Capítulo Nove – Promessa é dívida

Floresta na região de Alcatraz

O machado velho corta o ar de cima para baixo e cai dividindo ao meio um pedaço de tronco, fazendo alguns pássaros ao redor se assustarem e lançarem vôos rumo aos céus passando pelo topo das árvores. João Acácio limpa o suor da testa na manga da camisa flanelada. Ao seu lado uma pilha de lenha já cortada.

Rebeca aparece na porta da cabana usando uma calça jeans toda suja e rasgada e uma blusa velha também toda suja. Ela leva consigo uma garrafa térmica e uma xícara. João Acácio vê a menina se aproximando e joga o machado ao lado da pilha de lenhas.

João Acácio
– Já tomou o seu café?

Rebeca
– Sim. E trouxe o teu.

Rebeca serve na xícara o café da garrafa e entrega para o pai, que pega e se senta sobre um tronco.

João Acácio
– Senta aí então minha filha.

Rebeca larga a garrafa em um canto e se senta em outro tronco de árvore.

João Acácio
– Eu tenho uma coisa pra te contar…acho que já é hora…na verdade, se trata de uma busca e um serviço que teremos que fazer.

Rebeca
– Já disse que pode contar comigo. Que agora vou ficar aqui com o senhor.

João Acácio sorri, pois nem em seus mais delirantes sonhos, sonhou que seria chamado e tratado assim como a pequena Rebeca faz. Ele toma um gole do café.

João Acácio
– Um ótimo café. Parabéns.

Rebeca sorri.

Rebeca
– Obrigado. Na verdade sempre via minha m…

A menina pára de falar e baixa a cabeça.

Rebeca
– …sempre via Adilah fazendo o café e aprendi.

João Acácio
– Você não sente falta de viver com eles? Afinal lá você tinha tudo que precisava e queria. E aqui comigo, o que você tem? Nada…

Rebeca
– Não sinto falta. Não me sentia bem. Eles não são meus pais!

João Acácio toma mais um gole do seu café e Rebeca fica lhe olhando.

Rebeca
– O que tinha pra me contar? Quero fazer mais serviços daqueles…

João admira a menina à sua frente. Está se tornando uma ótima aprendiz. Dedicada, sagaz, esperta e o mais importante, segundo ele: tem sede de sangue, tem sede por matar.

João Acácio
– Você gostou?

Rebeca
– Sim. No começo tive medo. Mas…tudo mudou depois que matei o porco. Não senti pena. Se tu deixasse eu tinha aberto ele com a faca.

João Acácio
– Calma, calma. Uma coisa de cada vez…

João Acácio retira uma faca pequena que carrega consigo no bolso.

João Acácio
– Somos uma dupla agora. E podemos fazer o que quiser. Nossa lugar é na floresta. Nossa casa é a cabana. E ninguém vai ousar chegar aqui…e se chegar…

Rebeca
– A gente mostra quem manda aqui e manda a pessoa pro quinto dos infernos…

João Acácio, espantado com as palavras da menina, sorri satisfeito.

João Acácio
– Vou fazer nossas iniciais aqui e todo mundo que passar por aqui em anos vai saber que este lugar tem dono.

João Acácio crava a faca no tronco de uma árvore grande. Ele faz um J. e embaixo faz um R.

João Acácio
– Pronto! O lugar tem nossa marca.

Rebeca admira satisfeita.

João Acácio guarda a faca novamente no seu bolso. Toma mais um gole do café.

João Acácio
– Teu pai aqui esteve preso já…e não é que eu me orgulhe disso, mas lá eu aprendi muito…mas também sofri. E quem me colocou lá tem que pagar…

Rebeca
– Foi a polícia? Foi aquele policial que você matou na cabana?

João balança a cabeça negativamente.

João Acácio
– Quem me colocou lá foi a detetive Carmen Sanchez…já ouviu falar dela?

Rebeca olha pro alto pensativa.

Rebeca
– Meu p…

Ela pára de falar.

