“APENAS UMA NOITE”
CENA 01. SEQUÊNCIA DE CENAS.
Uma sala de aula do ensino médio. Alunos fazendo anotações em seus cadernos, outros conversando uns com os outros. JÚLIO (38 anos, pardo, cabelos pretos encaracolados, usa óculos) está em pé em frente a lousa escrevendo alguns cálculos matemáticos. Começa a narrar.
JÚLIO (narração)
Ser professor não estava em meus planos, mas após tantos vestibulares perdidos, foi o que acabou sobrando. Não estou reclamando nem nada, é um profissional importante para a construção de uma boa sociedade e confesso que acabei gostando dessa área.
JÚLIO vira-se para turma e explica em off as contas matemáticas que escreveu no quadro.
JÚLIO (cont.)
Quem me vê trabalhando assim até acredita que eu sou um cara sério, mas quem me conhece de verdade, sabe que eu sou completamente oposto disso.
CORTA PARA uma quadra de esportes. Vários adolescentes correndo em volta da área. ROBERTO (36 anos, moreno, corpo atlético) na lateral da quadra supervisionando os alunos correndo.
JÚLIO (cont.)
Como o meu amigo Roberto! Ele sabe que eu gosto mesmo é de folia. A gente se conhece desde moleque, éramos vizinhos, praticamente irmãos. Quando criança, ele não perdia um almoço lá em casa e foi por incentivo dele, que acabei escolhendo a carreira que sigo hoje.
POV de Júlio: Roberto organizando os garotos no centro da quadra, dando algumas instruções.
JÚLIO (cont.)
Roberto é professor de Educação Física, eu escolhi lecionar matemática. Trabalhamos na mesma escola quase há 8 anos e dividíamos um apartamento juntos até pouco tempo atrás.
CORTA PARA o estacionamento da escola. JÚLIO com uma bolsa de lado, indo em direção a um chevrolet classic de 2012, da cor prata. Retira a chaves da bolsa, abre a porta do banco da frente e entra.
JÚLIO (cont.)
Comecei a gostar de uma garota, decidi morar com ela e meses depois ela meteu um pé na minha bunda. Hoje estou morando sozinho, embora Roberto passe mais tempo em meu apartamento, do que na casa do irmão dele.
Liga o veículo e sai do estacionamento devagar.
JÚLIO (cont.)
Acho que estou me prolongando demais por aqui, se eu fosse contar minha história por detalhes, daria páginas e páginas, e o que realmente interessa não começaria. Então vamos a história. Vocês vão conhecer algo bem maluco que aconteceu comigo. Tudo começa lá em 2003, época de carnaval…/
CORTA PARA
CENA 02. APARTAMENTO DO JÚLIO. COZINHA. INT. DIA.
LEGENDA: 2003
Júlio a mesa, tomando café. Roberto entra no cômodo, em direção a geladeira.
ROBERTO
Preparou sua fantasia?
JÚLIO
Decidindo ainda.
ROBERTO
Vou só em casa, tomar um banho e volto pra cá, beleza?! (não pega nada da geladeira, a fecha e vai para a mesa)
JÚLIO
Beleza.
ROBERTO
Vai pegar geral nesse carnaval? (um sorriso malicioso surge em seu rosto)
JÚLIO
Nunca se sabe, né.
ROBERTO
Eu também não sei se vou me segurar. Enfim, vou indo, daqui a pouco estou batendo por aí.
JÚLIO
Até logo, irmão.
Os dois se cumprimentam, Roberto saí de cena.
JÚLIO (narração)
Eu e Roberto todos os anos saímos para nós divertimos juntos no carnaval. Quando estamos solteiros, toda noite ficamos com uma garota diferente. Quando estamos namorando, deixamos as namoradas em casa, isso quando elas não querem vir com a gente, e vamos nos divertir assim mesmo. Para nós, época de carnaval é o único momento do ano em que se pode ser livre e aproveitar a vida da sua maneira.
CORTA PARA
CENA 03. APARTAMENTO DO JÚLIO. SALA. INT. NOITE.
Roberto, usando uma fantasia de gladiador, está na sala esperando Júlio sair do quarto.
ROBERTO
Anda logo cara, o bloco já passou, se der tempo ainda o alcançamos.
JÚLIO (responde do quarto, v.o.)
Estou finalizando aqui.
ROBERTO
Aproveita essa demora e pega uns preservativos aí pra mim. Acabei esquecendo os meus.
JÚLIO (responde do quarto, v.o.)
Você só não esquece da sua cabeça porque ela está colada em seu corpo, não é?!
ROBERTO (brinca)
De qual cabeça você tá falando?
JÚLIO
Engraçadinho. (entra na sala usando bermuda, camiseta regada e jaleco branco no ombro) Toma! (entrega os preservativos para Roberto) Acho que se não fosse por mim, hoje você estaria com um bando de filhos espalhados pela cidade.
