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XI – Louvado sejam os deuses

O clima havia mudado durante a viagem de volta. Um vento gélido chicoteava os grossos agasalhos dos vikings, que gritavam com vozes roucas e animadas observando a terra em uma curta distância. Os escravos cristãos respiravam aliviados por estarem perto de saírem daqueles barcos, mas por outro lado não tinham a mínima ideia do que os esperavam em terra firme. Thórin levantou de onde estava e foi até a proa da embarcação ao lado de Sigmund. Por entre a névoa densa notaram uma aglomeração de pessoas em terra firme. Aquelas pessoas estavam à espera de seus maridos, filhos, pais e amigos.

– Estamos de volta! – disse o Earl dando um leve tapa nas costas de Thórin.

– E o resultado final foi bom…embora algumas perdas. – respondeu Thórin.

Sigmund virou o rosto para o viking ao seu lado e sorriu.

– Na guerra muitas perdas são inevitáveis para se atingir a glória, meu amigo. – Sigmund disse, voltando a olhar para o solo firme que se tornava cada vez mais próximo.

Syggia estava à frente do seu povo esbelta em uma túnica vestido de cor vermelha com adereços dourados e cabelos com longas tranças caindo sobre seus ombros. Olhar atento e leve sorriso nos lábios ao ver que seu Earl Sigmund e seus guerreiros estavam de volta para o lar. Sentiu a aproximação de alguém parando ao seu lado, mas não desviou o olhar para ver quem era. Freya, usando uma túnica vestido mais simples e cabelos soltos com alguns adereços nas pontas, parou ao lado dela fitando o mesmo mar à frente.

– Feliz com a volta de Sigmund? – perguntou Freya.

– Contente com o retorno de todos os nossos guerreiros. – respondeu Syggia sem tirar os olhos das águas que começavam à se agitar com as embarcações atracando.

– E o seu jovem fazendeiro? – retrucou Freya olhando-a de canto de olho.

Syggia sorriu mostrando os dentes, mas com uma frieza que somente ela conseguiria demonstrar. Virou o rosto para Freya e encarou àqueles olhos azuis.

– O que você quer, Freya, filha de Edgemond? – perguntou Syggia.

Freya sorriu ao ver Thórin, Kaira e Dimithria em um dos drakkar.

– Agora vamos receber nossos guerreiros… à noite, depois do banquete, eu tenho uma proposta pra você. – respondeu Freya deixando uma dúvida no ar.

Neste momento o Earl Sigmund se aproximava de sua esposa. Com o olhar cansado ele lhe estendeu a mão.

– Vamos…meu bem. – disse Sigmund.

Syggia sorriu e fitou aquela mão calejada de batalhas que pairava no ar. Colocou a sua mão esquerda sobre ela e ambos seguiram para seu lar. Freya assistiu à cena com um sorriso de deboche em seus lábios e depois deu alguns passos à frente para encontrar Thórin, Kaira e Dimithria que já se aproximavam.

A noite foi de festa no salão grande da vila de Gudwangen. O banquete foi servido para todos e os líderes puderam pegar suas partes do tesouro saqueado. Todos comeram e beberam seu hidromel em chifres curvados. Reverenciaram Odin e todos os deuses. Brindaram e foram saudados pelo Earl Sigmund que demonstrou todo seu agradecimento àqueles que lutaram ao seu lado em Nielisen.

Em uma mesa de carvalho em um canto do salão, Freya, Thórin e Kaira brincavam por estarem juntos novamente.

– Eu estava muito aflita. Vocês não sabem o quanto foi bom rever vocês. – disse Freya enquanto tomava sua bebida.

– Os deuses estão ao nosso lado, querida Freya. – respondeu Thórin erguendo a taça de chifre curvado para o alto. – Um brinde aos deuses. – complementou ele.

– E um brinde à nossa Kaira, que voltou ilesa desta batalha. – Freya ainda disse.

Kaira sorriu brindando e depois tomou de uma só vez toda sua bebida. Aparentava estar feliz com os últimos acontecimentos… aparentava, pois por dentro estava preocupada com Castelli, seu antigo amigo de infância, agora tratado como escravo pelo povo que ela defendia.

Do lado de fora do grande salão, em praça pública da vila de Gudwangen, os cristãos trazidos de Nielisen estavam presos amarrados em postes espalhados, onde todos podiam ver, xingar, apedrejar e jogar água gelada. Era o que um grupo de crianças nórdicas faziam enquanto do lado de dentro do salão todos festejavam.

Castelli, todo molhado e machucado, abriu os olhos e viu o monge Bishesmun rezando baixinho de olhos fechados.

– Bishesmun? Bishesmun? – cochichou Castelli.

O monge abriu os olhos lentamente.

– O que é? – perguntou Bishesmun.

– O que será que vai acontecer com a gente?

