CENA 1. INTERNA |NOITE |COBERTURA DOS BITTENCOURT – SALA.
[Legenda: Dias depois…]
Depois de todo ocorrido, Helô tomara uma decisão importante. Ela iria embora por uns tempos, morar com uma tia no interior do Rio. Bia foi quem dera a idéia. Helô estava muito magoada com tudo o que tinha acontecido e não perdoara Pedro e nem Lenita, sua melhor amiga. Já Bia comemorava o fato de seu plano ter dado certo. Helô estava de dois meses, e logo a barriga começaria aparecer, e ela não queria que Pedro soubesse da gravidez. Sua intenção era ir embora do Rio assim que o bebê nascesse e talvez para sempre. As únicas que sabiam dessa gravidez eram Bia, Celina e Maroca que escutara um dia atrás da porta, Helô conversando com Celina. Helô fez com que elas jurassem guardar segredo e assim todas fizeram. De mala na mão, ela se despedia da família…
ANSELMO (Triste) – Eu ainda não consigo entender o porquê de você estar indo embora minha filha? O que foi que aconteceu de tão grave pra você tomar essa atitude? Você estava tão bem, tão feliz aqui… Foi o Pedro? Me fala o que ele te fez, que eu acabo com a raça dele.
HELÔ – Não é só o Pedro pai… É uma série de coisas, eu não to bem comigo mesma e só estou precisando me afastar um pouco de tudo, colocar a cabeça no lugar… E o Pedro não me fez nada, a gente só achou melhor se separar, e seguir caminhos diferentes… Não se preocupe ta bom? Eu vou passar uns meses fora na casa de uma amiga no interior, mas eu ligo, mando notícias, enfim… Eu tranquei a faculdade, mas não desisti, eu vou retomá-la, prometo. Agora eu só preciso mesmo é de tempo pra mim…
CELINA – É difícil para o seu pai, Helô. Ele não queria que você fosse embora. Ele quer te ajudar, te ver feliz… O coração dele esta partido com tudo isso, você pegou ele de surpresa. Mas eu também te entendo… Tudo vai passar e logo você estará de volta, eu tenho certeza disso.
HELÔ (Emocionada) – Obrigada Celina, por tudo. Cuida do meu pai pra mim?
CELINA (Chorando) – Sempre. Pode ir tranqüila minha filha, que eu cuido dele. Mas vê se coloca essa cabeça no lugar e volta logo, que aqui tem uma família que te ama e te apóia acima de tudo. Lembre-se disso e se cuida. (Fala e passa a mão na barriga de Helô discretamente).
BIA (Impaciente) – Ai gente chega de chororô, ninguém morreu não. Vamos embora logo Helô…
Helô deu um último abraço no pai e o clima era de despedida mesmo. Tanto que ambos não conseguiram segurar e choraram juntos, depois ela abraçou Maroca que nada disse e só chorava…
ANSELMO – Vai com Deus minha filha, e que ele lhe proteja. E lembre-se que essa casa estará sempre de portas abertas para te receber.
HELÔ – Eu sei pai, muito obrigada por tudo mesmo.
Helô foi embora e antes ela ficou parada na porta e olhou para trás, limpando o rosto e logo depois seguiu em frente junto com Bia que a deixaria na casa da Tia Adna.
CORTA DIRETO PARA RUA:
Helô esperava Bia tirar o carro, ela estava do lado de fora do prédio. Tinha acabado de pegar suas correspondências com o porteiro, e foi surpreendida por Lenita.
LENITA – Oi Helô. Será que nós podemos conversar?
HELÔ – Conversar sobre o que Lenita? Eu não tenho mais nada pra falar com você. Nem hoje e nem nunca mais. Você era a minha melhor amiga e me traiu daquela maneira tão baixa e nojenta… Eu amava o Pedro e você sabia disso. Eu não quero te ver nunca mais. Bem que a Bia me falava sobre você e eu burra não queria enxergar. Bem feito pra mim.
LENITA – Burra você esta sendo de acreditar na Bia, isso sim. Será que você não percebe que ela não gosta de ti Helô. Ela sempre sentiu ciúmes e inveja de você e de tudo que era seu… Foi tudo armação dela esse tempo todo. No fundo ela só queria ter sido a Garota de Ipanema, e nunca aceitou perder pra você. E isso foi só a gota d’água de tudo.
