A Raposa
Fragmentos de memórias começam a ser mostradas. Essas memórias são de Susana… Em uma dessas lembranças aparece Miguel ainda criança brincando de bola na varanda e indo na direção de sua mãe abraçando-a.
Outra lembrança mostra Susana ao telefone recebendo a triste notícia que seu marido havia falecido, ela solta o telefone e desmorona em lágrimas.
Em outra recordação vemos Susana e Miguel, com aparentemente 10 anos de idade no enterro de seu pai, pessoas em um luto inquestionável estão ali presentes. Alexandra também se encontra no enterro, Miguel segura uma rosa e a coloca no jazigo.
Alexandra leva Miguel dali e deixa Susana sozinha. Ela fica durante algum tempo olhando para o túmulo do marido e depois ela se ajoelha e se derrama em lágrimas.
Em outra lembrança, vemos uma noite tempestuosa e Miguel entra no quarto de sua mãe alegando estar com medo. Ela o abraça e diz a ele que nada de mal vai lhe acontecer.
Ao tentar dormir, ela começa a ouvir uma voz de dentro de sua cabeça:
— Susana! Susana!
Ao sair do momento de transe, a voz quem chamava por Susana era de Eduardo.
— Susana!
Ela impactada olha para ele e pergunta:
— O que… O que foi?
— Não é o Miguel, esse é outro cara.
Ela olha novamente para a maca.
— Eu, eu pensei que…
— …O Miguel está sendo levado numa maca para ambulância. Ele foi baleado, mas está vivo.
Era uma alucinação de Susana, ela estava tão aflita pelo filho que quando puxou o plástico só conseguiu imaginar o pior, a mente e suas armadilhas cruéis.
— Onde ele tá? Onde ele tá, Eduardo?
— Ali está ele.
Susana avista Miguel sendo levado até uma ambulância, ele permanece inconsciente.
— Miguel! Meu filho!
Os paramédicos pedem para que Susana se acalme.
— Por favor, senhora, não complique as coisas. Vamos levá-lo ao hospital, ele foi baleado e precisa ser operado urgente.
— Façam o que for preciso pra salvarem meu filho. Por favor… Ele é tudo o que eu tenho.
— Sim, Senhora!
Eduardo se aproxima de Susana e tenta consolá-la.
— Calma, Susana, vai ficar tudo bem. Eu prometo.
Susana chora inconsolavelmente enquanto abraça Eduardo.
Algumas horas se passaram, os médicos estão correndo contra o tempo para salvar Miguel.
Ele já se encontra na sala de cirurgia e os médicos fazem o possível e o impossível para salvá-lo. Na sala de espera está Susana, Eduardo, André e Luíza. Cada um deles se segurando para não desabarem, pois a situação de Miguel é muito séria.
Na sala de cirurgia o clima esquenta e Miguel sofre uma parada cardíaca.
— Droga! Rápido! Desfibrilador.
A enfermeira passa o desfibrilador para o cirurgião.
— Afaste-se!
O cirurgião aplica a primeira carga em Miguel e nada adianta.
— Droga! Ele não tá reagindo, vamos tentar de novo!
Na sala de espera, André começa a chorar pra Luíza.
— Lú, eu não quero que o nosso amigo morra que nem aconteceu com a Victoria. Por favor, eu não quero, eu não vou aguentar isso.
— Não, André! O Miguel é forte, ele vai sair dessa.
Na sala de cirurgia segue o paradigma, e as chances estão se esgotando.
— A gente não pode deixar esse rapaz morrer.
Outro médico ressalta:
— Doutor, nós estamos perdendo ele!
— Força, garoto!
Na sala de espera, Susana está encostada na parede se tremendo. Eduardo se aproxima dela.
— Susana.
— Eduardo, por que isso tá acontecendo com minha vida e com minha família? Já faz 11 anos que eu perdi meu marido, a Victoria morreu e agora eu vou perder meu único filho. Eu, eu estou desabando aqui, se ele morrer eu juro que morro junto.
