“Não construa um muro de lamentações, mas um castelo de fé.
As lamentações te atrasa, te afasta das vitórias
e te impede de avançar…
Mas a fé te faz grande, forte, capaz e te leva mais alto e além.
Aumente a fé para construir seus sonhos e fortalecer seu coração.”-

                                                                              Yla Fernandes.

 

 

Não vemos nada além de uma profunda escuridão. Um eco em meio ao caos absoluto. Um absoluto vazio, um absoluto nada.

Em meio ao nada, ouvimos uma voz feminina e um pouco grave chamando por:

— Kato Miyazaki? Kato Miyazaki? Kato Miyazaki, está me ouvindo?

Abre-se os olhos de Kato e ela se encontra em uma sala de aula onde todos os alunos estão olhando pra ela e a professora em pé, esperando uma resposta.

— O… O que eu…

— Tá tudo bem mesmo? É a sua vez!

— Minha vez?

— De resolver a conta de matemática na lousa, querida. Venha!

Kato sem entender nada, se levanta e vai andando vagarosamente na direção da lousa, ela não pôde evitar ouvir os burburinhos dos colegas.

— Por que ela tá assim?

— Ela tá estranha.

— Eu hein?

Kato chega à lousa, a professora entrega um giz pra ela.

— Bem, agora quero que você faça isso no quadro. Quanto é 3-1?

— Três menos um dá igual a…

— … Não responda em voz alta agora, apenas escreva a resposta na lousa.

Kato escreve com o giz, o número 2.

— É 2.

— Agora você entendeu não é, Kato? Três não pode formar par.

— Espera, mas eu…

Quando Kato vira para conversar com a professora, nem ela e nenhum dos alunos se encontram naquela sala de aula. Ela está sozinha, mas olha pela janela e vê todos aqueles alunos ali no pátio brincando.

Alguns minutos depois, Kato se encontra no pátio da escola. Mas a sua presença causa hostilidade entre aquelas crianças. Rapidamente elas começaram a cercar Kato formando um círculo, a pobre garota fica cada vez mais temerosa e não sabe as intenções daquelas crianças.

— O que vocês querem? O QUE VOCÊS QUEREM?

Kato se agacha colocando as mãos nos olhos torcendo para que tudo aquilo seja apenas fruto da sua imaginação. As crianças “cirandam” ao redor dela, cantarolam cantigas macabras enquanto a pobre garota segue ali no meio sem nenhuma reação.

Após viver esses segundos de puro pesadelo, ela ouve uma voz que parece confortá-la.

— Kato, venha comigo! Rápido!

Kato abre os olhos, se rasteja pelo gramado do pátio e faz abertura no meio daquelas crianças e consegue enfim se livrar do círculo delas.

Kato olha para trás e percebe que aquelas crianças não paravam de cirandar e cantarolar, é como se nem tivessem percebido que ela tinha saído.

A mulher a chama mais uma vez.

— Venha, querida. Me acompanhe!

A mão dessa mulher segura na mão de Kato e no mesmo instante ela vai parar na sala de uma casa semelhante ao Japão feudal.

Kato observa vários quadros nas paredes e arquitetura de madeira refinada com tons de vermelho daquela casa. Ela olha para frente e vê uma mulher de costas com um quimono dourado e cabelo amarrado preparando alguma coisa na mesa.

— Aquelas crianças nunca aprendem bons modos, nem todos são assim como você.

Quando a mulher se vira na direção de Kato, trata-se da mãe de Mino, que morrera pelas mãos do próprio marido no último ritual que fracassou.

— Aqui, querida. Tome um pouco de chá.

— Quem é a senhora?

— Ow, sou a mãe da Mino-chan. Sou a senhora Himuro.

— Por que a senhora está usando esse vestido?

— Não é um vestido, querida, é um quimono. Nós mulheres japonesas usamos muito isso no passado, sabia? Mas agora os tempos são outros. Agora beba o seu chá antes que esfrie, também vou tomar o meu juntamente contigo.

A senhora Himuro se assenta delicadamente em um travesseiro no chão e toma um gole de seu chá. Kato faz a mesma coisa e, em seguida, coloca a caneca em cima da mesa de centro.

— Onde eu estou, senhora Himuro?

— Bom, aqui é a projeção do meu lar, Kato-chan. Pelo menos o que eu imaginei ser… Antes da minha Mino… Partir.

— O que houve com sua filha?

— Nada que precise se preocupar agora, querida. Venha, preciso te mostrar uma coisa.

A mulher se levanta, segura na mão de Kato e a leva para dentro de uma sala. Lá tem um projetor enorme e a senhora Himuro pressiona um botão no controle e deixa rodar um filme no projetor.

Na tela, vemos uma jovem nipônica bonita de um pouco mais de 20 anos, que está chegando a uma escola.

— Quem é aquela moça?

— Sabe quem é ela, Kato? Aquela moça é você. Daqui há uns 15 anos mais ou menos.

— Eu?

No vídeo, a moça entra em uma sala de aula cheia de crianças entre 7 a 9 anos, elas correm para abraça-la dizendo:

— PROFESSORA MIYAZAKI, PROFESSORA MIYAZAKI!

— Oi, meus amores! Sentiram minha falta? Lembrem-se que como vocês são meus alunos favoritos, podem me chamar apenas por Kato-san.

Kato assiste aquilo impressionada.

— Você vai se formar em pedagogia e vai se tornar uma ótima professora de crianças, Kato. Todas elas vão adorar você, será um verdadeiro exemplo para as pessoas à sua volta e também à sua família.

Vemos no vídeo, os pais de Kato cantando parabéns com um bolo de aniversário na frente dela com o número 24. Kato faz um pedido e apaga as velas, seus pais a beijam no rosto um de cada lado e repartem o bolo.

— O papai e a mamãe estão mais velhinhos.

— Sim, eles estão.

— Mas… Onde tá o mano e a mana?

— Essa era a parte onde eu queria chegar, pequena Kato. Eu te mostrei como será o seu futuro e, de fato, ele será muito próspero em vista de outras pessoas. Entretanto… Houve algo que mudou e que você irá carregar isso pelo resto da sua vida. Seus irmãos morreram no ritual dos gêmeos em sacrifício para selar o portão do inferno. O sacrifício deles renderia mais 100 ou 150 anos de paz absoluta na mansão Himuro e também no mundo dos vivos, porém, uma parte de você jamais iria superar isso, Kato-chan.

Na tela, vemos os últimos alunos se despedindo de Kato na sala de aula. Quando a última criança sai, ela muda o semblante repentinamente para um semblante de tristeza.

Em outro take, vemos Kato entrando no quarto de noite, pensativa, e com os olhos marejados. Ela pega um porta-retrato em cima da cômoda, se assenta na cama e olhando aquela foto com nostalgia, diz:

— Eu queria tanto que vocês estivessem aqui, manos.

Na foto, vemos Saori, Takeru e ela juntos sorrindo.

A Kato criança olha aquilo e seu coração se enche de tristeza.

— Além de perder os seus irmãos, Kato. Você jamais conseguirá engravidar. Houve um homem que se apaixonou por você, mas depois de tantas vezes que vocês tentaram ter um bebê, ele cansou-se de você e te largou.

Na tela, vemos Kato recebendo a notícia de um médico.

— Infelizmente, senhorita… Você é estéril e por esse motivo, não poderá ter filhos.

A senhora Himuro narra:

— Na noite da lua cheia, a casa amaldiçoou o seu ventre para que você nunca gerasse herdeiros, pois a única sobrevivente do sacrifício do santuário não poderia mais frutificar, a sua geração teria que morrer junto com a maldição que foi implantada em você ao ler o poema de Tomino.

— O poema… De Tomino?

— Sim, Kato. Aquele que você leu na sua casa uns dias atrás. Aquele poema traz um agouro de morte, mas como as entidades precisavam de uma donzela pura, eles preferiram matar sua árvore genealógica do que você mesma.

— Mas… Eu não entendo.

— Calma que tem mais. Veja na tela.

Vemos Kato adulta tomando remédios e ficando cada vez mais fraca e sem vigor.

— Até os 30 anos, você vai cair em uma depressão profunda, seu pai morrerá quando você tiver 28 anos e sua mãe morrerá 2 anos depois. No auge dos seus 30 anos, você se tornará uma mulher solteira, com a carreira comprometida, estéril, sem pai, sem mãe, sem irmãos, sem marido e sem filhos. E então…

Na tela, vemos a Kato adulta subindo em uma cadeira e amarrando o seu pescoço em um lençol branco que ela deu um nó no teto.

A Kato criança olha aquela cena e lágrimas violentas caem de seus olhos.

A Kato adulta dá um passo a frente e se joga daquela cadeira pendurada no lençol enforcando a si mesma.

A Kato criança vira o olhar para trás e chora sem parar.

— Você morreria aos 30 anos de idade por suicídio após uma série de eventos traumáticos. E isso não apenas enterraria de vez a sua árvore genealógica como também faria com que o mal renascesse nos próximos 20 anos e com muito mais sede de vingança do que nunca.

Kato ainda tapando os olhos e chorando, diz:

— Por que foi assim? O que eu fiz de errado?

Ao levantar a cabeça para olhar para a senhora Himuro, elas agora se encontram em um jardim cheio de folhas secas de outono no chão e há um muro gigantesco ao lado delas.

— Onde… Onde a gente tá?

— Estamos no muro das lamentações, jovem Kato. O próprio nome já diz. Um lugar de lamento, dor e solidão. Entretanto há como atravessar o muro, mas somente pessoas de puro coração pode fazê-lo.

— Como?

— Você ama os seus irmãos não é, Kato?

— Sim, eu amo muito eles, mas… Eu acho que eles não gostam tanto de mim assim.

— É aí que você se engana. Veja.

Uma outra tela se abre e vemos uma cena do momento em que Kaiba segura a Kato bebê no colo e entrega à sua mãe.

— O dia que você nasceu, foi o dia mais feliz da família Miyazaki.

Em outra cena, vemos Kato aprendendo a dar os primeiros passos e seus irmãos ainda crianças, juntos ali com ela.

— Seus irmãos sempre a super protegeram de tudo e nunca, em hipótese nenhuma, permitiram que alguém te machucasse.

— Eu… Eu quero tá junto dos meus irmãos, eu quero eles, o papai, a mamãe, quero nós 5 juntos.

— Você ainda é uma criança, Kato. Mas irá assumir a maior responsabilidade da sua vida.

— O quê?

— Voltar lá e salvar os seus irmãos.

— Mas… Como?

— Kato-chan, ninguém além de você, pode impedir que o sacrifício seja concretizado, ninguém pode salvar os seus irmãos, se não for você.

Kato abaixa a cabeça, choraminga, fica mais alguns segundos choramingando, depois limpa o nariz e começa a falar com a voz chorosa:

— Eu… Eu sou só uma criança, só tenho 7 anos de idade. Tudo o que eu quero é brincar de boneca, brincar com o senhor coelho, balançar no parquinho, assistir desenho animado, eu só queria… Ser criança! Qual o problema em ser criança? Por que a gente tem que crescer quando aqui a gente pode ter tudo? Quando eu me machuco, meu papai assopra no meu machucado e ele sara. Quando estou sem sono, minha mãe lê uma historinha pra eu dormir. Quando estou entediada, o mano brinca comigo, quando quero aprender alguma lição, a mana me ensina… Então por que eu quero crescer? Por que eu quero ser aquela moça do vídeo? Por que eu não posso ser criança pra sempre? Pra sempre… Pra sempre. Mas não um pra sempre “sempre”, um pra sempre, “para todo o sempre”. A senhora… Entende?

— O mesmo se passou comigo quando eu via a minha Mino. Eu não queria que ela crescesse nunca, principalmente porque sabia a quê ela estava destinada. Infelizmente eu não consegui salvá-la. Mas você ainda pode fazer a diferença, Kato-chan.

— Como?

— Seja a nossa luz. Não se transforme na donzela do santuário das cordas, transforme-se na donzela da purificação. Traga a luz para esse mundo de trevas e salve os seus irmãos do destino cruel… Salve a todos nós.

— E eu consigo fazer isso?

— Consegue. Você é jovem, pura, determinada e possui um coração muito mais forte que qualquer um de nós. Você vai ganhar mais uma chance, Kato… Para salvar seus irmãos e selar o mal para sempre.

Um portal se abre no meio do muro das lamentações.

— O que é aquilo?

— Já está na hora, Kato-chan. Volte agora e salve os seus irmãos. Vamos! Vá!

Kato se levanta, fica de frente ao portal, olha novamente para a senhora Himuro e pergunta:

— Eu vou vê-la novamente?

— Sempre estarei com você, Kato.

Kato olha novamente para frente, ela caminha para dentro do portal e ele se fecha formando um clarão enorme que cobre todo o lugar.

Em seguida, tudo está escuro e vemos Kato despertando em um lugar cheio de folhas secas, está de noite e ela não faz ideia de onde possa estar.

Ela começa a se levantar e a limpar as folhas que estão presas no seu corpo. Ela ouve a voz da senhora Himuro a chamando.

Kato-chan. Você não terá outra oportunidade. Ache os seus irmãos e salve-os!

Kato, determinada, olha para frente e diz:

— Estou indo, meus maninhos. Vou salvar vocês dois.


OPENING:

 


       EPISÓDIO 6:

“LEVANTAI OH PORTAIS DO INFERNO! TETELESTAI!”


                           ATO I


 

ESTRADA PARA A MANSÃO HIMURO.

 

Após darem uma freada brusca, Takeru faz de tudo para o carro pegar partida de novo.

— RÁPIDO, TAKERU! DEPRESSA!

— EU TÔ TENTANDO, SAORI! ESSA PORRA NÃO QUER PEGAR!

 

Após muitas tentativas, o carro finalmente dá partida e Takeru pisa no acelerador pra tentar chegar à mansão o mais rápido o possível.

 

RESIDÊNCIA DA PROFESSORA HARUKA.

 

Haruka está desesperada. Tenta ligar para o celular de Saori e de Takeru e só cai na caixa postal.

— MAS QUE DROGA!

Ela coloca o celular em cima da mesa, põe as duas mãos na cabeça e fica de um lado para o outro, pensativa.

— O que eu faço, meu Deus? O que eu faço? Tem que ter um jeito deles quebrarem a maldição, mas como? E como eu vou conseguir ser útil em alguma coisa estando aqui?

 

MANSÃO HIMURO, 15 MINUTOS DEPOIS.

 

Takeru estaciona o carro. Ele e Saori saem bruscamente sem fechar as portas e vão direto para a porta principal. Eles entram clamando por Kato.

— KATO!

— KATO, CADÊ VOCÊ?

— MÃE? PAI?

— Por que ninguém responde, Takeru?

— Eu não sei.

Ao terminar de falar, o chão da casa começa a tremer.

— O que tá acontecendo?

— TAKERU-KUN?

— SAORI, CUIDADO!

O chão da sala começa a se abrir formando um buraco onde saía uma luz dela. Esse buraco começou a se abrir ainda mais e sugava tudo para dentro como se fosse um redemoinho.

Saori tenta se segurar em um dos móveis da sala, mas não suporta a pressão por muito tempo e é arrastada para dentro daquele abismo.

— SAORI-CHAN!

Takeru que estava se segurando no corrimão das escadas, não aguenta aquela ventania e ele também é sugado para dentro do buraco.

Um feixe de luz sai do buraco, ultrapassa o teto e chega até o céu fazendo contraste com a lua cheia. Segundos depois, o feixe de luz desce de uma vez voltando para o buraco até ele se fechar completamente e não sobrar nem mesmo um rastro do que houve ali.

Mas o que aconteceu com Saori e Takeru? Pra onde eles foram?

 

Na casa de Haruka, esta sente a enorme energia sobrenatural emanando em Tóquio.

— Aconteceu alguma coisa na casa Himuro… E a natureza está começando a perecer por conta disso.                 

 

“Três da manhã e os portões do inferno se abriram. Diversos demônios saíram, mas ao invés de me atentar, eu mesmo que entrei por aqueles portões. Meus demônios são muitos e são muito brutos, então eu tenho que ir à cela de cada um para ser castigado e se caso tiver sorte, posso sair ao amanhecer ou ficar por horas com um sofrimento do qual não consigo carregar.”

                                       Rumo, Madson.

 

                 

Os olhos de Saori se abrem e aos poucos, a vemos de corpo inteiro. Parece que ela está em um jardim ao lado de um poço e está confusa sem saber onde foi parar.

Ela olha as suas duas mãos, abre e fecha tentando entender como ela foi parar ali.

Duas mulheres de meia idade usando trajes bem antigos e com os cabelos amarrados em coque, aparecem por ali conversando  com um cesto de roupas nas mãos. Elas percebem Saori ali sozinha e desnorteada. Uma delas a chama.

— Com licença, jovem! Posso ajudar?

Saori olha pra trás e fica tentando arrumar alguma justificativa pra estar ali.