Ambos olharam ao redor. Era triste ver aquela cena. Dezenas de soldados, monges e algumas mulheres amarrados em praça pública, machucados, chorando e rezando por uma salvação.

– Eu não sei, irmão. – respondeu o monge olhando para o o céu escuro e depois para as luzes que vinham do grande salão. – E eles comemoram com nossas fortunas. – ainda complementou Bishesmun.

A música nórdica aumentou o volume e ganhou as ruelas de Gudwangen. De relance, os cristãos conseguiam ver a festa que os vikings faziam comemorando a última vitória. Bishesmun teve a atenção redobrada ao ver Syggia se retirar do salão e parar olhando para o vilarejo, para a praça lotada de cristãos. Em seguida, Freya também saiu e parou ao seu lado.

– E então, Freya, filha de Edgemond…o que você quer de mim? – perguntou Syggia.

– Você não faz ideia, não é mesmo? – respondeu Freya com um sorriso no rosto.

– Escolha uma parte maior da fortuna. Eu digo ao Earl que é um presente meu pra você.

Freya não respondeu. Olhava abismada para a grande quantidade de cristãos adiante.

– E pode escolher quantos escravos quiser. – continuou Syggia apontando para as dezenas de pessoas amarradas em praça pública.

Freya virou-se de frente para Syggia.

– Sabe o que pode me fazer calar? – disse a escudeira loira indignada com a frieza de Syggia.

Syggia, fria e calculista, retirou uma adaga de dentro do agasalho e apontou próxima ao rosto de Freya.

– Talvez o frio da minha adaga possa te calar…posso fazer outra marca igual esta que você tem.

Freya não sentiu medo algum. Sorriu encarando o olhar sereno daquela mulher à sua frente.

– Você vai convencer Sigmund a nomear Thórin como novo Earl de Gudwangen…o quanto antes isso acontecer, melhor será pra você. – respondeu Freya.

Bishesmun fez sinal com a cabeça para Castelli ver a cena.

– As coisas por aqui não serão nada fáceis, irmão. – disse o monge assustado com o que via.

XII – O futuro tem sabor de hidromel

Amanheceu depressa e o céu estava completamente encoberto por nuvens. Aparentemente choveria e as águas geladas daquelas terras, não eram necessariamente, algo muito agradável. Freya abriu os olhos. Estava nua deitada sobre um longo agasalho de pêlo de urso em um galpão descoberto. Baixou o olhar e viu Thórin deitado com a cabeça sobre seu ventre, ainda dormindo. Ela podia ver as atrocidades que aquele ser já havia cometido. Sabia que poderia se banhar toda uma campina com a quantidade de sangue que ele já havia derramado. Podia-se construir palácios valiosos de gigantescas muralhas se empilhassem os ossos e fortunas de todos que já matou ou roubou. Mas apesar de tudo isso, ela o amava. Ele tinha algo de bom. Era bondoso em muitos momentos, um bom marido, um bom pai para a jovem Kaira. Ela alisou vagarosamente seus cabelos e sorriu.

– Porque tanto me olhas? – perguntou Thórin sem abrir os seus olhos.

– Porque achas que estou te olhando? – respondeu Freya.

– Porque posso sentir tua respiração. – respondeu Thórin abrindo os olhos e sentando ao lado da esposa.

– Thórin, eu sonhei denovo com meu pai e meu irmão no dia em que sacrificaram o corcel negro.

– Mais uma vez isso, meu bem! – diz Thórin se levantando e vestindo seus agasalhos.

Freya puxa parte do agasalho de pêlo de urso cobrindo-se.

– Mas…tem outra coisa que precisas saber. – diz Freya com a voz um pouco trêmula.

Thórin sabia que quando a voz da esposa tremendo a desta forma ela tinha algo de muito importante para falar. Se parou em frente ela esperando suas palavras. Freya levantou-se não se importando com o vento gelado que cortava o ar de Gudwangen. Ficou de pé, nua, próxima ao marido olhando bem dentro dos seus olhos.

– Você vai ser o novo Earl de Gudwangen, pode escrever. – disse ela.

– E de onde vem toda esta certeza? – disse Thórin enquanto colocava ambas as mãos sobre seus ombros alisando-os. – Andou consultando o oráculo mais uma vez? – ele complementou.

Freya gostava do jeito que o viking a tocava. Embora bruto, ela sentia-se acolhida e bem amada. Inclinou a cabeça para o lado sobre a mão de Thórin que alisava seu ombro.

– Não me pergunte porque eu sei disso. Só…acredite em mim. – Freya falou.

Thórin sorriu, pois no fundo do seu coração era o que ele mais desejava. Olhou em volta e juntou uma garrafa de bebida pela metade. Ergueu-a para o alto.

– Ao futuro então! – disse ele.

Freya tomou a garrafa de sua mão para si e bebeu um gole.

– Ao futuro que tem gosto de hidromel.

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