CENA 1. COLÉGIO DOM BOSCO. DIA
Hoje é mais um dia de aula no colégio Dom Bosco. A turma do 7º ano é bagunceira, sem dúvida. Bolas e aviões de papel no ar são rotina na sala de aula. Mas em dois horários por semana é diferente. Ninguém fala um ai na aula da professora Amanda. Não que ela seja uma megera. Pelo contrário! Seu jeito amoroso e dedicado de dar aula conquistou o coração de toda a turma e geografia logo se tornou a matéria preferida de todos.
AMANDA – Bom dia turma!
A turma toda assiste a aula como se tivesse passando uma temporada inédita de Stranger Things. O tema da aula de hoje era geopolítica. 50 deliciosos minutos depois a aula acaba. Na saída, Amanda toda estabanada com um monte de folhas se esbarra com outro professor. Os papéis de ambos caem todos no chão. Folhetinescamente, eles se abaixam para pegá-los.
AMANDA – Ai, meu Deus, foi tudo culpa minha, eu sou uma desastrada mesmo. (Olha para aquele par de olhos verdes e percebe que nunca os tinha visto antes). Você é novo aqui?
ROGÉRIO – Perdão por não me apresentar. Eu sou Rogério, o novo professor de Português. Acho que nos veremos muito ainda.
CENA 2. PISTA DE SKATE. DIA
Maurício é o típico filhinho de papai. Terminou o Ensino Médio e não quis saber de faculdade. “Estudar pra quê? Já tenho muito dinheiro pra gastar.” É o que sempre dizia pros amigos. Mas para afastar essa imagem clichê de riquinho almofadinha decidiu que agora é skatista. Passa as tardes na pista de skate e de vez em quando ainda dá uns tragos nas ervas dos novos amigos.
MAURÍCIO – Sabe, lá em casa tá um tédio ultimamente. Meu pai e minha mãe agora estão obcecados por essa droga de celularzinho novo. “Ai que esse smartphone tem que superar o iPhone”, “Ai que a Samsung tá copiando a gente”. Pro inferno tudo isso!
AMIGO – Você reclama de barriga cheia. Tem dinheiro e tudo e fica falando da vida.
MAURICIO – É porque você não convive lá em casa. Eu não aguento mais. Tô morrendo de vontade de fugir de casa e morar num acampamento. Sério.
O amigo revira os olhos.
CENA 3. BAR. DIA
Estamos agora num barzinho meia boca do subúrbio. Pela manhã finalmente acaba o expediente de Márcia e Antônio. O dono do bar, Seu Patrício, vai ao encontro deles fazer o pagamento.
ANTÔNIO – Mas só isso? É a metade do que combinamos!
MÁRCIA – Isso é um absurdo!
PATRÍCIO – Vocês espantaram meus clientes com essa musiquinha mequetrefe de vocês.
ANTÔNIO – Você respeite a gente, cabra.
PATRÍCIO – Respeitar? Até um gato arranhando um portão é melhor de ouvir do que vocês.
MÁRCIA – Eu nunca fui tão insultada em toda a minha vida. Vamos embora.
PATRÍCIO – E não voltem aqui nunca mais!
Na saída do bar.
MÁRCIA – Esse é o 15º bar que a gente passa e nenhum aceitou a gente por mais de uma noite. E agora?
ANTÔNIO – A gente procura outro, ué. Precisamos de grana. Como vamos sobreviver?
MÁRCIA – É isso aí! Não vamos desistir de nossos sonhos. Todo grande artista recebeu alguns nãos. Vamos conquistar carreira mundial, você vai ver.
ANTÔNIO – (desanimado, falando pra si mesmo) É, mas tenho certeza que nenhum deles foi comparado a um gato arranhando um portão.
CENA 4. PISTA DE SKATE. DIA
Salvador e Cebolão estão em um carro, ao lado da pista de skate.
CEBOLÃO – Olha lá. Aquele é o riquinho filho do Carlos e da Cristina. Temos que agir rápido.
SALVADOR – Já sei o que fazer.
Maurício se despede dos amigos e sai rumo a rua de trás da pista de skate, com muito cuidado para que ninguém o veja entrando em seu carrão.
SALVADOR – É agora!
Cebolão arranca o carro e para ao lado do carro de Maurício. Assustado, ele deixa as chaves caírem.
SALVADOR – (saca a arma) Perdeu!
MAURÍCIO – (começa a chorar) Por favor, não faça nada comigo. Pode levar meu carro, não me mate!
SALVADOR – Cala essa boca! Eu vou levar o seu carro e você! Entra aí! Agora!
CENA 5. ESCRITÓRIO DE CARLOS. DIA
No escritório da Lumus Tecnology, Carlos chega para trabalhar.
CARLOS – Bom dia.
RECEPCIONISTA – Seu Carlos, hoje tentaram invadir a empresa procurando o senhor.
CARLOS – Como é que é?
RECEPCIONISTA – Um louco chegou aqui tentando entrar aqui e falar com os donos da empresa. Ele até ofereceu dinheiro pra eu deixar ele entrar mas eu não aceitei porque sou muito honesta.
CARLOS – É mesmo? Deve ser um fanboy da concorrência querendo me atacar.
RECEPCIONISTA – Mas…
CARLOS – (corta) Não se preocupe. E passe lá no RH e diga que eu dobrei o seu salário.
Carlos entra no escritório com arrogância.
CARLOS – É cada uma que me aparece.
Quando se senta em sua cadeira, recebe ligação no seu celular. Número privado.
CARLOS – Número privado? Vou resolver isso com o gerente de tecnologia. Não gosto de não saber com quem estou falando. Alô?
Uma voz misteriosa está do outro lado da linha. Daquelas disfarçadas por computador.
VOZ – Eu sei de tudo! Você acha que pode enganar todo mundo, mas não pode! Eu sei de tudo!