HELÔ – Chega! Vai embora. Eu não quero mais ouvir uma palavra sua Lenita. E nem vou permitir que você levante falsas acusações sobre a Bia que sempre esteve do meu lado, e é a única pessoa que me ama de verdade nessa história toda. Aproveita que eu estou indo embora agora e vai lá ficar com o Pedro. Vocês dois se merecem… E acredite, eu desejo que sejam muito felizes e que esqueçam que eu existo.
Nesse momento Bia sai com o carro. Helô entra e logo coloca os fones no ouvido do seu walkman e vai ouvindo música. Lenita chora e vai do lado do motorista falar com Bia.
LENITA – Satisfeita agora? Finalmente você conseguiu o que sempre quis, tirar tudo da Helô… Você pode ter ganhado essa primeira batalha Bia, mais um dia, passe o tempo que passar, você vai perder essa guerra que você mesma travou contra a sua própria irmã, e eu vou assistir a sua derrota de camarote. Pode apostar.
BIA (Sarcástica) – Será mesmo? Se eu fosse você, não contava com isso. Beijo querida. Até nunca mais…
Bia segue com o carro e Lenita fica chorando de ódio, pensando em sua amizade com Helô, que Bia conseguira destruir. (Close no rosto dela, que depois se vira e vai embora).
CORTA PARA:
NITERÓI – RJ.
CENA 2. EXTERNA – INTERNA |DIA |CASA DE ADNA – FRENTE.
Adna sai toda sorridente de casa e vem receber as sobrinhas que há muito tempo não via. Ela era irmã de Amália mãe de Bia e Helô, e se afastou da família por problemas pessoais e também porque Anselmo nunca gostou dela.
ADNA (Feliz) – Ô minhas meninas lindas… Como vocês cresceram… (Diz dando um abraço em cada uma delas) – Vem vamos entrar, a casa é de vocês.
Helô vai indo na frente abraçada com a tia e Bia fica olhando tudo ao redor com cara de nojo, já que a casa de Adna era muito simples.
CORTA DIRETO PARA SALA:
ADNA – Vocês não imaginam o quanto eu estou feliz de poder receber vocês aqui na minha casa. Eu não via vocês tem mais de quinze anos… Acho que desde que eu deixei a fazenda e vim morar em Niterói… Por favor, sentem-se e fique a vontade.
HELÔ – Tem muito tempo mesmo tia, eu ainda era uma pirralha. (Diz sorrindo).
ADNA – E agora é uma mulher feita e linda que esta gerando um ser maravilhoso aqui dentro. (Fala passando a mão na barriga de Helô) – Você esta de quanto tempo minha querida?
HELÔ – Quase três meses. Mas ainda não da pra perceber direito, eu quase não engordei.
ADNA – Tem que se alimentar bem agora. Você esta gerando uma criança dentro de você e tem que comer por dois. O seu pai não esta sabendo que você esta grávida, não é mesmo?
HELÔ – Por enquanto não. Eu andei passando por umas coisas, o pai do meu filho também não sabe de nada, mas também ele não é do tipo que assumiria essa criança… Ele foi capaz de me trair com a milha melhor amiga. De modo que eu estou sozinha nessa. (Conclui triste).
ADNA – Eu sinto muito. Mas olha de maneira nenhuma você esta sozinha nessa meu bem… Você tem a sua família. Tem a mim, a Bia, a Celina e até mesmo o seu pai te acolheria, eu tenho certeza disso. Talvez não no primeiro momento, porque ele é turrão, mas depois sim. Agora é cabeça erguida, bola pra frente e pensar em você e no bebê. Só vocês dois importam agora… Mas e você Bia, me conta como esta a sua vida, minha filha?
BIA (Séria) – Esta tudo bem, graças a Deus! Eu não tenho do que reclamar não… Agora eu fico preocupada mesmo é de deixar a minha irmãzinha aqui com a senhora. Nesse fim de mundo… Me fala tia, e o vício como é que ta? A senhora continua bebendo todas?
