa com água e senta-se ao lado do rapaz.
Mimi: Logo vamos servir o almoço. (silêncio) As pessoas estão começando a se preocupar, há dois dias que você não come quase nada. Precisa se alimentar. (pausa / ela olha para o celeiro) ele não vai a lugar algum e você precisa descansar e…
Pedro: Ele disse que a Rose está morta, mas eu sei que é mentira. Eu só queria falar com ele.
Mimi: Você sabe que o Breff não vai deixar. Ele tem medo que você cometa uma loucura.
Pedro: O Breff não se importa com o que está acontecendo.
Mimi: Não diga isso.
Pedro: Então me diz o que ele está esperando? Que ele fuja? Que venham atrás dele? E então eu não terei mais nenhuma chance de encontrar minha irmã.
Mimi: Você não precisa esperar.
Pedro olha para Mimi com indagação.
Pedro: Como assim?
Mimi: Pedro, ninguém pode imaginar o que você está passando ou o quanto está sofrendo, logo ninguém poderá te julgar.
Mimi da um beijo maternal na testa de Pedro e se afasta, deixando o rapaz pensativo enquanto mantém seu olhar fixo no celeiro.
Corta.
Cena 04: (Fazenda – Dia – Int.)
A imagem corre pela mesa da cozinha até encontrar Emily que está sentada em uma das cadeiras. Vemos também vários papéis espalhados sobre o móvel. Ela lê alguns deles e tem a expressão confusa.
Nesse momento, Murah entra no ambiente segurando o telefone via satélite encontrado no casebre. Coloca o aparelho aberto sobre a mesa, junto com algumas ferramentas e fios, sentando na outra ponta.
Murah: Conseguiu alguma coisa?
Emily leva à mão a testa e suspira.
Emily: Queria dizer que sim, mas estou a horas olhando esses papéis e estou cada vez mais confusa. Existem arquivos sobre pessoas que eu conheço de Nova York, mas nada que possa soar estranho, além do fato da existência desses arquivos.
Murah: Talvez o estranho seja exatamente o fato de se tratar de pessoas comuns. Qual o interesse de se criar um arquivo sobre uma pessoa que não tem nada a esconder?
Emily larga os papéis.
Emily: E o telefone?
Murah: Eu esperei dois dias para ver se alguém faria contato, na tentativa de rastrear o sinal (Murah pega um aparelho menor que esta junto ao telefone) com esse aparelho que emite um sinal e da à coordenada, não precisa, da localização do um impulso magnético ou de rádio. Mas como não recebi nenhuma ligação decidi desmonta-lo e tentar transformar em um aparelho convencional.
Emily: Nossa! Você fez isso tudo sozinho? (Murah confirma com a cabeça) Impressionante.
Murah: Nem tanto. Eu trabalhei para o serviço de comunicação do governo. Apesar das minhas origens mulçumanas, sou cidadão americano.
Emily: Como chegou aqui?
Murah: Ah! (levanta-se e começa a recolher as coisas de cima da mesa) Eu não sei, prefiro não falar sobre isso. É uma fase confusa da minha vida que ainda estou tentando entender.
Emily: (constrangida) Desculpa tocar no assunto se isso te incomoda.
Murah: Não se preocupe. Qualquer dia deste falamos sobre a minha vida. (termina de recolher as coisas) Bom, vou te deixar com os papeis e eu vou ficar com essas parafernálias.
Murah sai e Emily volta sua atenção aos papéis que a intrigam cada vez mais.
Cena 05: (Hospital – Dia – Int.)
A imagem mostra Dr. Stevens arrumando alguns papéis e os colocado dentro de uma pasta, enquanto Dr. Burke entra na sala. A sala tem uma pequena mesa no centro com duas cadeiras, uma em cada lado, e podemos ver também um arquivo de ferro em um dos cantos da sala. Em uma das paredes, um grande vidro separa esta sala do quarto branco onde podemos ver o pequeno Ben, sentado em uma cama.
Dr. Stevens: Está tudo pronto. Os relatórios, os prontuários, enfim tudo.
Dr. Burke: Só precisamos aguardar a hora da transferência. Isso é bom.
Faz um instante de silêncio enquanto Burke observa o garoto pelo vidro na parede.
