“Acordar é ver-me viva na casa vazia, cambalear de sono até a varanda para assistir o Sol nascer, iludida de que você surgirá e abraçará minhas costas, como o rastro de fumaça perfumada que ainda ficou nos primeiros dias. Deixei as janelas fechadas pra que o cheiro do teu cachimbo não fugisse pelas frestas. Guardei as cinzas de teu fumo de ervas numa caixinha pra respirar quando tua ausência fosse insuportável.”- Cidinha da Silva.

 

 

A casa nunca disse que daria trégua.

 

RESIDÊNCIA DA PROFESSORA HARUKA,SÁBADO- 3 DA TARDE.

 

Haruka está terminando de aromatizar um incenso em sua casa quando ouve batidas fortes e atônitas na porta. Ela estranha pelo fato de ninguém nunca ter batido assim na porta dela, e corre para ver do que se trata. Quando abre, ela se depara com algo já esperado.

— Pois não?

É Takeru e Saori ali presentes.

— Professora Haruka. Precisamos que nos conte sem rodeios dessa vez.- Disse Takeru- O que tem na porcaria daquela casa?

Haruka entende que é chegada a hora de revelar tudo o que tem pra revelar para aqueles garotos.


 

 

OPENING:

 


 

EPISÓDIO 4:

  “O CALVÁRIO SOU EU”

 


 

MANSÃO MIYAZAKI, 24 HORAS ANTES.

 

Ainda é sexta-feira de tarde e a polícia está ali na mansão, e o corpo da pobre Ruki está sendo levado. Em um canto se encontram Saori, Takeru e Kato completamente inertes.

Seus pais estão ali conversando com um dos policiais.

—… Então ela havia acabado de começar a trabalhar aqui, é isso?

— Sim, oficial. Mas estamos mais incrédulos do que você.- Disse Kaiba.

— Notou algo diferente na moça? Algum sinal de que ela estava deprimida?

— Bom, a Mei que a contratou, e ela é mais perspicaz em prestar a atenção nisso.

— Não, ela estava bem, não parecia nem de longe uma mulher que pudesse cometer suicídio.

— Entendo, creio que talvez eu deva interrogar os seus filhos.

— Por favor, senhor policial, não faça isso. Olha o jeito que eles estão, pelo menos não agora, eles não vão conseguir dizer nenhuma só palavra- Disse Kaiba.

— Certo, mas retorno depois para tomar o depoimento deles. Acredito que eles vão precisar de um acompanhamento psicológico nos próximos dias, principalmente a pequena.

— Não se preocupe, senhor policial. Vamos providenciar tudo isso.

— Bem, se não há mais nada a se fazer, vamos nos retirar. Por favor, me informe se souber de mais alguma informação relevante. Até logo!

Os policiais saem dali e Kaiba olha para os três filhos com um sentimento de impotência.

 

MANSÃO MIYAZAKI, QUARTO DE SAORI- NOITE.

Saori está deitada lendo algum livro e alguém bate na porta.

— Quem é?

Takeru entra se espreitando pela porta.

— Posso conversar?

— Oi, pode.

Takeru entra. Fecha a porta. Saori se recosta na cama.

— Saori, a gente não tem outra opção. Temos que ir na casa da professora Haruka descobrir o que ela sabe sobre essa casa.

— Mas… E se for um blefe ou…

— …Sendo blefe ou não, nós não temos muito a perder, Saori. Tem algo de errado com esse lugar e o que vimos naquele porão não pode ser ignorado.

— O que será que esses fantasmas querem da gente?

— Não é com os fantasmas que devemos nos preocupar. É esta casa.

Saori fixa a atenção em seu irmão.

— Alguma coisa de muito errada está acontecendo aqui e não podemos mais continuar negando isso.

— Você tem razão. Sendo assim… Eu irei com você até a casa dela e vamos tirar essa história a limpo.

 

RESIDÊNCIA DA PROFESSORA HARUKA- AGORA.

 

Haruka está sentada na cadeira do meio de uma mesa circular. Saori e Takeru se encontram cada um de um lado oposto naquela mesa. Haruka está com recortes de jornais e vários outros itens em cima da mesa mostrando pra eles.

— Juro que se alguém falasse pra mim, eu jamais acreditaria. Mas eu fico ainda mais intrigada porque vocês de fato não fazem a menor ideia de onde estão morando. Vejam essa foto! Foi tirada há uns 60 anos atrás.

— Mas… Parece muito com a fachada da nossa casa.- Disse Saori.

— Não só parece, como é, senhorita Saori. A casa de vocês pertenceu à família Himuro.

— A família Himuro?- Questiona Takeru.

— Sim, Takeru. Uma família que viveu naquela casa por décadas e décadas de tradição, mas que um certo dia, essa tradição acabou quando algo inesperado aconteceu. Reza a lenda que a família Himuro era praticante de um ritual xintoísta proibido chamado “Ritual do Estrangulamento”.

— Ritual do estrangulamento? Mas o que significa isso?- Questiona Saori.

— Neste ritual, os membros da família, a cada 50 anos, deveria escolher uma jovem pra separá-la do mundo externo e deixá-la pura até o dia do ritual. Essa moça não podia conhecer nenhuma pessoa sequer do mundo lá fora, pois qualquer contato, mínimo que seja, poderia a corromper. Os Himuro ofereciam a “donzela”, era assim que eles a chamavam, para um sacrifício macabro. Quando chegava o dia, eles amarravam os 4 membros de seu corpo a 4 cavalos e, em seguida, eles pediam para que os cavalos corressem em direções opostas fazendo com que a escolhida fosse esquartejada.

