“AMOR DE NETA”

CENA 01. CASA DE MEIRE. QUARTO. TARDE. INT.


Samuel está parado ao lado da mesa. Observa paralisado o estado de todos após o contato com a entidade ligada a ele. Meire para de orar, abraça o sobrinho.


MEIRE (preocupada)

Como você está, querido? Ele machucou você?


SAMUEL (confuso)

Quem? O que aconteceu aqui, tia?


BENJAMIN (tom alto)

Acho melhor contar a verdade. Você foi possuído por um demônio, Samuel. 


Pega sua esposa no colo, a coloca na cama de Meire. Se aproxima de Samuel, em seguida.


BENJAMIN

Ele conseguiu se apossar do seu corpo e está usando você para algum propósito.


SAMUEL

Demônio? Não. Isso não existe. (à Meire) Demônios não existem, não é tia?!


MEIRE

Existem, querido. Acredito que um demônio também tenha tentado possuir seu pai.


Samuel encara sua tia aterrorizado com o que acaba de ouvir.


SAMUEL 

Meu pai é louco! Ele não foi possuído por demônio algum.


MEIRE

Isso é o que as pessoas acreditam, querido. Mas, seu pai não é louco.


BENJAMIN

Escuta, Samuel. Esse demônio é muito forte. Ele deixou minha esposa em choque. Nunca a vi naquele estado. 


Meire repara em Elis, vai até ela.


BENJAMIN

Precisamos que você seja forte para que possamos expulsar essa entidade que está ligada a você.


Samuel recua lentamente com um semblante de pavor no rosto.


SAMUEL (apavorado)

Não. Não, não, isso não é verdade. Vocês que são os loucos aqui.


BENJAMIN

Você precisa acreditar, Samuel. O que acabamos de fazer foi um ritual de contato para falarmos com essa entidade. Ele possuiu o seu corpo e fez tudo isso.


Samuel olha para Elis desmaiada na cama.


BENJAMIN

Você é a chave principal para resolvermos esse caso. Precisamos que seja forte e que não surte, entendeu?


Samuel continua em silêncio. Olha para Benjamin e pela expressão séria em seu rosto, percebe que está falando a verdade. Saber que demônios existem e que um pode estar ligado a ele, só o deixa mais apavorado. Samuel sai correndo do quarto. Benjamin decide não ir atrás. Se aproxima de sua esposa, senta-se na cama, fica próximo do rosto de Elis. 


MEIRE

Melhor ir atrás dele, não acha?


BENJAMIN

Ele precisa de um tempo agora. Por favor, Elis. (segura a mão dela) Acorda, meu amor. Acorda, por favor.


CORTA PARA


CENA 02. RUA. TARDE. EXT.


Samuel anda pela rua, completamente desnorteado. Acabou de assimilar muita informação. Seu pai não é um louco, como as pessoas dizem. Um demônio está ligado ao seu corpo. Se questiona o que mais pode estar acontecendo e que ele não sabe.


CORTA PARA


CENA 03. CASA DE CÂNDIDA. SALA. NOITE. INT.


Berlina está na sala vendo TV, com um prato de macarrão quente sobre uma almofada em suas pernas. Cândida está ao lado, nitidamente fraca. Desde que chegaram do banco, ela não comeu e nem bebeu nada. Tenta criar força para erguer a mão, em direção ao prato de Berlina.


CÂNDIDA (fraca)

Co… co… mi… mi… da.


BERLINA 

Está com fome? (oferece o prato) Pena que eu não fiz pra você! 


Coloca o prato novamente sobre a almofada em suas pernas. Cândida continua com o dedo apontado para a comida. Segundos depois, Berlina sente um odor forte na sala.


BERLINA

Que cheiro é esse?


Sente o cheiro vindo de sua avó.


BERLINA

Ah, não. 


Se enoja, coloca a almofada com o prato ao lado. Se levanta e vai até ela.


BERLINA

Sua porca. Eu estou comendo. Não podia ter esperado pra mais tarde?


Cândida não liga para o que fez, a sua vontade é de comer. Continua apontando para o prato de sopa.


CÂNDIDA (fraca)

Fo… fo… me.


BERLINA (tom alto)

Eu já falei que você não vai comer hoje! Ficou surda foi? (segura forte o braço dela) Só por ter feito isso, vai dormir toda suja de merda também.


Solta o braço de Cândida com força, volta para o sofá. Pega o prato de sopa. Próximo a porta, a entidade observa as duas.


BERLINA

Fracamente, não sei mesmo por que ainda não internei você. 


