O som de risos percorreu o ambiente aumentando gradativamente, alguém os observava e se divertia com isso. Diante deles um vórtice magico se materializou, dele saiu uma criatura que Jonas reconheceu de imediato. Era Fingal Flyn o pequeno leprechaun responsável pela morte de seu pai anos atrás, sorrindo a criatura se aproximou sem tirar os olhos de Jonas.
– Você! – O garoto gritou tomado pela raiva da antiga lembrança. O monstro o encarou por um tempo antes de voltar sua atenção para o casal abraçado no meio do salão. – Cuidado!
Jonas gritou temendo pelo pior, enquanto corria em direção a eles, saindo do escudo de proteção conjurado por Pandora.. Antes que pudesse se aproximar foi atingido por uma rajada de energia escura fazendo o voar longe enquanto a criatura gargalhava satisfeito.
– Acha que pode lutar contra nós? – Fingal desafiou avançando na direção deles.
A medida que a criatura se aproximava Jonas sentia o corpo ser esmagado contra a parede oposta a ele, preso pela aura que Fingal ainda emanava, o ar lhe escapava dos pulmões e o peito doía como se ele fosse pisoteado por uma manada de elefantes.
– JONAS! – Pandora desativou o escudo e correu em direção ao garoto, conjurando contra o monstro um feixe de luz branca.
– Sozinho talvez ele não tenha chance, – Yon estava de pé apoiado nos braços de Alfea – Mas ele não esta sozinho Fin. Ele tem a todos nos para ajuda-lo.
Yon bloqueara as garras do leprechaun com as suas próprias garras, Alfea por sua vez mantinha sua pequena adaga em posição para um golpe rápido e certeiro.
– Parabéns por chegarem ate aqui! – Saudou a criatura com pausadas palmas, soltando Jonas de sua magia. – Mas esse será o tumulo de vocês, quando eu levar suas chaves para ele, serei coroado senhor de Luminus.
– Nos não vamos deixar. – Jonas tentava se por de pé com dificuldade.
Pandora correu ate ele para ajuda-lo, enquanto mantinha seu escudo de energia erguido, por um segundo ela viu a aura de Jonas mudar enquanto ele mantinha os olhos fixos na criatura
– Você esta bem? – Perguntou ela enquanto se mantinha atenta ao monstro a sua frente.
– Sim. – Respondeu ele pondo-se em frente a ela. – Eu não posso deixar que ele pegue as chaves, não novamente.
– E isso que você quer garoto. – Fingal estendeu a mão para ele, mostrando uma chave dourada atada a um colar rustico. – Então venha buscar.
Fingal Flin continuava a encarar Jonas de modo ameaçador, esperando sua reação, com aquele sorriso sadico o monstro se divertia sabendo exatamente o que se passava na mente do garoto.
– A culpa é minha. – Pandora disse triste. – Se eu não tivesse esitado nada disso estaria acontecendo.
– Não princesa, nada disso é culpa sua, – Alfea estava de pé apoiando o marido – as sombras escondem nossos piores pesadelos, é isso o que ele quer, é assim que Delfian tem nos manipulado, usando nossos próprios medos contra nós.
– Se você acender a luz, as sombras vão revelar a verdade. nada é como parece, então não precisa ter medo. – Yon completou sorrindo para ela.
– Se vocês querem a chave, ele que lute! – Fingal desafiou Jonas. – Ou você vai continuar se escondendo atrás dos seus amigos.
Jonas continuou encarando o monstro, sua mente viajou para muito tempo atrás, ao primeiro momento em que vira Fingal anos atrás, sua chegada aquele lugar e toda a jornada percorrida ate aquele momento. Ele tinha razão, Jonas havia se escondido, usado pessoas como escudo desde entao, o pai, a mãe, Yon, Oreon, todos eles haviam se machucado ou morrido pra protege-lo.
Lagrimas percorriam seu rosto, toda a dor daquele instante se intensificou. Jonas estava sofrendo.
– Ele tem razão, – Jonas concluiu baixinho. – Tudo isso é minha culpa.
– Não Jonas, – Pandora interveio. – a culpa não é sua.
– Eu não vou deixar mais ninguém morrer ou se machucar por minha causa. – rebateu Jonas enxugando as lagrimas
– Não caia no plano dele. – Pandora advertiu.
– Você não entende, não é? – Jonas voltara sua atenção para pandora. – Estou cansado de ver as pessoas se sacrificarem por mim. Eu sou o único responsável pelo meu destino, e não posso deixar que os outros enfrentem os meus monstros por mim.