— Oi? Eu… É que…

— … Oh, você deve ser a nova empregada que veio ajudar na cerimônia do ritual do estrangulamento, né?

— Ah sim, claro, claro, é que não lembrava o nome do ritual (fingindo).

A outra mulher pergunta:

— Mas que vestes são essas? É algum traje especial para esta noite?

— Ah… Não, não, isso aqui, é… É que eu vim de uma cidade pequena em Kyoto onde vestimos roupas assim, são bem legais.

A outra mulher responde:

— Honestamente, não consigo me imaginar vestindo essas roupas, mas enfim… Vamos arrumar roupas adequadas para você. Ficará responsável por pentear e vestir a nossa donzela Fuko.

— Fuko? Quem é Fuko?

— Como não sabe, querida? É a filha dos senhores Himuro.

— Pensei que ela tivesse outro nome, achei que… Olha, eu sei que vai parecer uma grande besteira isso que eu vou falar, mas… Em que ano estamos?

As duas se entreolham.

— Você realmente não deve ter tido um dia fácil né, garota?

— Estamos em 1904, querida.

Saori arregala os olhos e fica sem acreditar no que acabara de escutar. Ela vira as costas pras duas mulheres e apoia as mãos nos joelhos tentando processar a “notícia”.

— Moça, tá tudo bem?

— Sim, estou, é que… Acho que não comi bem essa manhã.

— Não se preocupe, venha! Vai se alimentar e vestir novas roupas.

Algumas horas se passam, Saori termina de se alimentar e, em seguida, uma das mulheres a ajuda a vestir seu quimono. Momentos depois, a outra mulher leva Saori até uma passagem do porão.

— A senhorita Fuko fica nessa masmorra, os senhores Himuro só confiam em nós para abrir aquela porta. Vou trazer as roupas dela, preciso que a banhe, a penteie e a ajude a se vestir. Ela precisa estar pronta em duas horas. Entendido?

— Entendi.

— Ótimo, pode entrar, vou buscar as roupas dela.

A mulher destranca a porta, Saori entra devagar. Ao entrar, vê uma garota de cabelos pretos longos, sentada na cama. Esta garota é a Fuko, por qual as mulheres haviam mencionado antes.

Fuko se levanta da cama e se dirige à Saori, sorridente e muito empática.

— Muito prazer, senhorita! Vai me arrumar para a cerimônia hoje, não é? Meu nome é Fuko. É uma honra tê-la aqui.

Saori estranha que a jovem esteja em um semblante tão alegre sendo que está sendo cotada como um cordeiro indo ao matadouro.

— Meu nome é Saori. Muito prazer!

— Bom, Saori-san. Podemos começar quando você quiser.

Alguns minutos depois, Saori está dando banho em Fuko em uma banheira grande e prateada, ela a enxagua com uma concha e passa um sabão especial da época feito com óleo de azeite e óleo de louro.

Enquanto enxagua o seu cabelo levemente, Saori admira a serenidade e plenitude daquela jovem. Era de fato uma moça de coração puro, tão puro que nunca notou as perversidades que esse ritual implicava.

Afinal de contas, ela foi separada do mundo, não podia ter contatos externos, então sua inocência foi completamente preservada.

Alguns minutos depois penteando o seu cabelo, Saori pergunta.

— Fuko, quantos anos você tem?

— Minha mãe disse que eu tenho 16.

— Uau, você tem quase a minha idade, é tão jovem!

— E você tem quan… Desculpe, a senhora tem quantos anos?

— Por favor, Fuko. Não me chame de senhora, tenho apenas 17 anos.

— Uau! Por que trouxeram alguém da sua idade? Não era pra vós estar na escola ou coisa assim?

— “Vós”? Há muito tempo não ouço alguém usar esse pronome. Mas sim, eu tirei o dia de folga pra vir aqui cuidar de você.

Fuko se vira pra ela e diz:

— Muito obrigada, Saori-san! Vossa presença aqui alegrou muito o meu dia.

Fuko abraça Saori com tanta ternura que ela não consegue sequer reagir, como pode existir tanta nobreza no coração dessa jovem?

A outra mulher aparece com a roupa especial para Fuko.

— Querida, vamos nos vestir?

— Ah! Senhora Mori, poderia deixar a Saori-san me vestir?

— Tem certeza?

— Claro! Estamos nos dando tão bem. Deixa, por favor.

— Está tudo bem pra você, Saori?

— Por mim não tem nenhum problema, senhora.

— Tudo bem então, vou deixar o vestido aqui. Cuide-se, Fuko.

— Muito, mas muito obrigada, Mori-san.

 

Fuko fica extremamente animada, parecia que ter Saori por perto era algo que realmente a fazia feliz. Saori a veste adequadamente e na medida em que fica feliz em estar ajudando, também sente um sentimento de culpa. Como pode haver tanta nobreza dessa garota vindo de uma família completamente amaldiçoada?

Ao encerrar sua participação ajudando Fuko, Saori encosta em uma das paredes e, suspirando, diz:

— O que será que aconteceu com o Takeru?

 

 

Em outro plano, vemos Takeru acordando em um jardim cheio de folhas de outono caídas ao chão. Ele olha para os dois lados, ouve burburinhos e decide se levantar imediatamente. Ele se esconde atrás da pilastra de um gazebo ali perto e ouve alguns homens comentando.

— Está chegando perto da cerimônia, jovem Yoro. Temos que evitar ser vistos perto da propriedade e principalmente pela donzela escolhida. O senhor Himuro deixou bem claro de que ela não podia conhecer ninguém antes do ritual. –Disse um carpinteiro de pouco mais de 40 anos e que usa uma barba fina e comprida até o tórax.

— Mas senhor Shijimoto, não acha estranho tudo isso que eles estão fazendo?

Takeru permanece espionando e escutando tudo o que estão fazendo.

— Estranho em que sentido, filho?

— Deixar a garota ali presa em uma masmorra. É praticamente uma masmorra. Ela já tá ali há não sei quantos anos e não a deixam nem ao menos tomar um ar fresco no jardim.

— Não sou eu que dito as regras aqui, jovenzinho, e deveria parar de questionar, porque foi graças a eles, que conseguimos ter um emprego, então pare de amolações e leve essa terra no carrinho de mão até o outro lado.

— Tá bom, tá bom. Mas… Me diga uma coisa. Como ela é? Como é a aparência da Mino?

Takeru arregala os olhos.

— Como assim? Eu não sei, jovem. Nenhum de nós podemos ter qualquer acesso à senhorita Mino, então vamos parar de perguntas e vá fazer seu trabalho.

— Ah tá bom, tá bom.

Yoro pega o carrinho de mão e sai dali de perto. Takeru vira de costas para a pilastra e sussurra.

— Aquele é o cara por qual a garota se apaixonou e desencadeou tudo. Então isso significa que… Eu voltei ao passado? Mas como? E se eu impedir que eles se conhecessem? Assim o ritual não vai falhar e… Talvez eu possa salvar as meninas.

Alguns minutos depois, vemos Yoro se aproximando da lateral da casa com o carrinho de mão. Naquela lateral se encontra uma única janela onde Mino ficava para receber brisa natural e não ficar sem oxigênio lá dentro.

Yoro deixa o carrinho de mão de lado e pega pedras pequenas, no intuito de jogar na janela pra chamar a atenção de Mino.

Ele joga a primeira, joga a segunda, a princípio Mino não deu muito crédito, mas devido à insistência do jovem, ela se levanta de sua cama e fica sentada por alguns instantes hesitante se iria ou não.

Quando Yoro ia jogar mais uma pedra, Takeru aparece.

— Oi, tudo bem? Olha, o senhor Himuro não vai gostar nada de te ver aqui, hein? Ainda mais no esconderijo da donzela.

— E quem é você, afinal? Nunca te vi aqui na propriedade.

— Eu sou novo aqui na área, vim ajudar aos senhores Himuro no ritual do estrangulamento.

— Mas de onde você veio? Que tipo de vestimentas são essas?

— Olha, sério, cara, vem comigo, a gente não pode ficar aqui.

— Você não manda em mim, eu não vou sair daqui.

Takeru olha pra janela e percebe que Mino está se aproximando.

— Droga! Foi mal, cara, mas não tem outro jeito.

Takeru dá um soco no rosto de Yoro. Ele sente o golpe e, em seguida, decide revidar.

— Seu miserável!

Yoro parte pra cima de Takeru e ambos caem rolando ao chão. Naquele momento, Mino já estava olhando pela janela. Alguns trabalhadores ouvem o tumulto e se aproximam dos dois para apartá-los.

Takeru usa sua astúcia para virar o jogo ao seu favor.

— Ele queria entrar no quarto da donzela, ele queria fazer mal a ela e eu o impedi!

Os trabalhadores ficam impressionados com a revelação e olham para Yoro com reprovação.

— O que pensa que estás fazendo, Yoro?

— Não, não, eu não fiz nada, eu juro.

— Estava sim, eu vi você jogando pedras na janela da donzela Mino para incomodá-la, e assim desrespeitando os senhores Himuro.

Sem poder dar mais nenhuma explicação, um dos homens, um pouco mais velho, pede para que os demais afastem Yoro dali.

— Rápido! Levem ele daqui e não se atrevam a olhar na janela de jeito nenhum!

Os trabalhadores saem dali evitando qualquer tipo de contato visual com a janela. Yoro fica resmungando tentando provar sua inocência. Takeru fica ali sozinho ofegante e quando olha pra trás, vê o que ele já sabia que encontraria, mas não esperava que esse ato poderia ter criado uma realidade ainda mais cruel na linha do tempo.

Mino ficou encantada pela coragem de Takeru. Ela olhava pra ele como se ele fosse a única coisa que importava na sua vida.

Takeru está tentando sair dessa “saia justa”, mas ele conhece aquele olhar. Aquele olhar no qual já tinha visto nos olhos de Yukina quando ela o observava.

Da janela, Mino rompe o silêncio.

— Aproxime-se, jovem cavalheiro.

Takeru se aproxima da janela e fica um pouco receoso.

— Como se chama? Oh meu herói de trajes esquisitos!

— Ta… Yoro, meu nome é Yoro.

— Encantada, Yoro. És o primeiro homem além de meu pai, que vejo desde que me entendo por gente. Meu nome é…  Mino Himuro. Algo em meu coração se acendeu ao ver-te por essa janela, algo que me fez refletir… Por que eu estou aqui dentro e não aí fora, em vossa companhia?

Naquele momento Takeru entendeu que, apesar de suas boas intenções, ele alterou algo do passado que pode acarretar em sérios problemas. Ele impediu que Mino conhecesse Yoro, mas na contrapartida, ela acabou ficando apaixonada por ele e para piorar: Ele se apresenta como Yoro e não como Takeru.

 

Takeru pode ter criado uma outra realidade alternativa.

A primeira que conhecemos é a que Mino morre juntamente com o seu amado Yoro pela espada de seu pai, o senhor Himuro. E nesta outra, Takeru é quem se passa por Yoro e Mino acaba apaixonada por ele.

Analisando essas possibilidades, Takeru só tem duas alternativas: Deixar as coisas acontecerem naturalmente e o ritual acontecer, ou tentar tirar Mino dali e fugir para bem longe.

 

MANSÃO HIMURO, 1904.

 

Após alguns minutos terem passado, Saori está cada vez mais preocupada com Fuko, ela precisa dar um jeito de impedir tal fatalidade que está para acontecer. Se a chance de fazer essa viagem no tempo for pra salvar alguém, que seja essa a oportunidade mais precisa.

Saori segue uma das senhoras que guardava as chaves da cela em que Fuko se encontrava. Ela vê que a mulher havia colocado o molho de chaves em um prego na parede.

Aproveitando a distração da mulher e a porta do quarto semiaberta, Saori entra sorrateiramente e consegue apanhar o molho de chaves sem que a senhora percebesse.

Saori volta pelo corredor e tenta olhar para todos os lados pra garantir que ninguém apareça.

Ela segue caminho até encontrar a masmorra onde Fuko está escondida. Saori abre a porta, entra devagar, vê Fuko ali deitada e estava meio adormecida.

— Senhora Saori? Já é meia-noite? Está na hora do ritual?

— Shh, fale baixo, Fuko.

— Mas o que tá havendo?

— Eu tenho que te contar uma coisa, mas você precisa ser muito, mas muito forte e precisa me deixar terminar de contar tudo sem me interromper, você consegue fazer isso?

— S… Sim, claro.

— Ok, então se prepara porque o que eu vou te contar… Não é nada bom, querida.

A expressão de Fuko fica aflita.

 

                     1954

 

Takeru encontra em um armário dos criados, roupas daquela época e decide vesti-las para poder aprimorar mais o seu disfarce. Ele inclusive usa uma bandana na testa e estranhamente ficou muito parecido com Yoro, na verdade era como se eles realmente fossem a mesma pessoa. Como isso pode ser possível? Principalmente pelo fato deles serem de épocas tão distintas.

É noite, os familiares estão se preparando para realizar o ritual. Takeru consegue despistar a todos e vai para a janela do quarto de Mino.

Ele joga algumas pedrinhas no vidro da janela para chamar a sua atenção. Ela se aproxima e fica feliz ao vê-lo.

— Yoro-kun? Que fazes aqui?

— Mino-chan. Sei que você me ama e quer estar comigo, mas o único jeito de ficar comigo pra sempre é fugindo desta casa. Topa fugir daqui comigo esta noite e nunca mais voltar?

Os olhos de Mino brilham com muita emoção, mas no interior de Takeru, ele está arrependido porque sabe que enganar o coração de uma moça assim é algo que ele jamais faria, como também não fez com Yukina.

— Claro, claro! Eu quero sair daqui com você, Yoro-kun. E seremos eternamente felizes.

— Ok, ok, mas o único jeito de sair daqui é você saindo desse quarto. O ritual será hoje à noite, você precisa deixar que eles te tirem desse quarto e depois você dá um jeito de escapar pros fundos e eu estarei esperando por você. Arrume alguma desculpa, que sentiu vontade de ir ao banheiro, que tá enjoada, qualquer coisa que atrase a cerimônia e você consiga vir até mim. Combinado?

— Combinado… Yoro-kun.

— Te vejo em duas horas, Mino-chan.

— Até mais tarde… Meu Yoro.

 

                    1904

 

Fuko está completamente entorpecida diante das revelações dadas por Saori. A garota se levanta da cama e fica chorosa e desorientada com a enxurrada de informações que recebeu.

— C… Como? Por que meus pais fariam isso comigo? O que eu fiz pra eles? Eu sempre fui uma boa menina.

— Eles sabem disso, Fuko. E é por você ser uma boa menina, que eles querem fazer isso, esse ritual macabro é realizado a cada 50 anos. E isso vem de geração em geração.

— Mas por que meus pais e minha família fazem isso?

— Segundo o que me disseram, eles escolhem uma donzela pura para purificar eles do mal que surge dos portões do inferno. Mas honestamente, Fuko, eu acredito que o mal pior é o que eles praticam.

— E… Você acredita nessa história de demônios e karma e essas coisas?

— Sim, Fuko. Eu acredito. Eu… Eu não sou daqui… Não dessa época.

— Do que está falando?

— Eu sou do futuro, Fuko-chan.

— O… O que você tá dizendo?

— Eu estou há 120 anos de distância de você… Eu vim de 2024.

— Ai… Meu… Deus.

Fuko sente uma tontura.

— Você tá bem? Fuko?

Fuko está mareada, sem acreditar em tudo o que está acontecendo.

— Como isso é possível? Ninguém pode viajar ao passado, que tipo de experimento você usou para fazer isso?

— Olha, depois eu te explico com calma, eu prometo… Mas agora não podemos mais ficar aqui, Fuko-chan. TEMOS QUE FUGIR!

 

 

                    1954

 

Chega o momento de Mino ser levada para o início do ritual do estrangulamento, ela está no corredor sendo acompanhada por alguns sacerdotes para ir até o local da “Boca do Demônio”. Que de lá, eles se dirigem ao jardim onde é realizado o macabro ritual. Mino tenta despistar os sacerdotes.

— Oh, senhores! Perdoe-me e peço por vossa indulgência para ir ao banheiro antes da cerimônia. Estive bebendo muito líquido durante o dia.

Os sacerdotes olham um para o outro e decidem atender o pedido de Mino.

A jovem se dirige ao local como se realmente estivesse indo ao banheiro. Ao virar o corredor, dá de cara com sua mãe.

— Mamãe?

— Mino-chan? O que fazes aqui? Precisa estar indo agora mesmo para o ritual.

— Mamãe, eu não posso ir ao ritual, eu… Eu não posso ir.

— Mas… O que houve, filha? Por que isso agora?

— Mamãe… Eu conheci um jovem… Yoro… E eu estou… Apaixonada por ele.

A revelação chocou sua mãe de maneira até positiva, mas não esperavam pela chegada do senhor Himuro no corredor de trás ouvindo a conversa.

— O… O que dissestes, Mino?

Mino se vira rapidamente.

— Papai?

