Esta noite ela não é mais uma menina.
Ela se torna definitivamente a guardiã do segredo de sua família, passado entre as mulheres de seu clã. A menina, filha dos antigos deuses deve guardar esse segredo passado de geração a geração: a localização dos sete portões que aprisionam o reino da escuridão protegendo a todos do grande mal que assola a terra de Pangeia.
A última hora se aproxima.
Pandora, filha única de Allana e Kairo é finalmente declarada regente do reino de Luminus. A garota so não imaginava o tamanho do fardo que tal responsabilidade carregava. Proteger a qualquer custo a localidade dos sete portões para que eles nunca sejam abertos.
Mas algo está errado.
A senhora de Luminus está com medo, e corre como se não houvesse alternativa além da morte. Alguém ou alguma coisa não quer que ela cumpra sua missão.
Não esta noite.
O fardo é pesado demais para ela carregar sozinha, mas não há alternativa Ela teme por seu povo, por não ser digna da tarefa que lhe foi confiada. Afinal, o que uma garota de quinze anos é capaz de fazer por um reino que clama por ajuda.
Desde muito nova ela foi treinada para isso, a rainha Allana lhe guiou pelo caminho do aprendizado, lhe ensinando tudo sobre ambos os reinos, cada forma de vida, cada planta, – cura ou veneno -, folha flor ou fruto, além de versá-la em línguas, matemática, ciências, e tudo o que é possível ensinar, porem nenhum dos ensinamentos passados a ela dizia o que fazer numa situação como aquela. O cansaço cobrava seu preço, braços e pernas pesavam, a boca seca denunciava a exaustão, sua mente lhe pregava peças a cada minuto.
“Não tenha medo!” – disse a si mesma repetindo o que lhe foi dito pelo sacerdote antes de partir. “Cumpra seu dever pelo reino.”
A pergunta que ecoava em seu pensamento era como não temer a escuridão quando se é obrigada a seguir numa jornada solitária por todo o reino atrás daqueles que a ajudarão a vencer o medo.
A chave em seu pescoço queima, seu instinto de sobrevivência faz com que se abaixe no exato momento do ataque. Ela grita pondo ambas as mãos na cabeça tentando se proteger. Um rosnado a traz de volta a realidade.
― Não tenha medo. ― Ela disse a si mesma. ― Ele se alimenta do medo.
A criatura se aproximou sorrateira na escuridão, sem alternativa Pan se preparou para o que viria a seguir. Uma simples brincadeira
Menos de um segundo.
Era todo o tempo que ela tinha para pensar em como sair de toda aquela enrascada. Estava tão perto e tão longe ao mesmo tempo, bastava apenas cruzar o pântano.
Um par de olhos esbranquiçados a encarou na escuridão.
— Você não pode fugir de nenhum de nos. — Rosnou a criatura mostrando os dentes aproximando vagarosamente. — Você tem medo apesar de tudo o que fez. Eu posso sentir!
A chave em seu peito queimava ainda mais, Pan sabia que teria pouco tempo para fazer o que precisava fazer. Se não fosse rápida o bastante a caixa seria aberta novamente e todo o mal do mundo voltaria a sua verdadeira forma.
— Eu não tenho medo de você! — Ela disse confiante olhando em volta.
Mais um rosnado denunciou a presença do inimigo. Ela analisou todas as possibilidades existentes antes de entender por fim o que era preciso fazer.
Vida ou morte é tudo o que lhe resta. Em menos de um segundo.
— Você está com medo, e eu posso sentir. — Rosnou a criatura correndo em sua direção.
Pan precisava fazer aquilo. Era sua única chance de vitória. Ela pôs as mãos sobre o rosto e esperou.
Finalmente ela pode ver seu inimigo pronto para matá-la. Um grande lobo branco se preparou para o salto com o qual daria fim a vida de sua inimiga.
Em uma fração de segundos a fera estava sobre seus braços tentando estraçalhar seu pescoço. A garota quase não tinha forças para o que estava prestes a fazer.
— Por causa de seu medo, você morre aqui e agora garota. O reino da luz não sobreviverá depois desta noite.
Pan podia ouvir gritos vindos de todas as direções, em todo o reino, os portões que dão acesso ao reino das sombras estavam se abrindo.
— O importante não é não sentir medo e sim o que fazer além dele. — Ela respondeu enquanto usava sua última cartada.
Usando toda a força restante de seu corpo ela arremessou a criatura para longe e correu para o único lugar que ela estaria segura. Ela correu com todas as forças que ainda tinha, seu tempo estava se esgotando.
— Jonas, eu preciso da sua ajuda.
A chave em seu peito brilhou mais uma vez, mostrando a ela um portal para outra dimensão, no instante seguinte lá estava ela, diante da caverna onde a caixa estava aprisionada.
Aquela caverna era também a prisão de seu inimigo – Delfian, senhor das sombras. Ele sorria para ela segurando a pequena caixa de madeira em uma das mãos e uma pequena chave na outra.
Um sorriso macabro em seus lábios denunciava suas intenções.
— Bem vinda minha senhora. — Disse lhe Delfian ao seu ouvido — esse será o seu tumulo.
Com um puxão violento a criatura retirou uma chave dourada de seu pescoço, pegando-a pelos cabelos a levou para dentro da caverna onde uma urna dourada repleta de estranhas inscrições estava há muito esquecida.
— A primeira de sete.
Num instante às inscrições que selavam a caixa se apagaram, e a caixa se abriu e dela uma fumaça negra avançou para o céu que perdeu o brilho de todas as estrelas.
Em todos os cantos do reino se ouviam vozes e grunhidos estranhos. Naquele momento Pan teve certeza de uma coisa apenas.
Ela falhara em sua missão.