Kapittel atte

XV – O medo dos sonhos

No casebre simples, deitados sobre um colchão de palha em uma cama de madeira rústica, Freya e Thórin dormiam lado à lado. A escuridão só era quebrada pela fraca luz de uma lamparina que lançava uma claridade amarelada ao lado do casal. Freya começou à se debater na cama sem conseguir acordar. Thórin, em seu sono pesado, nada notou. Virou para o lado e continuou a dormir.

A escuridão e o silêncio de Gudwangen eram de impressionar. Um vento gélido cortava a vila levantando folhas pelo caminho. De trás de um galpão surgiu a sombra de uma figura encapuzada. Olhou para os lados, puxou o capuz da sua capa revelando seus olhos sombrios e seguiu por uma ruela de terra. Seu andar devagar e com dificuldade arrastava os tamancos entre as folhas que voavam do chão com a ventania, que ora soprava mais fraco e ora soprava mais forte.

Quando chegou em frente ao casebre de Thórin e Freya pôde-se perceber que aquela figura era o ancião oráculo da vila. Ele tirou o capuz revelando sua face desconfigurada e sorriu aquele seu sorriso amarelado de dar medo. Se aproximou da janela onde o casal dormia e ficou observando.

Freya deu um grito sentando na cama e encarando a janela. O ancião oráculo sorria já se afastando. Thórin despertou assustado com o grito da mulher.

– O que houve? – perguntou ele.

Freya, pálida como a neve que muitas vezes caía em Gudwangen, estava com os olhos arregalados olhando para a janela.

– Não há nada ali. – disse ele olhando para o mesmo lugar que ela olhava. – Foi só mais um pesadelo. – complementou ele acalentando a esposa em seus braços.

– Tá cada dia mais difícil encarar isso. – disse Freya aconchegando-se aos braços fortes de Thórin.

Longe dali, no casebre em que as duas escudeiras estavam mantendo os dois cristãos à salvos, todos dormiam, menos Kaira, que se mantinha acordada fazendo a vigia. Ela observou Dimithria em um sono profundo, Castelli cansado, dormindo profundamente também e, o monge Bishesmun, inquieto enquanto dormia. Ele se virava de um lado para o outro, às vezes pronunciando algumas palavras indecifráveis.

Alguns dias antes

Na vila de Nielisen o monge Bishesmun tentava escapar se escondendo pelas ruelas estreitas. Segurando seu crucifixo ao peito, ele estava apavorado com a barbárie que via. Os nórdicos estavam acabando novamente com a vila. Escondido atrás de uma tenda caindo aos pedaços, ele viu um alto e forte viking arrastar de dentro de um casebre um senhor de cabelos brancos que chorava copiosamente. O nórdico o empurrou em meio à rua de terra batida, pegou seu machado e cravou sem piedade na escápula daquele pobre senhor que caiu com o rosto no chão. O viking se agachou e puxou com força uma corrente de ouro que o senhor carregava no pescoço. “Eles são impiedosos” pensou Bishesmun beijando seu crucifixo.

Bishesmun, horrorizado com a cena, agachou-se atrás da tenda e rezou baixinho agarrado ao seu crucifixo.

De volta à Gudwangen

O monge estava cada vez mais inquieto. Debateu-se e despertou arregalando os olhos. Diante dele o rosto da jovem Kaira.

– Algum problema, monge? – perguntou ela baixinho para não acordar os outros.

Bishesmun olhou para os lados, pôs a mão no peito, por dentro da batina, procurando seu crucifixo e sentou-se.

– Um pesadelo, só isso. – respondeu isso.

– Os sonhos te atormentam, monge? – perguntou Kaira sentando em sua frente.

– Me chama de Bishesmun, por favor.

Kaira sorriu.

– Ok…Bishesmun. os sonhos te atormentam? – disse a jovem de cabelos vermelhos.

– Teu povo é cruel demais…as barbáries que vocês fazem não tem perdão. – respondeu o monge agarrado à cruz de Cristo pendurada ao seu peito.

– Tudo uma questão de costume…digo por mim. Nasci em Nielisen, cresci naquelas ruelas…

Kaira olhou para Castelli que se mexia ajeitando-se melhor em um canto.

– …cresci correndo por lá junto com Castelli. – complementou ela.

– E você ainda teve a audácia de deixar ele ser escravo aqui?

– Era isso ou a morte dele, Bishesmun. – disse Kaira. – e depois, eu dei um jeito de tirar ele de lá, não dei? Um jeito de tirar vocês, porque ele fez questão de trazer você junto. – continuou Kaira.

Bishesmun olhou para o jovem com ternura.

– Ele é um bom rapaz. Não merece isso.