Saori e Takeru colocam a mão na boca, chocados com as revelações.

— Após isso, eles banhavam as cordas com o sangue da garota e colocavam no portão que fica no chão em algum lugar dali para selar o málice, como eles diziam. E assim restaurar a paz na família por mais 50 anos até vir a próxima geração e dar continuidade ao processo. Entretanto, no último ritual, algo deu terrivelmente errado. A donzela daquela época que se chamava Mino, conheceu um jovem pela janela chamado Yoro, e sua pureza foi corrompida, diziam que ela se apaixonou por aquele homem da janela e no dia do ritual do estrangulamento, o seu pai descobriu o que havia acontecido e enlouqueceu! Ele assassinou 7 pessoas naquela noite, incluindo sua filha, sua mulher e o homem por qual a garota se apaixonou. Após isso, ele mesmo se matou, pois ficou com medo do karma cair sob ele. Mas o que ele não sabia, é que o karma ou o málice, como preferir dizer, nunca foi selado. E até hoje os espíritos vingativos da mansão Himuro, da casa que se tornou vermelha carmesim com tanto sangue que já foi derramado ali, aguardam para que o ritual seja realizado novamente, eles aguardam por uma nova donzela ou alguém que possa valer a pena o sacrifício. Eu passei anos e anos da minha vida investigando esse caso sem saber se era real ou não, porque a verdade era que o verdadeiro paradeiro da mansão Himuro nunca havia sido descoberto… Até agora. E vocês estão de fato morando na mansão Himuro, como tiveram coragem?

— Nem pergunte pra a gente, isso foi coisa dos meus pais que encontraram essa casa por um preço barato e decidiram comprar.

— Eu fiquei um ano em um colégio interno em Hong Kong, então não sei muita coisa de como rolou.

— Precisam descobrir quem vendeu essa casa aos pais de vocês, eles certamente foram enganados por algum membro da família Himuro.

— Mas você disse que os Himuro morreram no último ritual.- Disse Saori.

— Sim, mas… Quem me garante que algum deles não deixou um herdeiro por aí? A gente não sabe direito como era os costumes do nosso Japão naquela época.

— Tá, mas suponhamos que isso seja verdade, a pessoa que vendeu a casa para os meus pais pode ser alguém da família Himuro?- Questiona Saori.

— É apenas uma hipótese, não posso dar uma total certeza.

— Como tem certeza que a nossa casa é essa tal mansão Himuro?- Pergunta Takeru.

— Vejam vocês mesmos na foto, é a mesma casa, só que há mais de 50 anos atrás. Mas confesso que a cereja do bolo foi quando eu ouvi a conversa da coordenadora de vocês dizendo que o carteiro foi até o endereço e não encontrou a casa, apenas um terreno vazio. Esse é o poder da casa Himuro.

— Como assim?- Questiona Takeru.

— A casa Himuro funciona como um portal interdimensional entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, ela pode transitar como quiser e aparecer apenas para as pessoas que ela quer aparecer. Mas também, há o jeito mais simples. Se o dono ou qualquer pessoa que mora dentro da casa Himuro, convidar alguém para entrar, a casa vai se revelar para essa pessoa.

— Então foi por isso que o carteiro não encontrou a nossa casa? Mas… Então como a senhorita Ruki, a empregada, conseguiu ver e entrar na casa?- Questiona Takeru.

— Possivelmente os seus pais a convidaram para entrar.

— É verdade.

— É, mas isso não adiantou nada, vocês viram o que a casa fez com a empregada, a nossa irmã mais nova ficou impressionada. Foi a cena mais horrível que eu já vi na minha vida desde…

Takeru para um momento.

— Desde o quê, Takeru?

— Não, nada, só uma memória ruim que veio em um momento ruim. Deixa pra lá.

— Bom, eu tenho uma ideia pra tentarmos descobrir os segredos daquela mansão, mas antes eu preciso mostrar uma coisa muito importante pra vocês e peço que prestem muito a atenção.

Haruka pega um álbum cheio de fotos e artigos de jornais.

— Vejam, isso aconteceu há dois anos na Irlanda do Norte. Um asilo comandado por freiras virou ataque de uma manifestação demoníaca.

— Espere, eu ouvi as meninas da minha escola falando sobre isso.

— E isso não é tudo. A madre superiora daquela época estava possuída por uma entidade tão demoníaca, que a mesma se alojou no corpo dela sem ela desconfiar.

— E como eles pararam isso?- Questiona Saori.

— Vejam essa foto. Olívia Brown, ela era enfermeira do asilo e soube que tinha um dom inimaginável. Ela podia viajar pelo tempo através de projeção astral, foi assim que ela descobriu que a verdadeira entidade demoníaca se escondia dentro da madre superiora.

— Mas isso é impossível! Ninguém no mundo pode voltar no tempo ainda que seja por uma, por uma…

—… A verdade é que mesmo com os encobrimentos do Vaticano, essa mulher conseguiu não apenas descobrir o mal, como dizimou ele daquele lugar.

— Então vamos chamar essa tal de Olívia pra nos ajudar.

— Não é tão fácil quanto parece, Takeru. Olívia era uma mulher extremamente religiosa e devota ao Senhor, a sua alma pura foi a arma que destruiu aquele mal.

— Mas… Senhora Haruka, como sabe de tudo isso?- Pergunta Saori.

— Porque eu também sou como ela, Saori. Eu sou médium assim como aquela moça.

— Médium? Você esperou esse tempo todo pra nos falar que também é médium?