Dr. Stevens: Depois que concluirmos essa transferência, eu pretendo me desligar do hospital.
Burke continua a observar Ben, como se nada tivesse sido dito.
Dr. Stevens: Eu não quero me envolver nessa história, seja ela qual for. Eu tenho uma filha pequena e ver as coisas que acontecem com essas crianças e…
Dr. Burke: Cala a boca Stevens. (Stevens cala-se na hora / Burke se volta para ele) Espero que esse cheiro não esteja vindo de você.
Dr. Stevens: (confuso) Que cheiro?
Dr. Burke: O do medo.
Dr. Stevens: Burke eu só…
Burke: A transferência será feita como tantas outras foram e nada disso respingou sobre nós. Não á com o que se preocupar.
Stevens: Você sabe que há e sabe do que estou falando. Todos nós corremos perigo.
Burke: Você sabe que eles não podem nos atingir. Não aqui no hospital. Faz parte do acordo.
Stevens: Que acordo Abraham? Eu não sei de acordo nenhum. Você não me diz nada, eu fico alheio a todas as coisas que acontecem nesse hospital, mas é minha cara, minha vida que está na linha de frente! Sempre! Mas não será mais assim! Eu to fora!
Burke: Fora? Não, você não está fora. (os dois de encaram) e você sabe por quê? Porque eu sou o único nessa cidade que pode manter você e sua filha a salvos e não vai abrir mão disso. Você é covarde Howard e é incapaz de se cuidar sozinho, muito menos de proteger a pequena Suzy. Você precisa de mim. (Burke se levanta e caminha até a porta) Nós somos sobreviventes. E cada um sobrevive como pode. (abre a porta) Stevens acredite em mim, quando eu digo que, é mais perigoso estar fora do que estar dentro dessa história.
Stevens: Eu só não quero que a minha filha, faça parte dessa história. Por que se isso acontecer Abraham, você será o primeiro da minha lista.
Dr. Stevens sai da sala deixando Burke pensativo.
Corta.
Cena 06: (Celeiro – Dia – Ext.)
A imagem caminha rasteira e vemos o misterioso homem do casebre, sentado no chão e encostado na parede. Podemos ver que ele está arramado por uma corrente a uma grande barra de ferro fincada no chão. A grande porta de madeira se abre e Breff entra carregando uma garrafa com água.
Breff arrasta um caixote qualquer para perto do homem e senta-se nele, colocando a garrafa do seu lado.
Breff encara o homem por um instante e o mesmo mantém a cabeça baixa.
Homem: Até que enfim. Pensei que iam me deixar aqui para morrer.
O homem levanta o rosto e revela vários hematomas pela face.
Breff: Não, não faríamos isso. Não somos esse tipo de gente.
Homem: (sorrindo sarcasticamente) Numa guerra, tudo é válido. Se eu tivesse a chance, você definharia por meses, anos.
Breff: Talvez seja por isso que eu estou aqui e você está ai.
Homem: Mas por quanto tempo?
Faz-se um instante de silêncio, enquanto os dois se encaram de forma ameaçadora.
Breff: Quem é você? Para quem você trabalha?
Homem: Por que acha que vou dizer alguma coisa?
Breff pega a garrafa d’agua na mão.
Breff: Por que eu quero cooperar com você da mesma maneira que quero que coopere comigo.
Homem: (rindo) Você acha mesmo que, uma garrafa com água vai me fazer falar?
Breff: (irritando-se) Eu tenho um homem lá fora, sentado há dois dias, que mal comeu ou dormiu, só esperando por uma oportunidade de conversar com você e acredite que estou fazendo de tudo para adiar esse encontro, mas se preferir posso fingir que esqueci a porta do celeiro aberta e deixo você ter essa conversa com ele a sós.
O homem muda a expressão que agora é séria e preocupada.
Homem: Não importa. Eu já estou morto de qualquer forma. Isso só adiantaria as coisas. (pausa) E quer saber de uma coisa, vou te dar um conselho. Faça suas malas e corra. Pegue as pessoas que você ama e suma daqui.
Breff percebe uma lágrima correr pelo rosto daquele homem.
Breff: Por que eu correria?