Cândida continua apontando o dedo em direção ao prato. Uma lágrima escorre de seu rosto.


CÂNDIDA

Por… por… favor.


Berlina a observa, fica irritada. Se levanta, leva o prato quente até a mão da senhora e a queima. Cândida geme de dor, começa a chorar.


BERLINA (tom alto)

Será que pode calar essa boca, sua velha porca?! 


Tira o prato da mão de Cândida, volta para o sofá, coloca a almofada em suas pernas e o prato em cima. Cândida para de apontar o dedo. Encolhe sua mão em direção ao corpo, baixa a cabeça e chora baixinho.


CORTA PARA


CENA 04. CASA DE MEIRE. COZINHA. NOITE. INT.


Elis e Benjamin entram na cozinha. Apoiada nele, ela consegue sentar-se à mesa.


MEIRE

Que bom que acordou, Elis. Eu já estava preocupada.


BENJAMIN

Eu também. (senta ao lado) Como você está?


ELIS (fraca)

Eu…/


Se lembra do que sentiu hoje à tarde. A face do demônio vem em sua memória e isso a apavora novamente.


ELIS (abraça Benjamin)

Ele é horrível, Ben! 


BENJAMIN

Quem? O demônio? 


Meire coloca uma bandeja de chá na mesa, se senta e fica atenta a Elis.


ELIS

Os olhos vermelhos, o rosto, os chifres… ele é horrível! (a Meire) Seu sobrinho corre bastante perigo! 


Meira paralisa ao ouvir isso.


CORTA PARA


CENA 05. CASA DE CÂNDIDA. SALA. NOITE. INT.


Berlina termina de jantar. Coloca o prato na mesa e vê seu filme tampando o nariz com a gola de sua camisa. Ela não limpou sua avó e pretende deixá-la dormir daquele jeito. Cândida, de tão fraca, acaba adormecendo. A neta não dá nem a mínima para a postura errada que Cândida dorme na cadeira. A entidade caminha até ela, deixando que sua presença seja notada.


DEMÔNIO (aplaude)

Que boa neta você é!


Berlina se assusta com a voz, pula do sofá. Como a entidade ganhou a forma de Samuel, ela não fica tão assustada. 


BERLINA

Quem é você? Como entrou na minha casa?


DEMÔNIO

É assim que você trata a sua avó, depois de todos os cuidados que ela deu a você quando era criança?


BERLINA

E o que você tem a ver com isso? 


DEMÔNIO

Confesso que nada. Pra mim, torturar as pessoas é maravilhoso. (ri) Mas, só quando elas fazem por merecer. (sério) E até onde eu sei… sua avó não fez nada para você, pra ser tratada dessa maneira.


BERLINA

Quer saber de uma coisa? Eu vou chamar a polícia. Um estranho invade a minha casa e quer me dar lição de moral.


Pega seu celular e antes de discar algum número, a entidade faz um gesto com a mão e joga o aparelho contra a parede.


BERLINA (assustada)

Como você fez isso?


DEMÔNIO

Vocês são engraçados. (caminha pela sala) Quando pequenos, são tratados com todo amor e carinho e quando crescem se tornam seres podres. (aponta para Cândida) A palavra “família” não tem mais nenhum valor pra vocês?


Ele caminha um pouco pela sala, fica ao lado da cadeira de rodas de Cândida.


DEMÔNIO

Quantos idosos são agredidos ou abandonados por aí, pelos próprios familiares? O respeito acabou completamente entre vocês. (a Berlina) E eu estou aqui, para punir isso. 


BERLINA

Se afaste dela!


DEMÔNIO

Em breve, outros iguais a mim estarão por aí tirando o pecado desse planeta. A Terra voltará a ser nossa, como foi um dia. Até lá, estou aqui para fazer esse caminho. (se aproxima de Berlina) 


BERLINA (recua)

Não chegue perto, senão eu vou gritar.


DEMÔNIO (ri)

Eu gosto de gritos. Principalmente, aqueles provocados pela dor. 


Seus olhos brilham, Berlina e ele desaparecem.


CORTA PARA


CENA 06. CASA DE SAMUEL. QUARTO DE SAMUEL. NOITE. INT.


Samuel está deitado na cama, dorme. Chegou tão confuso, que nem viu a hora que pegou no sono. Embora acreditasse que teria um pouco de paz ao dormir, ele está tendo um pesadelo. 


SAMUEL (tom baixo)

Não. Não faz isso. (se mexe na cama) Socorro! Socorro! Não deixem ele me matar. Não deixem ele me matar. 