ROBERTO (ri)
Pior que eu devo concordo contigo.
Os dois vão até a porta e saem para a rua.
CORTA PARA
CENA 04. RUA. EXT. NOITE.
Júlio e Roberto alcançam o bloco, cada um tem uma cerveja nas mãos. Sequência breve de várias pessoas se divertindo, dançando e pulando. Música animada ao fundo.
ROBERTO
Ei, já que você veio fantasiado de médico…/
JÚLIO
Eu não estou de médico! Estava tentando me caracterizar como professor universitário.
ROBERTO
Que seja… o fato é que combinamos nossas fantasias com aquelas duas ali.
ROBERTO aponta para duas garotas que estavam dançando alguns metros à frente. Trocam olhares entre si e vão em direção a elas.
ROBERTO
Oi, meninas.
GAROTAS
Oi!!
Sequência de cenas de ambos dançando, bebendo e se divertindo.
CORTA PARA
CENA 05. APARTAMENTO DE JÚLIO. SALA. INT. DIA.
Campainha tocando, Júlio indo em direção a porta, sonolento.
JÚLIO
Já vai, estou indo. (abre a porta, Roberto entra em direção ao sofá)
ROBERTO
Ainda tá assim meu velho?!
JÚLIO (sonolento)
Bom dia pra você também.
ROBERTO
Cadê a garota, está aqui ainda? Se tiver, eu vou indo então.
JÚLIO (espreguiçando)
Não, não, ela saiu tem quase uma hora já.
ROBERTO
E você tá com essa cara de ressaca por quê? Pelo visto à noite foi boa então. (ri)
JÚLIO
A sua não deve ter sido né, pra essa hora tá aqui me atormentando.
ROBERTO
Na verdade, vim tomar café com meu parceiro.
JÚLIO
Bom, você sabe onde fica a cozinha. (caminha em direção ao quarto)
ROBERTO
Não vai nem me fazer companhia?
JÚLIO
Bom café da manhã, Roberto! (volta para o quarto)
CORTA PARA
CENA 06. APARTAMENTO DE JÚLIO. COZINHA. INT. TARDE.
Júlio com a cabeça encostada sobre a mesa, ainda de ressaca.
JÚLIO
Acho que vou maneirar na bebida hoje.
ROBERTO
Você mal bebeu ontem. Eu sei, porque fui eu que peguei suas bebidas.
JÚLIO
Mesmo assim, hoje eu quero finalizar a noite um pouco lucido.
ROBERTO
Vai de médico de novo?
JÚLIO (ergue o corpo)
Primeiro aquela fantasia não era de médico, e sim professor. Segundo, vou sim, porque é a única que eu tenho.
ROBERTO
Ué, e cadê aquela sunguinha vermelha da fantasia do Superman que você usou ano passado?
JÚLIO
Você sabe muito bem o que eu fiz com ela.
ROBERTO
Só porque uma garota me troca por outro cara que estava fantasiado de Batman, não quer dizer que tenha que jogar uma fantasia para os cachorros rasgarem. Vai ver que o super-herói favorito dela seja o Batman?! (ri)
JÚLIO
Ou vai ver ela percebeu o quão ridículo eu estava naquela fantasia. E você, vai de gladiador de novo?
ROBERTO
Não sei, tô pensando uma fantasia nova.
JÚLIO
Então aproveita que você tem algumas horas ainda para decidir.
CORTA PARA
CENA 07. APARTAMENTO DE JÚLIO. SALA. INT. NOITE.
Júlio ao lado do sofá, arrumando o jaleco em seu corpo.
JÚLIO
Será que aquele maluco não vem hoje?
Júlio olha para o relógio no pulso, campainha toca.
JÚLIO
Finalmente! (abre a porta) Você só pode tá de brincadeira?!
Roberto entra no cômodo fantasiado de bebê, com uma grande chupeta pendurada em seu pescoço e usando uma fralda enorme.
ROBERTO
Carnaval não é a época de liberdade? Então pra que mais liberdade do que isso.
JÚLIO
Espero que você tenha uma fralda reserva, por que essa aí não vai durar a noite toda.
ROBERTO
A intenção é essa! (sorri) Antes de irmos, vou precisar de…/
JÚLIO
Eu já sei, imagino que essa sua fralda enorme não tenha bolso e aposto que você não trouxe nenhum preservativo.
Júlio retira alguns preservativos de sua calça e entrega para Roberto.
ROBERTO (sorri)
Por isso que eu te amo cara.
Os dois saem do apartamento.
CORTA PARA
CENA 08. RUA. EXT. NOITE.
