NAS PROFUNDEZAS DO MAR SEM FIM

Abro os olhos e de pronto me deparo com a luz do sol, ainda que um tanto pálida, começando a se espalhar no teto do meu quarto à medida que me espreguiço sobre o colchão, transformando lençol e edredom num verdadeiro ninho de gato.

Num esforço sobre-humano, como se estivesse me preparando para ajudar Atlas a carregar o peso do mundo, inclino a cabeça para o lado, na direção do criado mudo, e em seguida para a escrivaninha, que não fica muito distante da cama, e depois de volta para o criado mudo, até que, por fim, encontro meus óculos descansando, jogado em meio aos fones de ouvido, a uma caixa de lenço de papel quase vazia e a um pequeno relógio de mesa, azul, em formato de TV antiga, bem retrô, presente do meu pai quando completei dezesseis anos.

Não sei em quem o doutor Carlos Eduardo estava pensando quando decidiu comprar esse “mimo”, porém, com certeza, não foi na minha pessoa, o que não me surpreendeu no final das contas. Nós, Maria Clara, Filipa e eu, somos filhos de um pai apático, que sempre pareceu não se importar se morava ou não no mesmo apartamento. Um ser humano para quem tudo tanto faz, nunca participando de nada, não se envolvendo, inexpressivo, impossibilitando de todas as formas a criação de um vínculo de intimidade e afeto. Um homem extremamente dedicado à sua profissão, o que não deixa de ser louvável, mas ao mesmo tempo uma figura decorativa a quem aprendemos a chamar de pai.

Para mim, ser pai não tem nada a ver com trazer dinheiro para casa. Ao menos não deveria ser considerada a prioridade número um. E se for, a família vai acabar ficando para trás, pois o ser humano vai deixar de conhecer os próprios filhos, de passar momentos importantes com cada um deles, afinal de contas não deve ser impossível equilibrar a dedicação profissional com a dedicação à própria vida dentro do lar. Eu faria isso com um pé nas costas se tivesse filhos. Assumiria minha responsabilidade sobre a nova geração que estaria aos meus cuidados, até porque me preocuparia e muito com o legado que gostaria de deixar.

Será que o doutor Carlos Eduardo vive, de fato, uma realidade que gostaria, ou as circunstâncias o condenaram a uma existência que não é a sua, e agora não consegue mais se liberar da rede de obrigações na qual está envolvido?

No livro A morte de Ivan Ilitch, um dos tantos clássicos apresentados pelo ex-professor Jorge, que lecionava Língua Portuguesa e Literatura, Tolstoi narra a trajetória de um individuo que enquanto jovem nunca se preocupou em examinar a própria vida até que uma doença surge e o leva inesperadamente à morte, com apenas 45 anos. E, durante o seu martírio, vendo a aproximação do cessar de sua existência sobre a face da Terra, o que dói mais ao protagonista não é o sofrimento físico, mas sim a conclusão de que desconhecia a própria vida por tê-la condicionado às engrenagens conservadoras das regras sociais.

Mas por que mesmo estou divagando sobre a lacuna deixada pelo doutor Carlos Eduardo? Gastando massa encefálica tentando entender os motivos que o levaram a criar um abismo entre nós? Os motivos que o levaram a abraçar sua profissão de maneira tal que não deixasse espaço para acompanhar a evolução e o desenvolvimento da sua prole? Se eu descer por essa estrada vou acabar mergulhando nas profundezas de um mar sem fim e esbarrar também em dona Marcela e na sua misteriosa postura de cumplicidade ou omissão em relação a tudo isso.

Pensando bem, em essência, os dois não são tão incompatíveis assim.

Tiro os olhos de cima do pequeno relógio de mesa, não sem antes conferir as horas, 06h10min, e  em seguida apoio o corpo sobre o braço direito, me esticando apenas o necessário para alcançar os óculos, conseguindo, por fim, retirá-los do criado mudo, deixando incólumes, por incrível que pareça, todos os objetos ao seu redor, ao mesmo tempo que o encaixo sobre o rosto, libero o braço do peso do meu corpo e deixo a cabeça cair novamente sobre o travesseiro.

Não estou com um pingo de disposição e tão pouco coragem de enfrentar a tela do meu celular para constatar que o Matheus visualizou minha mensagem idiota e não retornou. Pondero enquanto fito o teto como se estivesse tentando, pela enésima vez, descobrir o sentido da minha existência até que sou vencido por um bocejo à medida que a sensação nefasta das poucas horas de sono desaba sobre mim.