— Susana, escute! O Miguel é forte, você também é! Ele não pode morrer sem que a justiça seja feita. Prometemos descobrir quem foi o desgraçado que tirou a vida da Victoria e de todos vocês. Tenha fé, Susana! O Miguel não pode nos deixar agora.
Na sala de cirurgia continua o dilema e o cirurgião tenta usar o desfibrilador pela última vez. Ele aplica a carga e depois opta por realizar uma massagem cardíaca.
Todos os sinais vitais caíram e o aparelho começa a apitar e nenhum batimento cardíaco se ouvia mais.
Os médicos olham para o visor e percebem que já era tarde demais.
— Nós… Nós o perdemos.
— Sinto muito, Doutor. O senhor fez o que estava ao teu alcance.
— Sim, eu… Hora da morte: 22h25.
— Quer que eu avise à família?
— Sim… Pode avisar. Pobre rapaz, tão jovem e com certeza com um futuro brilhante pela frente. Morrer assim? É realmente uma pena.
Os médicos vão abandonando a sala um por um deixando o cirurgião sozinho.
A médica residente vai até à sala de espera para dar a terrível notícia.
— Familiares do paciente Miguel de Paula?
Susana desencosta da parede e vai em direção à médica.
— Somos nós! Eu sou a mãe dele.
Na sala de cirurgia, o médico cirurgião está prestes a deixar o local quando algo inesperado aconteceu. O aparelho volta a bipar e sinais vitais vindo de Miguel começam a voltar.
— Mas… Isso não pode ser possível!
Na sala de espera, a médica está anunciando a notícia à Susana.
— Bom, o teu filho passou por uma cirurgia delicada para retirar as balas. No processo, ele teve uma parada cardíaca e…
Ouve-se um tumulto.
— Doutora! Estão chamando na sala 405.
— O quê? Mas foi lá que…
Vemos depois os outros médicos e enfermeiros chegando até à sala de cirurgia e pela primeira vez puderam avistar o seu chefe com os olhos cheios de emoção.
— Vejam isso! É um milagre! Um verdadeiro milagre.
2 horas depois…
Susana entra no quarto para ver Miguel, ela se ajoelha próxima à cama e segura nas mãos do filho.
— Miguel, meu Miguel…
A médica residente está ali.
— Infelizmente, senhora, o teu filho continua inconsciente e não temos nenhuma previsão de quando ele vai acordar. O estado dele é estável, mas precisamos deixá-lo de observação.
— Façam o que for preciso pra salvar o meu filho, não importa o que seja.
— Com certeza, senhora. Se me permitem, vou me retirar e deixar vocês a sós.
Assim que a médica sai, André se pronuncia.
— Dona Susana, Luíza… Será que… Vocês podem me deixar a sós com o Miguel? Por favor, eu juro que não vou demorar, mas eu preciso ter esse tempo sozinho com ele.
Luíza o responde:
— Por mim não tem problema.
— É claro que você pode, querido. A Luíza e eu esperamos lá fora.
Luíza e Susana se retiram. André se aproxima da cama, seus olhos estão completamente marejados, ele se agacha e com muita dificuldade para falar, desabafa.
— Miguel, eu… Eu não sei se você pode me ouvir agora, mas… Lembra quando a gente era mais novo que eu estava aprendendo malabares e eu dizia que eu era incapaz? E você sempre falava pra mim que nunca era pra eu desistir, e até então eu não desisti e cheguei até aqui? Eu quero que saiba que… Eu também não quero que você desista, irmão.Você precisa lutar, você precisa vencer tudo isso que tá acontecendo e eu… Eu juro que… Eu juro que quando você sair daqui, nós vamos encontrar esse desgraçado que matou a Victoria e acabou com a tua vida, com a minha vida e com a de todo mundo! Eu juro, Miguel que eu não vou descansar enquanto a gente não colocar esse cretino na cadeia. Eu juro pelo meu pai que tá doente, que nós vamos sair dessa, irmão. Eu te amo, cara.