Rebeca
– Desculpa. O Olavo falava de uma Carmen sim. Deixa eu lembrar…

A menina pensa um pouco.

Rebeca
– Lembrei! Ele dizia que ela era uma ótima detetive. Acho que ele conhecia ela. Mas eu nunca vi.

João Acácio
– Ela me colocou na cadeia. E nunca deu uma chance de me defender…e, te digo, minha filha…foram anos difíceis.

Rebeca
– E agora…que tu vai fazer?

João Acácio
– O que nós vamos fazer…porque agora tenho alguém do meu lado. Tu vai me ajudar…

João balança a xícara de café.

Rebeca
– Mais café?

João Acácio
– Não…não precisa.

João toma um último gole daquela xícara de café.

João Acácio
– Eu prometi pra ela que eu ia atrás dela ou da família dela. Que ela ia pagar por me jogar atrás das grades…e acho que chegou a hora.

Dá pra se ver o brilho no olhar da pequena Rebeca. Em pouco tempo, João Acácio conseguiu transformar a cabecinha daquela menina. Conseguiu uma aliada que nunca vai lhe abandonar.

Há algum tempo atrás

João Acácio, com o rosto desfigurado de um lado, cabelos desgrenhados e barba por fazer, está atrás das grades de uma prisão com ambas as mãos agarradas nas mesmas.

João Acácio
– … será a vez da sua vida virar um inferno…

João Acácio começa à gargalhar assustadoramente até se sumir na penumbra da cela.

Floresta na região de Alcatraz – beira do rio

Já é quase meio dia. O sol ilumina a floresta e aquece as águas do rio que corta Alcatraz. Seu Olavo, nas suas vestimentas muçulmanas tradicionais, se agacha diante do rio e põe sua mão na água balançando suavemente de um lado para o outro, fazendo pequenas ondas se formarem.

Olavo
– Veja a calmaria destas águas Mohammed.

Seu amigo Mohammed Mc’Allister está ao seu lado, com as vestimentas muçulmanas e uma jaqueta preta de gola alta por cima. Ele olha a imensidão do rio adiante.

Mohammed
– Fazia tempo que não vinha aqui. Acho que a única vez foi quando você se mudou pra cá mesmo…ahhh, não. Vim uma outra vez, de passagem, lembra? Quando estava indo pra Buenos Aires fazer uma entrega.

Olavo se levanta ficando de pé ao lado do amigo.

Olavo
– Lembro sim.

Olavo olha pra Mohammed, põe a mão na cintura e sorri.

Olavo
– Como esquecer? Foi nesta passagem que me trouxe este brinquedinho automático aqui. Desde então, ele me acompanha em todos os lugares.

Mohammed
– Uma Browning Hi-Power semi – automática de ação simples. Calibre 9mm. 13 tiros no carregador, o dobro dos projetos mais contemporâneos…muito eficiente para o dia-a-dia.

Olavo sorri novamente.

Olavo
– Minha companheira inseparável.

Escuta-se o barulho do motor de um barco ao longe e se nota que as águas calmas começam à se agitarem. Mohammed fecha os olhos e suspira fundo e depois abre os olhos esfregando a mão uma na outra.

Mohammed
– Hora da entrega. Anos de serviços me ensinaram que precisamos ser práticos e rápidos nestas horas.

Ele olha para a floresta ao redor.

Mohammed
– Principalmente em um lugar destes. Esta floresta não me passa segurança.

A embarcação surge na curva do rio. É uma embarcação clandestina simples, que foi contratada por Mohammed para fazer a entrega das armas e bombas encomendadas por Olavo Azir.

Mohammed e Olavo ficam lado a lado de braços cruzados observando a embarcação se aproximar. Nota-se que a tripulação é composta de quatro homens mal encarados, que estão todos mal vestidos e sujos.

Olavo
– Confia neles?

Mohammed
– Sempre os contrato quando alguma mercadoria precisa passar pelo país. Conhecidos como os “Piratas das Armas”. Conhecem os atalhos como ninguém. Pra algo secreto, nada melhor do que eles.