Roberto e Júlio se divertem em meio multidão. Roberto é “detido” por uma garota fantasiada de policial e os dois se afastam do bloco. Júlio ri da cena, continua se divertindo sozinho. Encontra uma garota fantasiada de mulher maravilha, vai até ela e começam a conversar. Os dois bebem e dançam juntos.
CORTA PARA
CENA 09. APARTAMENTO DO JÚLIO. SALA. INT. DIA.
Júlio sentado no sofá, sóbrio. Roberto está ao lado.
ROBERTO
Sua aparência hoje tá melhor que ontem, hein. Bebeu não?
JÚLIO
Ontem não. Quis maneirar um pouco.
ROBERTO
E a noite? Pegou alguém?
JÚLIO
Sai com uma menina, mas não ficamos não. E como foi a sua com a policial? Vocês sumiram depois daquilo.
ROBERTO
Cara, nem te conto. (senta ao lado dele) Foi incrível, tanto que até pedi o número dela.
JÚLIO
Rapaz, a policial pelo visto prendeu seu coração. (ri) Já pegou até o número dela! Será que eu prevejo um futuro casal vindo aí?
ROBERTO
Não, claro que não. Só vou ficar com ela, até uma melhor aparecer.
JÚLIO
Sei. Vai fantasiado de bebê de novo?
ROBERTO
Não, dessa vez vou combinando com meu par.
JÚLIO
Você vai de professor então?!
ROBERTO
Cara eu sei que formamos um belo par na faculdade, na vida pessoal, mas eu não posso levar meu melhor amigo pra cama.
JÚLIO
Ah saquei, você tá falando da policial. Então vocês já estão se considerando como um par?!
ROBERTO
Não começa se não eu bato em você!
JÚLIO
Então que nome vocês dão pra isso?
ROBERTO
Ah, ela é meu par de carnaval, só!
JÚLIO
Sei. Que fantasia você escolheu, então?
CLOSE no rosto de Roberto, com um sorriso malicioso estampado.
CORTA PARA
CENA 10. APARTAMENTO DE JÚLIO. SALA. INT. NOITE.
Júlio entra no cômodo e é surpreendido por Roberto que o pressiona contra a parede, segurando seus braços por trás.
ROBERTO
Você está preso em nome da lei. (o prende com algemas de verdade)
JÚLIO
O que significa isso cara? Espero que você tenha a chave disso aí?
ROBERTO
Você está sendo acusado de usar a mesma roupa durante o carnaval inteiro. Tem vergonha não?!
JÚLIO
Primeiro isso não é crime nenhum! Segundo, tira isso de mim agora, que já perdeu a graça.
ROBERTO
Calma, senhor nervosinho. Vou tirar de você, relaxa. (finge procurar as chaves nos bolsos de sua fantasia) Deixa só eu pegar as chaves. Que devem estar por aqui. Em algum lugar…
JÚLIO
Roberto, você não vai me dizer que você perdeu as chaves dessa algema?
ROBERTO
Não, eu tenho certeza que coloquei ela em algum lugar aqui dentro… (continua fingindo que perdeu a chave)
JÚLIO
Ah não cara, fala sério que você traz uma algema e não sabe onde colocou a chave? Anda, vamos até a cozinha procurar alguma serra ou algo do tipo, pra cortar isso.
ROBERTO (ri)
Calma cara, a chave tá aqui. (a retira do bolso) Você devia ter visto a sua cara.
JÚLIO
Haha, não sei por que você não escolheu a carreira de comediante viu.
ROBERTO
Pronto, está livre.
JÚLIO
Então vamos, antes que você invente alguma outra brincadeira com esta fantasia.
ROBERTO
Espera, eu trouxe os brinquedinhos da fantasia, mas não trouxe…/
JÚLIO
Você nunca trás. E hoje também eu não tenho, os meus acabaram.
ROBERTO
Sério?! Você não comprou, nem nada?
JÚLIO
Não, porque eu pensei que pelo menos uma vez, você lembraria de trazer.
ROBERTO
E agora cara, o que vamos fazer?
JÚLIO
Acho que uma noite sem sexo você aguenta não?
ROBERTO
Não é apenas uma noite sem sexo, e sim uma noite sem sexo com a super policial gata que está me esperando lá fora.
JÚLIO
Com certeza vamos encontrar uma barraca que esteja entregando preservativos, relaxa.
ROBERTO
Se hoje eu não transar com a minha policial gata, eu vou ter que descontar tudo em você.
Os dois saem para a rua, ainda discutindo.
CORTA PARA
CENA 11. RUA. EXT. NOITE
Sequência de cenas de pessoas se divertindo, com fantasias diversas. Marchinhas de carnaval, alegria e diversão. Roberto está dançando e bebendo com sua parceira. Júlio está dançando em meio a um grupo de pessoas.