HELÔ – Bia! Isso é coisa que se pergunte? Respeite a titia, por favor!
BIA – Eu respeito, é claro que eu respeito. Mas eu também fico preocupada sobre o ambiente onde eu vou deixar a minha irmã grávida. Pelo que eu me lembre, o fato dela beber foi só um dos motivos que levou o papai a expulsá-la da fazenda.
ADNA (Sem graça) – Ela esta certa Helô. É sua irmã e quer o melhor pra você. Eu também protegia a Amália, sua mãe de tudo e de todos. Mas fique tranqüila Bia, que eu parei de beber sim. Estou sóbria tem mais de dez anos. Portanto a Helô pode ficar aqui sossegada, pelo tempo que quiser. Que eu irei cuidar muito bem deles.
BIA – Bom, assim eu fico mais tranqüila, eu vou lhe dar um voto de confiança tia. E agora eu vou indo que eu tenho um monte de coisas pra fazer, manicure, pedicure, cabelo… Eu irei sair essa noite e tenho que estar linda e maravilhosa!
HELÔ (Sorrindo) – Humm quanto mistério minha irmã… É um encontro? Eu quero saber de tudo hein…
BIA – Vai ser um encontro na hora que eu ligar pra ele hoje, o convidando para sair comigo. Me desejem sorte.
HELÔ – Boa sorte Bia. Eu te amo minha irmã. Muito obrigada por tudo viu.
BIA – Que isso, irmã é pra essas coisas.
ADNA (Carinhosa) – Vai com Deus e boa sorte, minha querida. Aliás, toda sorte do mundo pra você minha filha… Você merece Bia.
Bia sai toda alegre. Helô e a tia se abraçam e conversam mais, colocando o papo em dia. (Off).
CORTA PARA:
CENA 3. EXTERNA |NOITE |QUIOSQUE – PRAIA DE IPANEMA.
Bia não perdeu tempo e convidara Pedro para sair e eles conversarem. Ele estava um pouco desanimado, triste e ela se oferecia o tempo todo para ajudá-lo a superar tudo.
BIA – Eu sei que você esta triste e magoado Pedro e não tiro a sua razão. O que a Helô fez por uma bobagem como você mesmo disse, não se faz com ninguém. E olha que eu conversei com ela, fiz ela entender que estava errada, mas foi inútil, de nada adiantou…
PEDRO – Eu sei e te agradeço muito por isso Bia… Mas a Helô esta irredutível, ela é muito teimosa e sei que acabou mesmo. Ela não vai voltar atrás. E sabe o que é pior nisso tudo? É que ela se sentiu ofendida por uma besteira que eu falei de cabeça quente, sem pensar… É claro que se ela tivesse mesmo grávida, eu iria apoiá-la e assumir o bebê. Eu não queria essa vida pra mim tão cedo é verdade, mas eu jamais iria abandoná-la. Eu amo a Helô… Pelo menos agora eu tenho você pra desabafar… (Fala sorrindo e pegando na mão de Bia, que sorri de volta).
BIA – E vai ter sempre viu… Conta comigo Pedro, eu gosto muito de você. (Disse olhando nos olhos dele, depois deu um beijo carinhoso em seu rosto e o abraçou).
{Começa a tocar: Azul Da Cor Do Mar – Ivete Sangalo}
CORTA PARA:
CENA 4. INTERNA |NOITE |COBERTURA DOS BITTENCOURT – SALA.
O detetive Afonso Martins veio trazer notícias do caso de Juvenal. E ele tinha uma coisa muito importante para revelar aos Bittencourt. Nesse exato momento Bia chega…
BIA – Celina você pode pedir pra Maroca me levar um analgésico lá no quarto, eu to morrendo de dor de cabeça… (Para de falar sem graça, ao notar a presença do detetive) – Boa noite.
DETETIVE – Boa noite senhorita.
ANSELMO – O detetive Afonso veio nos trazer mais notícias sobre o acidente do Juvenal filha.
Bia fica pálida e Anselmo prossegue:
ANSELMO – Infelizmente a perícia não conseguiu encontrar nada de anormal no carro. Com a explosão pouco se sobrou do material e a suspeita do cabo dos freios terem sido cortados foi descartada, já que a parte elétrica foi toda danificada pelo fogo.