– Então chega de se fazer de coitado, Bishesmun. Encare a realidade. Aqui com meu novo povo, esta sua crença não fará sentido nenhum. Aqui o martelo de Thor é mais forte. Odin é o maior. – respondeu a jovem ao mesmo tempo em que Castelli e Dimithria começavam a despertar.

XVI – Os cristãos devem morrer!

Amanheceu em Gudwangen. Os homens fiéis ao Earl Sigmund chegaram alvoroçados na praça pública. Um a um desamarraram e ergueram os escravos cristãos como se eles fossem animais e os posicionaram lado à lado. Mantendo suas cabeças fitando o chão de terra, os cristãos sentiam o cheiro do medo tomando conta.

– Todos quietos que o Earl Sigmund tá chegando! – gritou Éower, o viking de tapa-olho.

Ele ainda se aproximou de um homem, que visivelmente estava chorando, e segurou firme o seu pescoço erguendo a cabeça dele que tremia com sua presença.

– Cristão aqui não tem vez, sabia? – falou Éower.

Sigmund chegou ao local cavalgando um cavalo branco todo imponente no seu galope. O Earl usava um longo agasalho marrom da pele de alguma caça e ostentava alguns adereços à sua barba. Ele apeou do cavalo, desembainhou sua espada das rédeas do animal e caminhou entre os escravos cristãos observando seus olhares irresolutos. Um aglomerado de nórdicos assistiam a cena proferindo palavras de xingamentos no idioma nórdico. Sigmund parou diante deles.

– Éower! – chamou ele.

O viking de tapa-olho se posicionou ao seu lado.

– Separe os mais velhos, os mais jovens, as mulheres adultas e as crianças. – ordenou o Earl.

Imediatamente, Éower começou a separar os grupos. Um outro nórdico, mais alto, careca e de olhos claros se aproximou de Sigmund.

– Menos dois. – cochichou ele.

– Como assim? – respondeu Sigmund surpreendendo-se com a informação.

– Está faltando dois. Ninguém sabe
Ninguém viu. – respondeu o nórdico.

O Earl fez sinal com a mão e Éower parou a divisão. Pensativo, Sigmund começou andar de um lado para o outro.

– Aqui as coisas não funcionam assim…dois de vocês não estão aqui…

O povo que ouvia atento espantou-se. Sua esposa Syggia, imponente em uma túnica vestido de cor clara, agasalho de pele e cabelos trançados o encarava incrédula com o que acabava de ouvir. Thórin e Freya, lado à lado, também custaram a acreditar nas palavras do Earl. O viking inclinou a cabeça e novamente cochichou.

– Um monge e um jovem. – disse ele.

– …um monge e um jovem guerreiro estão desaparecidos. Impossível terem escapados e deixados vocês para trás. – continuou Sigmund.

Os cristãos se olhavam entre eles. A verdade é que nenhum deles viu o momento em que Kaira e Dimithria soltaram os dois.

– Onde está Kaira e Dimithria? – perguntou Freya sem desviar seu olhar.

– Eu espero que estejam por aqui. Todo nosso povo tá aqui. – respondeu Thórin.

Neste momento Kaira e Dimithria acharam espaço entre as pessoas e se aproximaram de Thórin e Freya.

– Onde vocês estavam? – questionou Freya virando a cabeça para ver as meninas.

– Estávamos treinando na praia e não vimos o tempo passar. – respondeu Kaira. – O que aconteceu? – ela perguntou.

– Um monge e um jovem escaparam esta noite. Isso não vai dar bom. – respondeu Thórin preocupado com a situação.

Éower tinha voltado a dividir os grupos ordenados pelo Earl. Este, se aproximou do grupo dos homens mais velhos.

– Estes aqui…- começou Sigmund enquanto encarava os olhos amedrontados que desviavam o olhar quando ele passava. – …vão pagar pelos dois que fugiram. – completou o Earl.

Kaira e Dimithria se olharam assustadas. Thórin notou a troca de olhares das jovens, mas nada falou.

– Pendurem-nos de cabeça para baixo. – ordenou o Earl.

Eram cinco homens mais velhos, sendo dois monges. Éower e outros guerreiros pegaram um cada um e começaram a obedecer a ordem dada. Em questão de minutos os cinco cristãos estavam com mãos e pés amarrados e pendurados de cabeça para baixo diante do povo nórdico.

– Arqueiros! – chamou Sigmund.

Cinco guerreiros arqueiros se aproximaram com seus arcos e flechas e se posicionaram com as armas direcionadas em frente aos homens.

– Os cristãos devem morrer! – gritou Sigmund.

Ao sinal do Earl, as flechas foram lançadas certeiras no pescoço de cada um dos homens mais velhos.

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