Desperta apavorado, se senta na cama. Está suado e ofegante. Olha para o espelho quebrado de seu guarda-roupa.


CORTA PARA


CENA 07. CASA DE MEIRE. COZINHA. NOITE. INT.


Elis continua abraçada com Benjamin. Ao ver o rosto de pavor nela, Meire paralisa.


MEIRE (preocupada)

O que esse demônio quer com o meu sobrinho?


ELIS

Eu não sei. Ele não me contou. Só que, enquanto eu vi, eu senti uma onda de ódio puro vindo dele e assim como senti também vindo de seu sobrinho. 


MEIRE

Ódio?


ELIS

Acredito que seja essa a ligação que mantém o demônio ao Samuel.


BENJAMIN

Se for o caso, precisamos encontrar uma forma de quebrar essa ligação.


ELIS

Precisamos tirar o ódio de seu sobrinho, antes que seja tarde demais. 


Fecha os olhos, recorda o que viu horas atrás.


CORTA PARA


CENA 08. LUGAR ESCURO. INT.


Elis está em pé em meio a um lugar completamente vazio e escuro. Olha para todos os lados, e embora apavorada, sabe que está sendo observada por alguém. Fecha os olhos por um breve momento, começa a ouvir gritos de pessoas pedindo socorro. Ao abrir novamente, vê a verdadeira face do demônio à sua frente. 


DEMÔNIO (voz demoníaca, sorri)

Vocês não vão conseguir salvá-lo. Samuel pertence a mim agora. 


Solta uma gargalhada, Elis grita de medo.


CORTA PARA


CENA 09. CASA DE MEIRE. COZINHA. NOITE. INT.


Elis abre seus olhos após reviver aquela cena novamente. É nítido o medo em seu rosto.


ELIS (apavorada)

Ele não é um demônio qualquer. (a Benjamin) Ele não é um demônio qualquer, Ben!


Benjamin observa a esposa, nunca a viu apavorada daquele jeito.


CORTA PARA


CENA 10. GALPÃO ABANDONADO. NOITE. INT.


Berlina está desacordada no chão em um lugar amplo e pouco vazio. O demônio está a poucos passos dela, a observa.


BERLINA (desperta)

Que lugar é esse?


Senta-se, esfrega os olhos. Ao abri-los, vê que não está em casa.


BERLINA (assustada)

Onde estou? (fica de pé) Como vim parar aqui?


DEMÔNIO

É aqui onde vamos brincar um pouquinho.


BERLINA

Como me trouxe pra cá? Eu quero ir pra casa agora. 


Caminha furiosa até ele, com a intenção de agredi-lo. A entidade faz um gesto com a mão e vira a perna esquerda dela para trás, quebrando-a. Ela cai no chão, grita de dor. Olha para a forma estranha que sua perna ficou. 


DEMÔNIO

Tá, quero ver o quão longe você consegue ir, com uma perna só.


A entidade caminha pelo amplo espaço, Berlina olha para ele assustada. Tenta mover sua perna, mas a dor que sente é angustiante. 


BERLINA (grita)

Socorro! Socorro, alguém me ajuda! 


DEMÔNIO

Isso, grita bem alto. Esse medo exalando de seu corpo me deixa vivo.


BERLINA (recua, assustada)

O que você é? O que você vai fazer comigo?


DEMÔNIO

A gente vai brincar um pouquinho. (se agacha) Eu vi o que você fez com o braço de sua avó. Vamos ver se você gosta disso? 


Com outro gesto, quebra o braço direito dela da mesma forma que quebrou a perna. Berlina grita de dor, completamente apavorada.


BERLINA (chora)

Por favor, por favor, por favor… me deixa ir. Eu prometo, eu vou cuidar bem da minha avó agora. Me deixa ir, por favor. 


DEMÔNIO

Vocês humanos só aceitam mudar, quando estão sofrendo ou quando perdem tudo. (fica em pé) Você deveria ter mudado antes, quando viu o estado que aquela senhora estava.


BERLINA (chora)

Por favor, moço. Eu prometo que vou mudar. Eu vou cuidar melhor da minha avó.


DEMÔNIO

Será que vai mesmo? (se aproxima) Vocês não são confiáveis. A própria história de vocês diz o quanto vocês são traiçoeiros. (se agacha) Não foi um humano que traiu o Salvador de vocês? Que o entregou à morte? (se levanta) Vocês não têm confiança nenhuma comigo. 