BIA – Eu entendo. Poxa que pena… Mas e agora? O que acontece? As investigações serão dadas por encerradas eu presumo.
DETETIVE – Absolutamente. Nós temos uma nova evidência, no caso uma nova suspeita…
BIA (Preocupada) – Como assim, eu não entendi?
DETETIVE – No dia do acidente, uma hora antes pra ser mais exato. Uma vizinha de vocês aqui do edifício, afirmou ter visto um homem suspeito saindo da garagem do prédio. Ele tinha a roupa toda suja de graxa e carregava na mão direita uma caixa de ferramentas. Pela descrição deveria ser um mecânico com certeza. Resta saber o que ele estava fazendo aqui tão cedo, no dia do acidente que vitimou o senhor Juvenal dos Santos. Bom é o que nós iremos investigar agora a partir do retrato falado dele que a vizinha de vocês se prontificou a fazer para assim descobrirmos finalmente quem é esse tal mecânico e que tipo de serviço ele veio fazer aqui, já que as câmeras de vigilância não pegaram nada.
Bia, Anselmo e Celina ficam intrigados e se olham surpresos…
CORTA PARA:
CENA 5. EXTERNA |DIA |MADUREIRA – ZONA NORTE DO RIO.
Bia esta rodando com o carro para ver se encontrar o mecânico que ela contratou para mexer no carro, antes que a polícia o encontre. Ela desconfia que ele não tenha ido embora. Há horas rodando sem sucesso, ela decide ir embora para casa.
CORTA PARA:
CENA 6. INTERNA |DIA | NITERÓI |CASA DA TIA ADNA – QUARTO.
Helô esta deitada chorando e sua tia chega. Ela tenta disfarçar, mas ela percebe…
ADNA – O minha querida… Não fica assim não. Você tem sua tia aqui contigo, tudo vai passar e vai se resolver, você vai ver. (Diz se sentando na cama e fazendo um carinho em Helô) – Que você acha da gente sair um pouco, distrair a cabeça, almoçar fora… Hein?
HELÔ (Triste) – Obrigada pelo apoio tia, mas eu não estou com cabeça pra nada. Eu só consigo pensar que não era pra ser assim… Sabe, eu queria ter esse filho com o Pedro do meu lado, nós dois criando ele juntos como uma família normal e feliz.
ADNA – Eu sei meu bem, eu sei… Mas infelizmente nessa vida nada é do jeito que a gente quer ou sonha. Às vezes a gente tem que se adaptar e fazer o nosso melhor pra viver do jeito que da, aceitando as coisas como elas são. E depois Helô, eu ainda acho que você deveria procurar o Pedro e contar tudo pra ele minha querida. De repente ele vai reagir melhor do que você espera e tudo vai ficar bem entre vocês dois, pensa nisso com carinho, pro seu bem e pelo bem dessa criança. Só assim você vai conseguir se libertar desse peso, e não irá se culpar pelo resto da vida, como já esta acontecendo agora.
Helô ficou pensativa e por fim Adna a deixou sozinha…
CORTA PARA:
CENA 7. EXTERNA |NOITE | IPANEMA.
Bia e Pedro estão caminhando pelo calçadão enquanto conversam e comem o famoso podrão.
BIA (Rindo) – Nossa esse podrão é demais… Mas algo me diz que ele não vai cair bem no meu estômago e eu vou acordar em outro mundo amanhã literalmente. Mas quer saber? Ta valendo a pena cada segundo, só por estar aqui com você Pedro…
PEDRO – Sabe que eu nunca tinha reparado em você direito Bia… Em como você é engraçada e divertida. Vem senta aqui… (Diz a convidando pra sentar em um banco no calçadão).
BIA – Também pudera né? Você só tinha olhos pra Helô, meu Deus… Parecia que ficava cego perto dela, eu nunca vi coisa igual… Desculpa, falei demais. (Fala sem graça depois de perceber que Pedro ficara chateado).
PEDRO – Tudo bem. Você também é espontânea e eu gosto disso… Como ela ta?