Já estou me vendo pagando mico no ônibus do condomínio, apesar do curto trajeto até a escola. Vou transformar o meu casaco em travesseiro, a poltrona em cama, bater com a cabeça no vidro da janela, ou no encosto da poltrona, e me assustar. E como se não bastasse tudo isso, eu ainda vou precisar lidar com os risinhos dos outros, e por culpa de quem? Espero que o Matheus se esforce, e muito, para mudar seu status de “senhor desaparecido te despreza” para “estou de volta com o rabinho entre as pernas” e tenha o bom senso, claro, de me poupar de qualquer detalhe sórdido que possa ter vivido com a sua nova namoradinha…

Outro bocejo. Não quero imaginar como vou me sair na prova de História que vou encarar logo no primeiro tempo. Você estava certo Carlos Drummond de Andrade quando afirmou que nossos ombros suportam o mundo a despeito de não pesarem mais que a mão de uma criança.

Sem o mínimo sinal de pressa, viro o corpo para o lado, dobro as pernas e o impulsiono, com a ajuda das mãos, dos meus 639 músculos e dos meus 206 ossos, até conseguir ficar sentado, à beira da cama, olhando para o chão, ao tempo que respiro bem fundo, enchendo os pulmões de ar e deixando os ombros caírem enquanto meus pensamentos (e não poderia ser diferente) me remetem de volta a Matheus, desta feita mensurando a energia que venho gastando nas madrugadas insones nesse quase um ano de amor não correspondido.

Preciso reconhecer de uma vez por todas que estou utilizando mecanismos de defesa para gerenciar os conflitos da minha paixão platônica pelo meu melhor amigo. Não é a privação do sono nos dias seguintes a essas vigílias descabidas que está me deixando irritado, quase sempre com dores de cabeça e enxaquecas, interferindo na minha habilidade de processar novas informações. Minhas noites mal dormidas são, na verdade, consequências, não a origem do problema.

Devo admitir que venho me sentindo exausto e aborrecido por estar me esforçando para tentar encontrar alguma coisa, qualquer coisa que não me faça desistir de Matheus, do que sinto por ele, pois tenho medo, pavor, verdadeiro desespero de “abrir os olhos” e enxergar o quão vazio estarei ao constatar que amei em vão. Que meus sorrisos bobos, frouxos, o frio na barriga e os olhares discretos, se tornaram lugar comum dentro dessa minha jornada.

O amor até pode ser incompreensível, um tanto louco e sacana, mas não é opressivo, pois assim como desistir de tudo e sair pela porta da frente, ficar é uma grande escolha e nesse momento, para o bem ou para o mal, consciente ou não, optei investir nesse sonho impossível e tenho sim, que conviver com isso. Tem pessoas que são felizes amando o intangível, ora bolas. 

Olhando em perspectiva, acredito que minha vida amorosa, ou seja lá o que o destino estiver reservando para mim, não será muito diferente quando encontrar outros caras, ainda que tenha a sorte de ser correspondido.

Nossa! Eu não tô bem. Não tô dizendo coisa com coisa…

Apoio os cotovelos sobre os joelhos, e em seguida inclino a cabeça para baixo, até conseguir encostar as palmas das mãos nos extremos da minha testa, e daí fecho os olhos e sem qualquer indício de vergonha assumo a inveja que tenho das garotas que conseguiram se aproximar do Matheus e com ele compartilharam algum tipo de sentimento e experiência depois que ultrapassaram a leve sensação de que algo forte os ligava.

Seguindo nessa mesma vibe do puro despeito, acabo por concluir o quão prático seria o início do nosso namoro, pois não precisaríamos, nem eu e nem o Matheus, atravessar o exaustivo campo minado para conquistar o crush de vez, pois saltaríamos o velho ponto de partida, o de ir para uma baladinha para tentar conhecer alguém, depois o primeiro encontro em alguma praça de alimentação de algum shopping, a primeira ida ao cinema, depois outro encontro… E todo esse malabarismo cercado de grandes expectativas, de uma tensão desesperadora em tentar mostrar ao outro apenas nossas qualidades.

Numa sucessão de movimentos ininterruptos, abro os olhos, afasto a cabeça de entre as mãos e me atiro para trás, por cima do colchão, enquanto deixo os braços levantados para o alto e respiro fundo ao tempo que tento controlar meus batimentos cardíacos, observando as dimensões do meu quarto tomando forma sob a luz do sol que atravessa a janela.

Não há nada, ou melhor, quase nada que o Matheus não conheça a meu respeito e eu a respeito dele, então deixaríamos de lado o disse me disse e relaxaríamos, sendo nós mesmos, sem afetação, evitando o estresse desnecessário, pois já saberíamos o tipo de pessoa que teríamos à nossa frente, as reações de cada um, tornando tudo muito mais aprazível e confortável…

Chega! É isso mesmo? A manhã da ponderação?

