Abro os olhos num sobressalto, ainda acreditando estar sob o domínio da areia movediça. Uma onda de confusão, estresse e ansiedade continuam me assolando enquanto corro o olhar em todas as direções buscando reconhecer o lugar em que me encontro. Deparo-me com uma escuridão absoluta à medida que espasmos e sensações de calafrio transitam por algumas partes do meu corpo incentivando-me a recuperar a estabilidade da minha respiração. Por fim, ao tempo que vou apalpando a superfície sobre a qual, sem sombra de dúvidas, jaz o meu corpo, experimentando e reconhecendo, lentamente, a textura dos lençóis, do edredom, do colchão, começo a acreditar que talvez eu esteja na minha cama, no meu quarto, e não mais dentro daquela alameda ladeada por cedros escuros…

Meu cérebro ainda não decidiu se estamos acordados ou mergulhados num sono profundo, até mesmo porque a impressão de que estou “vagando” dentro de uma pseudo-realidade ainda permeia meu intelecto, assim sendo, fecho e abro os olhos uma, duas, três vezes e respiro fundo, tentando controlar meus batimentos cardíacos enquanto cruzo as mãos sobre o peito, assistindo as dimensões do meu quarto, ou seja o lugar “em que eu esteja”, tomando forma sob a luz do sol que atravessa o vidro da janela.

Dona Lúcia sempre me disse (sim, tenho certeza de que não foi o Sr. Freud) que sonhos são, em geral, histórias e imagens criadas por nossa mente, e que os pesadelos não são mais que sonhos angustiantes e que devemos encará-los com naturalidade, já que não passa de uma descarga de sentimentos negativos, uma lixeira no qual o cérebro despeja o peso emocional acumulado durante o dia…

Então tá, reflito, rabugento, ao mesmo tempo em que me viro de lado (meus joelhos encostam-se a alguma coisa) e busco com um olhar perscrutador o relógio de mesa em formato de TV antiga, azul, retrô, que fica no canto esquerdo da escrivaninha, ao lado do organizador de metal, simples, mas bonito, que ganhei de presente do meu pai no meu último aniversário.

 

🔍 Sim.

🔍 Estou no meu quarto.

✂️ Só não sei mais se devo achar boa ou ruim esta constatação!

 

Mas que merda! São quatro e meia da tarde. Não acredito que cochilei todo esse tempo.

Baixo os olhos na direção dos meus joelhos e me deparo com o meu note e não consigo deixar de ponderar, bem mais irritado que eufórico, que já se passaram quase três horas desde que postei a minha doce vingança contra o David… É mais forte do que eu…

Quem sabe a Gabriela tenha razão…

Merda. Não posso acreditar que essa postagem no Secrets vai me infernizar a vida desse jeito. Digo e repito: fui humilhado, desprezado, maltratado e enganado, argumentações suficientes para submeter o David às mais diversas e inomináveis situações constrangedoras… Não foi a toa que ele assumiu a forma de uma serpente dentro do bololô que foi esse sonho completamente alucinado que invadiu meu subconsciente numa mistura do Inferno de Dante com Salvador Dali e pitadas de Jogos Vorazes…

“Pessoas carentes como você, Lucas, acham que amam, mas não. Fazem reféns!”

Sinto minha coluna vertebral e meus músculos doerem e então retorno à posição anterior, de costas sobre a cama, e miro o teto com determinação implacável e apressadamente conto até dez, me levantando num salto, apanhando meu note logo em seguida e me jogando sobre a cadeira em frente à escrivaninha, onde deposito o computador, ligando-o de imediato para acessar a página do Secrets...

🤔Talvez a minha postagem não tenha sido lida… 

🙍‍♂️ Ops, ledo engano… 😳

 

 

 

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Menos mal, concluo, dando de ombros e, sem hesitar (mentira, hesito sim), deleto minha missiva covarde, insultuosa, mesmo acreditando já ser um pouco tarde para isso e viro-me de supetão para a cama, onde, com o olhar transbordando ansiedade, busco o meu celular, demorando um pouco para encontrá-lo em meio aos lençóis desalinhados, ao meu caos emocional. Por fim consigo visualizá-lo descansando entre o travesseiro e a cabeceira e então deixo escapar um longo e forte suspiro, não de alívio, mas de apreensão, afinal, quantas ligações perdidas ou mensagens inflamadas deixadas pelo David eu irei encontrar? Nessas horas constato que não é de todo ruim essa minha mania de manter o telefone no vibracall.