BIA – Eu falei com ela no telefone ontem, ela ta bem… Tem saído muito com a amiga dela, ta pensando em retomar a faculdade.
PEDRO – E ela pergunta por mim?
BIA – Sinceramente… Não Pedro. A Helô parece ter te esquecido mesmo, ou pelo menos esta se esforçando bastante pra isso.
PEDRO (Triste) – Eu já esperava por isso… Vida que segue. Ah, eu me esqueci de te contar… Semana que vem eu começo estagiar num escritório de arquitetura.
BIA (Alegre) – Mas que ótima notícia Pedro! Meus parabéns! Eu fico muito feliz por você viu, você merece tudo de bom. (Diz dando um abraço nele e um selinho rápido que o deixa sem graça) – A gente tem que comemorar… Amanhã à noite nós vamos sair pra dançar…
PEDRO (Ri) – Mas nem pensar! Eu não sei dançar, vou ficar pisando no seu pé o tempo todo e eu não estou a fim de pagar mico…
BIA – Mas eu estou a fim de correr o risco e ponto. A gente vai sim, esta decidido. (Fala rindo).
Os dois seguem rindo e conversando muito e claro devorando os seus podrões noite afora.
(Cam fade out).
CORTA PARA:
CENA 8. EXTERNA |DIA – NOITE |CLIPE DE IMAGENS.
{Começa a tocar: Esquecimento – Skank}
(Cam fade in – Dia amanhecendo… Sol, mar, praia… Cristo Redentor, pão de açúcar, metrô, trânsito, calçadão. – Anoitecendo… Pedro e Bia animados dançam no meio da pista em uma casa noturna. Engarrafamento, mar, praia, calçadão, panorâmica da cidade, luzes da noite, prédios, cidade, Ipanema… – Dia amanhecendo… Praia, mar, ponte Rio-Niterói).
[Legenda: 6 meses depois…]
CORTA PARA:
CENA 9. INTERNA |DIA |CASA DA TIA ADNA |NITERÓI.
Helô esta saindo do seu quarto, segurando as costas de tanta dor que esta sentindo, prestes a ter o bebê, ela esta de quase nove meses…
ADNA – Helô eu falei pra você ficar deitada repousando minha filha…
HELÔ – Eu sei, mas eu não agüento mais ficar deitada tia… To com muita dor nas costas.
ADNA – É normal agora no fim da gravidez, e com o peso da barriga também… Vem senta aqui no sofá um pouco…
Helô vai sentar, mas logo se levanta espantada…
ADNA – Que foi Helô?
HELÔ – A bolsa estourou… O meu filho vai nascer tia Adna. (Fala toda feliz).
ADNA – Fica calma querida, relaxa que eu vou chamar um táxi…
Nesse momento Bia chega e já reclamando…
BIA – Ai que calor infernal! Essa cidade esta cada dia mais quente, tem feito um calor africano aqui ultimamente… Não, daqui a pouco nós vamos ter que sair nus pelas ruas, só com um penduricalho no pescoço e tocando tambor, porque é só o que esta faltando… Que foi gente? Que caras são essas? (Indaga vendo Helô e Adna paradas no meio da sala).
ADNA – A bolsa da Helô estourou, ela vai ter o bebê… Ainda bem que você apareceu pra nos levar porque eu já ia chamar o táxi.
HELÔ – É melhor a gente ir logo pro hospital. Tia pega a minha bolsa e a do bebê la no quarto.
BIA – Bom então vamos logo que o trânsito essa hora esta caótico. E eu que pensei que iria descansar um pouco agora…
Bia ajudou Helô, enquanto Adna levava as bolsas e fechava a casa. Bia pegou um atalho no caminho e elas conseguiram chegar mais rápido ao hospital. As contrações estavam espaçadas entre cinco e dez minutos. E ela logo entrou em trabalho de parto. Bia entrou com a irmã na sala de cirurgia e acompanhou tudo, segurando a mão de Helô, o tempo todo. O parto foi difícil, o cordão umbilical enrolou no pescoço da criança que quase chegou a óbito… Eles tiraram o bebê e a criança estava rocha e sem respirar. Depois eles conseguiram reanimar o coraçãozinho dela e a levaram para Helô, que já estava angustiada.