André beija a testa de Miguel e tenta limpar as suas lágrimas até sair do local. Quando sai dali vemos Miguel ainda inconsciente e de repente de um de seus olhos uma lágrima começa a escorrer.
Creio que ele ouviu tudo o que André falou pra ele, mesmo estando naquele estado. Assim esperamos que seja.
6 meses depois…
Vemos o pátio de um presídio com vários detentos sentados assistindo a alguma coisa, eles pareciam estar bem empolgados com o que estão vendo. Mais ali na frente quem está utilizando o presídio como “palco” é Miguel que faz um número de malabares, ele despoja de muita energia que alegra os demais presos.
— Agora vamos finalizar o nosso número de maneira bem extravagante.
Miguel lança as claves no alto, e nesta hora um dos guardas o chama.
— Miguel!
Ele se distrai e todas as claves caem ao chão. Os presos começam a sorrir. Miguel olha para o guarda com um semblante cômico.
— Isso é hora pra interromper meu número?
Os presos começam a rir sem parar.
— Você tem visitas, é melhor se apressar.
— Ih galera, ferrou! Vou ter que parar agora.
Todos em uníssono exclamam com decepção:
— Aaaaaaa…
— Eu sei, eu sei que vocês me amam. Mas amanhã prometo trazer um número muito mais legal pra vocês. Isso é, se o diretor desse presídio aqui deixar, né?
— Bora logo, Miguel!
— Tá bom, quanto estresse! Até mais, galera!
Miguel sai dali sendo aplaudido pelos presos.
No corredor, o guarda chama a atenção dele.
— Deveria parar de ficar com gracinhas e vir logo.
— Nossa, tá bom! Não é a primeira vez que eu recebo visitas nesse presídio, caramba!
— Vá imediatamente à sala de visitas. É importante.
Alguns minutos depois, Miguel entra na sala de visitas e ali está Eduardo e Susana.
— Mãe, Eduardo, que bom que estão aqui!
— Oi meu filho, você tá bem?
— Sim, estou… Eduardo?
— Olá Miguel, é bom te ver.
Ambos tomam assento.
— E então, o que me dizem de novo?
Susana em tom de preocupação responde.
— Miguel, o Eduardo e eu trouxemos notícias para você.
— Sério? O que é?
— É melhor você explicar pra ele, Eduardo.
— Escuta Miguel, o teu caso será reaberto pela justiça.
— Reaberto? Mas como assim?
— Houve um incidente que pode mudar tudo nesta altura do campeonato.
— Do que você tá falando?
Susana aproxima suas mãos nas de Miguel sem tocá-las e diz:
— Miguel… A Madame Gardênia foi assassinada.
— O quê?
22 horas antes = Circo MAXIMUS, 18h35.
Madame Gardênia está no espelho do camarim retocando sua maquiagem, uma das integrantes do circo passa por ali, pega umas coisas e se prepara pra sair.
— Gardênia, eu trouxe o batom que você queria.
— Ah! Obrigada, fofa. Pode deixar aí na poltrona.
A moça deixa o batom na poltrona e sai. Gardênia para de se olhar no espelho e apanha o batom.
— Humm framboesa! O meu favorito! Adoro essa cor, combina tanto com meu tom de pele.
Enquanto passa o batom, ela ouve um barulho estranho.
— Só pode ser o garoto Henrique aprontando de novo.
Gardênia deixa o batom na poltrona, abre a cortina do camarim e pelo seu ponto de vista o picadeiro se encontra vazio.
— Que estranho! Um circo desse tamanho e as pessoas simplesmente saem e largam tudo pro alto, meu Deus do céu!
Gardênia retorna ao camarim, procura o batom na poltrona e percebe ele se encontra em cima do gabinete do espelho.
Ela fica intrigada e quando se aproxima do objeto vê uma frase escrita com o mesmo batom que ela está usando: “VADIA”.
— Mas… Quem foi o servo de satanás que poderia ter escrito isso de minha pessoa? Oi! Quem tá aí? Isso não tem graça, é uma falta de respeito com uma dama como eu.