O silêncio é totalmente quebrado pelo barulho do barco que chega na beira do rio. Mohammed se aproxima mais da embarcação.

Mohammed
– Comandante Philip…

Mohammed olha a hora.

Mohammed
– …sempre pontual.

Os dois se cumprimentam com um aperto de mão.

Mohammed
– Olavo Azir. Nosso cliente.

Olavo
– Bom dia comandante.

Comandante Philip
– Bom dia.

Mohammed
– Bom, honras feitas. Agora vamos ao trabalho.

O comandante Philip, na beirada do barco, encara a floresta.

Comandante Philip
– É seguro?

Mohammed
– Também desconfio. Mas fique tranquilo. Vamos ser rápidos.

O comandante Philip faz sinal para seus três homens desembarcarem as caixas com as mercadorias. Prontamente, eles atendem o pedido.

Olavo olha para a floresta e dá um leve assovio. Em questão de segundos, dois homens altos e fortes aparecem.

Olavo
– As caixas. Podem levar direto para o caminhão.

Os dois homens de Olavo recebem as caixas dos homens do comandante Philip. São caixas pequenas mas pesadas. Cada um deles passa por Olavo, Mohammed e Philip, carregando uma caixa. Adentram a floresta por um caminho de terra e somem de vista.

Comandante Philip
– Cinco caixas. Carregadas com armamento de primeira. Coquetéis, bombas, armas automáticas de pequeno porte, AK’s 47…tudo aí.

Mohammed olha para Olavo.

Mohammed
– Viu meu amigo? Tudo aí…

Olavo assente positivamente com a cabeça. Os seus homens de confiança retornam pelo caminho de terra para buscar as outras caixas.

O comandante Philip encara novamente aquela floresta ao redor. Se aproxima um pouco mais de Mohammed e de Olavo.

Comandante Philip
– Vocês sabem o porquê da minha preocupação com essa floresta?

Mohammed
– Fica tranquilo. Também me preocupo, mas o pior já passou. Tomamos cuidado.

Comandante Philip
– Te entendo parceiro. Mas tu não teve a irmã desaparecida nesta floresta…

Mohammed e Olavo olham espantados para Philip.

Comandante Philip
– Há pouco tempo atrás fizemos uma entrega de drogas aqui na região. Lorena veio comigo e, enquanto entregamos ela ficou na cidade com uma amiga…resolveram dar uma volta nesta maldita floresta…resumindo: sua amiga foi encontrada esquartejada e, minha irmã, nunca foi encontrada…

Olavo
– A polícia local sabe? Fez buscas?

Comandante Philip
– A polícia local, a polícia da capital…ninguém fez nada…

Olavo encara Mohammed.

Olavo
– Entende minha revolta, meu amigo?

Mohammed faz sinal de positivo. Os homens de Olavo retornam novamente e param um pouco mais atrás.

Comandante Philip
– Bom, acho que finalizamos por aqui.

Philip estende a mão se despedindo de Mohammed e depois de Olavo e segue de volta ao barco.

Mohammed
– O dinheiro estará na sua conta logo cedo, meu amigo.

O comandante Philip acena com a mão enquanto a embarcação começa se afastar pelas águas do rio.

Delegacia Regional de Alcatraz – sala restrita

A detetive Carmen Sanchez está sentada diante de uma mesa com uma grande quantidade de retratos espalhados sobre a mesma.

Carmen
– Droga. Nenhum sumiço bate com o que Arturo descreveu.

Ela fica olhando os vários retratos. Todos de pessoas desaparecidas na região nos últimos dois anos e meio.

Carmen bate o olho sobre uma fotografia em meio à tantas. Uma mulher loira, que as feições batem com as descrições que Arturo fez da cabeça encontrada na cabana. Ela pega a fotografia em mãos.

Carmen
– Só pode ser!

Carmen vira a foto. Atrás estão algumas informações sobre a mesma.

Carmen
– Lorena Arantes. 27 anos quando desapareceu. Um ano e meio do seu desaparecimento. Caso arquivado. Corpo nunca encontrado.