Com certa dificuldade, pois começo a sentir meus membros pesarem toneladas e uma voz gritar em algum lugar na minha cabeça VOCÊ FEZ MERDA, AGORA AGUENTE AS CONSEQUÊNCIAS, apoio-me à escrivaninha e me levanto, endireitando o corpo para então caminhar, pé ante pé, na direção do aparelho, parando a poucos centímetros de distância aonde jaz abandonado. Sem alternativa fecho os olhos, estico o braço direito até alcançá-lo e o trago para próximo do rosto e pondero bastante antes de abrir meus olhos novamente…

Graças ao Criador não há nenhuma ligação perdida, nenhum contato do David ou quem quer que seja o que me enche de esperanças. Provavelmente os 1.245 acessos à minha mensagem não foram vistos por pessoas conhecidas, ou conhecidas do David, contudo, entretanto E todavia, isso não significa que eu esteja prestes a alcançar o topo do paraíso.

Pensando bem, essa minha vingancinha não me tirou da bad, pelo contrário, só me deixou mais agitado, mais estranho, pior ainda, mais infeliz.

Balanço a cabeça, inconformado, jogando o celular de volta sobre a cama.

Preciso de ar!

Corro os olhos até a janela que fica no extremo oposto à entrada do meu quarto e então me dirijo para ela, passando por cima de caixas e sacos pretos espalhados pelo chão, e estaco à sua frente, mantendo a sobriedade de alguns centímetros de distância enquanto levanto o braço direito até alcançar a parte de cima de sua estrutura de madeira para começar a empurrá-la, para dentro, devagar, respeitando o seu mecanismo, até abri-la, parcialmente, fazendo-a tombar sobre sua parte inferior.

De imediato meus ouvidos são invadidos por uma mistura de sons, me dando a impressão de que estou na calçada, beirando a rua, e não a quarenta e cinco metros acima do solo. Recuo, então, dois passos, o suficiente para me sentir ainda mais seguro. Mesmo morando no décimo andar de um prédio desde que nasci não consigo me acostumar com a altura. Sempre que ouso me aproximar demais da beirada de uma sacada, de uma janela, sinto um mal-estar e a acrofobia me faz inevitavelmente ser tomado por uma sensação absurda (e insana) de como seria despencar, como seria a queda livre do meu corpo até atingir o chão…

Recuo mais um passo e com as costas eretas coloco os braços para trás, sobrepondo as mãos às minhas nádegas e projeto meu tórax e meu pescoço para frente, mas num movimento praticamente imperceptível, apenas o necessário para que eu possa ver, de soslaio, o vai e vem do mundo lá embaixo que não para de se locomover…

Agora faltam menos de 48 horas para deixar toda minha vida para trás. Faltam menos de 48 horas para tomar um avião rumo a um lugar completamente desconhecido, para encontrar pessoas que, apesar dos laços sanguíneos, são tão estranhas como qualquer individuo com que eu possa esbarrar enquanto ando pela rua… É engraçado o mundo continuar a girar do mesmo modo apesar da nossa dor…

Mesmo diante da decisão incontestável de dona Lúcia, eu tenho esperança de que algo possa acontecer para reter, impedir minha viagem para aquele fim de mundo. Desesperadamente eu preciso acreditar nisso. É o que me resta.

 

Quando o sorriso caiu de seu rosto,

eu caí com ele…

nossos rostos tristes.

Há uma mancha de coração no tapete

 

Começo a cantarolar “Lost Boy”, de Troye Sivan.

 

Eu sou apenas um garoto idiota tentando me enganar,

achando que tenho tudo sob controle.

 

Sinto meu coração afundar…

 

Eu sou apenas um garoto perdido

que não está pronto para ser encontrado.

 

… E então movo a cabeça lentamente enquanto fecho o espaço aberto da janela, não demorando a retornar à posição ereta, recolhendo as mãos das costas para logo em seguida iniciar um movimento de rotação, vagaroso o bastante para que possa passear, com os olhos estreitados, sobre cada canto desse meu refúgio, sobre a minha cama, o criado mudo, a televisão de tela plana, a estante de madeira onde estavam meus Blu-rays e videogames antes de serem encaixotados, o armário de roupas, os posters de alguns filmes famosos dos anos 80 milimetricamente dispostos sobre a parede de cimento queimado… Cada um desses meus objetos tem uma história, cada um deles sempre foi tratado com o devido cuidado, e agora, daqui uns dias, serão jogados dentro de um caminhão para cruzar quilômetros e quilômetros de estrada até chegar, lá em Nárnia, sabe-se Deus como

 

Eu sou apenas um garoto idiota tentando me enganar,

achando que tenho tudo sob controle.