Faz outro gesto com a mão, quebra o braço esquerdo de Berlina. Ela deita no chão, aos gritos de dor. Observa seus dois braços quebrados. A entidade caminha ao redor dela, sente prazer em vê-la sofrer.


CORTA PARA


CENA 11. CASA DE MEIRE. COZINHA. NOITE. INT.


Meire está em pé, ao lado da geladeira. Tenta ligar para Samuel, mas ele não está atendendo. Elis toma um chá. Benjamin observa a esposa, que parece estar mais calma.


MEIRE (preocupada)

Ele não atende o telefone.


BENJAMIN

Se você quiser, podemos ir até a casa dele.


MEIRE

Não, melhor não. A mãe dele deve estar dormindo essa hora. Se chegarmos lá e contar tudo o que está acontecendo, é capaz dela nos chamar de loucos. (senta-se à mesa)


BENJAMIN

O rapaz precisa de um tempo. Eu vi o estado que ele saiu daqui. É um baque enorme descobrir o que ele descobriu.


MEIRE

Amanhã pela manhã vou tentar ligar pra ele novamente. (repara Elis em silêncio) Tudo bem, Elis?


ELIS

Precisamos encontrar uma forma de expulsar esse demônio daqui, Ben. Eu não sei dizer como, mas eu sinto que nesse exato momento, ele está ficando mais forte.


BENJAMIN

Nós vamos voltar para casa amanhã. Vamos investigar e vamos encontrar um jeito de expulsá-lo. Enquanto estivermos fora, precisamos ficar de olho em Samuel. (a Meire) Se possível, seria bom se ele viesse passar um tempo aqui com você. 


MEIRE

Vou convidá-lo a passar um tempo aqui comigo. Se não der certo, qualquer coisa vou para a casa dele.


BENJAMIN

Isso. Ele não pode ficar sozinho. O demônio pode fazer contato com ele novamente e obrigá-lo a algo terrível.


CORTA PARA


CENA 12. RODOVIÁRIA. NOITE. EXT.


Samuel está sentado em um banco na rodoviária. Completamente ansioso. Suas mãos e pernas não param de se mexer. A única solução que encontrou para tentar se livrar daquilo, é fugir. Fugir daquela cidade. Da sua casa. Da sua família. Fica atento a um ônibus, que parece ser o dele. Ao vê-lo se preparando para sair, se levanta e caminha até o veículo.


CORTA PARA


CENA 13. GALPÃO ABANDONADO. NOITE. INT.


Berlina continua no chão, com os braços e o pé esquerdo virados para trás. O demônio a observa sofrer de dor. 


DEMÔNIO

Há tantas formas de me divertir com vocês. O próximo da minha lista seria um falso pastor, que gosta de fingir ser um bom samaritano. Mas aí, senti a maldade vindo de seu coração e os atos que você faz com sua pobre vózinha, então decidi deixá-lo para depois. 


Berlina não dá a mínima para o que ela está falando. Olha para seus braços quebrados, chora de dor.


BERLINA (chora)

Por que está fazendo isso comigo? Por quê?


DEMÔNIO (irritado)

Não vou nem responder essa pergunta.


Caminha em direção a uma grande caldeira. Ele flutua e observa o seu interior. O líquido que preenche a caldeira está borbulhando de tão escaldante. A entidade sorri, desce ao chão novamente. Volta para perto de Berlina.


DEMÔNIO (sorri)

Seu banho está pronto. Vamos ver qual é a sensação de ser escaldado vivo? 


Berlina se apavora ao ouvir aquilo. Com os olhos brilhando, levanta o corpo de Berlina. Ambos flutuam em direção a caldeira.


DEMÔNIO

Olha só o que preparei para você.


Ao colocar Berlina acima da caldeira, ela entra em desespero ao ver aquele líquido borbulhando. Esperneia, grita desesperadamente.


BERLINA (grita)

Socorro! Socorro! Alguém me ajuda. Um louco quer me matar. Alguém me ajuda. Socorro! Socorro!


O rosto da entidade fica sério ao ouvir a palavra louco.


DEMÔNIO

O único ser louco aqui é você. 


Joga imediatamente o corpo de Berlina na caldeira. Ao entrar em contato com o líquido escaldante, ela grita em desespero. Seu corpo logo fica vermelho. 


Do alto, a entidade se diverte ao vê-la sofrer daquela forma. Outra transformação ocorre em seu corpo, dessa vez pequenos detalhes em volta do corpo. Em pouco tempo, Berlina para de se debater dentro da caldeira. Seu corpo flutua, seus olhos arregalados e sem vida focam no demônio.