Primeiro especulo a índole paterna do doutor Carlos Eduardo, depois faço um check list dos itens necessários, ou não, de um improvável namoro com o Matheus… Alguém pode me dizer por que estou aqui, refletindo sobre essa merda toda, como se não tivesse mais com o que me preocupar? Preciso tomar um banho antes de ir para a escola, principalmente depois da minha Aventura Da Madrugada, aliás, provavelmente terei de fazer essa samba canção que estou usando desaparecer do universo.

Baixo os braços e sem urgência termino de percorrer o teto com um olhar investigativo ao passo que começo a arquitetar um plano mirabolante para quando der de cara com o meu celular conseguir ignorar as mensagens no Whatsapp, nem que eu tenha que chegar ao extremo de desinstalar o aplicativo do telefone.

Enquanto sigo ouvindo o som do silêncio abismal perfazendo todo o ambiente, experimento uma sensação de vazio trespassando o meu coração, dores musculares irradiando pela região cervical e um medo irracional de estar perdendo alguma coisa inflamando o meu cérebro. Também no pacote, inseguranças e crenças negativas que teço sobre mim tomam proporções titânicas, não me permitindo qualquer outra reação a não ser engolir em seco e deixar meu corpo inteiro estremecer enquanto luto com a vontade recorrente de fugir, sair correndo sem destino, só parando quando estiver cansado e, se possível, distante de tudo o que eu conheço, distante até mesmo de você, Matheus…

É isso, já dizia Caio Fernando Abreu, o problema é a espera. Esperamos (demais) das pessoas, das coisas, dos fatos, de nós mesmos.

Salto da cama como se estivesse me preparando para levantar voo, e sem conseguir ficar parado inicio uma trajetória de passos largos, indo de um lado para outro do quarto, transpirando inquietação e angústia intensas até me sentir sufocado com o desespero que arranha minha garganta, quase me obrigando a gritar bem alto, como um lobo solitário, nas montanhas enegrecidas, debaixo da lua cheia.

Merda.

Imediatamente me viro e corro os olhos sobre a cama, buscando, claro, o celular, rezando para que minha mensagem não tenha sido lida, enquanto torço lá no fundo, bem lá no fundo, para que Matheus a tenha, sim, visualizado, e sim, me respondido.

Em um canto, sob o travesseiro, encontro o aparelho e tomado pela avidez o arranco do seu local de descanso e o trago até à frente do rosto, numa sucessão de movimentos arrebatados, quase o deixando cair, e infelizmente acabo por não me surpreender com o que me é apresentado: MENSAGEM VISUALIZADA E NÃO RESPONDIDA.

VE – A – DO!

Praguejo sobre a tela do aparelho como se o pobre coitado tivesse culpa de alguma coisa e sem demora o atiro de volta sobre o lençol, sobre o edredom, e daí eu continuo disparando trocentos palavrões até que minha ira se dispersa ao ouvir o toque do telefone, mas essa trégua zen não dura nada mais que milésimos de segundos, pois a música que está berrando anuncia ninguém menos que a insuportável da Brenda me aguardando do outro lado da linha, e é óbvio que não quero falar com ela.

Atender uma ligação da “Bellatrix Lestrange” é a última coisa que poderia me acontecer, ainda mais com o dia mal tendo começado, porém o meu anjo da guarda, que deve estar de saco cheio e doido para não se meter em mais uma confusão, me faz refletir, pesar os prós e os contras, convencendo-me a dar o braço a torcer, porque a insana da Brenda, como sempre, não vai desistir até ouvir o som da minha voz.

Resignado, mas não muito, respiro fundo, já me preparando psicologicamente para o que está por vir, enquanto inclino-me sobre a cama a fim de resgatar o famigerado telefone, trazendo-o para perto do ouvido tão logo termino de prometer que nunca mais comprarei qualquer outro livro até concluir a leitura de todos que tenho.

PS.: com a condição de que a Barbie fake esqueça que eu existo.

Não será uma meta fácil de alcançar, mas tudo nessa vida, devidamente motivado, se conquista.

– Oi – meu cumprimento é tão frio quanto um bloco de gelo indolente no meio do Alaska.

– Você está acordado, Kadu?

– Não, Brenda. Isso é uma gravação – respondo entre os dentes – O quê você acha?

– Precisava falar com você sobre o plano que consegui bolar para reconquistar o Matheus definitivamente – o entusiasmo na sua voz me deixa ainda mais irritado.

– Brenda, você me mandou um Whatsapp ontem no finalzinho da tarde sobre isso, não sei se consegue se lembrar… Mas deve ser por causa da hora, né? Ainda não são nem seis e meia da manhã… – arremesso sem me preocupar em estar sendo rude ao passo que visualizo os ponteiros do pequeno relógio de mesa sobre o criado mudo. 