Homem: Por que eles virão atrás de mim. É uma questão de tempo. E quando isso acontecer eles não deixaram ninguém para servir de testemunha. (Breff observa atentamente tudo o que o homem diz e então o mesmo solta um sorriso nervoso) Você não tem ideia do que estou falando, não é? Quando chegar o dia, eles não deixaram nada sobre nada, nenhuma alma para contar essa história. Talvez não adiante correr, todos já estamos mortos, não faz diferença.
Breff levanta-se e chuta a garrafa que começa a derramar a água no chão. O homem olha surpreso com a atitude do rapaz.
Breff: Não faz diferença, certo?
Breff se afasta em direção a porta.
Homem: Meu nome é Nickolay Grandjen e trabalho para a organização EVA. É tudo que posso dizer. Agora corra e tente salvar sua vida.
Sem olhar para trás, Breff sai do celeiro e Nickolay permanece olhando para a água que continua a cair no chão.
Corta para fora do celeiro.
Breff sai do celeiro e segue em direção a Pedro que permanece sentado no chão e com o olhar fixo. Breff para ao lado do amigo.
Breff: Eu sei que agora, você não entende o porquê estou te mantendo longe desse homem, mas acredite que estou fazendo o que acho certo.
Pedro: Pra quem?
Breff: Para todos nós. (pausa) Olha. Eu preciso da sua ajuda essa noite.
Pedro: E por que eu te ajudaria?
Breff: Por que você é meu amigo e por que, um garoto está correndo o perigo de desaparecer, assim como aconteceu com sua irmã.
Pedro: E enquanto isso o tempo está passando, mas eu não tenho outra alternativa, não é? Parece que você está no comando agora.
Breff: Eu prometo que, quando voltarmos, você terá sua conversa com aquele homem.
Sem obter uma resposta, Breff segue em direção a casa onde é aguardado por Emily e Mimi.
Corta.
Ele sobe as escadas da varanda, enquanto Emily se aproxima e Mimi seca as mãos com o velho avental que está amarrado a sua cintura.
Breff: Eu preciso que vocês cuidem do celeiro. Peça para alguém montar guarda na porta do celeiro, não quero correr o risco de termos uma fuga.
Emily: Você volta quando?
Breff: Se tudo der certo, nessa madrugada.
Mimi: As coisas estão saindo do controle. Por você, pelo Pedro…
Breff: Por mim? Pelo Pedro? Comece a se preocupar por todos nós.
Breff entra na casa com uma expressão preocupada e Emily e Mimi se entre olham sem entender o que está acontecendo.
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TERCEIRO ATO.
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Cena 07: (Ruas de Mirella, Arredores do Hospital – Noite – Ext.)
A caminhonete para em uma rua escura. Dentro dela só vemos Breff. E tem a expressão iluminada pela luz que vem da rua e cerrada como se esperassem um sinal, que logo chega. No meio da escuridão, os faróis de um carro piscam duas vezes. É o sinal para que Breff saia do carro e vá correndo até o automóvel. A câmera se aproxima com Breff, enquanto o vidro do carro abaixa e revela-se o rosto de Charlotte.
Charlotte: Oi (Breff responde com a cabeça). Existe uma entrada de serviço nos fundos do prédio anexo ao hospital. Não haverá ninguém de guarda. Vocês podem entrar fazendo um recorte na grade da área aberta. (Ela pega uma pasta em cima do banco do passageiro e entrega ao rapaz) Benjamin Evans. (Breff abre a pasta e observa a foto de um garoto) Ele atende por Ben. Ai tem foto e um mapa do prédio. Não existem guardas no interior do hospital, mas eles guardam todas as saídas e meu pai não está no hospital hoje, parece que decidiu fazer a linha família e está em casa.
Breff: (irônico) Mais alguma coisa chefe?!
Charlotte: (sorri timidamente) Obrigado Breff. Eu nunca vou conseguir te agradecer o suficiente.
Breff: (maliciosamente) Depois conversamos sobre isso.
Charlotte: Tenha cuidado.
Os dois se encaram por um instante e então Breff se afasta.
Corta para o interior do carro de Breff.
Breff entra na caminhonete e joga a pasta no banco do lado. A voz de Pedro toma conta do ambiente.
Pedro: Então vamos mesmo fazer isso? Invadir o hospital?