 

Uma sensação de desespero quase incontrolável trespassa o meu coração. Minhas pernas, como se fossem dois gravetos, quase não sustentam o peso do meu corpo e então caminho de volta, na direção da escrivaninha, passando novamente por cima das caixas e dos sacos pretos, me deixando cair, por fim, esparramado sobre a cadeira, onde fecho os olhos e com o polegar e o indicador da mão esquerda, começo a massagear as têmporas, fazendo pequenos círculos sobre a pele por alguns minutos no intuito de esvaziar por completo a minha mente, neutralizá-la, pois já não quero mais digladiar com o meu cérebro.

Claro que não consigo e muito contrariado abro os olhos e me volto para a mesa e num gesto abrupto empurro o notebook um pouco para o lado e tamborilo os dedos das duas mãos sobre a superfície de madeira, ao mesmo tempo em que sinto uma raiva absurda invadir minhas entranhas, percorrer cada canto do meu corpo até alcançar os meus pulmões, me fazendo perder o controle da respiração por alguns instantes.

Arfando, observo minuciosamente a escrivaninha buscando algo sem saber ao certo o que pode ser até que a sugestão descabida de dona Lúcia, sobre aceitar o convite de amizade que Bia enviou pelo facebook, volta a invadir a minha mente como um trem expresso desgovernado…

Quebrar o gelo? Construir uma relação? Minha prima está ansiosa por este contato?

Pois eu quero que ela morra.

De soslaio miro o meu note e depois de alguns segundos de hesitação o trago de volta à minha frente, e numa sequência de gestos ininterruptos, abro a página do meu facebook, buscando, de imediato, no canto superior direito da tela, o convite pendente de Bia, e, por conseguinte, me surpreendo ao me deparar com um messenger também de sua autoria. Desde a última vez que acessei o face essa mensagem não estava aí. Tenho certeza absoluta! 🧐

Meneando a cabeça de leve enquanto recupero o ritmo da minha respiração, recosto na cadeira e cruzo os braços, estreitando os olhos sem deixar de afrontar a tela iluminada. O que será que a Narizinho escreveu? No mínimo está implorando para que aceite sua amizade. Qual a parte do meu silêncio e do meu desdém ela não conseguiu compreender?

😒  😤  😠  🤬

Descruzo os braços e me inclino para frente, puxando todo o ar que posso, quase arrebentando os meus pulmões e então acesso a página, a famigerada página da minha prima, tomando o cuidado, claro, de manter as inconvenientes solicitações, tanto de amizade, quanto da mensagem, intocadas, ignoradas; deparo-me com a mesma foto de perfil que havia visto antes, quanto tentei “conhecer” Bia (e desisti), alguns dias depois da notícia de que eu iria parar no quinto dos infernos e ela me parece, agora, completamente diferente, porém, de algum modo, exatamente a mesma, talvez um reflexo da assombração que invadiu o meu sonho, ou pesadelo, vai saber…

Semicerro os olhos e examino meticulosamente cada traço de sua imagem: olhos bondosos, inteligentes, um sorriso encantador atravessando todo o seu rosto… Um sorriso forçado, isso sim, constato sem me preocupar com o meu tom mordaz. Essa garota deve ser uma falsiane, como eu já havia previsto. Assim que soube que eu estava sendo deportado, não pensou duas vezes e tratou de revirar o meu facebook para saber tudo a meu respeito. Deve se comportar naquele fim de mundo como a mais meiga das jovens, dando a impressão de ser uma criança desamparada, de expressão tímida, doce, deferente aos idosos e com opiniões flexíveis, aplicando essa receita perfeita em cima daqueles matutos para se tornar amada por todos.

Já estou até vendo essa pessoa desfilando comigo de um lado para o outro, me apresentando para os seus conterrâneos como um troféu, me usando como um estandarte, O-PRIMO-DA-CIDADE-GRANDE, para transformá-la em alguém visível, resgatando-a do seu mundinho preto e branco. Uma insossa, isso que ela é, murmuro entre os dentes, com desprezo, fixando um olhar impassível sobre a foto à minha frente, como se com esse gesto pudesse fazer Bia desaparecer do planeta.