– Sim, eu sei, mas é que eu não consegui pregar os olhos de tanta ansiedade. Quase liguei pra você no meio da madrugada…

Reviro os olhos, impaciente. Deus precisa me dar forças e para o meu anjo da guarda um ansiolítico bem forte.

– Brenda, seguindo as suas orientações… – meu tom de voz beira o inflexível – Eu irei encontrá-la no intervalo do segundo para o terceiro tempo, na saída do corredor para a sala de música, a fim de falarmos a respeito desse mais novo e mirabolante projeto para você ter o Matheus de volta, não é isso? Se considerarmos de antemão o perfil falível dos outros planos arquitetados nessas duas últimas semanas, é óbvio que este, que ainda não sei qual é, também irá por água abaixo, afinal, contra fatos não há argumentos, então que tal esquecermos tudo isso e voltarmos com as nossas vidas, nos ignorando pelos corredores do CGAM como…  

– Dessa vez não tem como dar errado Kadu… – ela me interrompe sem qualquer hesitação.

– Sei…

– É sério. Não tenho dúvidas de que o Matheus vai se roer de ciúmes ao nos ver juntos, depois de anunciarmos aos quatro ventos o nosso namoro…

– DEPOIS DO QUÊ?

– Eu e você seremos o mais novo casal do CGAM, Kadu. Uma jogada de mestre, fala a verdade. Nada menos que a Miley Cyrus e Liam Hemsworth…

– Eu compreendi direito, Brenda? – meneio a cabeça enquanto tento assimilar o que acabei de ouvir – Nosso namoro? Como assim “nosso namoro”?

– Que parte você não entendeu, lindo? Vamos fingir que somos namorados, ora essa – ela informa como se fosse a coisa mais natural do mundo.

– Do que você está falando, garota? É claro que eu não vou participar disso. Sem falar que o Matheus não vai acreditar nesse teatrinho e muito menos se importar…

– Isso é o que veremos!

Não tenho tempo de responder ou contra-atacar. A descontrolada desliga o telefone sem me dar essa chance.

Munido da incontestável estabilidade que define as três leis de Newton, decido que não vou ligar de volta e muito menos vou me permitir tomar parte dessa loucura. Era só o que me faltava. Até poucas semanas atrás essa arrogante, antipática, metida e intragável nem me olhava na cara e agora de uma hora para outra vamos ser namorados?

Não consigo conter um ricto nervoso de completa incredulidade que se forma no canto dos meus lábios…

Sem sombra de dúvida Brenda está consumindo algum tipo de droga pesada e ilícita, como aquele Chapeleiro, nos país das Maravilhas, e está perdendo o que resta do pouco da sua sanidade mental. Mas se ela está pensando que vou ficar batendo palma pra maluco dançar, está redondamente enganada. Como já havia decidido, ontem, enquanto congelava dentro do ônibus do condomínio, alguém precisa retomar o centro da razão e do amor próprio nessa história toda. Esse encontro, lá, na saída do corredor para a sala de músicas, vai feder.

Respiro fundo e buscando controlar o que resta das minhas emoções, saio do quarto, pé ante pé, pois não quero me aborrecer ainda mais se por acaso vier a me deparar com a estressada da dona Marcela ou então com a histérica da Filipa. Não sei, e nem quero saber, como terminou aquela ensandecida crise de ciúme de ontem à noite que minha irmãzinha decidiu ter, ou se minha mãe se deu por satisfeita com os argumentos da Patrícia Bismarck nesta reta final para o casamento da Maria Clara.

Como se já não bastassem minhas poucas horas de sono mal dormidas, o desprezo do Matheus e os desatinos da Brenda, eu ainda vou precisar lidar com os gritos e os chiliques destas duas primas donnas que perderam o controle de suas vidas e optaram por desabar suas frustrações pela busca da perfeição em cima das pessoas que, a priori, deveriam amar e respeitar acima de todas as coisas?

Never!

Nie.

Jamais.

Durante o curto trajeto pelo corredor, onde o banheiro me aguarda na outra extremidade, aliás, sempre que atravesso essa parte do apartamento não tenho como não me sentir num espaço onde está ocorrendo alguma exposição para qual não fui convidado, pois é incompreensível que um mero lugar de passagem para outros cômodos precise de tanta atenção a ponto de receber uma decoração com prateleiras, apoiadores, tapetes persas, murais com fotografias da família (aham) e uma iluminação diferenciada, volto a me questionar sobre um dos  grandes mistérios do universo que nunca serão revelados: um apartamento de “apenas” 700 metros quadrados e só eu não tenho um quarto com suíte?