Breff: (ligando o carro) Sim, vamos.
Pedro: Tá! Sou só eu que acho essa ideia uma estupidez?!
Voz Masculina (em off): Não! (a imagem sai e Pedro e vai até o banco traseiro, revelando Murah) Eu também acho!
Pedro: Obrigado pelo apoio mi amigo. Breff pensa bem. Se formos pegos, não teremos a chance de descobrir as coisas que estamos pertos de descobrir.
Breff: Ei, eu não estou pedindo para você ir comigo. Tá legal? Nenhum de vocês (a imagem mostra Murah). Mas pense Pedro. E se fosse sua irmã? E se fosse a Rose? Você não gostaria que estivéssemos fazendo isso por ela?
Um breve silêncio toma conta do interior da caminhonete.
Murah: É cara, o Breff tem razão. Nós estamos presos aqui mesmo. Vamos fazer valer a pena.
Os dois se encaram e o silêncio paira dentro do automóvel.
Corta para fora do carro e mostra o mesmo partindo, antes mesmo de Pedro tomar sua decisão.
Cena 08: (Hospital – Noite – Ext.)
A imagem em uma visão ampla mostra uma cerca de arames de ferro cercando toda a extensão dos fundos do hospital. O local parece uma área de carga e descarga do prédio, com um grande container e algumas caixas de madeira. É possível também ver dois grandes latões de lixo. Breff surge, vindo de uma densa mata que se impõe atrás do hospital e se agacha perto da grade que limita a área do prédio. Ele é seguido por Murah e Pedro, nessa ordem. Com um sinal Murah põe-se a frente com um alicate hidráulico, que usa para abrir uma fenda e por onde passam os três. Eles correm curvados, na ponta dos pés e em segundos cruzam a área de trás do hospital. Agora eles se esgueiram por uma parede, em direção à porta indicada por Charlotte, mas a presença de guardas próximos os surpreende e os fazem recuar.
Murah: E agora? O que vamos fazer?
Breff precisa de um tempo para pensar. Encostado na parede que dá para a densa floresta que cresce por trás do hospital, Pedro observa a estranha movimentação de pequenos pontos luminosos vindos da floresta. O corpo congela de medo.
Pedro: Seja o que for, precisamos fazer rápido!
Breff e Murah observam a movimentação vinda da mata.
Breff: Vocês estão comigo? (os dois confirmam que sim com a cabeça) Confiam em mim? (afirmam novamente) Então façam o que disser.
Parece que o silêncio é aliado dos três invasores e por um minuto não se ouve nada. Num golpe de surpresa os três surgem da escuridão investindo contra os guardas. O primeiro é derrubado por Breff, que salta em cima do homem e é logo nocauteado. Pedro precisa de um pouco mais de esforço para derrubar um homem grandão que insiste em ficar de pé. Um terceiro guarda surge de outro ponto do terreno, aos tiros mal disparados. Os três se protegem da saraivada.
Breff: (para Murah) Nas pernas! Nas pernas!
Murah não pensa duas vezes e atira certeiro acima do joelho do homem, que cai, gritando de dor. Tudo acontece muito rápido e agora os três já estão adentrando o prédio, pela porta indicada no mapa dado por Charlotte.
Corta.
Cena 09: (Hospital – Noite – Int.)
Algumas enfermeiras correm de um lado para o outro. Do fundo do corredor, Dr. Stevens se aproxima rapidamente de Nancy, que dá as ultimas instruções para uma enfermeira, provavelmente novata. A moça se afasta ao mesmo tempo em que o médico se aproxima.
Dr. Stevens: Nancy, isso foram tiros?
Nancy: (preocupada) Eu não sei doutor, ninguém dá segurança me comunicou nada. Mas já pedi para as outras enfermeiras darem uma olhada nos pacientes.
Dr. Stevens: Ok. Venha comigo! Vamos ao S1!
Nancy: Subsolo? Mas a ala está desativada lá.
Dr. Stevens: Estava. Reabrimos para um paciente muito especial.
Nancy: Ben?
Dr. Steven: (afirmando com cabeça) Você precisa tira-lo daqui.
Corta para outro ponto no interior do hospital.
Breff, Pedro e Murah se esgueiram por uma parede no corredor e lentamente caminham em direção a seu primeiro destino. Breff dá uma olhada rápida no mapa.