— Eu me dediquei… Os últimos anos da minha vida nessa família para livrar os Himuro do málice, pra evitar o que aconteceu com a donzela anterior que tentou escapar. E agora eu fico sabendo que a minha filha, a donzela dessa geração… Se apaixonou?

— Papai, me escuta! A culpa não foi minha e nem dele, foi algo tão natural, tão singelo que…

— CALE A BOCA, BASTARDA!

Mino se assusta e se segura nos braços de sua mãe.

— Você acabou de implantar o mal sob esta casa e sob esta família. Manchou a sua pureza que era a única coisa que tínhamos para deter o mal… E você estragou tudo.

— Querido, por favor, a menina não tem culpa.

— CALE-SE, MULHER! Você sempre foi fraca. Nunca fostes merecedora do nosso sangue e do nosso apreço, és uma covarde hipócrita, tal como sua filha.

— EU O AMO, PAPAI! Eu o amo! Se amar alguém não me isenta do castigo do málice, então que abram-se os portões do inferno, e mergulharei ao abismo, carregando este amor comigo que me envenena e me cura em harmonia.

O Sr. Himuro cerra o punho e não diz mais nada. Ele ouve vozes distorcidas sussurrarem coisas em seu ouvido. O sr. Himuro vira as costas pra elas e se dirige até o seu quarto.

Ele pega a sua katana, que sempre a deixa pendurada na parede. Tira a sua bainha e as vozes distorcidas começam a falar mais alto em seus ouvidos.

Mate todos eles! Mate todos eles!

O olhar do Sr. Himuro muda e agora está com um semblante macabro e furioso.

 

                      1904

 

Saori e Fuko estão saindo sorrateiramente pelos fundos do jardim, elas precisam ser rápidas, pois a qualquer momento, um deles pode dar falta de Fuko e alertar os demais.

Uma das senhoras vai até a parede de seu quarto e procura o molho de chaves na parede, e não os encontra.

Ela fica confusa colocando as mãos em suas calçolas pra ver se por acaso não as colocou ali. Ela sai para o corredor e fica confusa tentando lembrar onde deixou aquelas chaves.

A senhora Himuro daquela época (muito mais jovem que a mãe de Mino, com cabelos extremamente pretos e presos conforme a cultura feudal, e utilizando maquiagem de gueixa), passa por ali e percebe aquela senhora atônita.

— Senhora Min? Algum problema?

— Senhora Himuro, é que… Não encontro as chaves da cela da menina, e já está na hora da…

— … Não se preocupe, eu tenho as chaves, acompanha-me por gentileza?

Alguns minutos depois, as mulheres entram na cela de Fuko e já se encontra vazia.

— Fuko? Onde ela está, Min? Onde está a Fuko?

— Eu, eu não sei, ela devia tá aqui.

— Como você é inútil! Está quase na hora do ritual!

— Senhora, acalma-se, talvez ela… Talvez ela já tenha ido na frente junto com a nova criada.

— Que nova criada?

— A criada que a senhora contratou para nos ajudar, ela tem quase a mesma idade da Fuko e… Usava umas roupas esquisitas.

— Min… Eu não tenho nenhuma criada da idade da Fuko!

A senhora Min arregala os olhos e percebe o erro que cometeu.

— Ai, meu Deus!

Do lado de fora, a tensão começa para que elas consigam escapar pelo jardim dos fundos, entretanto…

— ALI ESTÃO ELAS! NÃO DEIXE A SENHORITA FUKO FUGIR!

— Ai, meu Deus! Depressa, Fuko!

As duas correm para os arbustos e Saori coloca Fuko para escalar a parede.

— Suba! Depressa!

— Mas e você?

 

                    1954

 

O senhor Himuro não é mais o mesmo, ele sai de seu quarto com aquela espada na mão e está disposto a fazer qualquer coisa. Um de seus irmãos aparece na sua frente.

— Irmão meu, o que aconteceu? Já deveríamos ter ido ao jardim do ritual?

O Sr. Himuro dá um sorriso diabólico e, em seguida, perfura o corpo de seu irmão de maneira fria. Enquanto o sangue jorra, seu cunhado aparece para tentar impedi-lo.

— Himuro-san, o que está fazendo?

O senhor Himuro não dá trégua e corta uma das mãos de seu cunhado. Ele grita desgarradamente e tenta escapar pelo corredor. Ele cai e aos seus pés, aparece a senhora Himuro juntamente com Mino.

— So… Socorro, minha irmã.

— Irmão meu!

O Sr. Himuro aparece e perfura as costas de seu cunhado na frente de sua mulher e sua filha.

— QUERIDO, PARE, POR FAVOR!

— O KARMA PAIROU SOB NÓS! PAIROU SOB NÓS! E AGORA TODOS TEM QUE MORRER PARA NÃO SERMOS AMALDIÇOADOS, TODOS TEM QUE MORRER PARA NÃO SERMOS AMALDIÇOADOS.

— Depressa, Mino-chan, fuja!

Mino sai correndo pelo outro lado da casa e a senhora Himuro procura uma maneira de se esconder.

Do lado de fora, Takeru começa a estranhar a demora de Mino chegar ao local indicado e percebe a movimentação e gritaria.

— Que merda, que merda! Alguma coisa deu errado.

Takeru se dirige até a casa sem perceber que está sendo seguido pelo verdadeiro Yoro.

 

O senhor Himuro segue sua matança e não está se importando em quem vai se transformar em uma vítima da sua espada. Ele mata a cada membro da família friamente sem nenhum pudor.

A senhora Himuro se esconde debaixo da mesa e aguarda temerosa. Mino está escondida em um dos corredores e teme ser encontrada pelo seu pai.

Ela ouve os gritos dele e corre para outra extremidade do corredor.

Mino continua a fugir até tropeçar no piso da cozinha e ver que sua mãe está escondida debaixo da mesa.

— Mamãe?

— Shh! Menina, o karma pairou sob nós e agora o seu pai enlouqueceu.

— Por que o papai tá fazendo isso?

— Filha, sabes muito bem das regras do ritual. Não deverias ter visto aquele rapaz jamais!

— Mas eu o amo, mamãe! Não é justo eu ter sido presa dentro desta casa durante tantos anos e descobrir que tudo isso era para um capricho dessa família.

Ouve-se a voz do senhor Himuro furioso, gritando:

— MINO, CADÊ VOCÊ?

A senhora Himuro segura nos braços de Mino e diz:

— Filha, teu pai jamais te perdoarás pelo o que ocorreu, mas você ainda tem chances de escapar disso. Va-te e encontra-te o varão por qual apaixonastes e fuja!

— Mas… E a senhora? E meus irmãos e tios?

— Não te preocupes comigo, minha Mino. És forte e resistirás a tudo. Agora vá!

Mino se levanta, mas seu pai chega à porta da cozinha onde as duas se encontram.

MINO-CHAN!

— PAPAI?

— Tu provocastes a desgraça dessa família! E agora pagarás caro!

— Papai, por favor!

A senhora Himuro sai de baixo da mesa, se levanta e tenta apaziguar a ira do esposo.

— Marido meu, se tendes um pingo de piedade e compaixão em vosso velho coração, poupa-te a vida de sua pobre filha.

— Ela manchou o ritual! Agora essa família está manchada pelo karma!

Mino observa a katana de seu pai pingando sangue.

— O que fizestes? Por que estás caindo sangue de vossa espada?… Matastes mais alguém?

O seu pai olha para a katana e fica admirando o seu reflexo no vermelho carmesim do sangue manchado naquela espada.

— Seus tios e seus irmãos ousaram me desafiar, então…

— Matastes eles, papai? O que eles vos fizera?

— Esse é o único jeito para livrar a nossa família da maldição que há de cair sob nós. Temos que derramar sangue esta noite!

— Não deixareis que toque na minha menina, marido! Estás louco! Peça para que kami nos perdoe e nos livre do Málice.

— Tarde demais, mulher. Esta é a última noite para realizar o ritual. E vou me assegurar para que tudo saia perfeito.

— MINO, FILHA. FUJA!

A mãe se coloca na frente do pai de Mino e ele brutalmente, maneja a sua espada e corta a cabeça de sua esposa.

— MAMÃE!

Mino observa a cabeça de sua mãe rolando pelo piso daquela cozinha e, em seguida, não mede esforços para correr.

 

                      1904

 

A tensão e o medo tomam conta de Saori e Fuko. Esta última está tentando escalar o muro se agarrando nas folhagens que cresceram nele.

Saori a encoraja a continuar subindo, mas é detida por um dos criados que a agarra pela boca afastando-a pra trás.

— ME SOLTA! ME SOLTA!

Fuko, pendurada, grita:

— SOLTEM-NA! ELA NÃO FEZ NADA! SOLTEM-NA!

Fuko pula do muro e tenta interver que levem Saori.

— Por favor, deixem-a paz, ela não fez nada!

— SENHORITA FUKO! VOLTE AGORA MESMO PARA A CASA!

A senhora Himuro aparece e vê toda aquela situação.

— O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI?

Ela se aproxima e percebe Fuko perto do muro e Saori sendo detida por um dos criados.

— Então… Então é você? Você quem está tentando manchar o ritual da nossa família? QUEM É VOCÊ, MALDITA BASTARDA?!

— Não vão se safar dessa, senhora Himuro. Eu contei tudo pra Fuko sobre o ritual e que vocês iriam esquarteja-la no santuário das cordas.

Um tremor de terra começa abalando as estruturas da mansão.

— O que fizestes?… O QUE FIZESTES? OS PORTÕES DO INFERNO SE ABRIRAM E AGORA TODOS SEREMOS AMALDIÇOADOS! MALDITA!

Saori morde a mão do criado, ele urra de dor, ela se solta e corre na direção de Fuko.

— RÁPIDO, FUKO!

As duas correm para a direção oposta do jardim.

— ATRÁS DELAS! NÃO DEIXEM QUE ESCAPEM!- Esbraveja a senhora Himuro.

 

                     

                     1954

 

Ao ver sua mãe morrer na sua frente, Mino abre as portas deslizantes do outro cômodo e ouve a voz de Takeru.

— MINO-CHAN!

— YORO- KUN?

— Depressa! Vens comigo!

— Não podes ficar aqui! Meu pai enlouqueceu e nos matará!

— Depressa! Vens comigo e fugiremos juntos!

Mino segura na mão de Takeru e ambos correm pelo jardim frontal da mansão em busca da saída. Mas seu pai não deixará barato e sai logo em seguida perseguindo-os com sua espada.

Antes de chegarem ao portão, o verdadeiro Yoro aparece na frente deles.

— O que está acontecendo aqui? E por que está vestido como nós, garoto?

— Yoro!

— Como sabe o meu nome?

Mino, confusa, pergunta:

— Como assim? Do que ele está falando? Você é o Yoro.

Takeru se vira pra ela segurando em seus ombros e disse:

— Mino, não importa o que aconteça, quero que se lembre que eu sempre serei o Yoro que você amou, entendeu? Não quero que tenha nenhuma imagem distorcida de mim e tudo o que eu fiz foi pra proteger você.

Mino fica encantada pelas palavras de Takeru, mas sem saber que aquele era seus momentos finais naquele plano.

Yoro, confuso, puxa Takeru pelo braço.

— Escuta aqui, moleque esquisito! Não vais me dar um soco na cara e achar que isso vai ficar barato.

— NÃO! VOCÊ ME ESCUTA, YORO! O pai da Mino enlouqueceu e vai matar todos nós, se não quiser terminar como um daqueles mortos ali dentro da mansão… É melhor se preparar pra correr.

Yoro fica com a expressão gélida.

 

                   2024

 

Haruka está sentada na mesa mexendo em seu notebook pesquisando sobre possíveis rituais que possam ser úteis para ajudar os irmãos. Após várias tentativas, Mino reaparece, mas dessa vez, com uma imagem distorcida e com bem menos força espiritual que antes.

 

— Haruka-san?

— MINO! (Levantando-se da cadeira) O que aconteceu? Você está… Desaparecendo?

— Estou sendo impedida de estabelecer contato, a entidade aumentou seu poder e a casa tá cheia de espíritos violentos.

— Eu estou tentando ver alguma coisa aqui, sei lá, algum livro de bruxaria, um exorcismo, qualquer coisa que possa ajudar pra…

— … Haruka-san! Eles viajaram!

— O que disse?

— O Takeru e a Saori… Não estão mais em sua época… Eles viajaram ao passado.

Haruka fica aflita.

 

                    1904

 

Saori e Fuko continuam a correr pelo jardim da mansão. Fuko tropeça. Saori retorna para ajuda-la, mas é surpreendida pela fúria da senhora Himuro que avança pra cima dela e começa a enforca-la no chão.

— MAMÃE, NÃO!

— SUA… MERETRIZ DE QUINTA! Como ousa? Como ousa arruinar a honra desta família?

— Vocês… Vocês nunca tiveram honra. Só sabem pensar em vocês mesmos, principalmente a senhora… Que exemplo está dando pra sua filha, hein? Entregando ela para um matadouro para que vocês fiquem em paz? VOCÊS E TODOS OS HIMURO NÃO PASSAM DE UNS ASSASSINOS!

— CALA A BOCA, MALDITA BASTARDA! CALA A BOCA! EU VOU TE MATAR COM MINHAS PRÓPRIAS MÃOS E CERTAMENTE O SEU SANGUE SERÁ DERRAMADO NOS PORTÕES DO INFERNO!

A mãe de Fuko começa a enforcar Saori sem piedade. Fuko se desespera tentando fazer com que sua mãe pare de fazer aquilo.

— PARE, MAMÃE! PARE!

 

                 2024

 

Haruka tenta encontrar palavras pra reagir ao que Mino acabara de lhe dizer.

 

— Isso só pode ser uma brincadeira, não tem como eles…

— Os seus corpos reais estão em algum lugar da casa, mas suas almas… Elas viajaram ao passado.

— Então eles… Meu Deus, eles fizeram projeção astral pra voltar ao passado, mas como se eles nunca fizeram isso?

— Foi os portões do inf… Ai!

Mino começa a sentir dor.

— Você tá bem?

— Não vou mais conseguir me comunicar contigo… Eu… Não! Não!

— Mino, o que houve?

— Ha… Haruka-san. Eles já sabem, já sabem de tudo, você precisa encontrar o corpo físico dos gêmeos.

— Mas você disse que não era bom eu ir pra aquela casa!

— ESQUECE O QUE EU DISSE! Não deixei o ritual da crucificação acontecer… Do contrário todos vocês morrerão.

Mino desaparece. Haruka fica atônita.

— MINO! MINO!

Haruka fica uns segundos parada tentando raciocinar. Até que enfim, ela toma uma atitude.

— Cansei de me esconder.

Ela vai ao quarto, pega seu casaco. Pega as chaves do carro em sua bolsa. Vai para a garagem. Entra. Dá partida, abre o portão da garagem e começa a dirigir.

— Se eu tiver que morrer esta noite… Que seja com dignidade.

 

                    1904

 

A senhora Himuro continua enforcando Saori e não está com a menor vontade de encerrar a sua sede de matança e, em um ato, involuntário, Fuko pega uma pedra e acerta na cabeça de sua mãe.

A senhora Himuro cai para o lado de Saori, esta se levanta e se rasteja para o lado onde se encontra Fuko. A senhora Himuro fica no chão sangrando e olhando para Fuko.

— Vo… Você…

— Mamãe… Eu…

— Eu… Amaldiçoou-te, Fuko Himuro. A desgraça desta família vai seguir você até o fim… Até o fim dos séculos.

Ao pronunciar a última frase, a senhora Himuro morre e um terremoto inicia.

Em meio aos tremores, um portal surge no muro do jardim. Saori olha e vê que aquela pode ser a saída.

— FUKO! Temos que ir pra ali.

— Tem certeza?

— Vamos depressa!

 

                   1954

 

Yoro fica incrédulo diante do que Takeru está dizendo.

— Quer mesmo que eu acredite nessas mentiras?

Ouve-se a voz do senhor Himuro como o som de um trovão.

— MINO!!!

Um terremoto começa e todos ficam atônitos sem saber o que está acontecendo.

— Merda! São os portões do inferno, precisamos sair daqui.

— Do que você está falando, garoto?

Um portal de luz se abre do lado deles. Mino e Yoro ficam impressionados. O último questiona:

— Mas… O que é isso?

O senhor Himuro aparece nas escadinhas do jardim com sua espada na mão banhada a sangue.

— É O MEU PAI!

Yoro se vira para trás e vê o senhor Himuro com aquela expressão diabólica.

— Himuro-san, sou eu! Um dos trabalhadores, não percebe?

Takeru diz:

— Yoro, eu sinto muito, mas não tenho outra escolha.

Takeru empurra Yoro pra dentro daquele portal e o mesmo desaparece.

— O que foi isso, Yoro-kun? O que aconteceu com ele?

— É melhor se preocupar com o que vai acontecer com a gente. Depressa, vem!