Carmen vira e olha a foto daquela mulher linda e cheio de vida, toda sorridente.

Carmen
– Droga! É ela!

Carmen pensa consigo mesma: “Arturo não estava inventando nada! Ele realmente viu a cabeça de uma mulher pendurada naquela cabana”. E agora as peças começam à se encaixarem. Carmen repara que aquela floresta esconde algo maligno. Que aquela cabana realmente existe. Que talvez o homem que ela prendeu em flagrante no passado pode estar mais perto do que ela pensa e que a pequena Rebeca pode ter sido vítima nesta história toda. Um filme passa na sua cabeça. Ela pega o telefone e disca.

Carmen
– Gaitán… Preciso falar contigo urgente.

Nova Delegacia de Alcatraz

O Maverick de Gaitán estaciona em frente ao pavilhão da delegacia. Gaitán desce do carro falando ao telefone. Ele usa uma calça social preta, camisa social branca e terno preto.

Gaitán
– Já estou chegando, detetive. Acabei de descer do carro.

Ele desliga o telefone e guarda-o no bolso da calça. Liga o alarme do carro e dirige-se às escadas que levam até a entrada da delegacia.

Um táxi freia bruscamente parando há alguns metros atrás do Maverick de Gaitán.

No interior do táxi estão o motorista, que é um senhor mais velho e Bia no banco de trás, visivelmente bêbada e drogada. Usa uma mini blusa preta com uma caveira toda, uma saia justa de couro, botas de cano alto e está com uma maquiagem pesada e toda borrada. Ela abre a bolsa e retira umas notas todas amassadas entregando-as ao motorista.

Bia
– Muito obrigada. O senhor foi um amor.

Bia sai do táxi, que logo dá a partida. Ela observa Gaitán já entrando na delegacia. Olha firme para a escada. Cabeça erguida. Ajeita a blusa, puxa a saia justa para baixo e vai na direção do seu objetivo.

Dentro da Delegacia

Gaitán cumprimenta os colegas policiais e segue reto para a sala onde está a detetive Carmen. Porém, à cada passo alguém lhe chama. O policial atendente no balcão de entrada atende o telefone que não parava de tocar, quando a jovem Bia entra chamando a atenção de todos. O policial atendente desliga o telefone quando ela se aproxima do balcão.

Policial Atendente
– Pois não moça…posso ajudar?

Bia se escora no balcão e se debruça sobre o mesmo, exibindo o seu decote.

Bia
– Olá seu policial…eu…

Ela está nitidamente com dificuldades na fala.

Bia
– …eu…preciso falar com uma pessoa.

Policial Atendente
– E quem seria esta pessoa, minha jovem?

Bia levanta o corpo. Esfrega os olhos, dá uma gargalhada e aponta na direção onde está Gaitán conversando com outro policial, e nem tinha notado a chegada e presença de Bia.

Bia
– Com aquele homem!

Os demais presentes olham para onde a jovem aponta. Gaitán se vira ao reconhecer aquela voz. Fica espantado com o estado crítico de Bia.

Gaitán
– Droga! Era só o que me faltava!

Bia
– Você mesmo…

Bia cambaleia e quase cai. É amparada por um outro policial que está passando pelo balcão.

Bia
– …DELEGADO Gaitán!

Bia vai na direção de Gaitán trocando os passos. Ele se antecipa e vai de encontro à jovem segurando-a pelo braço sob olhares espantados e curiosos de todos.

Gaitán
– Você enlouqueceu? Que tá fazendo aqui? Bêbada e drogada ainda por cima!

Bia tenta se desvencilhar de Gaitán, que a segura forte.

Bia
– Só porque agora é um delegado acha que pode me usar e depois sumir?

Bia não consegue se soltar. Ela ameaça dar um tapa em Gaitán, que segura sua mão. Ela sorri sarcasticamente.