— Ninguém sai por aí dizendo que é médium, Takeru. O que estou tentando dizer é que… Se vocês quiserem, eu posso tentar acessar aquela casa através do meu dom e descobrir o que a entidade maligna realmente quer. Mas vocês dois precisam estar bem conectados e não pode haver hipocrisia e mentiras entre vocês dois. Gêmeos possuem um elo muito forte que serve como uma ponte certeira para comunicar-se com o outro mundo. Mas preciso da colaboração de vocês, vocês conseguem fazer isso?

Os dois se entreolham e aceitam a proposta.

— Ótimo, vou preparar o local.

 

Cerca de meia hora depois, Haruka se encontra na mesa com as suas duas mãos dadas para Takeru e Saori. Podemos ver velas acesas em cima da mesa e ela também fechou todas as cortinas das janelas.

— Agora se concentrem, vou pedir para que os astros me levem até a casa dos Himuro.

Ao fechar os olhos, somos “transportados” para Haruka de noite em frente a um terreno, sem conseguir ver nada. Na sala, ainda de olhos fechados, ela comenta.

— Um de vocês dois precisam me dar permissão para entrar na casa, senão eu não vou conseguir acessar. Mas não quebrem o círculo.

— Saori, você tem mais tempo na casa, dê a permissão você.

— Tá bom. Haruka-san, (san= sufixo japonês pra se referir a alguém com mais respeito, geralmente usado para pessoas mais velhas) a senhora é bem vinda à nossa casa.

No momento em que Saori concede a permissão, a casa aparece novamente dentro da projeção astral de Haruka.

— Ora, ora, ora. Então essa é a famosa mansão Himuro?

Haruka começa a narrar para os dois na sala enquanto vemos ela adentrando à mansão pela projeção astral.

Eu estou na sala agora, há uma escada enorme na minha frente e… O que é aquilo?

Ela caminha dentro da visão.

— Na casa de vocês havia duas portas vermelhas de cada lado atrás da parede da escada?

Os dois respondem fazendo a negativa.

— Foi o que pensei, mas parece que não são portas normais mesmo. São memórias. Uma porta é a do Takeru e a outra porta é a da Saori. Vou entrar na sua primeiro, Takeru, se não se importa.

Dentro da visão, Haruka abre a porta vermelha da memória de Takeru.

— Eu consigo ver aqui um pouco de medo, insegurança, angústia, muita angústia! Por que tanta angústia assim, Takeru?

Ele não responde.

— Drogas, bebida alcóolica e… Mas quem é essa que está aparecendo na minha frente?

Os dois ficam impressionados. Takeru pergunta.

— Quem, quem está aparecendo?

— É uma jovem muito bonita, muito bonita mesmo. Ah ela me disse o nome dela. Yukina.

— Yukina? A minha Yukina? Ela tá lá? Diz pra ela que eu sinto muito e que eu a amo demais!

— Mas espera, ela… Ela está mandando eu voltar, está dizendo que o que eu procuro não é aqui.

— Como assim?

— Acho que ela quer que eu vá para a outra porta, a porta da Saori, que aqui eu não vou achar respostas. Bom, vamos sair então e vamos entrar na porta das lembranças da Saori.

Ela sai. Entra na porta das memórias de Saori.

— Mas… Que escuridão é essa, Saori? Por que aqui é tão escuro? O quarto do Takeru tinha um tom cinzento, mas dava pra ver tudo claramente, por que essa escuridão? O que há aqui que você tem tanto medo?

Saori começa a tremer e a suar frio.

— Esperem, eu estou vendo uma silhueta lá no fundo. Sim, sim, parece ser um homem. Mas está muito escuro, não consigo identificá-lo. O pior de tudo é que… Eu posso sentir que ele está rangendo os dentes, está com raiva, ódio, que homem é esse? Por que ele está em essa parte tão obscura da memória da Saori? Até cogitaria em dizer que era o pai de vocês, mas não, esse é repleto de ódio. Ele tá se aproximando de mim, ele tá querendo dizer alguma coisa, ele disse… Tenha… Uma… Boa… Aula!

Ao pronunciar isso, Saori solta sua mão dos demais quebrando o círculo.

— JÁ CHEGA! Eu não posso fazer isso, eu não posso!

Saori se levanta e sai correndo aos prantos dali.

— ESPERA, SAORI! SAORI! Me desculpe, senhorita Haruka.

Takeru corre atrás de Saori. Ela vai para o banco de uma praça e começa a chorar colocando a mão no peito como se estivesse se sentindo sufocada. Takeru chega logo em seguida.

— Saori-chan. O que aconteceu com você?

— É tudo minha culpa, Takeru.

— Mas como assim? Você não tem culpa de nada.

— Não, não, é minha culpa sim. A Haruka disse que isso só iria dar certo se fôssemos sinceros um com o outro e sem mentiras.

— Mas estamos sendo, não?

— Você está, mas eu não!

— Como assim?

— Tem coisas sobre mim que você ainda não sabe. E talvez seja isso que tá causando todas essas coisas na casa, as minhas mentiras e os meus pecados… Todos eles vão nos destruir.

Takeru abraça Saori sem ter a menor ideia de que tipo de segredos a sua irmã está falando.

 

MANSÃO MIYAZAKI- TARDE.

 

Kato está deitada na cama em seu quarto e sua mãe está ali conversando com ela.

— Eu sinto muito que tenha passado por isso, meu anjo.  Eu faria o possível pra que isso nunca tivesse acontecido na nossa casa.

— Cadê o mano e a mana?