*   *   *

De banho tomado, cheirosinho, com o humor um pouco renovado e já devidamente arrumado para ir ao colégio, hoje num estilo bem distante do “jeito Kadu de ser”, pois não me identifiquei com nenhum dos símbolos de super-heróis, filmes clássicos ou frases aleatórias, e tampouco com o xadrez e os losangos que tenho pendurado no guarda-roupa, saio do meu quarto vestindo uma calça jeans e camiseta branca t-shirt e calçando um tênis Converse All Star Jeans Cano Alto Azul. Mais básico, casual, impossível. O CGAM, em definitivo, não é uma passarela do São Paulo Fashion Week, e acima de qualquer coisa, preciso impressionar o Matheus + abastecer o meu tanque de autoestima.

Vou até a cozinha e saio de lá trazendo comigo um copo com leite e chocolate. Sônia ainda não chegou e o desjejum que ela prepara é o único que consigo digerir a essa hora da manhã. Não que eu tenha tantas alternativas ao meu dispor, até porque, e graças a todos os anjos do céu, não consigo imaginar dona Marcela ou a Filipa debruçadas sobre o balcão preparando o meu sagrado leite com chocolate, cereais ou iogurte com frutas, um bom pãozinho bem quente acompanhado de margarina, frios ou requeijão, além do suco de laranja com pedras de gelo transbordando…  Duvido se uma das duas conseguiria manter o equilíbrio após ser atingida com respingos de leite ou outra bebida qualquer. Seria, no mínimo, um prenúncio da terceira guerra mundial. 

Em contrapartida, Maria Clara já provou ter toda boa vontade do mundo em me atender neste quesito, mas lhe falta destreza, ou o dom, ou sabe-se lá o quê. Minha amada irmã reconhece, com toda humildade que lhe é peculiar, que ela e a cozinha, e tudo o que tem lá dentro, possuem uma relação nem um pouco amistosa.

Uma vez Maria Clara decidiu fazer um bolo especial para comemorar o meu aniversário de 13 ou 14 anos, não lembro exatamente, e seguiu toda a receita até chegar à fase final, despejando a massa dentro do liquidificador, orgulhosa pelo fato de até aquele momento ter conseguido manter distante qualquer indício de que o Armageddon entraria pela janela da nossa cozinha. Porém, depois que fechou o aparelho, não demorou a perceber que aquela tampinha que fica acima da tampa maior (que veda o liquidificador em definitivo) havia desaparecido, e mesmo ouvindo um barulho super estranho enquanto a massa do bolo ia e vinha, não se ligou que a pobre coitada estava sendo triturada. Quando foi colocar a massa na forma, percebeu vários pedaços de acrílico e se deu conta de que a tal tampinha (a grande vilã) tinha sido guardada, ou esquecida, ou a versão mais provável, se atirado dentro do liquidificador.

PS.: ela e o Gustavo já contrataram uma moça que a Sônia indicou para trabalhar no apartamento deles, depois do casamento. Aleluia!

Ao passo que caminho sem pressa pelo corredor em direção à sala de estar, uma curiosidade sem tamanho vai crescendo dentro de mim. Desde que sai do quarto para o banheiro e depois fiz o caminho de volta, apercebi o relativo silêncio que está pairando no ar, sem ninguém reclamando, gritando, nenhum showbiz acontecendo. Será que a paz universal alcançou este apartamento ou será que fui transportado para algum lugar no tempo e no espaço aonde o silêncio dos inocentes é a língua universal?

Dou de ombros e sigo meu trajeto e então, antes mesmo de atravessar a entrada da sala de estar, me deparo com Maria Clara acabando de se servir no minibar sobre o balcão de travertino integrado à lareira reformada.

Ainda que de perfil, é impossível não reconhecer a semelhança física que a aproxima de nossa mãe. E que a Filipa, pelos céus, não me ouça.

Se Maria Clara tivesse a mesma obsessão que a dela em querer ser a versão jovem de dona Marcela, teria a seu favor esse bônus, e com o rosto escondido atrás de quilos de maquiagem alcançaria esse objetivo sem muito esforço. Entretanto, com um grande e significativo diferencial: a impressão forte estampada nas linhas do seu semblante não traduz uma severidade extrema, um sinal de determinação de alguém que está inclinado em manter sua cabeça erguida. Ao contrário. Seu rosto quadrado, os olhos castanhos um pouco apertados, sobrepostos por sobrancelhas cujas partes internas acentuam-se ligeiramente para baixo, além de um nariz levemente arrebitado, um pescoço alongado e um queixo proeminente, não escondem a honestidade simples e a grandeza espiritual que carrega sem grandes alardes.

Maria Clara é daquelas pessoas que sempre busca sorrir, sem forçar a boca, interiorizando um sentimento de felicidade estampado com simplicidade em seu olhar, com o qual estabelece um contato visual que nos permite, em fração de segundos, identificar se a sua aproximação é uma ameaça ou se é útil para nossa sobrevivência.