Breff: (sussurrando) segundo a Charlotte, o garoto foi levado para a emergência assim que chegou, então deve haver um prontuário ou uma fica de entrada lá. Se encontrarmos, saberemos para onde ele foi levado.
Com armas em punho, o trio investe em um corredor que leva a emergência, mas ao dobrar o corredor se deparam com Nancy e o Dr. Stevens. Todos se entre olham por um instante e a tensão toma conta do ambiente.
Breff: Não! Não! Não se mexam! Nós não queremos machucar ninguém.
Dr. Stevens: Então abaixem essas armas, pelo amor de Deus!
Breff: Nós só viemos buscar algo e vamos embora assim que conseguirmos encontrar. (ele percebe que Nancy está tentando lhe dar algum tipo e sinal) Qual o nome de vocês?
Dr. Stevens: Eu sou Dr. Stevens, Howard Stevens.
Nancy: Eu sou Nancy Wright.
Sem dizer mais nenhuma palavra e seguro de que seus companheiros estão com as armas apontadas para o medico e para a enfermeira, Breff se aproxima de Stevens e desfere um golpe com parte de trás da espingarda, acertando o queixo do médico, que cai desacordado. A atitude assusta Pedro e Murah, que se volta para a enfermeira.
Nancy: Foi a Charlotte que mandou vocês?
Breff: Sim! Você sabe onde está o garoto?
Nancy: Acho que sim. Venham comigo.
Corta.
Cena 11: (Hospital – Área do subsolo – Noite – Int.)
Nancy lidere o grupo que cruza um corredor pouco iluminado, logo após descerem uma escada de acesso. Chegando ao fim do corredor eles param diante uma porta dupla, com dois recortes ovais, protegidos por vidros espessos. Nancy tenta olhar pelo vidro, mas a sujeira não deixa que ela veja muita coisa. Com um molho de chaves ela tenta abrir o grande cadeado que tranca a porta. Ela consegue na segunda. Pedro que está no fim da “fila” percebe que algo se aproxima vindo da escada de acesso à ala térrea do hospital.
Pedro: (tenso) Pessoal, é melhor nos apressarmos. Acho que nos encontraram.
Nesse momento o walkie talk, preso na cintura de Nancy recebe uma chamada. Do outro lado uma voz masculina.
Homem (em off): Nancy! Nancy! Você me ouve?
Nancy: É o chefe da segurança. (pega o walkie talk) Aqui é Nancy falando. Onde vocês estão?
Homem (em off): Estamos na ala dois e encontramos o Dr. Stevens desacordado, temos um guarda ferido na perna. Onde está você?
Nancy: Eu já estou chegando (desliga o comunicador e se aproxima de Breff). Não existe outra saída, só pelo caminho que viemos. Entre na sala, pegue o que veio buscar e saia o mais rápido possível.
Breff: Obrigado!
Nancy: Eu não entendo muita coisa que acontece aqui, mas não quer que esse garoto acabe como muitos acabaram. Boa sorte!
Nancy se afasta e Breff investe contra a porta dupla, sendo seguido por Pedro e Murah.
Corta para o interior da sala.
O ambiente é um antigo centro cirúrgico, devidamente paramentado, porém coberto de poeira e caixas de arquivos e medicamentos vencidos. Breff entra e se depara com o pequeno Ben deitado em uma mesa cirúrgica. Ele se aproxima e percebe que o garoto está amarrado e que sofreu algumas incisões laterais no tronco e cabeça. O menino está desacordado.
Breff: Ei amiguinho, viemos te buscar. (ele observa os machucados no garoto) Meu Deus, o que fizeram com você?
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QUARTO ATO.
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Cont. Cena 11: (Hospital – Área do subsolo – Noite – Int.)
Breff continua a observar o garoto por um instante.
Pedro: Ei papito! Nós precisamos ir agora!
Breff: O que será que estavam fazendo com ele? Veja esses ferimentos.
Murah mexe em algumas caixas empilhadas no canto da sala, quando uma pequena mariposa pousa em seu braço. Murah se encanta com a cena, a cena volta para Pedro e Breff.
