CENA 01/ HOTEL/ QUARTO/ INT./ NOITE

Laura está jogada na cama e falando ao telefone.

LAURA

— (ao tel.) Oi, é você?

VANESSA

— (ao tel.) E quem mais seria?

LAURA

— (ao tel./ sorri) Besta! Olha, péssima notícia, tua carteira ficou aqui.

VANESSA

— (ao tel.) Ué?!

LAURA

— (ao tel.) O que foi?

VANESSA

— (ao tel.) Tu não entendeu a jogada? Esqueci a carteira aí pra arranjar mais um motivo de ir te ver. E acho que deu certo.

LAURA

— (ao tel./ ri) Tu é podre, guria.

Elas riem. Partimos do diálogo das duas e vamos para casa de Vanessa e sua família.

CENA 02/ CASA DE SANDRA/ SALA/ INT./ NOITE

Vanessa está no sofá e continua ao telefone. Agora acompanhamos Sandra.

Sandra é uma senhora de cinquenta anos, uma mulher branca e que possui alguns cabelos grisalhos. Ela está trajada com um vestido florido e calçando um chinelo.

Sandra caminha para o quarto de seu marido, André.

André possui cinquenta e sete anos, também um homem branco e com alguns cabelos grisalhos. O seu quarto está equipado como se fosse um quarto de hospital, pois André se recupera das sequelas de um AVC que sofreu há dois anos.

SANDRA

— Precisa de alguma coisa?

ANDRÉ

— Agora não.

Ele está atento a TV, que fica pendurada em um suporte do lado oposto, em relação ao que ele está. Na TV está sendo transmitido um jogo de futebol.

SANDRA

— Uma sopinha, nem nada?

ANDRÉ

— (alterado) Caramba Sandra, você não está vendo que estou ocupado?! Quando eu quero alguma coisa você não fica nessa agonia.

SANDRA

— Tá bom, tá bom.

Voltamos à ligação.

LAURA

— (ao tel.) Nossa, que barulho foi esse?

VANESSA

— (ao tel.) Nada não, e você tem planos pra amanhã? Eu quero muito te encontrar.

CENA 03/ OURO PRETO/ VISÃO GERAL/ EXT./ DIA

Takes do amanhecer na cidade. Moradores saindo de suas casas, conversando nas ruas. 

CENA 04/ CASA DE LEONOR/ COZINHA/ INT./ DIA

Leonor está preparando seu café.

Leonor é uma senhora de cinquenta anos, possui pele clara e cabelos grisalhos. Ela está de roupão.  Leonor é tia de Laura.

LEONARDO

— (no ext.) Leonor?! Tá em casa?!

LEONOR

— (alto) Estou! Entra aí!

Leonardo entra.

Leonardo possui quarenta e oito anos de idade, possui pele clara e cabelos pretos tintados. Ele está trajado com uma camisa com mangas e uma bermuda. Leonardo é irmão de Leonor.

LEONOR

— Quanto tempo, hein.

LEONARDO

— A rotina tem me feito de escravo, me desculpa.

LEONOR

— Senta aí, rapaz e toma um café.

Ela se senta e o convida. Ele o faz.

LEONARDO

— Mas não posso demorar. Apenas vim saber da Laura…

LEONOR

— Falando nisso, liguei pra ela ontem e ela pediu pra lhe agradecer, agora não sei o motivo, ela disse que você sabe…

LEONARDO

— Ah, deve ser porque eu consegui o número do André pra ela.

LEONOR

— Quê?!

CENA 05/ CASA DE SANDRA/ COZINHA/ INT./ DIA

Vanessa toma suco. Sandra chega.

SANDRA

— Bom dia, filha.

Sem resposta.

SANDRA

— Bom dia, Vanessa.

VANESSA

— Bom dia! (baixo) Bom só pra você.

SANDRA

— Está vendo, é por isso que seu pai se estressa com você.

VANESSA

— A senhora precisa parar de tapar o sol com a peneira, isso sim, e aceitar os fatos. O papai só ficou assim comigo depois que me assumi lésbica e resolvi cortar meu cabelo, colocar meus piercings, etc e tal.

SANDRA

— O seu pai te ama, Vanessa, para com isso.

VANESSA

— Ama?! Se forçar mais, caga. Esse amor todo que ele tem, que nem pela senhora demonstra. Parece até que a senhora é paga pra servir ele. O papai precisa parar de ser mal agradecido!

SANDRA

— Para com isso, Vanessa!

VANESSA

— Digo mesmo, mãe. E o pior de tudo, ele não me aceita por ser lésbica e acaba tratando todo mundo como um lixo, a senhora não se lembra da enfermeira?

ANDRÉ

— (no quarto) Que barulheira é essa aí?!

CENA 06/ HOTEL/ QUARTO/ INT./ DIA

Laura está sentada na cama, enrolada entre os lençóis. Ela está vendo a foto de Vanessa no Whatsapp.

LAURA

— (em pensamento) Qual será tua ligação com aquele verme?

Ela bloqueia o telefone, joga longe e se joga na cama.

CENA 07 CASA DE LEONOR/ COZINHA/ INT./ DIA

Leonor está encostada na louça.

LEONOR

— Para qual finalidade a Laura iria querer o número do André?

LEONARDO

— Não sei, ela não me contou nada.

LEONOR

— Ela me falou que iria fazer um curso fora, me esqueci do nome da cidade…

LEONARDO

— Curso? Ela pegou o número comigo anteontem.

LEONOR

— Será que ela foi ver o André?

LEONARDO

— Mas, pra quê?! Acho que não existe uma justificativa pra isso acontecer.

LEONOR

— Eu também acho. Mas que essa história está mal contada, ela está.

CENA 08/ CASA DE SANDRA/ COZINHA/ INT./ DIA

Silêncio.

SANDRA

— (baixo) Deixa seu pai quieto, ele deve estar tendo uma daquelas crises dele.

VANESSA

— (alto/ responde André) Sou eu, por quê?! Qual a preocupação, velho?

ANDRÉ

— (no quarto) Cala a boca! Para de desobedecer a sua mãe, menina perversa!

Vanessa vai ao quarto. Sandra corre atrás na intenção de contê-la.

SANDRA

— Deixa seu pai em paz, Vanessa.

VANESSA

— Não mãe, eu estou cansada disso aqui, cansada de ter que aturar esse velho mal amado.

ANDRÉ

— Do que você me chamou?! Sorte a sua de eu estar aqui nessa cama, porque seu eu estivesse aí, lhe daria uma surra até você virar mulher de verdade, vê se eu criei filha pra virar homem!

VANESSA

— Me respeita, seu mal agradecido e pra sua informação eu continuo sendo mulher e mais humana que você. Eu tenho certeza que alguém ainda vai saber te colocar no devido lugar que você merece.

ANDRÉ

— Falando em devido lugar, saiba que o seu não é mais debaixo desse teto, arrume suas tralhas e caia fora daqui. (grita) SAI!

VANESSA

— (voz turva) Não se preocupa, seu lixo! Eu saio de peito erguido daqui!

Sandra olha a cena pasma.

FIM

A Widcyber está devidamente autorizada pelo autor(a) para publicar este conteúdo. Não copie ou distribua conteúdos originais sem obter os direitos, plágio é crime.

Pesquisa de satisfação: Nos ajude a entender como estamos nos saindo por aqui.

Leia mais Histórias

>
Rolar para o topo