DEMÔNIO

Isso nem se compara com o que você vai sentir no inferno. (sorri)


A entidade desce ao chão, caminha até a saída do local. Sente-se forte e com o seu objetivo cada vez mais perto.


CORTA PARA


CENA 14. CASA DE MEIRE. SALA. DIA. INT.


Benjamin e Elis estão em pé ao lado da porta. Se despedem de Meire.


ELIS (preocupada)

Assim que tiver com o Samuel nos avise, está bem?


MEIRE

Pode deixar. Obrigada, por terem vindo.


BENJAMIN

Quando encontrarmos uma resposta para expulsar esse ser da vida do seu sobrinho, entraremos em contato.


MEIRE

Tudo bem. 


Abre a porta, Benjamin e Elis vão embora. Ao fechar a porta, Meire caminha até o sofá. Pega seu celular e liga para Samuel. A ligação vai direto para a caixa postal. Isso a deixa preocupada. 


CORTA PARA


CENA 15. CASA DE SAMUEL. SALA. DIA. INT.


Meire está na sala, junto com Regina. Como não obteve contato com o sobrinho por telefone, decidiu procurá-lo pessoalmente.


REGINA

O Samuel tem agido muito estranho ultimamente.


MEIRE

É, eu sei. Ele me contou o que tem acontecido.


REGINA (receosa)

Ele não está ficando louco, igual o pai dele, está?


MEIRE

Meu irmão nunca esteve louco, Regina. Fico triste que você não confie nele. E seu filho também não está. O que eu posso dizer, é que nesse momento ele não pode ficar sozinho. Deixá-lo cercado de amor, de amigos, da família é essencial para a sua recuperação.


REGINA

Que amigos? Samuel não tem amigos. E o único parente que ele tem, sou eu. Tirando você, claro. Mas toda vez que tento conversar com ele, ele se altera e fica impossível de dialogar.


MEIRE

Onde está o Samuel? Eu gostaria de conversar com ele.


REGINA

Eu não sei. Fui hoje mais cedo acordá-lo no quarto, mas não o encontrei. O quarto estava completamente vazio. 


MEIRE (preocupada)

Você não tem ideia pra onde ele pode ter ido?


REGINA

Não. O Samuel não tem mais conversado comigo. Ele tem se distanciado de mim. 


MEIRE (desesperada)

Temos que encontrá-lo agora, Regina. Você não está entendendo, Samuel pode estar correndo risco de vida se não for encontrado.


Regina a observa, sente um aperto no peito. Segura o crucifixo em seu pescoço.


CORTA PARA


CENA 16. AVIÃO. DIA. INT.


Benjamin e Elis cochilam durante a viagem de volta para casa. A noite anterior foi tensa para ambos. Com a cabeça apoiada no ombro do esposo, Elis começa a ouvir gritos de pessoas pedindo socorro. Revira a cabeça de um lado para o outro. Esses movimentos despertam Benjamin. Os gritos ficam em silêncio, por um breve momento, Elis se acalma.


BENJAMIN (tom baixo)

Amor?


Elis continua de olhos fechados, em sua cabeça se ouve o choro de um bebê. Elis desperta e estranha de onde vem aquele choro. Repara o marido ao lado.


BENJAMIN

Outro pesadelo?


ELIS

Eu ouvi o choro de uma criança.


Elis se ajeita na poltrona. Ambos olham ao redor do avião, não veem nenhuma criança chorando. 


BENJAMIN

Não ouvi nada. 


ELIS

O choro não veio daqui!


Olha para a janela do avião, sente algo vindo lá fora.


ELIS (séria)

Ele veio de lá de fora. 


Sente um aperto no peito, uma angústia percorre seu corpo.


ELIS (angustiada)

Algo maligno está a caminho, Ben.


CORTA PARA


CENA 16. CASA DE MURILO. QUARTO. TARDE. INT.


Murilo organiza a bandeja que trouxe para Aline. Coloca ao lado, ajuda a esposa a se ajeitar na cama.


MURILO

Quer beber alguma coisa?


ALINE

Não, obrigada. Estamos bem. (acaricia a barriga) Mamãe precisa apenas descansar. 


MURILO

Está bem. Vou lavar essas coisas, qualquer coisa só gritar.


Pega a bandeja e sai do quarto. Aline acaricia sua barriga, com um breve sorriso no rosto. Da janela do quarto, a entidade observa a cena. Ele também sorri!

FIM DO EPISÓDIO.

 

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