 

                    1904

 

Saori e Fuko seguem contra o tempo para alcançarem o portal, mas Saori é surpreendida por um membro da família que a puxa pelo cabelo e a derruba no chão.

— MATASTES A MINHA IRMÃ E AGORA VAIS PAGAR POR ISSO!

— SAORI-CHAN!

— FUKO-CHAN! Depressa, entre no portal!

— O quê?

— RÁPIDO, FUKO! ENTRE NO PORTAL AGORA!

Vários criados e membros da família correm na direção de Fuko para apanhá-la, mas a garota se movimenta a tempo e salta para a direção do portal, que se fecha antes daquela multidão alcança-la.

O irmão da senhora Himuro fica completamente atônito.

— O QUE FIZESTES? O QUE FIZESTES? Pra onde foi a Fuko, sua bruxa?!

— Nunca irão descobrir… Vocês verão que o futuro é o seu pior pesadelo.

 

                    1954

 

Mino e Takeru chegam ao portão e ele tenta abrir de todas as formas.

— Depressa! Meu pai está vindo.

— Escute-me, Mino-chan. Não importa o que aconteça, tu serás sempre a melhor coisa que já me acontecera. E eu nunca me esquecerei de você, minha doce donzela.

— Yoro-kun, eu… Eu te amo.

Naquele momento, Takeru tem um vislumbre de quando Yukina disse que o amava pela primeira vez, ele poderia muito bem renegar aquele momento ou contar toda a verdade de que ele não era quem a Mino pensava ser, mas ao invés disso, decidiu retribuir o gesto.

— Eu te amo… Mino-chan.

Takeru beija Mino com ternura, mas rapidamente são interrompidos pela fúria visceral do pai da menina.

— MALDIÇÃO! DESONRASTES ESTA FAMÍLIA!

— Sr. Himuro, por favor, tens piedade, sua filha é uma santa!

— NÃO! Minha filha foi criada para ser o exemplo imaculado que iria selar o málice nos próximos 50 anos. MALDITA A HORA QUE APARECESTES POR AQUELA JANELA, BASTARDO!

— Senhor Himuro, por favor, se não queres ter piedade de mim, tenha pela sua filha.

— Papai, por favor!

— NÃO! Eu preciso concluir o ritual. Mino precisa morrer.

O Sr. Himuro se prepara para cravar a espada no peito de Mino.

Takeru aperta o seu pulso e diz.

— POR FAVOR! EU PRECISO VOLTAR!

— O que está fazendo?

 Takeru se coloca bem na frente de Mino e a segura pelos ombros.

— Escute bem o que eu vou te dizer, Mino-chan. Você e eu vivemos e morremos juntos como dois apaixonados, eu não permiti que você ficasse sozinha e partimos juntos para a eternidade e daqui há alguns anos, em outra vida… Nós iremos nos encontrar de novo e eu prometo que vou consertar tudo dessa vez.

— Yoro-kun?

— Adeus… Mino-chan.

Quando o senhor Himuro vai acertar a katana no corpo de Takeru, ele desaparece daquele plano e a espada perfura o peito da pobre Mino e ela sangra e cai no chão agonizando.

 

E em 1904, Saori está a tecer da fúria incontrolável de um dos irmãos Himuro.

— Me fala onde ela está! Onde a Fuko foi parar?

— Vá pro inferno você e toda essa maldita família!

Ao pronunciar isso, Saori desaparece daquele plano deixando o irmão Himuro e todos ali presentes completamente atônitos.

 

                      2024

 

No céu, vemos a lua cheia se tornando vermelha na cor de sangue. Tóquio está sentindo o poder da maldição da casa Himuro com a abertura dos portões do inferno.

Após alguns minutos na estrada, Haruka finalmente chega à mansão.

Ela desce do carro. Fecha a porta. A mansão começa a desaparecer.

— NÃO SE ATREVA, SUA DESGRAÇADA! Eu já tenho permissão pra entrar nesta casa e não ouse me impedir.

Ao pronunciar isso, a casa volta ao seu estado normal e Haruka não perde mais tempo e decide entrar lá imediatamente.

 

Após passarem por maus bocados no passado, Saori e Takeru acordam ao mesmo tempo dando soluços e tossidas como se estivessem se afogando. Eles estão em uma espécie de santuário, possivelmente algum lugar secreto da casa Himuro.

Ao despertar, Takeru fica choroso e diz:

— Saori? Saori, você está bem!

— Takeru-kun! Graças a Deus!

Os dois se abraçam.

— Onde você estava, Saori?

— Não vai acreditar no que eu disser, mas… Eu estava em 1904.

— Em 1904? Mas como? Achei que você tivesse no mesmo ano que eu fui.

— Pra onde você foi?

— Eu fui para o ano em que houve o ritual que falhou, Saori. Aquele que a professora Haruka contou pra a gente.

— Ai, meu Deus! E como você…

— … Eu a conheci, Saori… Conheci a Mino… A donzela do último ritual.

— E o que houve? O que aconteceu lá?

— Eu… Eu não consegui salvá-la, eu fiz de tudo, de tudo, mas… Não consegui.

Saori fica pensativa.

— Espera… Tem alguma coisa errada.

— Como assim?

Saori se levanta e começa a andar por aquele santuário, refletindo.

— A professora Haruka tinha dito que… O último ritual do santuário das cordas falhou porque a garota se apaixonou e manchou o ritual. Então o seu pai veio e a matou e matou todo mundo da família, certo?

— Eventualmente, mas por que o questionamento?

— Se a Mino morreu e ela foi a última… Então o que aconteceu com a garota que eu conheci em 1904?

— Conheceu outra garota em 1904? Ela também foi vítima do ritual?

— Esse é o problema, Takeru… Ela não foi morta no ritual… Ela escapou antes que fosse pega.

— Espera… A professora Haruka também disse que o amante da Mino também morreu, mas… Eu… Eu empurrei ele em um portal.

— O quê?

Takeru gagueja e tenta conciliar tudo o que está acontecendo.

— O… O… O Yoro não morreu, Saori, ele… Ele… Abriu um portal do nosso lado e eu… Eu simplesmente…

— … Takeru-kun? Se essas pessoas não morreram naquela época… Então o que aconteceu com elas?

 

– Finalmente este momento solene chegou!

 

Ouve-se uma voz masculina. Saori e Takeru se viram para testemunhar algo que eles jamais imaginavam.

 

— Olá, Takeru-kun.

Takeru fita o olhar para aquele homem e se impressiona com o que vê.

— Papai?

Outra voz conhecida surge:

— Olá, Saori-chan.

Igualmente o seu irmão, Saori fica intacta sem entender o que está vendo e até mesmo força os olhos pra ter certeza que não é uma alucinação.

— Mamãe?

— Como é bom ver os nossos filhos aqui reunidos novamente conosco!- Disse Kaiba.

— O que é isso, pai? Que porra é essa? Isso só pode ser uma piada, né?

— Não pareço real o suficiente pra você, filho?

— Eu… Eu não entendo… Como vocês dois podem estar aqui? E por que estão com essas roupas antigas?- Questiona Saori.

— O que mais você acha que viemos fazer aqui, minha doce Saori? Seu pai e eu iremos finalmente completar o ritual.

— O quê?- Estremece Saori.

— O ritual do estrangulamento falhou, mas o ritual dos gêmeos não vai falhar. Esperamos mais de 120 anos por este momento e agora… Todos vocês vão selar o mal que desencadearam lá no passado com a nossa família.

Takeru pergunta:

— Mas o que isso tem a ver com a gente? E por que estão fazendo isso conosco? Vocês são nossos pais!

— Sabe o motivo de estarmos fazendo isso aqui hoje, meu querido Takeru?… Porque você… Me empurrou pra porra daquele portal!

Baque na expressão de Takeru.

— O… O que disse?

— O que você ouviu… Yoro!

Takeru estremece a ponto de quase desmaiar, Saori olha pra ele incrédula e, em seguida, olha pra Mei.

— Mãe, o que…

— … Queria mesmo me agradecer por ter tentado me salvar, filha.

— O quê?

Mei olha pra Saori e em tom de deboche começa a “atuar”.

— Oh, é verdade, tenho que me explicar: “Oh, depressa, Fuko-chan! Se salve e deixa sua família perecer porque eu sou a menina do futuro”.

Saori sente uma forte tontura e quase desmaia. Takeru a segura pelos braços.

— SAORI-CHAN!

Não! Não, não, não, isso não pode ser verdade. NÃO PODE!

Kaiba diz:

— Agora que todos nós estamos devidamente apresentados… Hora de acertar as contas desta família. Então se preparem, meninos… O que vocês verão aqui hoje… É PIOR DO QUE TUDO O QUE VOCÊS JÁ IMAGINARAM EM SUAS VIDAS!

 


                    ATO II


Vemos imagens das ruas de Tóquio ficando cada vez mais vazias e um possível início de temporal se iniciando, ventos invasivos estão tomando conta da metrópole japonesa. Entretanto, o céu está marcado por uma bela lua cheia, mas essa lua aos poucos começa a ficar avermelhada, da cor do sangue carmesim.

Mas aquilo não era um evento astrológico previsto pela NASA, era o início da abertura dos portões do inferno. Nos lares japoneses, famílias olhando pela sacada de suas casas, de seus apartamentos, de casinhas no campo e estranhado aquele fenômeno, pois no mesmo tempo que se “assustam”, eles também ficam encantados ao testemunhar isso a olho nu.

O que eles não sabem, é que aquela lua vermelha não é tão bela quanto eles imaginam, principalmente porque a vida de outras pessoas estão em jogo neste exato momento.

 

MANSÃO HIMURO, 23H.

 

Haruka entra na mansão e se depara com o eco do vazio daquele lugar.

— SAORI! TAKERU!

Um vazio que insiste permear entre aquelas paredes.

— ONDE VOCÊS ESTÃO? POR FAVOR, ALGUÉM RESPONDA!

Mas o vazio pode estar ocupado de algo demoníaco.

Hihihihihi.

— QUEM TÁ AÍ? ANDA, APAREÇA LOGO!

De trás da parede, aparece a entidade do garotinho da cabeça raspada que assombrava Kato no porão.

— Nunca vão poder escapar daqui… As portas do inferno se abriram e agora finalmente nossos pais vão poder realizar o ritual, hahahahahahahaha!

— Onde está a Saori e o Takeru, sua criatura ridícula?

— Hahahahaha, eles estão lá… No santuário das cordas.

— Onde fica?

— Em algum lugar do oculto dessa mansão, hahahahahaha! Foi… Foi onde meus pais… Onde meus pais…

 Haruka, impaciente, insiste:

— Onde seus pais, o quê, garoto?

Aquele garoto rapidamente muda a sua expressão assustadora e fica com um semblante assustado como se algo ou alguém tivesse feito alguma coisa pra ele.

— NÃO! NÃO, PAPAI! MAMÃE! EU NÃO QUERIA TER VISTO, POR FAVOR! EU SÓ QUERIA BRINCAR! EU… EU SÓ QUERIA BRINCAR, EU JURO!

Haruka testemunha aquele momento de crise do garotinho e fica tentando entender o que está acontecendo. O garoto se rebate no chão. Haruka se aproxima e quando toca a mão do garoto, imagens surgem na sua mente.

 

SANTUÁRIO DAS CORDAS, MANSÃO HIMURO, 1874.

 

O garotinho está atrás de uma parede ali no santuário das cordas vendo um grupo de pessoas. Vemos monges, homens e mulheres, ao redor de uma mesa de pedra. Ali há uma jovem amarrada aos seus 4 membros.

O anfitrião principal dá uma ordem e um dos monges atira para o céu e 4 cavalos correm em direções opostas. O garotinho se assusta com o que vê e não consegue segurar o seu grito.

— MANA!

Ao gritar, as pessoas da cerimônia o avistam e sua mãe com uma maquiagem de gueixa e seu pai com uma máscara vermelha, se pronunciam.

— YUJI!

— O QUE FAZES AQUI, PIRRALHO?

Yuji corre pelo jardim do santuário desesperado. Naquela época, ele tinha um cabelo grande em formato cogumelo e deveria ter em torno de seus 8 anos.

Seus pais são as duas entidades que estavam açoitando a pobre Kato há algumas horas. A garota que foi oferecida ao ritual era sua irmã mais velha. Aquela era uma das primeiras gerações da família Himuro a praticar o ritual do estrangulamento.

Yuji continua a correr pelo jardim até dois criados o abordarem a cavalo. Yuji se desespera, mas não esperava que o pior ainda estava para acontecer.

Seus pais chegam ao local e não parecem estar nenhum pouco contentes em vê-lo ali.

— O que pensa que está fazendo aqui, Yuji?- Pergunta sua mãe.

— O que fizeram com a mana? Por que vocês não impediram? Por quê?

— VOCÊ NÃO ENTENDE, MOLEQUE! A sua irmã fazia parte de um importante ritual no qual trará paz a todos nós.

— NÃO! POR QUÊ? Ela prometeu que a gente ia brincar junto quando pudesse sair do quarto, ela até fez um coelhinho de pano pra mim.

Vemos imagens de um coelho feito a pano em um quarto da mansão.

— Bem, querido… Acho que teremos que dar uma lição no nosso filho.

Minutos mais tarde, vemos aquela família no porão da casa, o pai raspa toda a cabeça do menino com uma foice e ele chora pedindo clemência.

— POR FAVOR, EU NÃO FIZ NADA! EU SÓ QUERIA BRINCAR!

Sem nenhum pudor, seu pai pega duas cordas. Uma, ele entrega à sua esposa e fica segurando a outra.

— Sabe muito bem o que fazemos com garotos desobedientes, não é, Yuji?

O pai açoita as costas do menino.

— AAAAAAAAAAAAAAAAHHHH! PARA!

A mãe não fica pra trás e repete o mesmo procedimento.

— POR FAVOR, PAREM! PAREM!

Eles continuam chicoteando o garoto sem parar. Quando ele já estava machucado o suficiente, o pai o leva para fora. Ele vai até um lago que existia naquela época nos fundos do jardim. Ele se agacha com seu filho no colo na beira do lago, olha pra ele e diz:

— Eu sinto muito, garoto. Mas precisa ser assim.

O homem pressiona Yuji pra dentro do lago e o enforca submergindo-o nas águas sem dar a oportunidade do pobre garoto se defender.

 

Em 2024, Haruka se afasta de uma vez do garoto caindo para trás.

— AI, MEU DEUS!

O garoto continua ali chorando e confuso.

— Eu… Eu pensei que eu, eu pensei que meus pais só estavam bravos comigo. Por isso que eu nunca mais os vi, eu passei um tempão esperando eles voltarem, mas eles nunca voltavam. Eu estranhei que sempre chegava gente nova nessa casa, mais e mais gente nova e meu pai e minha mãe nunca voltaram pra vir me buscar. Eu ouvia na minha cabeça que pra eu viver, eu tinha que matar, tinha que matar todo mundo que viesse roubar a minha casa, mas eu só queria alguém pra brincar comigo, eu só queria… Só queria alguém.

Haruka compreende a crise existencial daquele garoto.

— Você não sabia que estava morto, não é?

— Morto? Mas eu… Eu estava no lago… E…

— Yuji… Os seus pais abandonaram você, te deixaram aqui nessa casa sozinho e eles nunca mais vão voltar. Mas você pode fazer algo pra poder reparar tudo isso e vingar a morte da sua irmã mais velha.

— Como?

— Me mostre onde fica o santuário das cordas.

 

SANTUÁRIO DAS CORDAS- MANSÃO HIMURO

 

Saori está apoiada no ombro de seu irmão tentando entender o que está acontecendo, não consegue acreditar que aquilo possa ser real. Prefere que seja mais uma peça sádica pregada pela casa, mas não é…

E talvez até aqui, este pode estar sendo o momento mais assustador para os irmãos Miyazaki.

Mei (ou Fuko) olha para o alto e suspira, dizendo:

— Eu nem estou acreditando que eu esperei 120 anos por este momento. Quando passei por aquele portal, achei que estivesse tudo perdido, mas não estava. Veja só, Saori! Aquilo que você fez lá no passado gerou consequências! Como você se sente? Como se sente ao saber que a pobre garota ingênua e pura que você ajudou em 1904 era a sua própria mãe?

— Eu não entendo… Eu ajudei você, ajudei que você escapasse daquela família, eu te contei tudo o que aconteceu sobre o ritual e o que iam fazer contigo.

— Sim, meu amor, mas acontece que… Esse suposto ato heroico seu só complicou mais as coisas. Naquele momento que eu, inocentemente, matei a minha mãe, eu acabei liberando um karma demoníaco. E o pior de tudo… Esse karma me acompanhou quando passei pelo portal.

Takeru, tentando entender aquilo, diz:

— Espera, espera. Tem uma coisa que não está batendo. Se você veio de 1904, então como pode ainda estar viva? E como explica o pap… O senhor aqui presente?