— Boa pergunta, pegaram o carro e se mandaram não sei pra aonde, mas eles já são grandinhos, sabem pra onde vão. Daqui a pouco eles estão aí. Vou te deixar descansando, meu anjo, até daqui a pouco.

Mei dá um beijo na testa de Kato e quando se aproxima da porta para se despedir dela, Kato diz:

— Mamãe?

— Sim, filha?

— Por favor, não me deixe sozinha nesta casa. Por favor.

— Não se preocupe, meu anjo. Você está segura aqui. Até logo!

Mei fecha a porta do quarto deixando Kato ali apreensiva. Ela murmura no corredor, dizendo:

— Tenho que ter uma conversa séria com a Saori e o Takeru por causa disso.

 

PARQUE DE HIBYIA, TÓQUIO.

 

Saori e Takeru estão sentados no banco da praça daquele parque. E após muita resistência, finalmente Saori decide abrir o coração para o seu irmão e contar tudo o que lhe afligia.

— Depois que você foi embora para o internato, a minha vida de fato se tornou um inferno. Entretanto, eu não imaginava que meu inferno seria tão ruim assim. E não estou falando das indiretas por eu ser a tua irmã, não. As coisas eram bem piores do que se imaginam, e é por isso que eu sempre tive tanta vergonha. Tanta vergonha de contar o que acontecia comigo, pois… Não é algo que eu me orgulho. Tudo na minha vida estava indo mal, claro… Mas o pior ainda estava por vir, foi quando ele começou a lecionar pra nossa turma… O professor Urumada.

 

COLÉGIO SHIJIMOTO, KYOTO, JAPÃO, 8 MESES ANTES.

 

Eu sempre fui uma aluna muito disciplinada, sempre tirei notas boas, e você sabe disso. Mas eu sempre tive uma leve dificuldade com o inglês. Apesar de anteriormente eu sempre conseguir tirar notas suficientes pra atingir a média mínima, vi as coisas se complicando bem mais depois do incidente contigo.

Mas antes que pense que estou te culpando, deixe-me retratar. Eu estava sempre com a mente cheia de pensamentos alheios que prejudicavam na minha concentração, e como o inglês eu precisava esforçar um pouco mais da minha mente, estava tendo dificuldades monstruosas, ao meu ver.

E dificultou mais ainda quando a nossa professora saiu e entrou outro no lugar dela: Kaito Urumada. Já fazia tempo que eu sequer me atrevia a pronunciar o nome desse sujeito. Sujeito esse que arruinou a minha vida.

Certo dia, recebi a minha prova de inglês, eu tirei 4,0. Fiquei tão triste e tão frustrada que não queria mostrar essa prova pra ninguém.

Quando a aula acabou, eu já estava me preparando para sair, quando o senhor Urumada me chamou.

— Senhorita, Miyazaki. Tem um minuto?

— Claro.

Eu queria não ter tido minuto nenhum.

— Vejo que suas notas caíram bastante nos últimos dias, e pelo seu histórico, você não é uma menina de tirar notas abaixo de 5,0. Tem alguma coisa errada?

— Me desculpa, professor. Eu ando um pouco distraída, problemas familiares, se é que me entende.

— Sim, eu entendo. Por isso mesmo que vi a sua situação e talvez eu possa te ajudar para que suas notas melhorem e você não reprove o ano.

— Sério?

— Sim, eu sempre dou aulas particulares para alguns dos meus alunos às 5 da tarde no gabinete da diretoria. Prefiro esse horário porque todos os demais alunos e professores já saíram e eu já havia conversado com o diretor sobre essas aulas de reforço e ele me concedeu essas aulas.

— Sério? Mas… Eu não tenho dinheiro pra pagar uma aula de reforço.

— Não, querida, não tem que pagar nenhum centavo. É algo que eu fiz pra servir como estímulo para os meus alunos. Caso tenha interesse, hoje teremos aula das 17h às 18h. Pode ir para sua casa e depois retornar, se preferir.

— Ah, eu adoraria, por favor, me ajude com meu inglês, senhor Urumada.

— É claro que sim, querida. Será um prazer ajudar você.

Eu saí da sala de aula toda entusiasmada. O senhor Urumada não era um cara feio e também não era bonito. Devia ter uns 35 anos, cabelo preto e caído até os ombros, tinha um rosto robusto, e não era nem magro e nem gordo.

Bom, voltei pra casa, almocei, descansei um pouco e voltei ao colégio, claro que minha mãe sabia que eu estava indo para aulas de reforço.

Finalmente cheguei à aula. Bati na porta do gabinete do diretor. O senhor Urumada abriu pra mim com um sorriso no rosto.

— Oh, você veio, querida? Fico muito feliz. Entre.

Ao adentrar naquela sala, já comecei a achar estranho que não tinha ninguém ali. E mais estranho ainda quando percebi que ele havia trancado a porta.

— E onde foram parar os outros alunos?

— Ow, pois é, já era pra pelo menos uns 5 terem chegado, estranho. Mas não devem demorar. Sente-se, podemos ir começando. Trouxe seu caderno?

— Sim, claro.

Eu tirei o caderno da minha bolsa e coloquei em cima de uma das mesas, me sentei e já peguei a caneta e o lápis pensando que ele iria começar a me ditar o primeiro dever.

— Saori… Você realmente precisa de notas boas em inglês pra poder passar de ano, não é?

— Sim, e se eu não conseguir boas notas, não vou conseguir ir pra faculdade.

— E se eu te dissesse que… Você pode conseguir notas muito boas aqui comigo sem você precisar necessariamente aprender a matéria?