Bia
– E que delegado policial forte, hummmm…

Gaitán encara os olhos vermelhos da jovem. Repara naquela maquiagem borrada. Claramente sabe que ela está transtornada, mas também sabe que por trás daquela faceta há uma pessoa boa, de bom coração, que não teve oportunidades nesta vida, ou simplesmente, não as viu passar.

Gaitán
– O que você usou, ein?

Bia aproxima o rosto do ouvido de Gaitán, que faz cara feia ao sentir o cheiro que exala da jovem.

Bia
– Talvez uma garrafa ou duas de whisky e um…pozinho do bom…

Bia afasta o rosto e sorri encarando a cara de espanto de Gaitán.

Bia
– Inclusive tenho um pouco aqui comigo na bolsa, você quer?

Gaitán aperta os braços da jovem.

Gaitán
– Tá louca?

Gaitán nota todos os demais olhando aquela cena.

Gaitán
– Não tem serviço o suficiente nesta espelunca? Todos ao trabalho já!

Os outros voltam aos seus afazeres disfarçando.

Gaitán
– Policial James?

Prontamente, James aparece na sua frente.

Gaitán
– Joga essa daqui numa cela. Vou falar com a detetive Carmen e depois resolvo isso.

O policial James retira suas algemas da cintura. Bia olha para Gaitán.

Bia
– Vai mandar me algemar, é isso mesmo delegado?

Gaitán fica pensativo por uns instantes.

Gaitán
– Não é necessário James. Só deixa ela lá dentro, por favor.

O policial James puxa Bia pelo braço levando-a para o corredor das celas. Ela ainda não se conforma com o que está acontecendo.

Bia
– Isso não vai ficar assim Gaitán!

Gaitán não dá atenção para as ameaças da jovem.

Gaitán
– Pronto! Acabou o espetáculo! Todo mundo de volta aos seus trabalhos!

Sala Restrita

Gaitán entra na sala. Carmen está de pé diante da mesa com ambas as mãos sobre a mesma, olhando o retrato daquela mulher. Ela ergue a cabeça para o colega.

Carmen
– Nossa! Não quis me meter, só espiei…quem era a moça?

Gaitán se aproxima da mesa.

Gaitán
– Uma louca, detetive. Uma louca. Mandei jogar numa cela, depois eu resolvo.

Carmen
– Tu precisa encontrar uma parceira decente Gaitán. Essas aí só vão te enlouquecer.

Gaitán
– Eu sei detetive, eu sei.

Carmen pega o retrato sobre a mesa.

Carmen
– E pra nos enlouquecer, já basta este nosso trabalho…veja isso aqui!

Ela mostra a foto para Gaitán.

Carmen
– Conhece? Lorena…

Gaitán pega o retrato da mão da detetive.

Gaitán
– Espera…este não é um dos retratos das pessoas desaparecidas?

Carmen
– Isso mesmo. Caso dado por encerrado. Corpo nunca encontrado.

Carmen se senta. Gaitán fica de pé lendo o verso do retrato.

Carmen
– Sobre o depoimento que te falei…ele me disse que a cabeça desta mulher encontra-se empalhada em uma cabana naquela maldita floresta!

Gaitán
– Que merda!

Ele larga o retrato sobre a mesa junto com vários outros.

Gaitán
– Bom…e o que você tá pensando, detetive?

Carmen se levanta inquieta.

Carmen
– Algo me diz que aquele desgraçado do João Acácio está metido nisso! E mais…

Ela vasculha os retratos. Encontra a foto de Rebeca.

Carmen
– E esta pequena aqui também tá envolvida.

Gaitán
– É só uma criança, detetive. Envolvida como?

Carmen faz sinal de não saber com o que está lidando. Dá de ombros. Se senta pensativa.

Carmen
– Não sei, Gaitán. É uma criança. Está desaparecida. Nós não temos pista. Aí quando surge uma informação destas eu penso mil coisas…

Gaitán pega a foto de Rebeca e olha com ternura. Afinal, é só uma criança inocente no seu ponto de vista. Larga o retrato na mesa, pega o da mulher loira, pega outros ali espalhados. Começa à juntar as peças do quebra-cabeça. Será que todos estes desaparecimentos de um ano e meio pra cá, não têm a mesma origem? Olha para o olhar pensativo da detetive. Suas ideias começam à se tornarem aliadas. Puxa a cadeira e senta na frente de Carmen.