— Bom, eu tive ainda mais motivos do que sua mãe, meu querido Takeru. Primeiro porque você me atrapalhou. Eu que queria ter ficado com a Mino naquela época, ela estava destinada a mim, o verdadeiro Yoro.

— Não! A única coisa que você queria era mostrar pros teus amiguinhos idiotas que você conseguiu falar com a donzela separada dos Himuro nos anos 50.

— E o que acontece? Um playboyzinho de merda do século 21 aparece e atrapalha o meu GRAN MOMENTO!

Ele pausa por instantes, e depois continua.

— Você tem ideia… Do ódio que eu carreguei de você durante todos esses 70 anos? E imagine o ódio que eu senti quando soube que eu tive que gerar o meu pior inimigo? O cara que arruinou a minha maldita vida me jogando na porcaria de um portal interdimensional.

— A minha intenção era salvar você! O senhor Himuro ia te matar, então foi a única coisa que eu pensei, foi…

Mei interrompe.

— … É claro que você queria salvar alguém né, Takeru? Você nesse ponto é igualzinho a tua irmã. Dois frutos da mesma tolice: Ajudar os outros… Não é, Saori?

— Como pode fazer isso com seus próprios filhos, mamãe? Nos tratar como seus inimigos? Isso é loucura!

— Sim, Saori, é loucura! Tudo isso não passa da porra de uma loucura doentia… Mas sabe o que é pior do que isso, Saori-“chan”? É você ser jogada para uma época e um mundo que não lhe pertence. Mas acho que você sabe disso melhor do que eu, não é? Senão não estaríamos neste exato momento, nesta solene reunião… Realizando este evento primoroso que pode marcar para sempre o legado da família Himuro.

— A família Himuro não passa de um bando de assassinos!

— CALE-SE, VAGABUNDA! Não se atreva a falar mal desta família… Esta família no qual eu prezei mais de 120 anos da minha vida! Que por conta de uma bastarda, ela virou de cabeça pra baixo.

Mei se detém um pouco e começa a contar um fato e, enquanto ela narra, vemos flashbacks de Fuko chegando a alguma cidade perdida e desolada. As pessoas na rua a olhando com reprovação e ela apavorada sem saber o que estava acontecendo.

— Eu comecei a andar por aquelas ruas tão perdida e tão assustada… Foi aí que eu me deparei com um local estranho cheio de coisas em gravura, eu me perguntei: Nunca vi pergaminhos estranhos como esse, na verdade eu só soube depois que aquilo era um jornal. E me assustei com o que li, era uma letra estranha e bem diferente do que eu já tinha visto, mas lá estava o número 1994. Eu simplesmente viajei 90 anos na frente. Imagine o choque para uma pobre moça de 16 anos que nasceu no século 19, chegar misteriosamente nos últimos anos do século 20? Mas eu sabia que tudo isso fazia parte de um plano… E tudo mudou quando eu conheci o pai de vocês.

Kaiba se posiciona na frente e começa a falar.

— Quando passei por aquele maldito portal, eu fui parar no meio de uma avenida. Um carro me atropelou e eu fiquei dias e dias sendo tratado em um hospitalzinho de merda e me vi preso em uma cadeira de rodas durante muito tempo. Milagrosamente, por uma obra do destino, eu conheci a Fuko. Mas quando a conheci, ela não se chamava mais Fuko e sim, Mei. E foi aí que eu entendi que… Existia algo do passado que eu deveria fazer no futuro.

Mei prossegue:

— … Então um belo dia eu estava em uma lavanderia, foi a única merda de emprego que achei, claro… Eu estava sozinha quando de repente ouvi aquele sussurro… Aquele sussurro frio e pegajoso que impregna nos seus ouvidos como uma praga. Sussurrou o meu nome, sussurrou até eu responder: QUEM TÁ AÍ? E a entidade gentilmente se apresentou dizendo que veio junto comigo do passado e que precisava realizar algo, que o ritual que falhara precisava ser executado novamente e somente alguém com sangue genuíno Himuro, poderia fazer isso. Então a entidade me disse que eu deveria procriar e separar o meu filho ou minha filha para o ritual e retornar para a casa.

Kaiba continua.

— … Mas para que esse plano desse certo, nossas memórias teriam que ser apagadas até certo ponto. Quando conheci a Mei, ela resolveu me mostrar a entidade e assim como ela, eu fiz um pacto. Primeiro, eu recuperei o movimento das minhas pernas. Depois disso soube que esse pacto só poderia ser desfeito com o ritual do estrangulamento, mas com o passar do tempo, descobrimos que havia um ritual ainda mais poderoso e que poderia selar de uma vez os portões do inferno: O ritual da crucificação. Em outras palavras, o ritual dos gêmeos.

— Sim, o ritual dos gêmeos garantiu proteção e vigor para todos os descendentes dos Himuro durante 150 anos, é um ritual poderoso que utiliza de um dos laços mais fortes que habitam no mundo humano: Os irmãos gêmeos. Então… A única solução para quebrar a maldição era eu dar a luz aos gêmeos que iriam ser doados na crucificação e iria nos libertar do mal… E acredite, tanto a minha memória quanto a do pai de vocês estava apagada, jamais iríamos pensar que vocês eram os mesmos pivetes que viajaram no tempo.

— O plano era perfeito, tínhamos tudo em nossas mãos, mas algo aconteceu que deu muito errado. Não esperava que a Mei ainda era capaz de conceber já estando em uma idade avançada, e aí nasceu a Kato. A Kato arruinou todos os nossos planos, porque nunca foi um trio, sempre, desde o começo, eram vocês dois. Vocês são a “matrix perfeita”, o sacrifício impetuoso dessa renhida batalha dos Himuro. E a Kato… Bom, a Kato sempre foi um peso morto. Ela sempre foi a sobra dessa equação.

Takeru, começando a se enfurecer, diz:

— Não fala assim da Kato, não fala assim da minha irmã!

— E do nada você começou a ser um irmão protetor, Takeru? Porque até onde eu sei você odiava a Saori e já discutiu infinitas vezes com ela. Quem me garante que você não faz o mesmo com a Kato?- Afronta Kaiba.

— Não sabe do que tá falando.

— Sim, eu sei, meu filho, eu sei o que sente, você queria ser o homem da casa, né? Você queria toda a atenção, os privilégios, não queria ter irmãs, muito menos uma irmã gêmea. Você queria ser o centro das atenções e olha só… Conseguiu ser o centro das atenções no momento em que se envolveu com drogas… E o pior… Por conta de sua estupidez… Deixou que uma garota inocente fosse ceifada de tão burro que…

— … Não se atreva, não se atreva a falar da Yukina ou eu juro que…

— … Que o quê? Hein? Vai me dar outro soco como você fez lá em 1954? Vai me jogar em um outro portal de merda e me mandar pra 70 anos no futuro? Admita que você não passa de um moleque, Takeru.

— JÁ CHEGA! ESTOU CANSADA DISSO!- Exclama Saori.

— Olha só! A puta resolveu falar. Você já contou pra ela sobre o senhor Urumada, querida?

— Oh, é verdade, a revelação mais importante que eu estava guardando para a minha filhinha.

— O… O quê?

— Meu amor, minha Saori… Você não achava mesmo que o senhor Urumada era só mais um pedófilo qualquer, não é?

Mei encara nos olhos de Saori. A jovem fica por segundos olhando para a sua mãe até seus olhos ficarem marejados e sua garganta querendo se fechar.

— Nã… Não. A… A senhora conhecia o Urumada.

— FINALMENTE! A PUTA RACIOCINOU!

— Você… Mandou que um cara de 40 anos estuprasse a sua própria filha?

— Era o único jeito, querida. O estúpido do teu irmão já havia perdido a virgindade com aquela outra puta, então…

— … NÃO FALA ASSIM DA YUKINA!

Kaiba dá um soco no rosto de Takeru.

— Não se atreva a interromper os mais velhos, garoto. Continue, querida.

— Obrigada, querido. Como eu havia dito, o teu irmão perdeu a inocência com a vagabunda da Yukina, então eu pensei: Se a puta engravidar… A gente também pode fazer com que a Saori engravide. E foi aí que surgiu a oportunidade de conversas pessoais com o senhor Urumada. Nós o conhecemos em um fórum de internet e sabíamos que ele era um tarado, entretanto era aquele tarado que só vivia de pornografia de menores de idade em seu submundo de internet, ele nunca havia provado do fruto. Então, meu amor, eu decidi leiloar você a ele. Vendi a sua virgindade por um preço muito alto pra que você pudesse engravidar e nos entregasse o seu maldito bebê.

— E aí nós iríamos pegar o bebê do Takeru e o seu e iríamos oferecer eles como tributo no ritual da crucificação.

— O único porém disso tudo é que entre essas probabilidades, em nenhuma a Kato poderia ficar com vocês. Como já foi dito: Ela sempre foi a falha na matrix.

Saori e Takeru ficam por alguns minutos tentando digerir tudo aquilo, não conseguem acreditar que seus próprios pais tinham planos tão doentios.

Ao vê-los daquela maneira, Kaiba decide cortar o silêncio.

— Ok, ok, agora que vocês já viram todo esse suco de exposição que demos a vocês, desculpa entediá-los, mas prometo que agora a coisa vai ficar interessante… Está na hora de… Colocar vocês no lugar do filho de Deus… Direto na cruz.

Saori e Takeru olham um para o outro. Mei pega um spray do bolso de seu quimono e pressiona nos dois.

Eles espirram e, em seguida, começam a adormecer.

Mais do que nunca, Saori e Takeru percebem o perigo no qual se encontram.

 

Em algum outro lugar, finalmente vemos Kato caminhando por um jardim, até ela encontrar uma porta. Ela abre essa porta, entra em um local onde aparenta ser um enorme quarto. Neste quarto, há uma mulher toda de branco deitada em uma cama de casal. Esta mulher possui cabelos tão longos, mas tão longos, que eles não cabiam em cima da cama e ficavam esparramados pelo chão.

Kato se aproxima daquela mulher sem saber quem ela é. Ao chegar próxima dela, a mulher começa a despertar lentamente, Kato parece não estar com tanto medo, talvez intrigada pensando: Quem é aquela mulher e por que ela está ali deitada?

A mulher inclina o seu rosto gentilmente para Kato.

— Kato? Você veio?

— Quem é a senhora?

— Como assim, querida? Sou eu. A tua mãe.

— A senhora não é a minha mãe.

— Sou sua mãe verdadeira, Kato. Sou Fuko Himuro, a mulher que se passou por sua mãe durante todos esses anos era na verdade uma impostora, eu estive presa aqui durante todo esse tempo, pois… Eles me prenderam aqui.

— Quem?

— Seus outros pais e… Seus irmãos! Eles me odeiam, Kato. Principalmente seus irmãos, eles… Eles não querem me aceitar como a mãe verdadeira deles, então… Então eles me deixaram aqui sozinha e abandonada. Mas você pode me ajudar, Kato. Você pode me libertar de vez dessa prisão eterna na qual me encontro e me levar para a superfície.

Kato dá um passo a frente na direção daquela mulher. Ela ainda deitada estira um de seus braços para tocar em Kato. A garotinha igualmente estira o seu braço, mas ao olhar com mais precisão para aquela mulher, ela decide recuar.

— O que aconteceu, querida?

— Os meus irmãos nunca iriam fazer isso. Você não é a nossa mãe, você é uma mentirosa!

Ao gritar essas palavras, a mulher fica alguns segundos olhando pra ela com um sorriso forçado. Até finalmente seus olhos ficarem amarelados e um sorriso diabólico estampa o seu rosto.

— Hahahahaha, é isso que dá querer contar com um peso “morto”.

Os cabelos daquela mulher começam a se mexer e se embolam retornando para a cama, Kato se afasta, corre para a direção da outra porta, a mesma se fecha e agora ela está sem saída.

A mulher flutua na cama, seus cabelos gigantescos ficam flutuando naquele quarto. A pequena Kato está encostada na porta vendo aquela cena bizarra.

A mulher muda o semblante de seu rosto para uma figura demoníaca com dentes afiados. Um chifre começa a nascer de sua testa e símbolos do xintoísmo aparecem em seu corpo como se fossem tatuagens. Das suas costas, asas negras e putrificadas começam a surgir até ficarem completamente abertas. A pequena Kato testemunha aquilo sem ao menos saber como reagir.

Finalmente a entidade termina a sua possível transformação e diz:

— Foram quase dois séculos aguardando por este momento em que finalmente os portões do inferno estariam abertos novamente. E aqui estou… Perante a uma garotinha inútil que só veio ao mundo para arruinar os meus planos.

— Quem é você? Onde estão os meus irmãos?

— Eu sou a entidade guardiã que habitou na família Himuro durante gerações. Sou um Oni, querida Kato, em outras palavras, um demônio.

— Um demônio?

— E até o final o badalar do relógio apontando pra meia-noite, eu irei reinar sob esse mundo e todos irão me venerar, seja no oriente ou seja no ocidente.

— NÃO! Você não tem poder pra fazer isso com ninguém!

— E quem vai me impedir? Você? Você está na casa vermelha, querida… Essa mansão não é apenas uma casa feita de tijolos e madeira… É um portal entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos.

A entidade abre seus braços e suas asas gigantescas.

— Prepare-se, Kato… Esse é o fim da raça humana.

No céu, a lua começa a ficar ainda mais vermelha, a população começa a estranhar o motivo de tal evento está acontecendo.

Uma ventania assolando Tóquio, e não era apenas um fenômeno da natureza… Era o mal que acabara de alcançar o seu pódio absoluto.


                           ATO III


 

Os olhos de Saori se abrem. Em seguida, os olhos de Takeru também se abrem.

Ainda atordoados, eles apenas observam o vulto de seus pais ao redor de uma mesa e ao redor dela há um círculo com várias passagens nas laterais no chão. Essas passagens servem para escorrer o sangue do sacrifício e ele chegar até o portão do inferno para selá-lo.

Kaiba e Mei (diga-se Yoro e Fuko) estão andando ao redor da mesa com folhas de bananeira e repetindo alguma espécie de dialeto antigo no qual não é possível decifrar.

Aos poucos, a visão de Saori e Takeru começam a pegar forma e quando eles olham um para o outro, percebem que estão amarrados em uma cruz de madeira nas mãos e nos pés.

Saori tenta puxar seu punho de um lado e tenta puxar do outro e nenhum resultado. Takeru tenta fazer o mesmo procedimento, mas igualmente sem nenhum resultado.

Saori se dirige aos seus pais.

— Por que estão fazendo isso? Tira a gente daqui!

— Oh, meus meninos finalmente acordaram- Ironiza Mei.

— Mamãe, por favor.

— Ow, agora eu sou tua mãe né, garota? Faça mil favores.

— Papai, por favor.- Implora Takeru.

— Papai? Ah por favor, Takeru. E peço que a partir de agora nos chamem pelos nossos nomes verdadeiros: Yoro e Fuko. Afinal de contas, vocês estão à beira da morte. Agradeçam à Fuko que não quis colocar a coroa de espinhos em vocês, mas enfim…

— Querido, está quase dando meia-noite.

— Oh é verdade, precisamos nos apressar. Pegue as duas lanças, querida.

Fuko/Mei pega duas lanças afiadas que estavam ali ao chão e entrega uma delas a Yoro/Kaiba.

— Bom… Naquele grande dia, havia uma festa no inferno, o filho de Deus foi açoitado, escorraçado, cuspido, trocaram um ladrão para que ele fosse crucificado em seu lugar. Ao chegar o Gran momento, antes de uma lança atravessar o seu pobre corpo, Jesus olhou para os céus e disse: “PAI, POR QUE ME ABANDONASTES?” E então… Ele pediu para que seu pai perdoasse aqueles pobres néscios de coração porque eles não sabiam o que faziam… Uma tempestade estava vindo, e quando Jesus finalmente entendeu que aquele era o seu destino, que ele precisava morrer para salvar o mundo, ele exclamou: TETELESTAI! Em nossa língua significa: “Está consumado”. A lança transpassou o seu corpo, ele sangrou até a morte… Naquele momento, o véu que separava o céu com os homens foi rasgado, e assim eles tiveram acesso ao terceiro da trindade… E no inferno uma festa acontecendo, todos achando que enfim haviam matado o Messias, quando o próprio pisou no inferno para tomar as chaves da morte e, assim condenar a todos a uma vida de escuridão… A única diferença, meus filhos, é que… Vocês serão crucificados hoje, mas nenhum de nós, aqueles que foram separados para o inferno, viverão na escuridão. Seremos livres… Os açoites que nos condenavam, os grilhões que nos prendiam não existirão, porque nós somos a nova geração eleita! A geração… Comandada por aquele que foi injustamente expulso do paraíso por apenas dar a sua humilde opinião… Acho que ficou claro, né? O que achou, meu amor?

— Querido, você é sempre sábio com as suas palavras.

— Obrigado, querida. Bom… Vocês tem apenas 5 minutos até o momento ideal para realizar o sacrifício, querem dizer as suas últimas palavras? A hora é agora, aproveita que estamos bem bonzinhos.