HELÔ (Emocionada) – Ela é linda… A minha menina é linda Bia. Ela vai se chamar Paloma… Paloma Bittencourt. Bem vinda ao mundo minha filha, eu te amo…
Bia também emocionada segurou o choro… Depois saiu da sala de cirurgia chorando. Adna foi embora, depois de ver Helô e o bebê.
CORTA DIRETO PARA O JARDIM DO HOSPITAL:
Uma enfermeira chega até Bia e começa conversar com ela…
ENFERMEIRA – Parto difícil da sua irmã hein… (Fala enquanto fuma um cigarro) – Ela teve sorte… Ainda mais com esse obstetra açougueiro ai… Já mandou pra mais de cem anjinhos pro céu. Mães então já perdi até a conta…
BIA – Mas agora ta tudo bem com elas né? A criança ta fora de perigo?
ENFERMEIRA – A gente só vai poder dizer com certeza mesmo amanhã… Ela esta na incubadora agora, respirando com ajuda de aparelhos, ela ficou muito tempo desacordada. Mas é procedimento normal quando o cordão enrosca no pescoço… Nessas horas eu penso na minha irmã, coitada… Sempre quis ser mãe e não pode. É seca por dentro. E o pior é que ela daria uma excelente mãe. O casamento dela anda até ruim das pernas, de tanto que ela tem fixação em ter um filho… Eu morro de pena.
Bia pensou e começou a ter umas idéias. Ela tinha medo que Helô pudesse procurar Pedro com o tempo e os dois pudessem voltar e ser felizes com a filha… Foi pensando nisso que ela propôs a enfermeira…
BIA – Você seria capaz de fazer qualquer coisa pra ver a sua irmã feliz e ainda com um bebê nos braços?
ENFERMEIRA – Claro que sim. Eu daria até o meu rim se fosse preciso. Por que a senhora ta me perguntando isso?
BIA (Fria) – Porque eu tive uma idéia e que se a senhora topar, além de me ajudar… A senhora também vai ver a sua irmã feliz e com um bebê nos braços… O filho ou a filha no caso, que ela sempre sonhou. Presta atenção no que eu vou lhe falar… (Off).
{Começa a tocar: Instrumental Suspense}
CORTA PARA:
CENA 11. INTERNA |NOITE |RIO DE JANEIRO |COBERTURA DOS BITTENCOURT – SALA.
Anselmo esta vendo o noticiário triste e pensativo. Celina chega e percebe o marido aborrecido e conversa com ele, tentando animá-lo…
CELINA – O jantar esta pronto meu amor… Eu pedi pra Maroca servir em dez minutos. (Fala e senta perto dele).
ANSELMO (Aborrecido) – Eu não quero jantar não, to sem fome.
CELINA – Você não pode ficar assim Anselmo, tem que se alimentar. Você tem dormido mal à noite, tem se alimentado mal também. Daqui a pouco você fica doente meu amor, tem que reagir.
ANSELMO – Eu não me conformo da Helô ter sumido assim e não dar mais notícias.
CELINA – Ela ligou pra Bia na semana passada, disse que ta tudo bem. Ela te mandou um beijo, não lembra?
ANSELMO – Mas comigo ela não falou. Aliás, faz meses que ela não fala comigo. Eu não entendi direito até hoje o que foi que aconteceu pra ela sair correndo daqui de casa e do Rio de uma hora pra outra. Parecia que tava fugindo de alguma coisa. Pra mim aquele ex-namorado dela teve alguma coisa a ver com isso tudo, mas todos dizem que não, inclusive ela. Porque será que ela não voltou mais pra casa? Já fazem meses…
CELINA – Eu não sei, mas eu tenho fé de que logo ela volta e ai vai ficar tudo bem. Você vai ver…
ANSELMO (Bravo) – Eu não vou esperar isso acontecer não, mas de jeito nenhum! A Bia volta e meia sai por ai com o carro e demora… Sempre volta a tardezinha ou à noite, eu já reparei nisso tudo. E ela começou com esse comportamento estranho desde que a Helô foi embora. Qualquer dia, eu espero ela sair e sigo ela… E eu tenho certeza de que vou descobrir onde a Helô esta e finalmente colocar essa história toda em pratos limpos… Ou eu não me chamarei Anselmo Bittencourt!
