CENA 1. CASA DE AMANDA. NOITE
Amanda está um turbilhão de emoções. Alegria, nervosismo, aquele friozinho na barriga e a expectativa de uma nova paixão. Mas estava completamente desesperada. Abriu seu guarda-roupa e percebeu que estava absolutamente sem roupa e não sabia o que vestir para a ocasião. Será que o Pollo Señor era muito chique? E se não soubesse como se portar? Se sentia uma pata choca nesse momento.
AMANDA – Chega. Vou ligar pro Rogério e acabar com essa palhaçada. O que ele viu em mim? Sou só uma professora sem graça com um passado obscuro.
Só de falar isso, Amanda sentiu um calafrio. Algo estava lhe dizendo que esse jantar reviveria todo o passado que ela relutava em esquecer e esconder. Nesse momento o seu celular toca. É Silvia, sua ex-amiga que hoje virou sua rival.
AMANDA – (irritada) Alô!
SILVIA – Então quer dizer que você gosta de comida mexicana, querida?
AMANDA – Você tá escutando conversa agora, sua cobra!
SILVIA – Por quê? Ninguém pode saber que você tá louca pra comer o taco do Rogério?
AMANDA – Mas você é baixa mesmo, hein! O que você quer? Roubar mais um namorado meu, é isso?
SILVIA – Então ele já é seu namorado? Querida, me desculpa se os homens preferem a mim do que uma sem sal que nem você.
AMANDA – Recalcada!
SILVIA – Estúpida!
AMANDA – Invejosa!
SILVIA – Pata choca!
AMANDA – Já chega! Eu tô sem tempo pro seu ciuminho, viu Silvia.
SILVIA – Tá bom, querida. Só te liguei pra você ficar esperta. Vai que alguns fantasmas do passado resolvem voltar. Isso não seria nada bom pra você, né? Tenha um ótimo jantar.
Silvia desliga na cara de Amanda. Se ela já estava apreensiva, agora estava quase entrando em colapso. Se arrependimento matasse, Amanda há muito não estaria mais aqui.
AMANDA – Maldito dia que eu fui confiar nessa cobra venenosa! Aaaaaaahhhhh (quebra um vaso que estava próximo).
CENA 2. ESCOLA. NOITE
ANTÔNIO – Eu não estou acreditando que você vai fazer a gente passar por isso.
MÁRCIA – Quer fazer o favor de colaborar? A gente tá na pindaíba. É o jeito mais fácil de arrumar grana.
ANTÔNIO – Mas e o outro jeito? A gente não precisa se sujeitar a isso.
MÁRCIA – O outro jeito vai demorar mais um pouco. Essa é uma situação emergencial. Já compreendeu o plano?
ANTÔNIO – Já.
MÁRCIA – Repete!
ANTÔNIO – Eu distraio e você passa a mão em tudo.
MÁRCIA – Perfeito! Pronto pra começar?
Eles estavam nesse momento atrás de uma cortina vestidos de palhaços. Márcia era boa de lábia. Conseguiu convencer a diretora da escola a fazer um show de palhaços de graça, contanto que fosse com os pais juntos.
DIRETORA – Vocês estão prontas, crianças?
As crianças gritam com aquela voz característica: que penetra até na alma.
DIRETORA – Então com vocês os palhaços Joinha e Jujubinha!
Márcia e Antônio entram no palco e ficam em silêncio por alguns segundos. Um silêncio constrangedor.
ANTÔNIO/JOINHA- Hum… é… bom dia criançada!
MÁRCIA/JUJUBINHA – Olha, Joinha, só tem criança bonita aqui hoje!
As crianças começam a vaiar o “espetáculo”.
CRIANÇA 1 – Eles são muito chatos! Faz alguma coisa!!!
MÁRCIA/JUJUBINHA – É… Faz alguma coisa, Joinha!
Antônio fica completamente sem reação. Faz um sinal de joinha e uma careta sem graça. As vaias aumentam e as crianças começam a jogar salgadinhos e nuggets neles.
MÁRCIA/JUJUBINHA – Ok… já chega… tá bom… JÁ CHEGA, SUAS PESTES ENCAPETADAS!!! (a diretora fuzila Márcia com o olhar) Tá bom. Vamos começar do começo. A gente queria fazer um show pra família. Então eu peço: pais, venham pra frente com seus filhos, vamos criar um clima aconchegante de lar. Por favor, venham.
As mães foram para frente, algumas deixaram a bolsa onde estavam. Enquanto as mães foram chegando, Antônio reconheceu uma como sendo uma ex-namorada sua. Não soube onde enfiar a cara. Queria fugir dali naquele momento, mas o plano tinha que continuar.
Agora tudo estava encaminhado. Mas como se trata de Márcia e Antônio, obviamente deu errado. Uma criança olhou para trás e viu Márcia roubando as bolsas.
CRIANÇA – Mamãããããããe. Olha lá! A Jujubinha tá pegando sua bolsa emprestada pra fazer o show, olha!
MÃE – Não, essa desgraçada tá roubando minha bolsa. Volta aqui!
Correr no meio da rua vestidos de palhaços não estava exatamente nos planos deles.
MÁRCIA – Chega! Não aguento mais isso!