Gardênia vai para o picadeiro e do outro lado vê uma figura com um capuz preto.
— Ei! Espera aí!
A figura entra pra dentro do camarim do lado oposto e Gardênia corre até lá, quando ela entra no local, procura pela figura.
— Olha André ou Henrique, se isso é alguma brincadeira de vocês, eu juro que vocês vão me pagar car…
Antes mesmo de concluir, ela avista a figura no final do corredor da coxia.
— Leandro? É você?
A figura levanta uma faca, Gardênia se assusta.
— Quem, quem é você?
A figura ignora suas perguntas e caminha em sua direção.
— Você… Você é o assassino da Victoria!
A figura para de andar por dois segundos e em seguida avança com toda a fúria.
— Ahhh! Socorro!
Gardênia passa pelas cortinas e corre pela arena desesperada. Ela acaba tropeçando em seu vestido longo, o assassino a alcança e tenta acertá-la com a faca.
Ela corajosamente chuta o estômago da figura, depois se levanta e tenta fugir.
— Seu Fausto! Edgar! Alguém!
Não havia sinal de nenhum ser vivo ali naquele circo, e para o desespero de Gardênia, ela está tão desnorteada que não encontra a saída em meio às cortinas do circo.
— Socorro! Socorro!
Gardênia sobe na arquibancada e começa a correr, a figura também sobe no local e a persegue. Já era quase 7 da noite e ninguém mais aparecia ali, Gardênia corre até chegar no final da arquibancada, quando olha para trás percebe que o assassino não estava mais a perseguindo.
Ela faz expressão de confusa, quando vira para frente novamente é surpreendida pelo assassino que crava uma espada no seu peito até atravessar a espinha.
Ela não consegue dizer mais nada, a não ser jorrar sangue pela boca até agonizar e morrer.
Cerca de meia hora depois Edgar chega por ali e procura por Gardênia.
— Madame Gardênia, já cheguei mon cherí, vamos focar no nosso novo número.
Edgar olha no camarim e não encontra Gardênia, ele também vê no espelho a mesma frase escrita de batom roxo:“VADIA”.
— Gardênia, onde está você, mi amor?
Ele vai até o picadeiro e encontra um rastro de sangue que leva até o meio da arena onde há uma cartola em cima de um cubo grande e colorido. Edgar coloca a mão no peito aflito.
— Ge… Geraldo?(Recordemos que Geraldo é o nome do coelho de Edgar)
Edgar se aproxima, pisa seus pés na areia do picadeiro e vai vagarosamente até à cartola. Ele percebe que existe algo ali dentro, quando olha para o cubo que parecia uma espécie de puff, encontra um bilhete escrito: “Esse será o nosso melhor número”.
Edgar fica assustado, mas enfia a mão dentro da cartola, apalpa alguma coisa e quando tira, é a cabeça de Gardênia que está ali.
— AAAAAAAAAAHHHHHH!!!
Agora…
Na sala de visitas do presídio, Miguel está impactado diante do que acaba de escutar.
— Isso, isso não pode ser possível. O circo abriu as portas já fazem 3 meses, por quê isso agora?
Eduardo o responde.
— Nós desconfiamos que a pessoa que matou a Gardênia foi a mesma que matou a Victoria, ambas foram assassinadas dentro do circo. E tem mais, o assassino deixou dois bilhetes na cena do crime, só que um não era bem um bilhete, veja isso.
Eduardo mostra um cartão com o desenho de uma raposa.
— O que significa isso?
— Bom, no desenho é uma raposa de 9 caldas, mas não temos ideia do que isso pode significar. Mas veja atrás do desenho tem algo escrito.
Miguel vira o cartão ao contrário e uma frase peculiar está escrita ali:“2/09”.
— Mas que porcaria é essa?
— Achamos que isso pode ter alguma relação sobre a morte da Victoria. Talvez seja uma pista que o assassino queira deixar para nós.
Susana ressalta.