CORTA PARA:
CENA 12. EXTERNA |MADRUGADA |NITERÓI |HOSPITAL DRA. ANITA BARRETO.
Bia esta do lado de fora do hospital esperando a enfermeira sair e não demora muito para que ela apareça…
BIA – E ai ta tudo certo la dentro? Você conseguiu o que era preciso?
ENFERMEIRA (Rindo) – Não só consegui como ta aqui comigo… (Fala mostrando uma sacola que esta na mão dela).
BIA (Surpresa) – Não pode ser… Você esta com o bebê ai dentro?
ENFERMEIRA – Claro madame… Mas o que ta morto lógico. O que eu irei usar pra trocar pelo bebê vivo da sua irmã.
BIA – E como você conseguiu isso?
ENFERMEIRA – Na sala de autópsia, na coleção de anjinhos do doutor que eu lhe falei… Esse anjinho aqui morreu no parto um pouco antes da sua irmã dar entrada aqui ontem. A mãe nem quis ver a criança e doou o corpo para os novos médicos estudarem… Chega a ta fresquinho ainda. (Sorri) – Agora é só esperar a enfermaria acalmar e fazer a troca.
BIA – E esse bebê que você pegou lá dentro é menina? Pelo menos se parece um pouco com a minha sobrinha? Nada pode dar errado hein?
ENFERMEIRA – Madame não me leve a mal não, mas eu trabalho como enfermeira nesse hospital há anos e sei bem como funcionam as coisas por aqui… De modo que a senhora pode ficar tranqüila, que vai dar tudo certo e ninguém vai desconfiar de nada. A senhora vai ficar satisfeita e a minha irmã muito feliz de ver o sonho dela realizado. Depois o resto é com a senhora conforme eu falei…
BIA – Eu sei muito bem… Eles dão um diagnóstico qualquer para a causa da morte e eu não posso permitir de jeito nenhum que a minha irmã queira ver a criança e muito menos fazer uma autópsia. Isso seria o fim do nosso plano porque eles reconheceriam a criança, principalmente a minha irmã e só de bater o olho, disso eu tenho certeza.
ENFERMEIRA – Agora a senhora vê como as coisas são engraçadas… Eu aqui fazendo de tudo pra ajudar a minha irmã que eu tanto amo, a realizar um sonho dela. E a senhora fazendo de tudo pra ferrar com a sua irmã e parece que não é a primeira vez não… Deus me livre guarde, ter uma irmã feito à senhora… (Fala rindo e Bia fica séria, com um olhar misterioso, frio e perdido).
CORTA DIRETO PARA DENTRO DO HOSPITAL:
{Toca: Instrumental Suspense}
A enfermeira entra com a sacola pelos corredores do hospital quando percebe o silêncio da madrugada. Todos os pacientes já estão dormindo, e os médico e enfermeiros também tiram um cochilo. Os únicos acordados naquele horário são os dois seguranças e a recepcionista. Mas dentro de meia hora começam as rondas e ela precisa ser rápida… Ela passa pela enfermaria e entra no berçário. Há outra enfermeira dormindo numa poltrona, mas ela parece estar em outro mundo de tanto que ronca… Ela chega até o berço da menina e corta a pulseira de identificação do bracinho dela. Em seguida, ela retira o outro bebê que também é uma menina morta de dentro da sacola e coloca outra pulseira no bracinho dela, com nome, data de nascimento, tudo certinho que ela já havia preparado para a troca. Ela tira as roupas da filha de Helô e coloca na criança morta e a ajeita no berçário. Depois embrulha numa manta grande a bebê e coloca dentro da sacola, saindo do berçário logo em seguida. Lá fora ela encontra com Bia, que esta ansiosa.
BIA – E ai deu tudo certo?
ENFERMEIRA – Perfeito madame. Fiz a troca e ninguém viu nada, como eu disse que seria pra senhora.
BIA – Ótimo. Melhor assim… Mas ela vai ficar bem né?