Pedro: Cara eu sei que isso é tudo muito chocante. É, sério, eu estou em choque também, mas precisamos ir embora! Agora! Já!
Breff: Ok. Ajuda a desamarra-lo!
Os dois começam a desamarram o garoto, e a imagem volta para Murah que se envolve com a mariposa que está pousada em seu braço. Ele tenta tocar o inseto que parece estar tranquilo, quando ele observa mais uma mariposa chegar e aterrissar em uma caixa próxima. Murah então percebe que não só essas, como outras de diferentes formas e tamanhos, estão entrando pela fenda da porta que está devidamente fechada. Ele se aproxima e vê algumas dezenas delas, amontoadas, nas paredes, próximo a porta. Estranhando aquele comportamento, Murah aproxima ainda mais o rosto do vidro e é surpreendido por uma enorme mariposa que aterrissa do outro lado da porta, tampando sua visão. No animal se revela o desenho de uma caveira ou algo que lembra uma. Murah se afasta da porta.
Murah: Gente! Gente! (sem resposta) GENTE!
Pedro se assusta com o grito do companheiro, assim como Breff que termina de colocar Ben nas costas.
Murah: Não vamos poder usar o corredor para sair daqui.
Corta para o corredor e a imagem mostra o local totalmente tomado por mariposas.
Corta para o interior da sala.
Nesse momento um grande estrondo, faz a porta tremer, como se alguém estivesse forçando para entrar.
Pedro: Mas como vamos sair daqui?! Essa porta é a única saída!
Breff: Não é não!
Breff passa o pequeno Bem para os braços de Pedro e com o auxilio de algumas caixas, ele chega até a um pequeno vitro, no canto superior da parede. Usando de muita força, ele tenta abri-la sem sucesso. Com a ajuda da espingarda, Breff quebra o vidro e se revela do outro lado, o estacionamento frontal do hospital. É possível ver alguns guardas correndo de um lado para o outro através de luzes. Breff se arrasta pela passagem estreita e após sair volta e estica os braços.
Breff: Dê-me o garoto!
Pedro escala as caixas com dificuldade e passa o garoto para Breff que com cuidado o arrasta para fora. A sala está infestada de insetos. Ele é seguido por Murah e outro estrondo chama a atenção dos dois. A parte inferior da porta se rompe, dando uma vasão ainda maior as mariposas. Num ato inesperado, Murah volta e tenta forçar a porta, impedindo à passagem de mais insetos. Ele começa a rezar.
Murah: Por Alá, entro minha vida nas mãos dos mártires e que o reino dos céus e suas virgens estejam a minha espera.
Já do lado de fora Pedro se põe a ajudar Murah a sair.
Pedro: Murah! Venha! Vamos sair daqui!
Murah corre e tenta atravessar a janela, mas a sala já tomada pelos insetos dificulta. Pedro não consegue chegar até ele. Enquanto isso Breff coloca o pequeno Ben nas costas.
Breff: Vamos Pedro! Tire ele daí!
A imagem a sala infestada.
Pedro: Não dá! Eu não consigo mais enxerga-lo! Murah! Murah!
Breff: Vamos, ele não vai conseguir! VAMOS!
Corta para o estacionamento. Os dois correm pelo estacionamento e param ao ouvir gritos vindos do hospital. Pelos vidros é possível ver o vulto das pessoas correndo e tentando se proteger, envoltos a luz forte!
Pedro: (um pouco a frente) Vamos! Breff, vamos!
Os dois investem contra a saída do hospital, quando a caminhonete, deixada por eles do lado de fora, rompe os portões e adentra no estacionamento em alta velocidade. O carro se aproxima e derrapa perto dos dois. Dentro dela está Charlotte, que rapidamente abre a porta do passageiro.
Charlotte: Vamos sair daqui!
Breff coloca o garoto no banco de trás e entra logo em seguida. Pedro se joga no banco do passageiro.
Pedro: Vamos hermosa me mostra o que você sabe fazer ao volante!
A caminhonete sai “cantando pneu”.
Corta.
Cena 12: (Estrada – Noite – Ext.)
A caminhonete está cortando a estrada que leva até a fazenda, em alta velocidade. Todos estão em silêncio. Charlote está na direção e do seu lado está Pedro. Ben continua desacordado no banco de trás e Breff o observa atentamente.