— No bilhete está 2 de 09, duas pessoas foram assassinadas e se vocês olharem para a figura da raposa… Vejam! Duas das 9 caudas estão em vermelho, as outras sete permanecem amareladas.
— Espera aí, acham que essas duas caudas avermelhadas representam a Victoria e a Madame Gardênia?
— Não temos nenhuma certeza ainda, Miguel. A certeza é que com isso temos conteúdo suficiente para levar ao tribunal, inclusive já está marcado. O teu julgamento começa semana que vem.
— Mas… Tão rápido?
— Rápido? Você precisou esperar 6 meses até se recuperar dos tiros que você levou e de ser deslocado para um outro presídio já que o anterior ficou destruído. Já passou da hora de você ter um julgamento justo, Miguel.
— Filho, o André, a Luíza e até o Leandro perguntaram por você, eles também estão muito tristes por causa da morte da Gardênia.
— Meu Deus! E como tá o Edgar?
Eduardo o responde.
— Atordoado, ele nem consegue falar direito. Depois que ele contou os fatos, não conseguimos tirar mais nada dele.
— Coitado, deve ter sido uma barra e tanto.
— A barra mais difícil é essa que você está suportando, filho. Sendo julgado por um crime que outra pessoa lá fora está cometendo.
— Nós faremos algumas investigações, Miguel. Mas enquanto isso peço que mantenha segredo tudo o que dissermos aqui, evite o máximo de comentar nos corredores do presídio, com carcereiros, ou com a diretoria. A Isabelly e eu já estamos trabalhando nesse caso. Bom, acho melhor eu ir.
— Espera um pouco, quando vai ser o enterro?
Eduardo lança o olhar para Susana e ela responde:
— Ela, ela foi cremada hoje, filho.
— Ai meu Deus!
Horas mais tarde, Eduardo e Isabelly estão com o Seu Fausto no circo interrogando-o. Eduardo é quem começa o interrogatório.
— Quer dizer que ninguém estava aqui no circo justamente nesse horário? Isso não é muito estranho, Seu Fausto?
— Eu fui comprar carne para os leões juntamente com o Nando. Não entendo, pois sempre tem alguém tomando conta do circo.
Isabelly o repreende.
— Sim e esse alguém era a Gardênia. Parece que vocês não aprenderam ainda que 6 meses atrás uma mulher foi assassinada neste mesmo circo, Seu Fausto. No mesmo cenário.
Eduardo completa.
— Sim, e agora por um descuido de vocês, outra pessoa é assassinada e nem era um horário estratégico.
— Eu… Eu sinto muito, tudo está fugindo do meu controle, eu já sou um senhor de idade, estou com os nervos à flor da pele.
— Não use a tua idade como desculpa para negligências, Seu Fausto. Acho que fomos bem claros sobre não deixar ninguém sozinho nesse circo.
— Eu sinto muito, eu juro.
O celular de Eduardo toca e ele se afasta para atender. Isabelly se aproxima do Seu Fausto e se agacha na altura dele.
— Olha, desculpa por estarmos tão enérgicos, mas faz parte do procedimento. Se o senhor não tem culpa de nada, não tem com o quê se preocupar.
— Obrigado, senhorita, muito obrigado.
Isabelly se levanta e se afasta de Fausto, ela se detém por alguns segundos e vira novamente para ele perguntando:
— Não se lembra de mim, não é?
— O que disse?
— Não, nada, é que…
Eduardo interrompe.
— …Vamos embora, Isabelly, o delegado quer falar conosco. Com licença, Seu Fausto.
Os dois detetives se retiram deixando Fausto confuso.
Em uma praça da cidade, Edgar está escorado num cercado de metal olhando para a paisagem com o semblante triste, Leandro coincidentemente está passando por ali e ele se aproxima de Edgar hesitando.
— Edgar!
Ele não responde.
— Edgar, eu… Eu vim saber… Como você tá?
Após segundos de silêncio, Edgar decide falar:
— Ela teve a cabeça decapitada com uma espada, e foi colocada dentro da minha cartola. Espera mesmo que eu esteja bem, Leandro?