ENFERMEIRA – Eu sou enfermeira madame, eu vou cuidar dela direitinho até que ela melhore. A senhora quer ver a menina?
BIA – Não. Pode ir embora e leva ela daqui, que a sua irmã vai ganhar o dia hoje de tanta felicidade.
ENFERMEIRA – Ta certo… Obrigada ai por ter me dado a criança, a gente vai cuidar dela muito bem.
BIA – Vê a história que você vai contar para os outros hein, ninguém pode desconfiar de nada. Senão nós duas estamos ferradas. Entendeu?
ENFERMEIRA – Claro, pode ficar sossegada que eu não quero rolo pro meu lado não. Agora… A senhora não vai voltar atrás não né? É pra valer mesmo que a senhora ta dando a menina?
BIA – Essa possibilidade não existe. Fique tranqüila que eu não quero ver essa menina nunca mais na minha vida… Nem pintada de ouro. E olha que eu amo ouro hein… Mas esse eu dispenso. (Diz rindo) – Agora vai, vai logo… Chispa daqui. Ai meu Deus… Dai-me forças, que agora é esperar pra ver o escândalo da Helô mais tarde. E claro, eu na minha melhor atuação de irmã devotada e caridosa. Ser atriz cansa viu… Nossa! (Suspira fundo).
CORTA PARA:
CENA 13. INTERNA |MADRUGADA |NITERÓI |CASA DE ADNA – SALA.
Bia voltou para casa da tia, onde ela dormiria aquela noite. E encontrou Adna na sala assim que chegou, esperando por ela…
ADNA – Graças a Deus! Ainda bem que você chegou Bia, eu estava preocupada. (Diz se levantando do sofá).
BIA (Sarcástica) – Ai me poupe tia Adna. A senhora nunca ligou pra gente em anos… Agora de repente quer fazer o papel de titia devotada?
ADNA – Eu me preocupo sim, como não? Vocês são meu sangue. E depois eu não me afastei de vocês porque quis, foi uma decisão do seu pai. Aquele maldito… Depois à noite aqui em Niterói esta muito violenta também, é perigoso uma moça bonita como você ficar até tarde na rua.
BIA – Perigo por perigo tia Adna, eu sou muito mais perigosa. Então quem tem que tomar cuidado são os bandidos comigo. (Fala gargalhando) – Vem cá… Que tanto ódio é esse que a senhora sente do meu pai e ele da senhora hein? (Pausa) – Tudo bem. Não precisa falar não… Um dia desses eu ainda acabo descobrindo tudo. Boa noite. (Fala e vai para o quarto, enquanto Adna fica pensativa com o olhar perdido).
CORTA PARA:
CENA 14. EXTERNA – INTERNA |DIA AMANHECENDO |HOSPITAL DRA. ANITA BARRETO.
Dia amanhecendo, ponte Rio-Niterói… Bia e a tia chegam cedinho no hospital e ouvem Helô gritar, além do tumulto que esta no quarto dela com um entra e sai de médicos e enfermeiras. Elas correm até lá e encontram Helô desesperada e chorando…
ADNA (Preocupada) – Helô minha filha, o que foi que aconteceu aqui?
BIA – Fala minha irmã…
HELÔ (Angustiada) – A minha filha Bia… A Paloma morreu… (Diz emocionada e quase sem forças e depois desaba na cama chorando).
ADNA (Chocada) – Como é que é? Mas como isso foi acontecer? (Fala e abraça a sobrinha, tentando consolá-la).
BIA – Isso é um absurdo. Nós exigimos uma explicação e agora! (Grita para o médico).
Nesse momento Helô se levanta da cama com a ajuda da tia e segurando a barriga, ela diz:
HELÔ (Séria) – Eu exijo saber do que a minha filha morreu… Eu quero vê-la agora. E quero também pedir que seja feita uma autópsia.
Close no rosto de Helô com a tia do lado, depois na cara apavorada de Bia.
FIM DO CAPÍTULO.
(A imagem congela. Depois se transforma em um cartão posta, jogado sobre Ipanema).
{O capítulo se encerra com a música: Easy – The Commodores}.