Assim como acredito que existem almas gêmeas, ou pessoas que gostamos do nada, sem grandes esforços, eu também levo fé na antipatia imediata que sentimos por alguém, sem maiores explicações… Não conheço essa prima distante, mas apenas essa sua fotinha ridícula, esse seu ar pedante por trás desse sorrisinho cretino já me fez ver que não seremos nem sequer colegas, e sei muito bem quem sou para saber que não vou mudar de opinião.

Ela pode enganar a minha mãe, afinal, é de dona Lúcia a ideia de se mudar para Nárnia, então nada mais natural que esteja desesperada por reconquistar os laços que deixou pra trás, mas eu não vou me deixar dobrar. Não mesmo. Não conheço essa tal Bia e nem tampouco minha tia, mãe dela, ou até mesmo minha avó, ou qualquer outro ser humano que o destino quis que se tornasse meu parente consanguíneo. Serei um legítimo estranho no ninho e vou permanecer assim até o ano que vem, quando completar dezoito anos e ganhar minha liberdade civil de ir e vir SOZINHO e para onde eu quiser.

A imagem de Bia agora parece me fitar, desafiadora, arrogante, presunçosa e até mesmo intimidadora. Decido, sem pestanejar, que vou continuar não querendo saber nada sobre essa ela. Não vou lhe dar esse cartaz. Com um movimento beirando o irascível, saio da página inicial do facebook dessa poser e desligo o note com mais raiva ainda e o fecho com tanta força a ponto de fazer tremer as estruturas da escrivaninha.

Shakespeare é quem estava certo quando disse que a vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, mas vazia de significado. Nessas últimas semanas minha existência está se transformando cada vez mais e mais num verdadeiro inferno, e o que eu estou fazendo para que isso mude? Nada! Pareço uma barata tonta mergulhada num mar de irritação e impotência, apostando numa passividade milagrosa. Chega de ficar chafurdando nesse oceano de sentimentalismo barato. Vou sair, vou ver o sol, ver gente e aproveitar ao máximo minhas últimas horas na civilização…

Com agilidade similar a do personagem Mercúrio, dos X-Men, salto da cadeira em direção à minha cama, onde me inclino rapidamente para apanhar o celular, e tropeçando nos meus próprios pés, consigo chegar até a porta, abrindo-a de supetão e me projetando para o corredor sem olhar para trás, como se minha vida inteira dependesse dessa sequência de gestos desvairados. Já do lado de fora, um tanto resfolegante, após recuperar o equilíbrio do meu próprio corpo, fico parado de costas para a entrada do quarto e demoro alguns segundos antes de levar minha destra para trás, até alcançar a maçaneta da porta, para então fechá-la, sem titubear, enquanto com a mão esquerda enfio o telefone no bolso da bermuda.

Quem sabe no futuro eu vou achar engraçado tudo isso que está acontecendo comigo nesses últimos dias, reflito, dando de ombros e arqueando uma das sobrancelhas enquanto passeio os olhos pelos nichos, espelhos, quadros simples e efeitos luminosos que decoram o estreito (e extravagante) corredor do nosso quase ex-apartamento. Aliás, não me surpreende que seja o único cômodo ainda intacto diante do caos de caixas, caixotes, móveis, malas e tantos outros cacarecos. Não posso sequer imaginar a fúria de titãs que os pobres coitados responsáveis pela nossa mudança encontrarão pela frente quando dona Lúcia os vir invadindo esse espaço; ela trata esse corredor e cada objeto que tem nele como se fosse o museu do Cairo com sua coleção de antiguidades faraônicas. Tenho certeza que esses profissionais vão preferir mil vezes ter enfrentado as lendárias maldições que envolvem a tumba de Tutancâmon. 

Endireitando os ombros, caminho, em linha reta, na direção da sala, como um soldado sob as ordens incontestáveis de seu superior, e encontro dona Lúcia sentada sobre um lençol aberto (acho que também bege, como o seu jaleco, só que num tom mais escuro), estendido de uma ponta a outra do sofá, cobrindo-o totalmente. Ela está tão envolvida colocando objetos em caixas e depois etiquetando cada uma delas para fazê-las se juntar às que já estão espalhadas no seu entorno, que sequer reparou a minha presença.