Apesar dos 16 anos que separam nossas datas de nascimento, sempre tivemos uma conexão muito, muito legal. Possivelmente pelo fato dela ter ajudado Sônia na minha criação. As duas compartilham, dentro do meu coração, o lugar de “segundas mães”, e tenho orgulho de ser e me sentir protegido por cada uma delas… Talvez um dia tome coragem e lhes revele que sou gay, ainda que corra o risco de desapontá-las. Ainda que corra o risco de criar um abismo interligado por pontes extremamente fragilizadas.

– É isso mesmo? Faltam quatro dias para o grande evento e a noiva já está enchendo a cara? Meu Deus do céu, onde iremos parar? – brinco, ao mesmo tempo que me aproximo de minha irmã para lhe dar um beijo no rosto, porém sou obrigado a esperar que ela vire num só gole o que está em seu copo.

– Estou me abastecendo desde já.

Maria Clara responde sem suavidade até que, por fim, se volta na minha direção e me encara, firme, com os olhos tão fixos que não há como não me sentir petrificado a ponto de desistir do beijo que deveria lhe dar.

– E no mais, não quero ser eu, meu irmão, a estragar a gloriosa manhã de sábado meticulosamente planejada por nossa mãe – ela completa, arqueando uma das sobrancelhas enquanto um ricto nervoso de desdém surge no canto dos seus lábios.

Após alguns segundos de completo silêncio, soltamos os dois uma longa gargalhada. Uma pena Filipa nunca ter feito a mínima questão de participar desse ciclo maravilhoso da fraternidade consanguínea, da cumplicidade que une os irmãos, afinal, são eles, na prática, que nos ensinam a dinâmica complexa de viver em sociedade, dividindo, quase sempre na força, objetos e afetos, e quando os pais se vão, são os que nos mantém vinculado ao passado, ao nosso histórico, à essência de nossas vidas. E no caso dela e de Maria Clara, cuja diferença de idade é de tão somente sete anos, nada substituirá a experiência de praticamente terem crescidos juntas.

Acredito, de verdade, que Filipa deveria repensar seus valores, essa sua necessidade descabida de querer sempre se destacar, ser notada a todo tempo por dona Marcela e pelo doutor Carlos Eduardo. Eu e Maria Clara jamais nos “divorciaremos” dela. Mesmo diante da irritação contínua que provoca. Aos 26 anos de idade Filipa já deveria ter percebido isso, não? Só quero ver como será nosso convívio depois de sábado, quando Maria Clara for embora…

– O pai? Vai chegar a tempo para o casamento, não é? Está em Nova York, é isso? Não é tão longe assim… – pergunto simulando certo descaso e sem me preocupar em disfarçar o ar provocativo desse meu questionamento ao passo que termino o meu leite com chocolate e deposito o copo sobre a mesinha de apoio que fica ao lado do sofá não muito distante do minibar.

– Ele ligou agora de manhã. Vai pegar o voo de sexta à noite assim que terminar a última palestra do Congresso de Cardiologia, e a passagem, garantiu, já está comprada. Nosso pai, como sempre, se esforçando, não é mesmo? – o tom de voz usado por Maria Clara sugere conciliação e também uma senhora reprimenda. 

– Que assim seja… – disparo estampando um sorriso cínico na face – É impressão minha ou o apartamento está um silêncio… – emendo buscando urgentemente mudar de assunto.

– A Filipa saiu com a mamãe – Maria Clara, apontando o copo vazio na minha direção, não me deixa terminar – Foi ajudá-la a supervisionar os últimos preparativos para o sábado, lá no navio… É óbvio que não fiz qualquer objeção.

Sim. Nossa mãe decidiu deliberadamente que uma cerimônia para 300 convidados no MSC Divina, um dos transatlânticos mais caros do Brasil, seria o projeto mais que perfeito e à altura para recepcionar a cerimônia da filha de uma das socialites mais reconhecidas e badalas do mitie carioca…

– Como assim? – indago genuinamente surpreso, mas também um tanto irônico – Está falando da nossa irmãzinha egoísta e que está morrendo de inveja por que você está se casando e não ela? Se a Filipa não saiu daqui acorrentada, em que circunstâncias dona Marcela a convenceu em acompanhá-la justamente na supervisão dos preparativos finais desse casamento?

Rimos mais uma vez e outro instante de silêncio recai sobre nós dois.

– Você está bem, Maria Clara? Parece um pouco triste – pergunto, sentando-me no sofá.

– E por que não deveria estar? – ela devolve ao mesmo tempo que ensaia um sorriso.

– Eu já sei da resposta, mas não custa perguntar: não era você quem deveria estar ao lado da dona Marcela nesses momentos finais? Dando saltos de alegria e compartilhando toda a euforia e o estresse? Compensando, quem sabe, a distância que decidiu manter de tudo isso?