CENA 3. ESCRITÓRIO DE CARLOS. NOITE
Carlos estava saindo do seu escritório em direção à sua casa para pegar o dinheiro do resgate quando o telefone toca.
CARLOS – O que é agora? Eu já estava de saída.
SECRETÁRIA – Desculpe, Seu Carlos, é que tem um senhor aqui querendo falar urgentemente com o senhor.
CARLOS – Diga a ele que tem que marcar hora.
SECRETÁRIA – Eu disse pra ele mas… espere, volte aqui, o senhor não pode entrar!
Mas ele já entrou.
CARLOS – Deixa comigo. Quem é o senhor?
ROBERT – (com sotaque americano) Olá, mr. Mendonça. Sou Robert Mason. O senhor não me conhece pessoalmente, mas sou diretor da divisão americana da Lumus.
Uma onda de raiva invadiu Carlos. As suas suspeitas se confirmaram. Robert estava materializado ali na sua frente. Ia tomar a empresa dele.
CARLOS – (parte pra cima dele) É você, não é? Você e aqueles canalhas americanos que estão me ameaçando! Querendo dar um golpe e tirar a empresa das minhas mãos!
ROBERT – Então tem alguém te ameaçando?
CARLOS – Não seja cínico! Eu sei que são vocês!
ROBERT – Isso só reforçar os motivos de eu estar aqui. Eu e os acionistas do América estamos estranhando os últimos balanços que recebemos. Estamos vendendo smartphones como água, como se diz aqui em Brasil, e mesmo assim estamos quase dando prejuízo. Não acha isso no mínimo curioso?
CARLOS – Não sei do que você está falando.
ROBERT – Oh! Agora quem está sendo cínica é você! Mas no interessa o que você diz. Eu estou aqui pra fazer uma auditoria nas contas da Lumus.
CARLOS – Veremos se você vai conseguir. Agora me dá licença que eu estou atrasado pra um compromisso.
ROBERT – Eu ainda não acabei, mr. Mendonça.
CARLOS – As paredes e a minha mesa terão o maior prazer em continuar ouvindo esse português sofrível seu. Bom papo.
E sai batendo a porta.
CENA 4. CASA DE AMANDA. NOITE
Às oito em ponto, Rogério está à porta da casa de Amanda. Como é de praxe, ela não está pronta. Na verdade, ela ainda nem tinha decidido qual vestido usar. Às 20h20, achando que seria feio se atrasar mais que isso no primeiro encontro, escolheu um vestido azul.
AMANDA – Nem muito chique nem muito simples. Perfeito! Por que não escolhi esse logo?
Quando chega ao carro, Rogério fica de boca aberta.
ROGÉRIO – Você é a mulher mais linda que eu já vi na vida.
Escondida atrás de uma árvore, Silvia se finge de enojada da situação.
SILVIA – Blé! Mas que cafona! E esse vestido? Deixou ela com 30 quilos a mais! Ai, meu Deus, eles já estão saindo! Preciso descobrir onde eles vão. Táxi! (entra no táxi) Segue aquele carro!
CENA 5. DENTRO DO TÁXI. NOITE
À medida que se aproximavam do restaurante, as suspeitas de Silvia se confirmavam. Ele estava levando Amanda ao melhor restaurante mexicano da cidade.
SILVIA – Eles vão ao Pollo Señor? O Rogério vai gastar essa fortuna com essazinha? Não acredito!
TAXISTA – Ele é seu marido, dona?
SILVIA – Ele não sabe disso, mas vai ser. Mas se preocupa em dirigir, tá bom?
CENA 6. POLLO SEÑOR. NOITE
Rogério e Amanda chegam ao restaurante.
MAÎTRE – Bem vindos ao Pollo Señor. A reserva é em nome de quem?
ROGÉRIO – Rogério Brandão.
MAÎTRE – Muito bem. Eu vou mostrar a mesa dos senhores. Acompanhem-me, por favor. (andando para a mesa) O Pollo Señor é considerado pelas revistas especializadas o melhor restaurante mexicano da cidade. Todos os nossos pratos têm ingredientes frescos e com qualidade atestada por fornecedores da cidade de Albuquerque, nos Estados Unidos. Bem, chegamos à mesa dos senhores, fiquem à vontade.
Mas Amanda parou de escutar o que o maître dizia quase no momento em que ele começou a falar. Quando adentrou ao restaurante, logo avistou alguém que não queria ver nunca mais. Sentado na direção oposta lá estava aqueles mesmos olhos frios, a mesma postura, lá estava Salvador. No instante em que ele pôs os olhos nela, pareceu que ambos levaram um choque.
ROGÉRIO – Amanda, você está bem?
AMANDA – (retorna à realidade) Oi? Estou, claro. (força um sorriso)
Do outro lado do estabelecimento, Salvador já estava inquieto.
SALVADOR – Cadê aquele desgraçado? Se ele não vier eu juro que mato ele e o filho dele.
Como se respondesse à sua ameaça, Carlos chega ao restaurante. Salvador esconde o rosto com o menú. Quando chega à mesa, Salvador descobre o rosto. Carlos entra em choque.
SALVADOR – Olá, Carlos. Feliz em me ver?