Gaitán
– Acho que encontramos um ponto de partida, detetive Carmen.

Na Cela

O policial James se aproxima da cela onde deixou Bia, para averiguar se está tudo bem. A jovem está sentada em cima do colchão velho de palha naquela cama de pedra, escorada na parede abraçada às suas pernas. James bate suavemente com a chave no ferro da grade. Bia levanta a cabeça.

Policial James
– Tudo bem por aqui?

Bia sorri debochadamente. Se levanta sensualmente, puxa a saia para baixo e vai na direção da grade sob olhares curiosos do policial.

James se afasta um pouco da grade quando Bia chega e segura nos ferros com ambas as mãos, colocando seu rosto entre os ferros da grade.

Bia
– Como não estaria tudo bem, policial? Em um quarto cinco estrelas destes, sob cuidados de um policial igual você…

James fica sem reação olhando espantado para a jovem visivelmente alterada dentro da cela. Bia larga a grade e se afasta voltando para a cama de costas sensualizando enquanto começa à dar risadas da cara do policial.

Bia
– Ahhhhhh…

Sem cuidar, ela tropeça de costas na beirada da cama caindo sentada sobre a mesma.

Bia
– …e diz pro teu chefe que eu vou acabar com a vida dele quando eu sair desta pucilga aqui!

Mais tarde…

Um prisma preto passa na rodovia principal em alta velocidade e com o som ligado em volume alto. Dentro do veículo estão Jairo, dirigindo, e Carmen, sorridentes e felizes.

Carmen
– Adorei nosso jantar!

Jairo
– Eu te disse que era de um momento assim que precisávamos.

Jairo troca a marcha do carro, pisa fundo no acelerador. Carmen solta um grito de felicidade explanando sua adrenalina.

Na mesma rodovia, em sentido contrário, uma carreta de transportadora trafega também em velocidade acima do permitido. O motorista, um homem de meia idade, magro e com cabelos grisalhos, está caindo de sono. Ele boceja, esfrega os olhos, tenta se concentrar na estrada à sua frente. Horas de viagem, de um estado para o outro e com horário para entregar a mercadoria transportada, ele abre o porta-luvas e pega uma caixa de comprimidos que está ao lado de um revólver 38. Com uma mão no volante, ele retira dois comprimidos da caixa e os joga na boca engolindo à seco.

A estrada na frente do prisma preto que estão Jairo e Carmen, encontra-se vazia. Lá adiante uma curva convida para uma redução de velocidade, nitidamente ignorada por Jairo.

Há poucos metros da curva, Jairo avista a carreta vindo na pista contrária com os faróis altos.

Jairo
– Merda!

Jairo buzina. Segura com ambas as mãos no volante. Assusta-se. Pisa fundo no freio. Carmen segura-se com as duas mãos embaixo do banco. A buzina da carreta também soa forte.

Através dos olhos arregalados do motorista da carreta, o prisma preto de Jairo perde o controle e cai em um barranco no acostamento da rodovia. Silêncio absoluto e aquele carro capota diversas vezes até parar de ponta cabeça em um terrão lá embaixo.

O motorista da carreta, que tinha diminuído a velocidade e ameaçado parar, olha para a cabine do seu caminhão com garrafas de whisky pelo chão e comprimidos suspeitos espalhados, e acelera fugindo do local.

Terrão – Pavilhão abandonado

Jairo e Carmen estão desacordados debaixo das ferragens do carro capotado. Jairo abre os olhos e a primeira coisa que faz é olhar para o lado ver se está tudo bem com sua esposa. Ele sente uma ferroada na cabeça ao se virar. Põe a mão na nuca e nota que está sangrando. Faz cara de dor.

Jairo
– Droga!

Jairo estende o braço para alcançar Carmen e vê o mesmo todo arranhado.