Saori e Takeru olham um para o outro sem saber o que fazer.

 

 

QUARTO DA BOCA DO DEMÔNIO.

 

A entidade assustadora está afrontando a pequena Kato.

— O que aconteceu com você, Kato? O gato comeu a sua língua?

A entidade lança uma parte de seu cabelo na direção de Kato. A garota desvia e corre para o lado. A entidade lança outra parte de seu cabelo na direção dela, ela cai no chão e vê que por onde quer que vá, aquele ser demoníaco não vai deixa-la escapar.

— Você acha mesmo que pode me deter, sua pirralha idiota?

Kato se levanta e corre para a direção da porta.

— NÃO ADIANTA FUGIR, KATO!

A entidade lança seus cabelos e acerta nas costas de Kato fazendo-a cair na calçada da porta.

— Ai!

Kato chora ao se deparar com algo que é praticamente impossível dela derrotar.

— Eu não entendo… Por que disseram que essa garotinha imunda seria a nossa grande ameaça, essa fedelha mal saiu das fraldas.

Enquanto está no chão, Kato ouve uma voz onde somente ela pode escutar.

— Kato, Kato, está me ouvindo? Sou eu, a mãe da Mino. Kato, você precisa ser forte, precisa falar o nome desse demônio e não demonstrar medo.

Kato falando por telepatia diz:

Como eu vou saber o nome dessa coisa?

— Puxe pela memória… Lembre-se… Você está na casa vermelha.

— A casa… Vermelha?

A entidade fica observando Kato sem entender o que ela está fazendo.

— O que houve, Kato? Já entregou os pontos? Esperava mais de você.

— Não… (se levantando e ficando de frente pra entidade novamente) Eu estou apenas começando.

 

SANTUÁRIO DAS CORDAS.

 

Mei e Kaiba ficam com expressão de tédio olhando para Saori e Takeru, esperando que eles decidam falar suas últimas palavras.

Takeru finalmente decide quebrar o silêncio e ainda de cabeça baixa, começa a falar.

— Sabe, eu… Eu nunca fui um bom irmão. Nem pra Saori e nem pra Kato, mas acho que principalmente pra Saori.

Saori fita o olhar em sua direção.

— É inacreditável que nós tenhamos dividido o mesmo útero por 9 meses, ficamos unidos por um laço, um cordão umbilical que nos manteve seguros durante esse período e hoje, 17 anos depois, me dói pensar que o único momento em que eu e você estivemos juntos foi quando estávamos dentro desse útero.

Uma lágrima começa a descer dos olhos de Saori.

— Eu nasci 28 segundos antes de você. Oficialmente eu sou o irmão mais velho, mas esses 28 segundos de distância de você pareciam 28 anos, porque era como se nunca tivéssemos sido irmãos, era como se nunca tivéssemos compartilhado um ventre. Conforme eu fui crescendo, fui me tornando rebelde, bruto, inconsequente e no momento que a minha irmã gêmea mais precisou de mim, eu não estava lá, eu… Eu só estava preocupado com as minhas coisas, com a minha vidinha medíocre e você aguentou tudo sozinha, cuidou da Kato como se fosse a mãe dela e eu fiquei ali naquele internato refletindo em todas as merdas que eu fiz na vida… E agora estando aqui ao seu lado e prestes a morrer, eu percebi algo… Que eu nunca te disse o quanto eu te amava.

Saori chora e se emociona com as palavras do irmão. Ela tenta tomar fôlego para também pronunciar algumas palavras.

— Eu sempre fui… Aquela irmã super controladora, sabe? Eu queria deixar tudo sob controle, muito metódica, muito perfeccionista, me preocupava em deixar tudo em ordem, mas eu me esquecia de mim mesma. Eu esquecia de cuidar de mim, esquecia de reformar o meu “Eu” interior. E para fingir ser uma mulher forte, eu construí um muro de amargura em meu coração e não deixava ninguém entrar nele, nem mesmo o meu próprio irmão. Eu me perguntava: Por que as coisas chegaram a esse ponto? Por que eu não conseguia mais nem olhar na cara do meu irmão gêmeo? Por que eu me tornei tão rancorosa? Tão egoísta? Talvez eu queria apenas camuflar a minha solidão, camuflar a tristeza que eu senti quando o mandaram para longe de mim. Eu me vi presa em uma espiral de dor que continuava, continuava e continuava a me matar, a me destruir por dentro, me consumir como um câncer de dentro pra fora… E ele não estava aqui, e o meu irmão, que era o meu porto seguro, não estava aqui. E eu me odeio tanto, mas tanto, porque eu fui a responsável de separar ele de mim, porque o meu egoísmo foi demais! Eu cresci pensando que a minha vida seria uma casa colorida e cheia de vida, mas as minhas paredes são brancas, ocas e sem graça.

Takeru observa a sua irmã e começa a chorar com suas palavras.

— Agora eu vejo o quanto eu fui tola em não dizer… Em não reconhecer… Que sim, que eu dependo do meu irmão, que eu o amo e que ele me fez tanta falta, que eu achei que eu fosse morrer durante o ano inteiro que ele ficou longe de mim. Foram incontáveis noites em que eu abafava o meu choro pra não sentir essa saudade, e quase nunca tinha tempo pra chorar, porque eu precisava me manter uma irmã posturada e plena para a Kato… Mas eu nunca fui nada disso… Nunca fui forte, sou totalmente dependente de amor e afeto. Algo que eu só tive… Com o meu irmão.

Takeru diz a Saori:

— Eu te amo, irmã.

— Eu te amo, irmão.

Do lado de fora, a lua fica ainda mais avermelhada. Mei e Kaiba se posicionam cada um próximo aos gêmeos com sua lança.

— Prometemos a vocês que esse sacrifício não será em vão. Espero que vocês tenham uma boa passagem.- Disse Kaiba.

Mei e Kaiba se posicionam para atravessar a lança nos corpos de Saori e Takeru. Até o último momento, os dois só olhavam um para o outro e sussurram “Eu te amo”.

Mei empunha a lança na direção de Saori, Kaiba faz o mesmo procedimento na direção de Takeru. Os dois jovens esperam pelo seu fim.

Entretanto…

 

Uma voz chama por eles.

 

Ora, ora, ora… Como vocês são patéticos!

 

Uma neblina toma conta do lugar. Kaiba e Mei se viram para frente e não conseguem enxergar nada.

— Quem tá aí?- Pergunta Kaiba.

O pior pesadelo de vocês.

Haruka surge cortando a neblina e dispara um spray de pimenta nos olhos de Kaiba e de Mei.

— AHHHHHHHHH! VAGABUNDA!!

— EU VOU TE MATAR!

Haruka não perde tempo e vai até a cruz onde estão os garotos.

— HARUKA-SAN!- Ambos exclamam.

— Não temos muito tempo, meninos. Vou tirar vocês daqui antes que eles retomem a visão.

— Como você chegou até aqui?- Pergunta Saori.

— Eu explico daqui a pouco.

Ela termina de tirar Saori dali da cruz e começam a desamarrar Takeru. Após desamarrá-lo, ele pergunta.

— Haruka-san, pra onde vamos agora?

— Eu não sei, Takeru, preciso pensar.

Saori olha para uma extremidade além do santuário.

— O que tem ali embaixo? Parece uma casinha, será que ela tem alguma passagem pra sair daqui?

— Deixe-me ver.

Haruka olha para a direção daquele local e sente uma forte presença emanando daquele lugar.

— Meu Deus… Se eu não estiver enganada…  É a Kato.

— O QUÊ?- Questionam os gêmeos.

— A Kato tá lá embaixo, mas tem algo maligno com ela. Vamos depressa!

 

SALA DA BOCA DO DEMÔNIO

 

Kato continua a mercê daquela entidade demoníaca.

— O que acha que poderia fazer, pequena Kato? Você não passa de uma garotinha inútil e sem graça.

— Eu não sou nenhuma inútil… Eu tô cansada de todo mundo falar mal de mim só porque eu sou criança!

— Não é por você ser criança, querida. Você é a sobra dessa equação, você sempre será o erro na matrix.

— NÃO! Você fala isso porque tinha medo. Medo de uma garotinha como eu derrotar você.

— Me derrotar como, princesa?

— Você é Aka Oni… O demônio vermelho!

Naquele momento, as vestes brancas daquela entidade começam a assumir uma coloração vermelha como se fosse sangue.

— Você se infiltrou nas paredes da mansão Himuro e é por isso que ela se tornou a casa carmesim.

— Como… Como pode saber de tudo isso, pirralha?

— Porque eu nunca estive nos planos desta casa… Eu sempre fui… A falha nessa matrix.

Naquele momento, Saori, Takeru e Haruka abrem a porta da frente.

— KATO-CHAN!- Gritam os dois em uníssono.

— MANO! MANA!

— EU NÃO VOU PERMITIR ISSO!

Daquela cama, um rio de sangue começa a jorrar e encher todo aquele quarto, Saori e Takeru tentam circular para ir na direção de Kato. Haruka tenta vir em seguida, mas a porta se fecha de uma vez a deixando do lado de fora.

— HARUKA-SAN!- Grita Takeru.

— TAKERU! SAORI!

Enquanto isso, o banho de sangue toma conta da sala, Takeru e Saori estão encurralados e o sangue começa a aumentar cada vez mais.

— SOLTA OS MEUS IRMÃOS AGORA!

— CALA A BOCA, PIRRALHA!

A entidade lança seus cabelos e prensa Kato na outra porta e uma parte de seu cabelo começa a enforcar a garotinha.

— KATO-CHAN!- Se desespera Saori.

— Foi pra isso que você veio até aqui, Kato? Pra fazer com que seus irmãos assistam a sua própria morte?

— NÃO! Eles vão assistir a sua. Já é meia-noite… E o ritual falhou.

— N… Não, não pode ser!

— Você perdeu de novo, Aka. Mas dessa vez… Vai voltar ao inferno e ficará selada para sempre.

Uma espiral começa a surgir no chão em meio aquele rio de sangue. Takeru e Saori tentam se segurar para não serem arrastados por aquela espiral carmesim.

Os cabelos da entidade se desprendem de Kato e ela cai na calçada da outra porta onde o sangue estava quase alcançando aquela superfície.

— Você pode ter tudo nessa vida, Aka. Mas o laço que une a mim e aos meus irmãos, é mais forte que qualquer outra coisa.

— MALDITA! DESGRAÇADA! EU VOU TE MATAR!

A entidade começa a sucumbir para dentro daquela espiral de sangue, até por fim toda aquela espiral desaparecer e o rio de sangue naquela sala se esvaziar.

Kato respira forte e acelerado e se sente mareada. Saori e Takeru correm na direção da irmã e a abraça.

— KATO! KATO!

— MINHA MANINHA!

— Mano, mana! Eu senti tanta saudade.

Enquanto se abraçam, um tremor inicia e uma parte do concreto daquela sala cai barrando a porta por qual eles estavam perto. Eles vão para trás e percebe que tudo está começando a desmoronar.

Haruka abre a outra porta e diz:

— As explicações podem deixar pra depois, temos agora menos de 10 minutos antes da casa e toda essa dimensão criada por ela, se desintegrar. Então… VAMOS!

 

Em poucos minutos, eles chegam novamente ao local do santuário das cordas, dali eles possivelmente encontrarão o caminho para voltar à estrutura da casa e, enfim, sair dela.

Haruka e Kato passam na frente, mas quando Takeru vai passar com Saori, Kaiba aparece com a lança e tenta acertá-lo.

— TAKERU-KUN!

Takeru se desvia do golpe de Kaiba. Mei aparece atrás para atacar a Saori. Ela segura a lança de suas mãos e a empurra para trás.

— PAPAI! MAMÃE!- Se desespera Kato.

— Os seus irmãos foram muito malvados, princesa. E agora eles precisam de uma lição.- Diz Kaiba.

— Estes não são os nossos pais, Kato. Nossos pais morreram.- Disse Saori.

Kato fica sem entender.

— Por que insistem nisso? ACABOU! A entidade no qual vocês veneravam foi derrotada, a meia-noite já passou, o ritual fracassou.- Diz Takeru.

— NÃO! EU NÃO POSSO ADMITIR QUE MINHA VINGANÇA DE 120 ANOS DE ESPERA TERMINE ASSIM! EU NÃO ACEITO! EU SOU A PRINCESA DOS HIMURO!

— Você não passa de uma velha fracassada.- Diz Saori.

Takeru olha para Haruka e Kato.

— Haruka-san, tira a Kato daqui.

— Mas Takeru?

— Eu não quero que ela veja o que vai acontecer aqui.

Haruka entende o recado e pega Kato pela mão e a leva dali.

— Vamos, Kato. Depressa!

— Não, meus irmãos, não pode deixar eles lá!

Em meio à mesa do sacrifício e as duas cruzes do ritual, se encontram aquelas quatro pessoas cara a cara no santuário das cordas.

— Vamos acabar logo com isso. Não era a gente que vocês queriam? O que estão esperando? ANDA! CAI PRA CIMA! O que foi, Yoro? Tem medo de eu encher a tua cara de porrada igual eu fiz em 54?

— EU VOU ACABAR COM VOCÊ, MOLEQUE!

Kaiba avança pra cima de Takeru com a lança. Ele desvia e a segura impedindo que ele o acerte.

Enquanto isso, Mei não está disposta a facilitar para Saori.

— Vamos ver do que é capaz, filhinha.

Mei tira dois leques cortantes de seus bolsos e salta na direção de Saori. A jovem desvia de um dos leques, o outro pega na ponta de seus cabelos, é possível ver aqueles três fios caindo no chão sob o olhar de Saori.

— Você vai ter o que merece, sua vadia!

Ainda ali, Kaiba e Takeru forcejam um contra o outro com aquela lança.

— Você acha que é mais forte do que eu, Takeru? Eu esperei 70 anos da minha vida por esse momento e eu vou acabar com você.

— Nunca vai conseguir o que quer.

Takeru chuta a perna de Kaiba, fazendo com que ele fique desarmado e, em seguida, Takeru acerta um soco em seu rosto. Takeru se aproxima, mas Kaiba, traiçoeiramente dá uma rasteira nele. Takeru cai no chão e Kaiba fica em cima dele tentando enforcá-lo.

— MORRE, SEU PIRRALHO! MORRE!

Do outro lado da mesa de pedra, Saori se rasteja no chão e Mei tenta acertá-la a todo custo com aqueles leques.

— SUA VAGABUNDA! PROSTITUTA! EU VOU ACABAR COM SUA RAÇA!

Quando ela vai acertar um dos leques, Saori segura firme em seu braço e forceja por instantes com ela.

— Desista, Saori!

— NUNCA!

Saori empurra Mei, ela se levanta, consegue apanhar um de seus leques e corta uma parte do rosto dela.

— AAAAAAAAAAAAAHHHHHHH! VOCÊ MARCOU O MEU ROSTO! O MEU BELO ROSTO! EU VOU TE MANDAR PRO INFERNO, SAORI MIYAZAKI!

 

Mei avança pra cima de Saori enquanto Takeru encontra uma pedra no chão e acerta na cabeça de Kaiba. Este cai para o lado, Takeru tenta se levantar e ele o puxa pelas pernas.

Takeru chuta o seu rosto várias vezes tentando se apartar daquele homem.

No caminho da saída do jardim, Kato pede para Haruka parar.

— Senhora, por favor, os meus irmãos precisam de mim. Por favor.

No santuário, Mei tenta enforcar Saori, ela arranha o rosto de Mei e, em seguida, a puxa pelo coque, desamarrando-o e puxa seu cabelo arrastando-a para a direção da cruz.

— Você vai ter a lição que merece, Fuko. Isso foi por fazer com que sua própria filha fosse abusada!

Saori pega a cabeça de Mei e acerta na madeira daquela cruz.

— E isso foi por me colocar contra o meu irmão.

Ela mais uma vez acerta a testa de Mei contra a cruz.

— E isso… Foi por tentar machucar a Kato!

Ela mais uma vez acerta a cabeça de Mei várias vezes contra aquela cruz.

Na contrapartida, Takeru se levanta, Kaiba também se levanta e o agarra por trás tentando desarmá-lo. Takeru o leva para trás e, em seguida, bate a cabeça de Kaiba na mesa de pedra. Com a testa sangrando, Takeru puxa Kaiba pelas roupas e o leva até a sua cruz.

— Acho que você apanhou muito pouco lá em 54, Yoro. Você mexeu com a família errada!

Takeru dá um soco no nariz de Kaiba fazendo com que ele bata a cabeça na cruz.

— Seu monte de merda, como ousa fazer isso com seus próprios filhos?

Takeru distribui vários socos no rosto de Kaiba até que ele fique praticamente irreconhecível.

Após isso, ele vê no chão a lança. Do outro lado, Saori também encontra a lança que estava com Mei, no chão.