— Sério? Mas… Como isso pode ser possível?

— Levante-se! Venha até aqui na minha mesa.

Eu ingênua, me levantei e fui até ele. Quando me aproximei, notei que ele me olhava de um jeito estranho.

— Você é muito bonita, senhorita Saori. Tem quantos anos?

— Muito obrigada, vou fazer 17.

— Ow, 17 anos, uma ótima idade por sinal. Sabe… Eu confesso que teve uma pequena parte que eu acabei não sendo 100% sincero.

— Qual?

— A parte que eu falo sobre as aulas serem de graça. De fato, elas não custam dinheiro, mas você poderia me pagar de uma outra forma.

Naquele momento eu comecei a perceber que as intenções do senhor Urumada nunca foi me ajudar com o inglês.

— De que outra forma?

— Sabe… Você é uma moça jovem, bonita, cheia de vida, eu sou um homem solteiro, viril… Acho que… Poderíamos entrar em um acordo, não acha?

Ele começou a me rodear como se eu fosse um pedaço de carne fresca.

— Eu não entendo o que o senhor quer dizer, senhor Urumada.

— Bom, eu posso te ajudar a entender melhor as coisas.

Quando eu menos imaginei, ele agarrou na minha cintura e cheirou meu pescoço. Eu saí imediatamente de perto dele e fui pra direção da porta.

— O que está fazendo?

— O nosso trato, ora. Você não queria ter notas boas na matéria?

— Mas esse não era o combinado, me deixa ir embora.

— Sabe, Saori… Aqui você tem muito mais a perder do que eu. Essa hora não tem mais ninguém na porcaria dessa escola. O zelador faz vistoria exatamente das 17h às 18h no pátio e só depois ele vem pra cá. Ou seja, é tempo o suficiente pra eu fazer o que eu bem entender, e ninguém vai notar.

— Eu… Eu posso te denunciar.

— Tenta. Quem você acha que eles vão acreditar? Na palavra de uma garotinha mimada de 16 anos ou de um professor sério e com uma ótima reputação acadêmica?

— Você é um… Porco. Eu sou menor de idade, seu doente! Por que não procura pessoas mais velhas pra satisfazer essa tua doença?

— Esse é o problema, Saori. São as mais novas que me excitam, elas é quem me dão prazer. Principalmente as jovens virgens… E pelo cheiro que exala da tua saia, acredito que nenhum homem nunca te tocou, não é, Saori?

— Por favor, eu faço o que o senhor que quiser, mas não faz isso comigo.

— Claro que você vai fazer o que eu quiser, Saori. Vai me satisfazer.

Aquele monstro me pegou pelos cabelos e me prensou contra a mesa me colocando de bruços. Ele tirou a minha saia a força e, em seguida, retirou a minha calcinha.

— Prepare-se para sentir o maior prazer de sua vida, bonequinha.

Ele sem nenhum pudor, abaixou as suas calças e… Começou a me estuprar, ele prensava a mão na minha cabeça contra a mesa pra eu não tentar reagir, enquanto ele enfiava aquele pinto sujo em mim. Eu me senti uma porca, um pedaço de estrume saindo do esgoto.

Quando terminou, ele me liberou, disse que não era pra eu contar nada a ninguém, que teria consequências. Antes de eu sair, ele me chamou mais uma vez e disse aquela maldita frase que corrói na minha cabeça até hoje:

— TENHA UMA BOA AULA!

Eu fui pra casa chorando desesperada, mas eu precisava disfarçar, não podia deixar ninguém em casa descobrir o que havia acontecido. Eu me odiei mais ainda é porque o safado realmente cumpriu a promessa. Ele me chamou na sala de aula na frente de todo mundo dizendo que houve um problema com a minha prova e ela foi corrigida novamente e que na verdade minha nota era 8,0.

Todos na sala ficaram incrédulos, aquela era a melhor nota da turma desde que aquele professor entrou.

Conforme passaram-se os dias, os encontros se tornaram cada vez mais frequentes, eu percebi que estava com a síndrome de Estocolmo. Eu queria me livrar dele, mas tinha tanto medo e ele me oprimia tanto que eu sempre ia. Ele começou a me estuprar de todos os jeitos possíveis e doentios que um homem podia fazer com uma garota. Meus órgãos genitais já nem tinham mais respiração, porque ele estava sempre lá, com aquele pau nojento em mim.

Ele estava completamente obcecado, me forçava a fazer oral nele e me ameaçava com um canivete caso eu tentasse morder ele. Foi mais ou menos 2 a 3 meses vivendo esse calvário, um calvário no qual eu pensei que era impossível sair dele. Eu me perguntei: Pra onde foi aquela garota forte e decidida que não abaixava a cabeça pra ninguém? Como foi que eu me enfiei dentro desse calvário? Mas com o passar do tempo, meu querido irmão, eu percebi que eu não estava dentro de um calvário, o calvário era eu mesma.

Eu mesma atraía as coisas negativas pra mim e 3 meses sendo abusada pelo professor, sem ter forças pra contar a ninguém, só confirmou o quão covarde eu era. Fui fraca, fui tola, eu tanto que queria me guardar para poder me entregar a um homem que eu amasse, e aquele imundo roubou de mim tudo o que eu tinha, roubou a minha inocência.

Eu estava cansada! Eu precisava passar a limpo tudo isso, precisava colocar um fim nessa situação.

Certo dia ele me chamou mais uma vez. Eu me atrasei de propósito 45 minutos. Quando cheguei, ele estava saindo do gabinete do diretor e claramente irritado.