Pedro: Nós temos que voltar! Não podemos deixa-lo para trás!
Charlotte: Quem? Quem vocês deixaram para trás?
Breff: Não podemos voltar é muito perigoso!
Charlotte: De quem vocês estão falando?
Pedro: E vamos deixa-lo lá, para morrer? Como fizemos com minha irmã?
Breff: Eu não deixei ninguém para morrer e você sabe disso. Sabe muito bem quem foi que deixou quem para trás.
O silêncio volta a tomar conta do interior da caminhonete.
Corta.
Cena 13. (fazenda – Noite – Ext.)
Emily está sentada na escada na entrada da casa. Com um graveto ela rabisca alguma coisa no chão, enquanto observa o celeiro.
Corta para o interior do celeiro. Vemos Nickolay sentado no chão e ainda preso por correntes. Ele observa Emily, ao longe, através de uma fresta. Seu olhar é fixo e ameaçador.
Corta para a fazenda. Mimi se aproxima se senta ao lado de Emily.
Mimi: Eles podem levar a madrugada toda para voltar.
Emily: Não estou com sono e está uma noite linda.
Mimi: (olhando para o céu) As estrelas no céu são um lembrete de que a morte está nos rondando.
Emily observa um grande mastro em meio a plantação de trigo e na ponta um megafone, aparentemente desativado.
Emily: O que é aquilo?
Mimi: Um megafone. Era usado para tocar sinais de aviso, como hora do almoço ou ameaças eminentes.
Emily olha intrigada para ela.
Mimi: Há muitos anos, Mirella era uma base militar. Servia de moradia para as famílias dos militares.
Emily: Como você sabe disso?
Mimi: Sou uma velha muito curiosa.
As duas riem e em seguida observam a caminhonete de Breff se aproximando ao longe. Emily levanta-se com um largo sorriso no rosto.
Emily: Eles conseguiram. Estão de volta!
Mimi nota o entusiasmo da garota.
Slow Motion.
A caminhonete para em frente a casa. Pedro é o primeiro a sair do carro e dá um aceno com a mão. Charlotte sai em seguida e abre a porta de trás de onde se revela Breff com o pequeno Ben nos braços. Ele observa Emily e o olhar é retribuído, chamando a atenção de Charlotte. Ele caminha pela escada ao lado de Charlotte que é recebida com um abraço de Mimi. Breff se aproxima de Emily.
Breff: Achei que não fosse te encontrar aqui, quando voltasse.
Emily: Você faz juízo ruim de mim.
Os dois riem.
Breff: Quer dizer que você vai tentar se acostumar com a cidade?
Emily: Vou tentar me acostumar com as pessoas. (pausa) Você salvou o garoto.
Breff: Ou ele me salvou?
Os dois se olham por mais um instante.
Mimi: Onde está Murah?
Pedro: (passando por eles e ironizando) Pergunte ao nosso líder.
Pedro para na varanda que leva ao interior da casa e observa o celeiro ao longe. Close em sua expressão séria.
Corta.
Cena 14: (Celeiro – Noite – Int.)
A imagem mostra Nickolay rindo, enquanto observa a movimentação do lado de fora.
Nickolay: Eu disse. O primeiro já foi. Um por um. (um breve silêncio ecoa pelo ambiente). Um por um.
Corta para fora do celeiro.
Full Shot.
A imagem mostra Breff carregando o pequeno Bem, para dentro da casa, seguido por Mimi e Charlotte. Emily que segue logo atrás.
Continua…
Escrito por:
CLAYTON CORREIA RIBEIRO
Nesse episódio:
BENJAMIN EVANS Kodi Smith-McPhee
BREFF CONROY Logan Marshall-Green
CHARLIE CONROY Billy Boyd
CHARLOTTE BURKE Ashley Greene
- ABRAHAM BURKE David Shwimmer
- HOWARD STEVENS Noah Emmerich
EMILY EVERETT AnnaSophia Robb
NICKOLAY GRANDJEN (Homem) Haley Joel Osment
MIMI CASTRREL Francis Fisher
NANCY WRIGHT Mandy Moore
PEDRO SANCHEZ Wilmer Valderrama
XERIFE BRADLEY TUK Jason Preistley
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