Os dois se posicionam na frente deles, Saori olha para Takeru, ele devolve o olhar fazendo a afirmativa e olhando para Kaiba novamente, dizendo:

— Como é que você disse mesmo? Que seria as últimas palavras? Ah é…

Os gêmeos exclamam em alta voz:

— ESTÁ CONSUMADO!

Eles atravessam as lanças nos corpos de Mei e Kaiba. Ambos agonizam sangrando pela boca. Em menos de um minuto, eles morrem colocando um fim naquele ritual macabro e vingativo.

Os dois jogam as lanças no chão, ficam um tempo processando tudo o que havia acontecido e, em seguida, eles olham um para o outro, se aproximam e se abraçam. Enquanto se abraçam e choram, aquele pesadelo parecia nunca ter fim.

Haruka e Kato chegam logo em seguida.

— MANO! MANA!

Kato corre para abraçar os irmãos. Saori diz:

— Não olha pra aquilo, Kato. Não eram nossos pais, eram monstros.

Haruka fica olhando para eles três e, suspirando, diz:

— Acho melhor irmos embora agora… Acabou.

Eles ouvem uma voz vinda de traz de Haruka.

— Sim, agora realmente acabou.

Eles olham para trás e é a senhora Himuro, a mãe de Mino.

— Eu quero me desculpar a todos vocês por terem passado por isso. Kato já me conhece, mas temo que não fomos apresentados, eu sou a mãe da Mino.

Antes de dar tempo deles responderem, Mino aparece ao lado de sua mãe.

— Muito obrigada a vocês. A entidade do Aka Oni era tão poderosa que estava bloqueando o meu acesso até mesmo às minhas próprias memórias.

Haruka diz:

— Mino, o que realmente aconteceu com eles? Você tinha dito que eles voltaram ao passado, o que realmente aconteceu? Aliás, o que mudou em tudo isso?

— A verdade é que… O Yoro que eu amava, sempre foi o Takeru. A entidade da casa criou uma memória falsa pra camuflar o que realmente havia acontecido, ele manipulou a minha lembrança pra fazer com que eu pensasse que o Yoro havia morrido comigo naquela noite pela espada de meu pai. Mas nunca foi daquela forma. Em outras palavras… Sempre foi o Takeru que estava ali, ele que tentou me salvar.

— Me desculpa por ter mentido pra você, por dizer que eu era o Yoro. Eu poderia ter falado o meu nome verdadeiro, sei lá, senti que enganei você.

— Não, você não me enganou. Aconteceu exatamente como tinha que ser… Saori, você foi muito corajosa, sabia? É louvável tudo o que você fez pra salvar o seu irmão e a sua irmã. Ah e obrigada, Haruka-san. Se não fosse a sua áurea psíquica, nunca conseguiríamos vencer essa guerra.

A senhora Himuro diz:

— Agora vocês podem ficar tranquilos, o mal finalmente foi selado e dessa vez pra sempre. Nada de donzelas, nada de sacrifícios, nada de karmas. No momento que a Kato desativou os poderes da entidade vermelha, os portões do inferno se fecharam e foram selados para sempre.

Haruka pergunta a elas:

— Então quer dizer que… Finalmente esses garotos poderão ter uma vida normal?

A senhora Himuro suspira e diz:

— Os gêmeos sim… Mas a Kato terá que vir conosco.

Kato e os gêmeos estranham o que a senhora Himuro disse e questiona:

— O quê?

— O que a Kato fez de errado?

Perguntam Saori e Takeru, respectivamente.

— Ela não fez nada de errado, muito pelo contrário… Kato, pode vir até aqui na frente? Eu juro que não faremos nada de mal contigo.

Kato olha para os dois irmãos, eles dão permissão pra que Kato se aproxime. Kato passa por Haruka e chega perto de onde está o espírito da senhora Himuro e de Mino.

A senhora Himuro se inclina gentilmente para Kato e diz:

— Kato… Você nunca foi uma sobra… Você nunca foi um erro na matrix. Você é muito maior e melhor do que esse mundo merecia. E é por isso que ele não lhe pertence… Você cumpriu a sua missão. Você salvou os seus irmãos e venceu sozinha a entidade que se apoderou da família Himuro… Mas você só conseguiu derrotar essa entidade, Kato-chan… Porque você estava no mesmo plano que ela.

Saori, Takeru e Haruka arregala os olhos. Kato, sem entender, pergunta:

— Como assim?

— Naquela queda na ponte para o jardim secreto… Você… O seu corpo físico deixou de existir aqui.

Saori cai de joelhos ao chão. Takeru soluça tentando encontrar palavras. Kato com os olhos lacrimejando, pergunta:

— Então… Eu morri?

A senhora Himuro não responde com palavras, apenas consente com a cabeça. Haruka diz:

— Não, não pode ser, eu toquei nela, eu toquei nas mãos dela, isso só pode ser uma brincadeira de mal gosto.

— Quando estávamos conversando no muro das lamentações, aquele portal era pra separar a sua alma de seu corpo e fazer com que ele retorne. Mas nas condições, você não poderia saber o que havia acontecido com seu corpo real. Por isso você podia transitar entre os vivos como uma pessoa comum, porque você não sabia que estava morta. E eu sinto muito por ter mentido pra você, Kato… Mas somente uma alma pura e extremamente poderosa estando do nosso lado de cá poderia derrotar a entidade… E você derrotou.

Saori e Takeru choram como nunca. Ela se levanta e se aproxima.

— Não, minha irmãzinha não. Ela tá viva! Ela tá aqui na nossa frente!

Mino diz:

— A negação faz parte Saori-chan. Mas quero que você e o Takeru saibam que o que sua irmã fez, mudou tudo. No começo vocês terão momentos de dor, de choro, de luto, mas depois… Depois as vidas de vocês serão tão prósperas, tão felizes, que nunca mais, escutem: NUNCA MAIS! A tristeza vai bater na porta da casa de vocês dois.

A senhora Himuro diz:

— Esta casa vai desaparecer, então temos pouco tempo.

Um portal se abre do lado da senhora Himuro.

— Peço que os três saiam por esse portal, mas deixarei que vocês se despeçam da Kato.

Takeru e Saori se ajoelham na frente de Kato. A pequena começa a desaparecer como faíscas a partir da ponta de seus pés.

— Kato, você sempre será a nossa caçulinha. Eu te amo muito! Te amo com todo o meu ser, minha irmãzinha.

— Eu também te amo, mano! Te amo muito!

— Eu sempre serei a sua irmã, Kato. Não importa o que aconteça, eu nunca, mas nunca, vou deixar de amar você.

— Eu também, maninha. Me prometem uma coisa vocês dois?

Eles respondem em uníssono:

— Claro!

— Nunca mais briguem. Quero que fiquem juntos e unidos pra sempre.

Os dois se dão as mãos e falam:

— Tá bom, minha maninha. Eu prometo.- Diz Takeru.

— Pode contar com a gente, minha irmãzinha.

Kato começa a desaparecer cada vez mais, vemos apenas a sua cabeça que ainda está ali.

— Eu amo vocês, meus irmãos! Eu irei vê-los e cuidarei de vocês. ADEUS!

Kato desaparece de vez e das faíscas, um nuvem de borboletas vermelhas surgem invadindo o jardim do santuário.

Saori e Takeru se abraçam e choram desconsoladamente. Haruka se aproxima deles e diz:

— Eu sinto muito, meninos… Sinto muito mesmo… Mas agora precisamos sair daqui.

Haruka ajuda os dois a se levantarem e os três entram naquele portal.

Em seguida, eles aparecem do lado de fora da mansão Himuro. Ela começa a se desintegrar por completo como poeira cósmica até não sobrar absolutamente nada.

Várias viaturas estão se aproximando do local, pelo visto, a denúncia da recepcionista do hotel funcionou. Mas ao chegarem, não encontraram nada além de poeira.

Takeru e Saori ainda ficam tentando digerir o que aconteceu, estão meio estáticos sem saber se choram, se entram em desespero ou coisas do tipo.

Haruka olhando para o vazio da casa Himuro, segura o seu crucifixo em seu colar e, respirando, diz:

— A minha fé mesmo sendo tão pequena… Ela serviu de alguma coisa.

Takeru se aproxima de Haruka.

— Haruka-san. Antes de saírmos daqui, eu quero que você me faça um favor.

— O que seria, Takeru?

— Você consegue fazer com que eu faça uma viagem astral como você fez?

— Eu… Acho que sim, mas… Por que pergunta?

— Eu não posso trazer a Kato de volta, do contrário nada disso teria sido válido… Mas eu ainda posso salvar uma vida.

 

KYOTO, JAPÃO, 2021.

 

Está tendo jogo na aula de educação física, vemos Takeru sentado sozinho de um lado da arquibancada e Yukina junta de outras amigas do outro lado. Ela lança um pequeno olhar pra ele, e ele quase retribuindo o olhar, é abordado por outro rapaz usando um boné que tapa o seu rosto.

— Aí, garoto! Tá vendo aquela mina ali?

— Sim, sim, estou vendo, eu…

— Escuta, fica longe dela, beleza?

— Mas por quê? Eu…

— Cara, aquela garota é chave de cemitério, ela é namorada de um dos traficantes mais barra pesada em Kyoto. Já soube de uns caras que foram “apagados” por se envolverem com essa menina, então se afaste o mais rápido o possível e de preferência, se mude dessa escola você e sua irmã.

— Mas quem é você e quem…?

— Eu sei que você tá começando a vender drogas, Takeru.

— Como sabe o meu nome?

— Se até eu sei, quem dirá os caras que protegem aquela menina? Peça transferência da escola pra você e sua irmã hoje mesmo. Não diga que eu não avisei.

Takeru fica confuso, a garota Yukina olha pra ele novamente, mas ao invés dele retribuir o olhar, decide virar para o lado.

Nos corredores da escola, o jovem retira o boné e se tratava do próprio Takeru. Ele suspira fundo e diz:

— Eu sinto muito, Yukina. Mas vai ser melhor assim.

 

OSAKA, JAPÃO- 3 MESES DEPOIS.

 

Haruka está participando de um seminário de fenômenos paranormais e respondendo perguntas da imprensa e de curiosos.

— Senhora Mori, a senhora acha que aconteceu com a mansão Himuro o mesmo que ocorreu naquele asilo de freiras na Irlanda há dois anos?

— Ótima pergunta, acredito que sim. É claro que cada caso é um caso, mas em ambas as situações, tivemos uma presença sobrenatural muito forte envolvida. Mas graças a Deus estamos aqui para poder contar essa história.

— E o que aconteceu com os gêmeos?

— Bom… Eu dei a eles um novo lar… Pra poder recomeçar.

 

Em um apartamento aconchegante em Osaka, Saori está tirando uma tigela de llamén quente de cima da pia e levando até a mesa. Takeru está sentado ali. Ela pega um prato, uma concha e coloca o macarrão no prato de Takeru.

— Obrigado!

Em seguida, ela mesma se serve.

— Espero que tenha ficado bom, você sabe que não sou muito boa com essas coisas.

— Relaxa, tá tudo bem.

Saori se assenta na outra cadeira. Antes de apanharem seus hashis (os pauzinhos), eles juntam suas mãos e dizem:

— Obrigado pela comida!

Ao agradecerem, Takeru dá a primeira “colherada” naquele llámen e fica degustando o sabor. Saori olha pra ele e diz:

— E aí, ficou bom?

— Eu acho que… Faltou só um pouquinho mais de tempero, mas tá bom.

— Sério? Deixa-me ver.

Saori experimenta.

— Ai, droga! Eu achei que tinha colocado mais.

— Não esquenta, Saori.

— Não, vamos dar um jeito nisso. Aqui, coloca um pouco de sal.

Ele pega o sal da mão de Saori e salpica um pouco no llámen, ele mexe um pouquinho e depois experimenta.

— Humm… Agora sim tá bom.

— Sério? Ai que bom! Dá aqui, deixa eu colocar no meu também.

Saori salpica no macarrão dela e, em seguida, experimenta:

— Realmente. Era só mais uma colherzinha de tempero, teria ficado melhor.

— Esquenta com isso não, vamos comer.

Os dois começam a comer aquele llámen e não trocam mais nenhuma palavra desde então, o único som que podemos ouvir é apenas de suas bocas sugando o macarrão e mastigando. Eles vão pegando pequenas porções de macarrão nos hashis, assopram as partes mais quentes e os leva até a boca.

Podemos ouvir apenas aquele som incômodo para alguém de outra cultura escutar, mas muito comum na cultura deles. Saori está o tempo todo mantendo a sua postura comendo aquele llámen que ela mesma fizera. Ao igual que Takeru que continua normalmente pegando o seu hashi, enrolando o macarrão e levando até a boca.

Um momento comum e até mesmo corriqueiro de ver dois irmãos em uma mesa de jantar em um apartamento pequeno, degustando daquele delicioso macarrão. Bom, ficou delicioso após uma pequena salpicada, mas eles não pareciam se importar.

Só que parecia que não era apenas o macarrão que faltou um pouco de tempero, aquele momento ali entre os dois parece insosso, sem sal, sem vida. Barulho do prato, das mastigadas, do caldo sendo absorvido nas bocas deles, mas aos poucos, na medida em que aquela refeição vai chegando na metade, podemos perceber que tanto Saori quanto Takeru estão começando a sentir um desgaste.

Poderíamos dizer que era um desgaste físico, talvez estivessem cansados, mas já se passaram 3 meses desde o incidente da mansão, então eles já deveriam estar devidamente descansados. Então seria um desgaste mental? Possivelmente sim.

O que vemos agora é que eles estavam mantendo uma pose casual durante todo esse tempo em que iniciaram essa refeição, mas após alguns minutos, é possível ver a dificuldade deles colocarem o macarrão na boca. Tinha algo em sua garganta que atrapalhava, mas não era algo físico, era um nó, um nó que estava preso e queria sair, mas como sair se estava sendo empanturrada de macarrão?

A verdade é que eles começaram a colocar tanto macarrão na boca pra evitar que esse nó pudesse sair, eles não queriam que o nó saísse, não queriam que aquilo que estava ali preso na garganta viesse pra além dos dentes, porque saberiam o que ia acontecer.

Mas seres humanos não são de ferro, seres humanos não conseguem disfarçar quando algo está errado por muito tempo. E é nesse momento que os olhos de Saori começam a ficar pesados. Takeru até tenta manter a postura por mais tempo, mas ao ver que Saori está aos poucos se entregando a aquilo que ela estava segurando durante todo esse tempo em seu interior, ele abaixa a cabeça, tenta dar mais uma “colherada” de macarrão, e com a boca ainda cheia, ele suspira fundo, mas não consegue segurar por muito tempo.

Os seus olhos ficam tão pesados, mas tão pesados, que antes de conseguir engolir aquele macarrão, as suas lágrimas já haviam escapado. Saori ainda comendo, geme baixo, mas finalmente coloca os hashis sob a mesa e abaixa a cabeça.

Ela não consegue mais segurar o que estava sentindo, larga o prato em cima da mesa e se ajoelha ao chão colocando sua mão ao peito.

Takeru termina de comer, e joga o prato contra a parede da cozinha. Ele se levanta e dá um grito, mas não é qualquer grito, é aquele grito onde apenas uma pessoa cheia de dor poderia dar. O grito se transformou em choros, que deu lugar a soluços. Enquanto Saori também apertava o seu peito ainda ajoelhada ao chão e gritava de dor, parecia que uma faca afiada estava sendo cravada em seu peito.

Takeru se aproxima da irmã, se ajoelha na altura dela e, em seguida a abraça.

Saori descarrega tudo o que sente nos braços do irmão.

— Foi minha culpa… Foi tudo minha culpa.

— Não, minha irmã… Não foi sua culpa, não foi.

A verdade é que em 3 meses, Saori e Takeru nunca conseguiram sentir o luto pela morte da Kato. Eles ainda estavam em estado de negação, não poderiam acreditar que sua irmã caçula tenha partido, e ficaram durante todo esse tempo negando a si mesmos a nova realidade que lhes fora proposta. A realidade em que Kato não existe mais e só sobrou eles dois.

 

Dias se passaram e com o tempo, Saori e Takeru começaram a ir aceitando a sua nova realidade, é claro que jamais poderemos questionar alguém como ela vai lidar com o seu luto. Há pessoas que demoram pouco tempo, há pessoas que demoram anos, há pessoas que morrem em vida, pois… Nunca aceitou a perda, ainda está preso em um poço gravitacional de negação no qual se aprisionou e não quer aceitar outra realidade a não ser aquela que sua mente criou.

Haruka decidiu se tornar conselheira de parapsicologia e ajudar que outras famílias que possam estar passando por perturbações ou tribulações de alguma entidade, possam ser ajudadas. Por sorte, nada que se compare com o que viveu na mansão Himuro. Ela só está dando uma saída para aquelas almas que partiram e não tiveram o tempo necessário para se despedirem de seus entes queridos.