— Calma, eu só queria…
— … Claro, queria fingir só porque não podia desabafar pela morte da Victoria.
— Do que você tá falando?
— Ah do que eu estou falando? Que acho que não foi só o Miguel que morria de amores por ela, tá na cara que você também era apaixonado pela Victoria. Não duvidaria se você tivesse planejado sua morte para punir o Miguel.
— Você tá falando merda. Não sei de onde você tirou essas coisas.
Leandro dá meia volta para se afastar de Edgar quando este último exclama:
— Cuidado, trapezista! Não queira ser o próximo alvo desse assassino, isso se o assassino não for você, não é mesmo?
Leandro ignora as palavras de Edgar e segue adiante.
Na delegacia de polícia, Monteiro bate em cima da mesa indignado com a situação atual.
— Merda! Como isso pode ser possível? Duas mulheres assassinadas em 6 meses no mesmo local!
Isabelly: Isso sem contar que ambas eram consideradas estrelas do circo, é muita coincidência se fosse algo aleatório.
Eduardo: É óbvio que não é aleatório, a mesma pessoa que matou a Victoria foi quem matou a Gardênia. Isso só prova mais uma vez que o Miguel é inocente.
Monteiro: Já marcaram a audiência dele?
Eduardo: Semana que vem.
Monteiro: Puta merda!
Isabelly: Agora precisamos tentar ligar os fatos.
Eduardo: Sim, da mesma forma que aconteceu com a Victoria, foi deixado bilhetes. Primeiro uma provocação no espelho escrito “Vadia”, depois um bilhete escrito “Esse será o nosso melhor número”. Mas nenhum deles me intrigou mais do que este papel cartão com a imagem dessa raposa.
Isabelly: Olha, eu trabalhei anos na “Homicídios” e nunca vi nada parecido.
Monteiro: O que diz neste cartão?
Eduardo: Veja, aqui é uma raposa de 9 caudas… Se você perceber, tem duas delas que estão avermelhadas e as outras continuam com uma coloração amarelada ou dourada, como você preferir, e atrás do cartão está escrito “02/09”.
Monteiro: Mas o que isso quer dizer?
Eduardo: É o que estamos tentando descobrir. Acreditamos que isso tem a ver com as vítimas que esse assassino — que utiliza essa raposa como figura demonstrativa — está matando.
Isabelly: Ele já matou duas pessoas, se isso estiver ligado com o que está escrito no cartão…
Eduardo: …Não temos certeza nenhuma ainda.
Monteiro: Então o que sugerem? Que o assassino é um fã do Naruto?
Isabelly revira os olhos e diz:
— Eu acho absurdamente ridículo você falar isso.
Monteiro prefere não responder e Isabelly segue o debate.
— Sabe se tem algum oriental que trabalha no circo MAXIMUS?
Eduardo: Que eu saiba não, o Edgar é de origem francesa se eu não me engano, por quê?
Isabelly: Porque com certeza a pessoa por trás disso deve entender ou ser fã de mitologia japonesa, porque só isso poderia explicar.
Eduardo: Verdade. Droga!
Monteiro: O que foi?
Eduardo: A última pessoa da face dessa terra que eu queria chamar é justamente quem a gente precisa pra tentar solucionar esse caso.
Isabelly: E o que tá esperando? Chama logo!
Eduardo: Espero não me arrepender por isso.
Eduardo pega o celular, disca o número e aguarda chamar.
Em um apartamento sofisticado com detalhes avermelhados e enfeites de cultura japonesa, um celular toca em cima de um travesseiro. Em direção a ele, uma belíssima mulher se aproxima.
Trata-se de Josy Lyu, 30 anos, oriental, cabelos pretos e lisos, possui uma silhueta fina que valoriza sua sensualidade. Ela verifica o número e atende:
— Konnichiwa! (Olá)
— Josy, aqui quem fala é o Eduardo.
— E aí meu gato, quanto tempo?