— Onde você pensa que estava? Por que demorou tudo isso?

— Estava resolvendo alguns problemas e…

— … Sem desculpas, vamos pra dentro que hoje você vai ter que ser uma putinha bem vagabunda pra mim pra compensar o tempo que esperei.

— Senhor Urumada, tenho que dizer uma coisa.

— O que é?

— Acabou!

— Acabou o quê?

— Não vou mais permitir que faça essas coisas comigo, eu vou embora e nunca mais quero saber de você.

Eu dei as costas pra ele e fui me apressando para descer as escadas, mas ele estava ensandecido e me alcançou e me puxou pelo cabelo derrubando-me no chão.

— Onde você que pensa que vai, sua vadia?

Eu comecei a me arrastar, a tentar escapar, ele usou a sua força para me dominar no chão. Consegui chutar ele e comecei a implorar por socorro.

— SOCORRO! ALGUÉM ME AJUDA, POR FAVOR!

— NINGUÉM VAI OUVIR VOCÊ, SUA VAGABUNDA!

Ele me agarrou, tentou me levar pra dentro do gabinete, eu me forcei mais um pouco e consegui escapar dele. Tentei fugir e mais uma vez ele me alcançou. Ele começou a me enforcar e eu percebi passos de alguém se aproximando no corredor, comecei a me debater para pedir socorro.

— Vai pagar por me desafiar, sua vadiazinha imunda!

Eu consegui virar o meu corpo para o lado, tirei as mãos imundas dele de cima de mim, e quando ele veio novamente tentar me agarrar, eu dei um chute nele. O chute era apenas para alertar, apenas uma forma dele se afastar de mim. Mas eu não percebi que ele iria se desequilibrar daquele jeito e caiu da escada.

Mas não foi apenas isso, quando ele caiu, bateu a cabeça muito forte na parede dos degraus de baixo. Eu me levantei aos poucos, me aproximei da escada e o vi lá embaixo com a cabeça sangrando, e claramente sem vida.

Quem havia chegado naquele momento havia sido o zelador. Ele chegou, me abraçou e perguntou o que tinha acontecido. Eu comecei a chorar tanto, mas tanto, se alguém descobrisse que eu matei um homem, ainda que por legítima defesa, seria um caos absoluto. Minha vida estaria arruinada!

— Eu não queria, ele… Ele estava me violentando, ele…

— Calma, querida, calma, deixa isso comigo. Ninguém viu mais nada, eu cuido disso pra você, fique tranquila.

O zelador foi um anjo, mas ele não precisava ter feito aquilo por mim. Ele me acobertou, acobertou uma criminosa. Ele me mandou ir para casa e preparar um álibi como se eu nunca tivesse ido naquela escola aquele horário.

Então o zelador contou para os policiais que o senhor Urumada sofreu um terrível acidente ao descer das escadas. Ele como zelador, cuidou para não deixar nenhuma mancha ou digital minha naquele homem. Não entendi o motivo exato dele ter feito tudo aquilo por mim sendo que mal me via.

A notícia que foi dada no colégio foi que o senhor Urumada havia sofrido um acidente na escola e morreu. Passaram-se dois dias e todo mundo ainda estava crendo nessa verdade.

Mas foi aí que um certo dia bem no horário de aula. Bom, na verdade, estava na hora do recreio, eu vi os policiais chegando e se aproximando do zelador. Eu só consegui ouvir o:

— O senhor está preso pelo assassinato do senhor Kaito Urumada.

Eu fiquei desolada, não sabia como reagir, enquanto eles levavam o pobre zelador, ele olhou pra mim. Eu dei um passo a frente, estava disposta a livrar aquele homem da prisão, mas quando fiz esse gesto, o zelador balançou com a cabeça fazendo a negativa, como se não quisesse que eu me entregasse, como se ele já estivesse esperando que aquele seria o destino dele.

Eu cheguei a pensar: Isso não poderia ficar pior, não é? Mas sim, poderia ficar ainda pior do que já estava. O meu calvário só estava começando.

Após umas duas semanas da morte do Urumada, percebi que a minha menstruação atrasou. Isso nunca tinha acontecido em todo esse tempo. Comecei a passar mal, sentir enjoos frequentes, até que um dia eu decidi tirar a prova dos 9 com um teste de farmácia.

Deu positivo. Eu estava grávida do monstro que destruiu a minha vida e no qual outra pessoa foi parar na prisão por minha culpa.

Eu não poderia contar pra mamãe e pro papai, não poderia seguir com isso, imagine o escândalo? Grávida aos quase 17 anos? Foi o que eu pensei.

Eu precisava dar um jeito nisso, eu não podia ter essa criança. Então fui até uma casa de chás e ervas, eu precisei explicar toda a situação pra atendente.

Então… Tomei um chá que eles me recomendaram altamente abortivo. Como supostamente estava ainda nas primeiras semanas, eu sofri um aborto espontâneo e… Ele diluiu que nem água.

Foi aí que finalmente o meu pai chegou com a notícia de que iríamos nos mudar para Tóquio, pois eu era quem não aguentava mais aquele lugar.

 

Voltamos novamente ao momento presente onde Saori e Takeru estão na praça conversando. Takeru completamente incrédulo com o relato da irmã e ela já com a voz embargada tentando achar forças para continuar a falar.

— Sabe o que é pior disso tudo, Takeru? É que você havia me dito que sua namorada tinha conseguido conceber uma criança, que você tinha o sonho de ser pai, e eu na primeira oportunidade, tirei do meu ventre a pequena vida que crescia dentro de mim.

