“No 1º Interlúdio, Maya e seus amigos enfrentam o sobrenatural numa estranha plantação de milho. Eles descobrem que o mundo que habitam é repleto de armadilhas e perigos.  No capítulo de hoje, o feudo dos caçadores receberá a visita de um poderoso feudo de produção. Uma proposta de busca será feita para Paulo. Cabe a Maya decidir sobre aceitá-la ou não.”

 

II

Interlúdio

Um estranho pedido

 

Muitos tentaram tomar o trono de Paulo, acreditando que a perda da perna o deixaria mais fraco. Ledo engano. Meu irmão continuo tão bruto quanto uma rocha. Mesmo com limitações, lutava como um gigante, destruindo aqueles que tentavam colocá-lo à prova. Eu o protegi; Mike também. Jade manteve os portões fechado e o ritmo da caça continuou acelerado. Mesmo sobre o impacto da mudança, meu irmão manteve nosso feudo. Os acordos continuaram sob sua tutela, seguindo os preceitos de um suserano justo, mas impiedoso.

-Estão sendo atacados. – Disse quando recebi a notícia de que o feudo das terras do sul sofriam as investidas de uma das hordas de mutantes. – Seus portões são fracos, não vão resistir por muito tempo.

-Não temos como ajudá-los.  – Paulo não levantou os olhos para me encarar – Depois de terminado revire o feudo em busca de suprimentos. Precisamos de mantimentos para aguentar o calor infernal da primavera.

Não o questionei. Fiz o que me pediu. Eu sempre obedecia.

Numa manhã úmida recebemos visitas. Um rapaz em roupas do velho mundo trouxe uma mensagem para Paulo. Ele as leu, guardando-a no bolso. Durante todo o dia não disse uma só palavra sobre o que recebera naquela lasca de madeira (não tínhamos papel. Há muito ele deixou de existir). Também não perguntamos. Não tínhamos esse hábito. Havia muito trabalho e pouco tempo para fofocas. Se fosse importante, ele nos procuraria. Não havia segredos entre os caçadores. Os fardos eram divididos em tamanhos iguais. Cada um carregava o seu.

Três dias depois do mensageiro, nosso suserano pediu para que Jade acelerasse o Fusca. Eu e Mike fomos com eles. O feudo que procurávamos ficava do lado oposta a grande ferrovia, que em tempos de outrora, mantinha seus trens nos trilhos; mas que hoje encontrava-se abandonado e entrelaçados por mato alto e ferrugem. Antes do aumento no número de VM’s pessoas viviam em seus vagões. Hoje, apenas os fantasmas de um tempo esquecido. Eu estremeço todas às vezes que passo por essas bandas. Ouvir o ranger do vento nos trilhos me resseca as pregas.

Não foi diferente nesse dia quente de quinta-feira. O ranger dos trilhos continuava o mesmo, a sequidão também. Nada havia mudado desde minha última visita. O mundo que habito não é dada às mudanças.

Chegamos ao Feudo no final da manhã. Nos esperavam nos portões. Havia sorrisos no rosto daquela gente. Faz tempo que não vejo dentes nas bocas. Um dia atípico com certeza.

Um homem numa cadeira de rodas nos recebeu na varanda de uma das casas que um dia fora um condomínio. Ele tinha as mãos enfaixadas.

-Que bom que veio, Paulo. Isso quer dizer que pensou na minha proposta?

-Eu não sei o que dizer. Preciso ver para crer.

Ver o quê? Do que estavam falando? Me mantive quieta, no meu lugar.

O aleijado pediu para que seu mensageiro o levasse para os fundos do feudo. Seguimos o caminho de um trieiro, curiosos como um furão no porão de uma casa. O que vi me deixou de queixo caído. As plantações daquele feudo superavam as de todos que já vi. Havia tanta riqueza vinda da terra que fez Mike suspirar com seus olhos arregalados. Já Jade manteve os seus de jabuticaba presos na cara. Eu contive o entusiasmo. A troca não seria fácil. Mas nada no meu mundo é fácil. Nada.

Um banquete nos foi servido na hora do almoço. Comemos como cães selvagens (um alimento limpo, vindo da terra). O Suserano na cadeira de rodas esfregava suas mãos enfaixadas na mesa, como se eles coçassem desesperadamente. Desviei o olhar assim que ele percebeu que eu o observava. O homem sorriu com seus dentes perfeitos. Abaixei a cabeça enrubescida de vergonha. As coisas do meu mundo não precisavam ser explicadas ou entendidas. O fardo dos outros mantém as rodas da fortuna girando, como dizia meu pai.

Depois do alimento seguimos para uma sala de reunião (típicas dos condomínios fechados). Assim que entrei relembrei o cheiro da minha infância, da minha antiga casa, das coisas do meu pai. Paulo sentiu o mesmo (tenho certeza) e pelo tempo de uma piscadela fizemos silêncio. A maioria das pessoas da minha geração nunca viram algo parecido; um espaço comum e ao mesmo tempo tão incomum. Mike quis tocá-los, assim como Jade. O fizeram com delicadeza, deliciados pelo êxtase que o desconhecido provoca. O aleijado olhou para nós, depois para Paulo, como que lendo nossos pensamentos.

-Temos ou não um acordo?

-O que vai nos dar pela encomenda?

-Frutas, legumes, sementes e conhecimento.

-Isso é tão importante para você? O que me pede é algo tão singelo …

-E difícil de achar.

-Concordo. Só não sei se compensa tanto esforço.

-Os esforços são relativos, meu caro. O que te alimenta, não me satisfaz por completo.

Ele me entregou um pedaço de papel (meus olhos quase saltaram da órbita).

– Pago um preço justo.

Eu e Paulo sabíamos ler em Inglês, Mike e Jade não. Assenti com a cabeça. Paulo fez o mesmo. Olhei para o homem na cadeira de rodas. Ele coçava as mãos com impaciência.

-Sim, senhor. Nós temos um acordo. – Disse.

-Ótimo! – Novamente o sorriso perfeito – Tenho um lugar reservado para eles naquela estante.

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