— Pois é, faz um tempinho mesmo. Então… Você ainda tá na ativa?
— Eu sempre estou na ativa, gato. Depende de qual proposta você queira me fazer.
— Então arrume tuas coisas e venha até a 27º DP onde eu trabalho, temos um caso pra você.
Josy sorri de maneira sensual ao ouvir a proposta.
5 horas depois…
Na delegacia, Josy passa pelas portas e automaticamente chama toda a atenção de quem está presente, ela vai passando pelos corredores esbanjando todo o seu charme e os homens começam a soltar piadinhas.
— Que gracinha hein?
— Eeeh lá em casa!
— Adoro uma comida japonesa!
Josy sorri enquanto ouve os comentários dos policiais, ela por fim chega até o gabinete de Eduardo, lá está Isabelly e Monteiro.
— Hi Minna-San! (Olá pessoal)
Monteiro cospe o café que estava tomando e automaticamente ele e Eduardo são desconcentrados com o adentrar de Josy no local. Eduardo gagueja, mas depois prossegue.
— É muito bom ver você novamente, Josy.
Eduardo a cumprimenta.
— Pra quê tanta formalidade comigo, garotão? Ah é (Olha para Isabelly). Você deve ser a detetive que está trabalhando junto com o Eduardo, não é?
— Sim, me chamo Isabelly.
— Ela não é nada mal, Eduardo.
— Por favor, Josy, não comece.
— Ah! Você ainda com pouco senso de humor, não é?
— Josy, este é o Delegado Monteiro, nosso chefe do Departamento.
— Muito prazer, senhorita.
— Satisfação! O prazer vem depois.
Isabelly revira os olhos, os dois homens gaguejam e ficam sem saber o que dizer.
— Calma, boys! Um de cada vez.
Josy se assenta no sofá do gabinete e cruza suas pernas mostrando toda a sua sensualidade.
— Bom, pra quê me chamaram?
Os três ficam impactados com a irreverência da jovem.
Na casa de Susana, estão sentados no sofá André e Luíza, ambos conversam com ela.
Luíza questiona.
— Dona Susana, então realmente vai haver o julgamento do Miguel?
— Sim, e é quase certo que vão intimar vocês dois pra depor. O Eduardo está resolvendo todas as questões possíveis para fazer um julgamento justo.
— Acha que a morte da Gardênia está relacionada com a da Victoria?
— É quase certo que sim, André. Não tem explicação lógica se fosse um caso isolado.
— Se isso tiver ligação, não há como o Miguel ser o assassino se ele estava na cadeia.
— Exatamente, Luíza. Isso é o que temos que utilizar pra ganharmos pontos ao favor do Miguel. Pelo que eu sei ele será julgado apenas pela morte da Victoria, o que aconteceu com a Gardênia foi o que impulsionou a justiça de querer colocar as cartas na mesa.
André argumenta.
— Eu espero que isso se solucione logo, sinto tanta falta do Miguel aqui com a gente.
— Todos nós sentimos.
— Vocês dois são demais! Os melhores amigos que meu filho já pôde ter. Eu preciso que vocês estejam com ele até o fim nessa caminhada, daqui pra frente as coisas não serão fáceis, então sejam os mais verdadeiros possíveis quando estiverem diante daquele tribunal.
André confirma.
— Pode deixar, dona Susana.
— Obrigada, meninos.
Delegacia de Polícia, 18h00.
Os detetives e o delegado Monteiro haviam iniciado a conversa com Josy sobre o que está ocorrendo.
Josy: Então quer dizer que esse Miguel está preso por ter sido acusado de ter planejado a morte da namorada dele? Essa tal de Victoria?
Eduardo: Exatamente, as provas encontradas o incriminavam.
Josy: Mas aí justamente ontem outra pessoa no circo foi assassinada?
Isabelly: É, e isso muda todo o jogo. Se o Miguel era o assassino da Victoria, como ele poderia ter matado a Gardênia se estava na prisão?