Sua fama começou a se espalhar pelo Japão e, consequentemente, pelo mundo. Ela sempre recebia cartas, e-mails, mensagens nas redes sociais, de pessoas elogiando o seu trabalho e principalmente tudo que ela ajudou a fazer com o caso dos gêmeos. Haruka deixou bem claro que ela apenas serviu como uma ponte entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, mas que foram os três irmãos Miyazaki que selaram o mal para sempre.

Certo dia, Haruka estava saindo de casa, ela ouve a notificação de um e-mail chegando ao seu notebook. Pensa em ignorar, pois já se encontra bem atrasada, mas muda de ideia e decide abrir pra ver do que se tratava.

Quando ela achava que seria uma coisa banal, ela fica em choque quando começa ler aquele e-mail.

 

Cara Haruka, não nos conhecemos pessoalmente ainda, mas estou lhe enviando esta mensagem para parabenizar a você por tudo o que fez para salvar aquelas crianças, eu tenho absoluta certeza de que Deus olha pra você neste momento com muito amor e reconhece todo o seu esforço. Sei que não deve ter sido nada fácil pra você, mas eu te digo que se eu consegui vencer e superar tudo isso, você também consegue. Espero que um dia possamos nos encontrar para tomar um café juntas, o que acha? Se cuida e mande um abraço para os gêmeos.

Att, Olívia Brown.

 

Haruka termina de ler aquele e-mail totalmente incrédula, pois jamais imaginava que Olívia Brown, a médium que derrotou uma entidade demoníaca há dois em um asilo de freiras, escreveria pra ela e a reconheceria pelo seu trabalho.

Dias depois, Saori conversa com Haruka sobre seus planos para o futuro.

— Haruka, eu gostaria de fazer algumas coisas, mas algumas delas eu precisava muito da tua ajuda, até porque eu não tenho nenhum dinheiro.

— Claro que sim, Saori. O que deseja?

— A primeira coisa é que eu quero ser professora de crianças.

— Sério, Saori?

— Sim… Eu acho que… Vai me fazer muito bem.

— Bom, posso facilitar pra você até conseguir uma formação em pedagogia.

— Muito obrigada, Haruka. A segunda é… Eu gostaria muito de trabalhar ou me voluntariar naqueles atendimentos para mulheres que sofrem agressões. Eu acho que… Eu gostaria de ter tido alguém pra conversar quando aquelas coisas começaram a acontecer comigo, então…

— Uma atitude muito nobre da tua parte, querida. Vai se dar bem nisso.

— E a terceira e última coisa… Essa eu realmente vou precisar da tua ajuda.

— O que seria, querida?

 

PENITENCIÁRIA MASCULINA DE KYOTO.

 

A porta de uma carcerária se abre na sala de visitas. Um policial está levando um homem até o local de telefonemas.

Vemos Saori ali sentada do outro lado, ela tira o telefone de comunicação do gancho. A pessoa do outro lado faz o mesmo procedimento e, depois percebemos que se trata do zelador da escola.

— Você aqui?

— Eu… Vim tirar você daqui.

— Mas…

— Será um homem livre… E todos nós seremos livres de toda culpa.

 

MESES DEPOIS…

 

Vemos Saori chegando a uma creche acompanhada por supostamente, a diretora de lá.

— Crianças, a senhorita Kizume está de férias, por tanto a senhorita Miyazaki é quem vai substituí-la durante um mês, hein? Como vocês vão cumprimenta-la?

— Seja bem vinda, professora Miyazaki!

Saori sorri ao ver aquelas crianças tão alegres e tão espontâneas. Uma garotinha se aproxima dela e entrega um desenho.

— Professora, olha o meu desenho.

Saori pega o desenho, é uma borboleta simples, mas está sem pintar.

— Que lindo! Você que fez?

— Sim, eu ia entregar pra professora Kizume pra ela me ajudar a escolher qual cor eu vou pintar ela.

Saori sorri, olha para a janela e vê uma borboleta vermelha ali no vidro, ela sorri consigo mesma e depois olha para a garotinha.

— Acho que você deveria pintar ela de vermelho.

— Vermelho? Mas não dizem que essa cor é para coisas ruins?

— Nem sempre… O vermelho também é a cor do coração, é a cor do amor… Então por que não pinta uma borboleta cheia de amor?

— Tá bom, obrigada, professora!

 

Em seu novo lar, Saori está em seu “mini-escritório” e recebe uma ligação. Ela coloca os headphones no ouvido e atende:

— “Projeto Anjos” boa tarde, com quem eu falo?

Ouve-se uma voz jovem feminina.

— Oi, eu… É…

— Oi, estou te ouvindo.

— Eu sou obrigada a dizer o meu nome?

— Não se não se sente confortável, mas pode contar comigo para o que precisar, o meu nome é Saori e estou aqui para te ajudar.

— Bom, Saori, eu… Já faz alguns meses que… Eu tenho sofrido… Eu tenho sofrido alguns abusos, se eu posso falar assim.

— Quantos anos você tem, querida?

— Tenho 15.

— Ok, a sua ligação é segura e não tem mais ninguém te ouvindo, sei que vai ser difícil, mas preciso que me conte todos os detalhes, desde quando isso começou e etc.

— Tudo bem… Começou depois do meu baile de 15 anos no início do ano, eu havia atingindo a minha maturidade sexual quando percebi que meu tio, ele… Ele parou de me olhar como uma garotinha, e então…

 

Saori sabe que tem uma dura missão pela frente que é ajudar essas garotas a superarem o trauma e orientá-las a denunciar os seus agressores.

 

Takeru decidiu dar aulas de educação física particular pra uns adolescentes do colégio. Ele conseguiu uma quadra em um terreno baldio e foi chamando os garotos da região para irem treinar. Aos poucos, além de esportes, Takeru também ensinava um pouco de defesa pessoal para eles.

Ao final de uma de suas aulas, ele vê um de seus alunos recebendo um pacotinho de alguém em um beco.

Takeru se lembra bem daquilo, se lembra daquela sensação, então ele decide seguir o garoto e o aborda na rua.

— Ei!

— Takeru-sensei?

— Dá isso aqui pra mim.

— Mas…

— Não adianta tentar me enrolar, eu vi você pegando de um moleque bem mais velho, passa isso pra cá.

O garoto entrega um pacote de cocaína pra ele.

— Deixa eu te fazer uma pergunta, você tem quantos anos?

— 14.

— Mora com seus pais?

— Sim, moro.

— Acha que seus pais ficariam orgulhosos se descobrissem que você está usando ou vendendo essas paradas?

— Eu… Eu…

— Olha, eu só vou te falar uma vez: Não queira entrar por esse caminho, porque ele pode nunca ter mais volta. Acredite… Eu aprendi do pior jeito. Se não quer arruinar a sua vida ou perder as pessoas que você ama… Afaste-se imediatamente disso e seja feliz. Te vejo no treino semana que vem, até mais!

Takeru dá um cafuné no cabelo do garoto, prefere guardar aquela cocaína no bolso, o garoto ao vê-lo partindo, diz:

— Sensei?

— Sim?

— Você… Perdeu alguém por causa disso?

— Sim, garoto. Eu perdi.

— Esse alguém morreu?

— Não… Pior do que isso… Eu que morri pra essa pessoa, porque ela nunca poderá saber que eu existo.

Takeru se retira deixando aquele jovem intrigado.

No dia seguinte, Takeru está fazendo uma prova, ele termina a prova e vai para o bebedouro da escola encher sua garrafa de água.

Ao terminar de encher, ele bebe a sua água na garrafa ficando ainda em frente do bebedouro. Até ouvir uma voz:

— Com licença.

Takeru sai da frente, mas perde toda a compostura ao saber que quem está ali na sua frente é Yukina, a mulher por qual se apaixonou e por qual precisou abrir mão.

Yukina enche a sua garrafa de água. Takeru fica olhando para o lado completamente envergonhado.

Ela termina de encher, tampa a garrafa e, em seguida, fala com Takeru.

— Obrigada!

Ela dá uns 5 passos a frente e antes de continuar, vira para trás e diz:

— Escuta… A gente não se conhece de algum lugar?

Ele a princípio gagueja e depois consegue falar.

— Ah, não, acho que… Deve ser algum engano, tem muitos outros garotos parecidos comigo por aí.

— Hum… Achei realmente que te conhecia… Bom, nos vemos por aí.

Um filme se passou pela cabeça de Takeru naquele instante, mas ele se manteve firme, não poderia ceder. Não naquela altura do campeonato.

Naquele mesmo dia, é final de tarde e Takeru se encontra em cima de uma colina, dá pra ver a cidade de Osaka inteira dali.

Saori chega logo em seguida.

— Eu sabia que ia encontrar você aqui.

— Ora se não é a nossa mais nova e querida professora de Osaka.

— Não vem com essa não, estou apenas substituindo a outra. Preciso ter a formação se eu quiser realmente dar aula.

— Olha isso aqui.

Ele mostra o pacote de cocaína pra ela.

— Takeru? Onde conseguiu isso?

— Relaxa, isso não é meu. Estava com um dos meus alunos dos treinos, tirei da mão dele antes que uma merda acontecesse.

— Graças a Deus!

— Não queria ver mais um jovem passando pelo o que passei, então… Decidi agir.

— Fez certo, irmão… Eu… Eu conversei com uma moça hoje no atendimento do Projeto Anjos, que… Eu sentia o peso as palavras dela, Takeru. Sabe? Uma menina de apenas 15 anos.

— Meu Deus… Em que mundo vivemos?

— Pois é, eu conversei com ela, orientei a ela a fazer uma denúncia anônima, não podemos mais deixar que esses seres asquerosos fiquem por aí a solta.

— Fez muito bem, minha irmã. Seja lá o que for, espero que ela tenha força de denunciar o que tá acontecendo com ela.

— Sim, é o que eu espero.

— Mas agora chega de coisas ruins, eu tenho uma super notícia pra você.

— Nossa! E o que seria?

— Eu… Consegui uma bolsa pra estudar Educação Física em Hong Kong.

— Ai, meu Deus! Sério?

— Sim, sim, vou no início do ano.

— Ai, mano. Parabéns! (Abraçando-o) Estou muito feliz mesmo por você, mas ao mesmo tempo… Triste, né? Porque você vai ficar longe de mim.

— Tá falando do quê, sua boba? Você tá achando mesmo que eu vou deixar você aqui?

— Como assim?

— Você vai comigo, Saori. Eu consegui uns contatos com a galera que eu tinha conhecido lá no internato, muitos deles já saíram de lá e vão ajudar a gente a ficar em um cantinho pra eu não precisar morar no Campus. E lá você pode conseguir sua especialização em pedagogia, então… Vem comigo, irmã!

— Espera, eu acho que eu estou sonhando, você está realmente me chamando para ir contigo pra Hong Kong?

— Eu acho que a Kato não iria querer que a gente ficasse separado, então…

— Verdade… Pois sim… Eu irei contigo, seremos os gêmeos parada dura em Hong Kong.

Saori apoia a sua mão no ombro de Takeru e ambos ficam olhando para o sol se pondo.

— É lindo ver o pôr-do-sol daqui, né?

— Sim… A Kato é que ia gostar disso.

No mesmo instante, uma borboleta vermelha pousa sob o ombro de Takeru e fica bem no meio entre ele e a Saori.

— Ai, meu Deus, olha isso!

— Acho que ela te ouviu. Ela vai ver o pôr-do-sol junto com a gente.

— Quem diria, né?

— O quê?

— Que hoje nós estaríamos aqui… Em outra cidade, e construindo uma nova vida.

— Falando em nova vida… Eu encontrei a Yukina por acaso no mesmo colégio onde fiz a prova hoje de manhã. Acabei esquecendo de te falar.

— Sério? Mas e aí?

— Foi como o esperado. Ela não se lembra de mim, mas sente que já me viu antes, e sabe o que é mais bizarro?

— O quê?

— Ela parece não ter mais câncer… Eu era o câncer dela, Saori… E agora ela pode ser livre.

Saori suspira e encosta a cabeça no ombro de Takeru com todo cuidado para não afugentar a borboleta. Os dois olham para o pôr do sol. Saori diz:

— Chega de tristeza! Agora o sol brilha pra todos nós.

Os dois testemunham o sol se pondo. Ficam alguns segundos a mais apreciando aquela paisagem até a borboleta sair do ombro de Takeru e começar a voar, eles olham pra ela sobrevoando ao céu e sorriem. Um sorriso sincero e dessa vez: Feliz.

Pela primeira vez em muito tempo, aqueles irmãos parecem ter deixado todo o passado de dor e amargura para trás e estão prontos para virarem a página.

Dois corações que foram açoitados pelo destino, dois jovens que sofreram e caíram várias vezes, erraram mais do que acertaram, e até quando tentavam acertar, eles erravam.

Mas isso só provou o quanto a sua humanidade estava intacta. Em meio à dor de uma perda, de um amor que se foi, de uma irmã caçula que era o elo da união entre eles… Suas vidas agora possuem um novo propósito.

O que aconteceu na casa vermelha, na casa carmesim… Serviu para que eles possam priorizar um laço no qual quase ninguém mais valoriza: O laço familiar.

O amor de Takeru e Saori dispensa explicações, pois é inexplicável o sentimento que possa vir de irmãos que compartilharam o mesmo ventre por 9 meses. Nunca saberemos a real conexão de irmãos gêmeos, mas sabemos a conexão de Saori e Takeru.

E graças a eles, hoje sabemos o valor do amor, da amizade, e da irmandade.

E que esse amor inflame as futuras gerações e jamais dê espaço ao medo, jamais dê espaço à tristeza.

E aquela casa em nossas almas que era vazia, agora é uma casa cheia de vida, e de cores vibrantes.

Este é e sempre será o poder do verdadeiro amor.

 

 

 

                    FIM


 

 

 

Agradecimentos…

 

Foram meses de um longo trabalho árduo, pois 2024 foi um ano bem turbulento pra mim em algumas áreas da minha vida, mas em compensação foi o ano que eu mais explorei a minha criatividade no MV.  Este ano finalizei minha web-série mais popular após 6 anos: “Vale Dicere”. Apresentei ao público uma outra faceta minha com uma série de fantasia em “Vanidian”. E pra finalizar trouxe a “segunda parte” da antologia “Rest Home”, após dois anos do lançamento da primeira. Claro que estamos falando de “Crimson House”.

Honestamente, nunca passou-se pela minha cabeça que Crimson House iria fazer sucesso. Eu fiquei apavorado, pois a régua de comparação com Rest Home era muito grande e as chances da série ser um fracasso eram altíssimas.

Estreou em um mês terrível pra estreias, ficou de fora de algumas premiações desse ano por conta do mês de elegibilidade, passou por várias reescritas e reformulações no texto. Enfim, tinha tudo pra ser um desastre colossal e possivelmente mancharia o nome da antologia e também seria um fiasco no meu currículo como autor, mas graças a Deus, isso não aconteceu.

Estou realmente grato por todo o carinho de vocês, a todos que leram e acompanharam a história desses irmãos que vai muito além de uma história de fantasmas, estamos falando de uma trama que pode acontecer com a gente e acontece, os dramas pessoais que Takeru, Saori e Kato passam, nós também passamos, e alguns, todos os dias.

E é com orgulho que eu finalizo essa antologia, a princípio seria uma trilogia com 3 histórias diferentes, mas eu ando extremamente cansado e acho que Crimson House não apenas cumpriu o seu propósito como também subverteu as minhas expectativas em relação ao seu sucesso e creio que foi assim também com o público que me acompanha.

Aproveitando esse momento oportuno, é com pesar que eu informo que esta foi a minha última série na Widcyber por ora. Não estava autorizado a falar antes do final da série, mas a verdade é que a emissora irá fechar suas atividades em 2025 e não há previsão de retorno.

Mas além da Widcyber fechar por tempo indeterminado, eu também estarei me ausentando por um bom período no quesito de lançar novas obras. Como eu mencionei acima, 2024 foi um ano bem turbulento e preciso recuperar o tempo que a CLT me fez perder e começar a investir naquilo que me dá retorno financeiro. Amo escrever e amo lançar obras todos os anos, mas infelizmente, venhamos e convenhamos, o MV não enche nossa barriga e muito menos nosso bolso.

Focarei no meu trabalho como youtuber onde eu já ganho uma renda extra, mas pretendo potencializar a minha marca e passar mais tempo produzindo conteúdo pra internet com o único propósito de ganhar dinheiro com isso.

Não vou parar de escrever, tampoco vou me ausentar do MV, continuarei interagindo nos grupos, lendo as histórias de vocês, estarei presente em todo o circuito de premiações (porque terão vários), mas não lançarei novas séries por um longo período. Eu ainda estou com dois contos inéditos pra estrearem que estão prontos há quase 1 ano, mas com o fechamento da Widcyber, não se sabe onde eles serão publicados.

Bom, acho que consegui explicar tudo o que eu queria, mais uma vez obrigado a todos pela audiência e que Deus possa abençoar cada um de vocês!

 

Att. Melqui Rodrigues

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