Desde que anunciou sua DÉSPOTA decisão de migrarmos para sua cidade natal, percebi o quão estranhamente motivada minha mãe vem agindo ao organizar tudo o que diz respeito a essa mudança. Não consegui até agora identificar qualquer sinal de incômodo ao vê-la dando uma geral nos armários, separando roupas e objetos pessoais e até mesmo alguns aparelhos elétricos (pequenos ou de médio porte), colocando meticulosamente tudo nas caixas enviadas com antecedência pela empresa de transporte, que a muito custo resolveu atender, em caráter de exceção, a esse seu pedido.

Como dona Lúcia está conseguindo processar tão bem essa situação? Eu até posso entender que lá, em Tão, tão distante, estejam suas raízes, o seu passado, mas e a história que ela criou aqui, nesses quase vinte anos de Rio de Janeiro? O trabalho no seu PRÓPRIO consultório, que ela sempre se orgulhou de manter, chegando mesmo, em algumas ocasiões, deixar a mim e ao meu pai de lado ao trazer para casa pastas, laudos médicos, manuscritos, folhas soltas, com o argumento de que precisava analisar o problema grave de algum paciente…

Chega a soar controversa essa reação de euforia que está vivendo, afinal ela sempre relatou a vida que levava na sua cidade natal de forma superficial, lacônica, dando a impressão de que não se sentia à vontade em falar sobre o assunto, sempre buscando encerrar prematuramente, sem vacilar, qualquer tentativa de conversa que pudesse avançar além dos limites por ela determinados.

Se algum dia eu tivesse sequer ousado nutrir o desejo de tentar criar laços com qualquer parente que viveu ou ainda vive naquele lugar, naturalmente teria me sentindo desmotivado. Só tive contato com esse lado da família uma única vez, aos cinco anos de idade, quando dona Lúcia me levou para o enterro do seu pai, e até onde consigo lembrar, saímos do cemitério antes mesmo do caixão receber a primeira pá de terra. E agora, do nada, pura e simplesmente, decide retornar para o mesmo lugar de onde fez questão em se manter distante, e pior, me levando como cúmplice, querendo que eu entenda e faça parte desse imbróglio, e como se já não bastasse isso tudo, quer que eu me torne amigo de infância da minha prima Bia? 🤔 🤬 🤨 😖

Ah, tá! 👍👍👍

Realmente o bardo inglês sabia das coisas quando sugeriu existir mais mistérios entre o céu e a terra do que a vã filosofia dos homens possa imaginar.

– Vou dar uma volta – comunico à dona Lúcia enquanto continuo testemunhando a sucessão de gestos que ela pratica, colocando, tirando e escolhendo a caixa adequada onde cada coisa deverá ser guardada… Fico cansado só de olhar.

– Não demore querido. Não se esqueça da sua festa de despedida hoje à noite – ela reivindica num quase murmúrio, sem levantar a cabeça, e graças ao Criador, sem demonstrar qualquer resquício de aborrecimento sobre a conversa que tivemos hoje, no final da manhã…

Como minha própria mãe consegue ficar tão egoisticamente alheia à minha dor? Às vezes sinto como se nós fôssemos dois continentes de experiências e sentimentos incapazes de se comunicar…

Respondo, por fim, que logo estarei de volta e me dirijo à porta a passos largos. Quero ver a praia. Talvez o mar me ajude a expurgar boa parte dessa confusão mental, desse suplício, e Botafogo, definitivamente, não é o lugar adequado para essa empreitada.

 

Troye Sivan – LOST BOY

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*  *  *  fotos: Banco de dados PIXABAY (imagens livres de direitos autorais)

*  *  * gif  “mangá: estou acordado” extraído do site https://aminoapps.com/c/guerraseimperiosbr/page/blog/estou-acordado/vQeG_XLSnu153mxY3w2q55DxV5GzoRnn46IX

*  *  * gifs “números’ extraídos do blog http://luizcarlos2012.blogspot.com/2012/02/grande-dia-amanha-democracia.html

*  *  * gifs “mangás estou aliviado/ estou pensativo” extraído de Luck Voltia gifs

*  *  * gif “mangá batalha” extraído de https://aminoapps.com/c/cla-dos-sete pecados/page/blog/meliodas/MaME_zvikuZPnY8GPXp8zjaLr1vdBw5B0FN

*  *  * gif “caminhando contra a neve” extraído de  https://giphy.com/explore/hydrogen-bomb

*  *  *  vídeo “Lost Boy”, Troye Sivan.: FONTE YOTUBE.com.br

 

 

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