— Saori, não diga isso.

— Agora você entende o quanto eu sou perigosa para as pessoas? Fui eu que coloquei você naquele internato, eu matei um homem, eu coloquei um inocente na prisão e matei uma criança de dentro do meu ventre. Não existe a menor possibilidade de Deus me perdoar pelo que eu fiz, Takeru.

Takeru tenta consolar a irmã que neste momento já havia desabado em lágrimas.

— Eu, eu queria tanto que as coisas fossem diferentes, eu queria tanto que…

Takeru não se segura e abraça Saori com força. Ela chora desconsoladamente em seu ombro.

— Tá tudo bem, minha irmã. Tá tudo bem. Como foi que aguentou tudo isso sozinha? Não tem mais porque segurar esse fardo, eu estou aqui agora, estou aqui e nunca, em hipótese nenhuma, vou te abandonar de novo.

— Me perdoa, por favor, me perdoa.

— Claro que eu te perdoou, maninha. A culpa não foi sua, não foi sua. Tá tudo bem, pode chorar, chorar alivia. Escuta… Vamos voltar pra casa, descansar e… Em uma outra oportunidade a gente vem na casa da professora Haruka, pode ser?

— Tá bom… Obrigada!

Takeru percebeu naquele momento que sua irmã gêmea tinha motivos de sobra pra ser tão amargurada e cheia de cicatrizes, e que talvez ela não odiava ele como ele mesmo pensou, e sim, odiava a si mesma por todas as coisas que fez e saiu impune de todas elas, mesmo com a consciência pesada e delatora.

 

MANSÃO DOS MIYAZAKI- MEIA HORA MAIS TARDE.

 

Os irmãos voltam para casa. Saori já está um pouco mais calma após a sua crise de choro. Ela olha para o teto e diz:

— Como isso aconteceu com a senhorita Ruki? Não faz o menor sentido.

— E realmente não faz, irmã… Nada do que acontece nessa casa, faz sentido.

Mei está vindo da cozinha.

— Ah, vocês estão aí? Por onde andaram?

— Mãe, onde está a Kato?- Pergunta Takeru.

— Está lá em cima, no quarto. Por quê?

— A gente pode conversar contigo um pouquinho no escritório do papai, por favor?

Cortamos para o momento em que eles estão no escritório. Mei está sentada na cabeceira enquanto os dois estão em pé. Saori é quem inicia as perguntas:

— Quem vendeu esta casa pra vocês, mamãe?

— Como assim, filha? Foi o que eu disse, o pai de vocês trabalha com corretores e grandes construtoras, ele soube do anúncio desta casa e conseguiu comprar por um preço bom.

— Mas a questão é saber quem vendeu ela pra vocês? Com quem o papai entrou em contato?

— Eu… Eu não sei, ele deve até ter falado os nomes, mas, não me lembro. Mas por que vocês dois estão com essas dúvidas agora?

Takeru responde:

— Mãe, a gente desconfia que essa casa seja amaldiçoada.

— Ai, Takeru, pelo amor de Deus. Até você com essas fantasias?

— Fantasias?- Repreende Saori- Aquilo que aconteceu com a senhorita Ruki foi uma fantasia?

— Ela se suicidou, Saori! O que isso tem a ver com esta casa?

— E ela mesma arrancou os olhos dela antes de se enforcar né, mamãe?

— Eu… Eu não entendo essa petulância de vocês dois agora e principalmente a implicância com essa casa.

— Mãe, a gente tá tentando entender melhor como fomos parar nesta casa e quem convidou vocês pra entrar.- Disse Takeru.

— Como “convidou a gente pra entrar”? Do que é que vocês estão falando? Só vejo esse assunto ultimamente pela casa. É assombração pra lá, assombração pra cá, nunca se fala em algo produtivo.

Do lado de fora do escritório, é possível ver Kato se aproximando da porta e escutando a discussão.

— … A Kato que sempre foi uma mocinha corajosa, agora não consegue nem mesmo dormir em seu quarto sozinha, porque vocês não param de ficar falando essas idiotices como dois adolescentes mimados.

Saori se exalta.

— A senhora não entende! Para de achar que somos burros e para de ser cega pelo menos uma vez na vida.

Mei bate as duas mãos na mesa e, em seguida, se levanta furiosa e aponta o dedo na cara de Saori.

— CALE-SE, MOCINHA! Você não está falando com uma de suas amiguinhas do colégio, eu sou tua mãe e você vai aprender a me respeitar! Vá pro seu quarto agora!

Saori murmura e sai correndo do escritório. Ela passa por Kato que estava ali atrás da porta sem perceber.

No escritório, Takeru conversa com sua mãe.

— Não precisava ter pegado tão pesado assim com ela.

— Pegar pesado? Essa garota está se comportando como uma mimada desde que chegamos nesta casa.

— Será que a senhora não consegue perceber o quanto tá sendo difícil pra Saori lidar com isso tudo?

— Lidar com o quê?

— Se fosse pelo menos uma mãe presente… Saberia.

Mei fica sem palavras.

— Mas está tudo bem. Continue aí no seu mundinho de fantasia. É muito mais fácil pra você passar a ponta de uma linha no buraco de uma agulha do que entender os sentimentos de sua própria filha.

Takeru sai. Ele encontra Kato ali na porta e não diz nada, apenas a pega no colo.

Mei se assenta na poltrona totalmente estarrecida com o que ouviu, possivelmente não esperava estar tão distante assim de seus filhos.

No quarto de Saori, ele entra segurando Kato no colo. Ela desce do colo do irmão e vai abraçar Saori.