– É isso o que quer? – Ela perguntou segurando suas mãos com carinho.
Jonas tocou sua face com carinho, por um breve momento, se deixou levar pelo sentimento ardente em seu peito, aproximando-se vagarosamente seus olhos permaneciam unidos ate que seus lábios se encontrarem em um beijo, o primeiro e talvez o ultimo para ele. Aquele momento durou um segundo, ou talvez uma eternidade para eles, mas se a morte viesse ao seu encontro, aquele momento seria o suficiente.
– Vocês tem que continuar sem mim. – ele disse por fim.
Pandora sabia que não poderia perssoadí-lo do contrario, desfazendo o escudo foi ao encontro de seus amigos.
– Esperamos você do outro lado! – Disse ela antes de girar sua chave e desaparecer.
O salão estava vazio, o clima tornou-se pesado, Jonas e Fingal trocavam olhares incertos, estudando um ao outro, cada movimento poderia ser decisivo naquela batalha e Jonas não a perderia.
Muita coisa estava em jogo.
– Quero minha chave de volta! – Pediu Jonas respeitosamente, caminhando ate ele.
– Quem disse que essa chave é sua? – Desdenhou o outro sem tirar os olhos dele.
– Você a tirou de mim quando cheguei, e eu a quero de volta, É tudo o que eu tenho. – Retrucou Jonas pondo-se em posição de luta como Yon havia ensinado.
– Se você a quer, venha tira-la de mim. – O leprechaun sorria.
– Que assim seja. – Jonas disse a si mesmo tentando relembrar mentalmente tudo o que aprendera ate ali. – Que os deuses me ajudem.
O garoto usou o principio da meditação tentando visualizar dentro de si a energia necessária para a batalha. Sabia que conseguiria dessa vez, pois ja havia feito antes, ele precisava potencializar seus golpes com a luz de seu interior, como Yon havia dito.
Fingal por sua vez, fora consumido por uma neblina densa e escura, dela murmúrios quase inaudíveis ecoavam. Pareciam o lamentar daqueles que se entregaram as sombras.
O garoto visualizou em sua mente um ponto luminoso crescente a cada respiração, imaginou em seu corpo o formato de Yin e Yang circulando unidos como um só, a luz dentro da sombra e a sombra dentro da luz, a perfeição buscada por Pandora para aquele mundo. A imagem da aceitação dos povos, ao qual Yon e Alfea pregavam com suas vidas, era aquilo que ele buscava, era por isso que todos estavam lutando. Agora ele entendia.
Jonas não precisava afastar os próprios medos, ele tinha de entende-los e aceita-los como partes dele. Abraçar as sombras dentro de si, para que assim pudesse fortalecer a própria luz. Aquele simples entendimento fez crescer em volta de seu corpo uma a energia dourada mesclada ao purpura que visualizara em sua mente.
A energia tornara-se cada vez mais forte e abundante o que fez as chaves em seu peito queimar, Jonas as segurou juntas na palma da mão e as apertou com força, fazendo-as se unir em uma única peça.
Fingal sentia a própria chave queimar em seu peito, da mesma forma que as outras chaves reagiam a energia emanada por Jonas a dele também o fazia.
– Como…, como isso é possível? – O monstro estremeceu.
– Eu já disse Fingal, quero minha chave de volta.
Com um movimento da mão Jonas puxou para si a chave em posse de Fingal, o monstro sentiu a peça obedecer ao comando do outro, sendo atraída por ele.
– Não irei permitir… Fingal deixou-se ser consumido pela própria sombra.
O choque das energias fez todo o lugar tremer. Jonas parecia brincar com elas, a media que avançava para perto dele. O garoto não sentia mais medo.
– Quero minha chave de volta! – Ordenou ele avançando para perto do monstro.
Fingal puxava o cordão para junto de si sem sucesso, a chave continuava a ser atraida pela energia emanada por Jonas, as sombras vindas dele eram gradativamente consumidas pela luz dourada e arroxeada emanadas pelo garoto, que o encarava poderoso. Num movimento rápido Jonas puxou a chave para si, unindo-a a sua própria coleção no processo.
– Não adianta lutar Fingal, tudo esta acabado. – Disse Jonas estalando os dedos.
Fingal foi por fim consumido pelo choque das energias enfraquecendo-se aos poucos ate tornar-se apenas uma neblina, sugada para a chave que acabara de se unir as outras. Jonas permaneceu parado por um instante, observando o outro desaparecer.
– Pai, tudo esta terminado. – Disse ele em meio as lagrimas antes de sumir em um vórtice de luz.