Josy: Essa tal de Gardênia… Nossa, que nome estranho! Ela tinha ligação com o Miguel e a Victoria?
Monteiro: Ambos trabalhavam no mesmo circo, todos eles se conheciam.
Josy: Hum… Interessante.
Eduardo: Uma coisa que queremos te mostrar, Josy (pegando o papel cartão)… É que dessa vez o assassino deixou uma pista pra a gente. Veja.
Josy: Uau! É uma Kitsune.
Isabelly: Uma o quê?
Josy: Kitsune. O “e” no final tem o som fechado. É o nome dado às raposas no Japão, é muito conhecido no folclore japonês. São considerados seres inteligentes e com capacidades mágicas. Entre estes poderes mágicos, tem a habilidade de assumir a forma humana, normalmente aparecem na forma de uma mulher bonita, uma jovem ou uma velha… Ah! E além da habilidade de assumir a forma humana, elas possuem os poderes de possessão, conseguem gerar fogo das suas caudas e da sua boca, o poder de aparecer nos sonhos e o de criar ilusões. Fascinante!
Isabelly: Olha, eu já estava começando a mudar de ideia, mas pelo visto você sabe mesmo da coisa.
Eduardo: Josy, nesse cartão você pode ver que duas caudas estão avermelhadas e tem outras 7 douradas. Na parte de traz do cartão está escrito “02/09”, sabe o que isso pode significar?
Josy: Jura? Oh Kami- Sama (Ai meu Deus) Não pode ser o que estou pensando.
Monteiro: O que você está pensando?
Josy: Isso é óbvio, “mores”. O assassino está utilizando uma pseudo-identidade de “Raposa” ou “Kitsune” para os veteranos… A Kitsune possui 9 caudas, e aqui vimos que nessa imagem o assassino deixou uma raposa com duas caudas avermelhadas e ele fez duas vítimas: Victoria e Gardênia. Tudo isso está ligado com a raposa.
Eduardo: Mas você acha que tem uma ordem específica de como ele realiza as mortes?
Isabelly: E também do intervalo de tempo? Pois da Victoria pra Gardênia foram 6 meses.
Josy: Sobre a ordem eu não sei. E nem o tipo de vítima, talvez ele só mate mulheres, pois até agora as vítimas foram femininas. Mas eu posso dizer que temos um assassino bem paciente e eficiente, por sinal.
Monteiro: Por favor, não vamos fazer média para o assassino.
Josy: Você como delegado era quem deveria se preocupar por estar lidando com um assassino extremamente inteligente. É bem provável que o criminoso seja devoto à cultura japonesa.
Isabelly: O problema é que nenhum deles tem descendência oriental.
Josy: Então ele é muito mais inteligente do que pensamos.
Eduardo: O que você sugere que façamos?
Josy: Bom, duas pessoas morreram. Duas caudas da raposa… Podem esperar porque ele vai voltar, e vai fazer outras 7 vítimas.
Todos na sala ficam impactados diante do que estão prestes a enfrentar.
Já é quase noite e no Circo MAXIMUS vemos alguém escorado num estábulo.
A figura começa a correr até chegar à entrada do circo. Suas mãos estão cobertas de sangue, a figura leva as mãos próximas ao rosto e sua expressão é de aflição.
A figura em questão é Nando. Ele olha novamente para as suas mãos e parece estar atônito, algo havia acontecido.
— Meu Deus… O que foi que eu fiz?
Próximo Capítulo:
Terça, 16 de Abril.
Muito show este capítulo Melqui! Morte da Gardenia me lembrou o assassino do filme Pânico fazendo suas vitimas! E que desfecho!
Agora que eu pude ver teu comentário. Sim, foi bem parecido ao que o Ghostface faz com suas vítimas em “Pânico”.
Muito show este capítulo Melqui! Morte da Gardenia me lembrou o assassino do filme Pânico fazendo suas vitimas! E que desfecho!
Agora que eu pude ver teu comentário. Sim, foi bem parecido ao que o Ghostface faz com suas vítimas em “Pânico”.