Maria Clara não se abala, e num gesto de total indiferença se vira para preparar mais uma bebida.

– Não me importo em ficar aqui, quietinha, e você bem sabe disso. Satisfaço-me em chegar no sábado, dizer sim pro padre, pro Guto, pros convidados, e todos ficarem felizes para sempre… Não é assim que deve ser? Não é assim que está planejado? E não será agora, nos quarenta e cinco minutos do segundo tempo que irei dar uma guinada de 180 graus…

Depois que termina de encher o seu copo, ela se volta e me oferece um pouco do que está lá dentro, o que recuso prontamente, apesar de me sentir bastante tentado.

-E ontem, aquele entre e sai de lojas e de selfies, me deixaram exausta. 

– Quem não te conhece e ouve você falando assim, do seu casamento, vai pensar que não faz a mínima questão de que ele aconteça… – insisto. 

Maria Clara entorna a bebida goela abaixo, de uma só vez, e em seguida coloca o copo pausadamente sobre o balcão de travertino e me fita com um meio sorriso no canto dos lábios, esforçando-se, decerto, em ocultar o incômodo que a minha observação lhe provocou.

– Kadu, meu irmão, não aja como a nossa mãe, insistindo no óbvio e ignorando os fatos. Você sabe que por mim toda essa história de comemoração de casamento nunca teria sequer começado, entretanto, já que chegamos até aqui e eu não tive forças ou coragem para decidir o contrário, vou seguir essa maré tentando não desapontar as pessoas que estão envolvidas… Pelo menos não muito… E antes que essa sua cabecinha trabalhe mais do que o necessário, não tem nada a ver com o Guto.

Ela mal termina de dizer suas palavras, diga-se de passagem, sem muita convicção, como sempre quando o assunto é a sua união com o Gustavo, e caminha até a janela, onde estaca, fixando o olhar à sua frente, me dando a impressão de que seus pensamentos estão vagando de modo aleatório diante do céu claro desta manhã de terça-feira.

– Aprenda que na vida fazemos ou abrimos mão de certas coisas pela felicidade da outra pessoa…

Novamente o silêncio domina a sala por um momento, contudo, um momento muito rápido, já que Maria Clara dessa vez não demora a se virar, dando as costas para a janela e em seguida se dirigindo até o sofá onde estou sentado, deixando-se cair ao meu lado; seu olhar, depositado sobre mim, mescla firmeza e ternura.

– Você está diferente, Kadu…

Sou medido de cima a baixo sem qualquer cerimônia.

– Algum evento depois da aula? Um encontro, talvez?

O tom de voz provocador e o olhar sagaz de Maria Clara me desarmam por completo, não me dando alternativa a não ser fazer uso das minhas habilidades cênicas, ou seja, nenhuma, e então  lhe devolvo apenas um sorriso forçado.

– Pelo jeito não sou só eu que estou um pouco triste, não é mesmo? Você está bem meu irmão? Como está o Matheus? Já faz uns dias que não os vejo juntos andando pelo condomínio…

“Como está o Matheus?”.

Um vulcão silencioso implode dentro de mim diante deste questionamento carregado de ambiguidade e cautela. O que Maria Clara exatamente quer saber com essa pergunta?

Eu me retraio.

Em que instante, desde que entrei nesta sala, deixei transparecer o tsunami de emoções que está acontecendo dentro de mim? Não é a primeira vez que tenho a impressão de que Maria Clara desconfia de alguma coisa, de que está prestes a questionar o que não vou querer responder.  

Tento desconversar, mas ela insiste na mesma pergunta. Desvio, então, meu olhar para as garrafas no minibar e para apaziguar sua sensibilidade, ou seu sexto sentido, que sempre parecem estar aguçadíssimos quando o assunto é o meu estado de espírito, volto a fitá-la enquanto esboço uma explicação que, de certa forma, possuí uma meia verdade: estou um pouco confuso com a minha vida, com a escola, com os meus dias e a minha A-MI-ZA-DE com o Matheus está indo muito bem, obrigado!

Em seguida arremato, alegando estar atravessando uma fase naturalmente conturbada, a ansiedade pela vida adulta que está apontando na minha frente, conflitos e dúvidas de praxe na adolescência, blá-blá-blá…

– Meu irmão… – Maria Clara segura o meu queixo com extrema delicadeza forçando o encontro de nossos olhos – Ser feliz é algo muito fácil de realizar, desde que consiga acertar com as suas setas no alvo e saiba quais são as suas prioridades para que isso possa acontecer. Não se culpe por nada e nem tente carregar um fardo que não é seu.