— Oi, irmãzinha, me desculpa por não ter te dado atenção.

Kato não diz nada, apenas permanece ali no abraço da irmã. Takeru se aproxima da cama.

— Não adianta a gente conversar com o papai, vai ser apenas nós três daqui por diante.

— É… Já vi que não vai adiantar nada mesmo.

— Mano, mana… Por que a gente não se muda dessa casa?

— É o que queremos, Kato… É o que queremos.- Disse Saori com muita preocupação.

— Melhor a gente não incomodar mais a professora Haruka, vamos ver o que vai acontecer e… Tentamos sobreviver até lá.

O que Takeru não sabe é que provavelmente eles não terão tanto tempo assim para sobreviverem.

 

COLÉGIO YAMATO- 3 DIAS DEPOIS…

 

Após 3 dias, mais nada de anormal aconteceu com a família Miyazaki. Os gêmeos estão ali conversando com a professora Haruka após a aula.

— O quê? Vão fazer tudo isso por conta própria?

— Escuta, Haruka-san, a Saori e eu decidimos que quanto menos pessoas se envolver nisso, vai ser melhor. A empregada nem sequer fazia parte de tudo isso e foi uma vítima, a gente teme que possa acontecer alguma coisa com a senhora ou qualquer outra pessoa.

— Bom, sendo assim… Não posso forçar vocês a nada, mas vocês já tem consciência do risco que estão correndo, não é?

— Sim, nós estamos… Nós sabemos disso, professora, mas… É melhor assim.- Disse Saori.

— Tudo bem. Mas, por favor, me mantenham informada. Pode não parecer, mas eu me preocupo com vocês.

 

CLASSE INFANTIL DO COLÉGIO YAMATO

 

As crianças da turma de Kato estão na aula de artes e cada um está fazendo algum desenho. A professora da classe se aproxima dela e observa que seu desenho é muito incomum.

— Kato, o que você está desenhando?

— O meu irmão e a minha irmã.

— Posso ver?

A professora pega aquele desenho e acha um tanto perturbador, ela desenha seus irmãos Saori e Takeru em uma cruz cada um, pendurados.

— Onde está você nesse desenho, Kato?

Kato levanta a cabeça para falar com sua professora.

— Não é pra eu estar com eles.

A professora fica estarrecida diante daquilo.

 

RESIDÊNCIA DA PROFESSORA HARUKA- 9 DA NOITE.

 

A professora Haruka está saindo do banho com a toalha enrolada no corpo e outra enrolada no cabelo. Após alguns minutos, ela veste um pijama da cor verde, passa na sala e liga a TV.

Ao ligar a TV, ela vai para a cozinha tomar um chá. Haruka despeja o chá do bule em sua caneca e assopra antes de dar o primeiro gole. Após degustar seu chá, ela percebe que a Tv muda de canal sozinha.

Haruka fica intrigada. Vai até a sala. Pega o controle no sofá e coloca para o canal correspondente outra vez.

Ela vai para a cozinha, mas dessa vez, a Tv desliga. Haruka volta para sala e, cansada de insistir, decide tirar a Tv logo da tomada para evitar mais estresses.

Mas após ela fazer isso, ao dar de costas, a Tv liga novamente e fica apenas em um canal chiando. Haruka fica impactada, olha pra trás lentamente e não entende como aquela TV ligou sozinha?

Ela se aproxima da parte de trás da TV e fica ainda mais impressionada que a tomada está fora do plug e a Tv continua ligada.

Ela se afasta um pouco, fica encarando o chiado daquele aparelho, até que a Tv desliga e Haruka vê o reflexo de alguém através dela.

Haruka se assusta, olha pra trás, o medo começa a dominá-la.

— QUEM TÁ AÍ?

Disposta a obter respostas, Haruka pega um atiçador de lareira e segura-o com muita firmeza.

— Olha, seja lá quem estiver aí, se não aparecer, eu juro por Deus que eu chamo a polícia!

Haruka dá alguns passos para fora da sala, está obviamente temendo pelo pior. Quem poderia invadir a sua casa naquela hora da noite?

Ela vai para o corredor, continua segurando firme o seu atiçador. Ela fica próxima à escada. Na sala, uma das luzes se apagam.

Haruka está de costas e podemos ver a silhueta de alguém atrás dela. Ela fica parada ainda sem reação, até ouvir um chamado:

— HARUKA-SAN!

— AAAAAAAHHHH!

Haruka cai, se rasteja pelo chão, segura novamente o atiçador e aponta para aquela suposta mulher.

— QUEM É VOCÊ? O QUE TÁ FAZENDO NA MINHA CASA?

— Perdoe-me pelos maus modos, não quis assustar-te.

Haruka estranha aquilo, se levanta aos poucos e fica com as mãos trêmulas.

— Eu vim pedir a sua ajuda, senhora Haruka, és a única capaz de ajudar.

— Eu, eu não entendo… Quem é você?

Aquela mulher finalmente sai da penumbra do corredor da sala e se revela para Haruka.

— Eu sou… Mino Himuro. E eu morri há 70 anos.

Haruka arregala os olhos sem acreditar no que está vendo.

— Não pode ser possível.

— Preciso da tua ajuda para descobrir as intenções da entidade da casa, senhora Haruka… Ou então… Os gêmeos estarão correndo perigo.

Haruka percebe que está encurralada, e a situação na mansão Himuro está prestes a tomar um rumo ainda pior do que se esperava.


 

 

 

 

 

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Lembre-se, você não está sozinho (a).

 

 

 

 


 

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