Jairo
– Carmen…Carmen?

Carmen abre os olhos. Também está sangrando bastante. Há um corte grande na sua testa.

Jairo
– Consegue se mexer?

Carmen faz força.

Carmen
– Sim…acho que consigo sair.

Jairo olha para a perna presa entre ferros.

Jairo
– Eu não consigo. Você terá que sair, dar a volta e me tirar daqui…

Carmen faz mais força para se desvencilhar das ferragens amassadas. Está de ponta cabeça, tem muita dificuldade. Cai no chão do carro. O corpo todo dói. Ela empurra a porta tentando abri-la e os últimos pedaços de vidro da janela caem para fora.

Carmen
– Espera amor. Fica quieto aí.

Carmen grita fazendo mais força e a porta abre um pouco. Espaço suficiente para ela passar se espremendo e se arrastando para fora.

Do lado de fora das ferragens do carro, Carmen se levanta e nota sua roupa toda suja e rasgada. Olha para o barranco por onde o carro capotou, mal e mal consegue enxergar alguma coisa por causa da escuridão da noite. Sente uma leve tontura e põe a mão na testa sentindo que o sangue continua à escorrer. Olha para sua blusa rasgada e arranca um pedaço comprido. Amarra na cabeça para estancar o sangramento. Se apoiando no carro capotado, ela atravessa até o outro lado para ajudar o marido que está preso.

Ao chegar do outro lado do veículo, Carmen vê algo que ainda não tinha visto. Um grande pavilhão abandonado, todo sujo, pichado e com os vidros das janelas quebrados. Carmen se agacha próxima à porta do carro.

Carmen
– Eu vou te tirar daí…

Ela força a porta puxando-a e consegue arranca-la fora, pois com as batidas, as dobradiças acabaram cedendo.

Carmen
– Tá escuro… tá frio…tirar você daí…

Carmen puxa os dois ferros liberando a perna de Jairo que encontrava-se presa.

Carmen
– …e vamos ali pra aquele pavilhão.

Jairo se ajuda para sair do carro se arrastando. Carmen o ajuda à ficar de pé e os dois caminham com extrema dificuldade em direção ao pavilhão abandonado.

Nova Delegacia de Alcatraz

O policial James acompanha a jovem Bia até a porta de saída. Ele se inclina sobre o balcão de entrada e pega um envelope entregando-o para Bia.

Policial James
– Gaitán pediu para que lhe desse este dinheiro.

Bia sorri e pega o envelope.

Bia
– Filho da puta! Deixou dinheiro, mas não teve coragem de vir aqui me liberar.

O policial James abre a porta.

Policial James
– Está livre!

Bia atravessa a porta para o lado de fora e dá de cara com Olavo passando em frente à delegacia. Ela se vira para a porta onde o policial James está lhe observando.

Bia
– Teu chefe Gaitán é um desgraçado aproveitador! Avisa ele que não terá nunca mais este corpo aqui!

Bia desce as escadas se apoiando sob olhares curiosos de Olavo Azir.

Terrão – Pavilhão abandonado
Manhã

João Acácio e a pequena Rebeca chegam ao terrão por um caminho no meio da mata. Eles avistam aquele carro capotado e se aproximam para averiguar.

Rebeca
– Olha… será que tem alguém dentro?

A pequena e curiosa Rebeca corre na frente e começa espiar por todos os lados do veículo.

Rebeca
– Tem sangue por tudo…mas não tem ninguém aqui!

João Acácio aproxima-se em silêncio, observa o veículo, olha para o barranco com galhos quebrados e folhas amassadas, imaginando o trajeto feito por aquele carro barranco abaixo.

Rebeca
– Será que fugiram?

João Acácio olha para o chão, para um rastro de sangue que se estende até o pavilhão. Ele tira o facão pendurado às costas. Rebeca, vendo a cena, já segura firme o seu arco.

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  • Episódio tenso e cheio de expectativas para o grand finale. Espero que Carmen acabe com o João Acácio. Criei coragem pra ler. Não queria que acabasse, mas…

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