Por alguns segundos tenho a impressão de ter parado de respirar e Maria Clara percebe o meu incômodo e daí solta o meu queixo e se levanta, indo novamente para o bar ao mesmo tempo que sorrio um sorriso sem graça.

Posso estar sendo paranoico, mas acho que minha irmã, sem sombra de dúvida, está querendo me dizer alguma coisa e está faltando muito pouco para que isso aconteça. Será que ela está desconfiada de que sou gay? Pior! Será que ela sabe sobre o que sinto pelo Matheus e está esperando o momento certo para me perguntar? Ela não tem esse direito!

Merda. Merda e merda.

Não. Eu não posso ter deixado brecha, tenho certeza de que não deixei… Maria Clara está estressada, exaurida com a aproximação do seu casamento, é isso, pronto. Não restam dúvidas: o estresse causado pela aproximação do seu casamento.

O celular de Maria Clara começa a tocar e de pronto ela o atende. Aproveito para deixar o ar retesado em meu peito escapar pela boca, aliviando-me enquanto não demoro a descobrir que é o seu noivo do outro lado da linha informando que está na portaria lhe esperando. Minha irmã, evidentemente, sugere que ele suba, mas pela cara que faz após ouvir sua resposta, deduzo que Gustavo deva ter deixado claro de que não irá sair de onde está em hipótese alguma.

-Está tudo bem, Guto? – Maria Clara pergunta ao passo que se afasta do bar.

Faço sinal para tentar saber o que está acontecendo enquanto aponto para o pulso, sugerindo que é um tanto cedo demais para alguém (mesmo um noivo, quase marido) chegar na casa de outra pessoa. Porém, Maria Clara dá de ombros, como se não estivesse também entendendo nada. Por fim ela troca mais meia dúzia de palavras com Gustavo e então desliga o telefone. Seu semblante está tomado de ansiedade.

– Quem sabe ele não quer te fazer uma surpresa? – tento amenizar.

– Conheço o Guto muito bem… – ela afirma ao tempo que caminha na direção do corredor em L que antecede o hall de entrada do apartamento – Surpresa realmente não é o seu forte. Mas vou lá. Não adianta ficar aqui especulando…

Maria Clara desaparece do meu raio de visão e logo depois ouço a porta do apartamento bater e mal tenho tempo para refletir o quão somos extremamente semelhantes em relação à coragem para encarar nossas vidas, pois acabo por prestar atenção em uma música que está tocando ao longe e que em questão de segundos acabo por reconhecer: é Young Folks, do Peter Bjorn And John, a canção que define o toque das ligações de Matheus.

Não posso acreditar!

Alço voo do sofá e corro na direção do meu quarto e de tão afobado que estou acabo escorregando num dos tapetes persas que fica no corredor e caio com os dois joelhos no chão e por pouco meus óculos não chegam antes de mim.

Merda! Não vou desistir.

Com uma dor filha da puta, sustento todo o peso do meu corpo sobre um dos apoiadores e consigo me levantar, feliz, porque o celular ainda está tocando, graças a Deus.

Ainda que precisasse me arrastar, não deixaria Matheus pensar que eu não quero falar com ele.

Praticamente na velocidade da luz, cruzo a ombreira da porta e estaciono alguns passos logo adiante e começo a vasculhar com um olhar investigativo todo o quarto, caçando, tomado por um frenesi sem igual, o miserável do meu telefone, que, graças a Deus, acabo encontrando, abandonado num canto da cama, perto da cabeceira.

Ato contínuo, pouco importando se me vou estabacar outra vez no chão, mergulho sobre o edredom e por sorte eu consigo cair sobre o colchão, sem risco de vida. Ofegante, atendo o celular.

– Tava correndo, Kadu?

– Eu? Imagina – como é bom começar o dia ouvindo a voz da razão do meu afeto, penso comigo, inebriado – Estava indo para o banho quando você ligou.

– Escuta, Kadu – Matheus dispara seco – Me encontra na frente do colégio meia hora antes da entrada, ok?

– Tá tudo bem?

– Não – ele responde taxativo.

– O que houve?…

Nem tenho tempo de terminar a pergunta, pois Matheus já desligou o telefone. Não importa. Ele deu sinal de vida…

YES!

Young Folks Peter Bjorn And John 

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    • Marcelo, muito obrigado. Um elogio vindo de você, autor de “O Leão”, web novela mais que renomada, é um grande presente..

      Forte abraço.

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  • Acabei de encontrar com o Kadu e ele tava todo envergonhado! Mais um episódio angustiante na cabeça do Kadu.

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  • Eiittaaa… Kadu meu fio, quanta energia presa por causa do Matheus. rs Mas não sinta culpa, culpe os hormônios, malditos ou benditos hormônios D:

    Arrasou Fran, mais um capitulo daqueles de tirar o fôlego rs

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