Roberto e sua parceira se afastam da multidão aos beijos, indo para a calçada. Júlio continua dançando sozinho, com uma cerveja nas mãos. Uma garota fantasiada de “anja” acaba esbarrando nele, fazendo-o derrubar sua cerveja.
“ANJA”
Desculpa! Acabei esbarrando em você, sem querer.
JÚLIO
Relaxa, acontece.
“ANJA”
De verdade, não vi você.
JÚLIO
Eu nem queria mais mesmo. Estava quente já.
“ANJA” (ri)
Se quiser um pouquinho da minha.
Começam a flertar um com outro. Júlio oferece uma bebida para a garota, conversam, dançam, bebem muito e se beijam.
CORTA PARA
CENA 12. APARTAMENTO DE JÚLIO. QUARTO. INT. NOITE.
Júlio entra aos beijos com a “anja”. Vão até a cama, começam a despir um ao outro.
“ANJA” (entre beijos)
Tem proteção aí?!
JÚLIO
Acho que tenho um na gaveta.
“ANJA”
É bom pegar, então!
JÚLIO
Já, já. (voltam a se beijar)
O clima esquenta entre os dois. Tiram suas últimas peças de roupas e Júlio não vai verificar se realmente havia camisinha. Vendo a gaveta vazia, ignora e volta a beijá-la. O clima está tão quente entre os dois, que tem relações assim mesmo.
CORTA PARA
CENA 13. APARTAMENTO DO JÚLIO. QUARTO. INT. DIA.
Júlio acorda com uma leve ressaca, tenta lembrar o que houve na noite anterior. Está sozinho na cama, ergue a cabeça e percebe que a garota não está ao seu lado. Júlio se levanta e a procura pelo quarto. Volta para cama, com um sorriso grande no rosto.
JÚLIO
Que garota foi essa, Deus?!
CORTA PARA
CENA 14. APARTAMENTO DO JÚLIO. COZINHA. INT. TARDE.
Roberto e Júlio a mesa, lanchando.
ROBERTO
Aí você acordou e não viu mais a “anja”?
JÚLIO
Exatamente. Provavelmente ela acordou primeiro do que eu e saiu.
ROBERTO
Se preveniu?
JÚLIO
Pior que não, cara. Só agora que me toquei nisso.
ROBERTO
Mas uma noite sem prevenção não vai acabar com o mundo, né?!
JÚLIO
Mesmo assim, isso foi muita irresponsabilidade minha. Quantos caras sei lá, devem ter ficado com ela nesse carnaval?!
ROBERTO
Pensei que o seu medo fosse que alguma garota estranha aparecesse na porta com uma criança dizendo ser sua.
JÚLIO
Também é meu medo. Não tenho vocação para ser pai.
ROBERTO
Isso é verdade. (ri)
JÚLIO
Sem brincadeiras Roberto. O assunto é sério. Amanhã mesmo vou fazer alguns exames, ver se tá tudo bem.
CORTA PARA
CENA 15. PARQUE. EXT. DIA.
Jùlio e Roberto fazendo caminhada.
ROBERTO
Saíram os resultados?!
JÚLIO
Sim.
ROBERTO
Tudo certo então?
JÚLIO
Os que eu recebi até agora, estão.
ROBERTO
Eu avisei, uma noite não vai acabar o mundo.
JÚLIO
Mesmo assim, cara. Carnaval, milhares de gente maluca bebendo, cada um ficando com não sem quem, tinha que saber se estava tudo certo. Agora é cuidar do corpo e retornar a vida normal. (acelera os passos)
Roberto sorri do amigo, corre atrás dele.
ROBERTO
Me espera, maluco!
CORTA PARA
CENA 16. APARTAMENTO DO JÚLIO. COZINHA. SALA. INT. NOITE.
Roberto ao celular falando com alguém, Júlio sentado no sofá vendo TV.
ROBERTO (na cozinha, v.o.)
Depois que eu sair daqui, vou passar aí na sua casa. Ué, espero eles dormirem e entro pela janela. No meu apartamento não vai dar hoje, meu irmão voltou de viagem. Pois é, mas… (p) …acho que acabei de ter uma ideia. Já que eu te ligo, gata. (desliga e vai até Júlio) Cara, preciso de um favor seu.
JÚLIO
O que?
ROBERTO
Será que você pode me emprestar seu apartamento hoje à noite?
JÚLIO
E eu vou ficar onde?
ROBERTO
Você pode dormir com meu irmão, assim vocês vão poder contar todas as novidades dos meses que ficaram sem se verem.
JÚLIO
Olha, eu vou emprestar, mas quero que você me devolva ele do mesmo estado que eu o lhe emprestei.
ROBERTO
Pode confiar, nada será quebrado hoje à noite. A não ser a cama.
Retorna para cozinha animado.
JÚLIO (narrando)
Naquela noite, acabei indo dormir no apartamento do irmão do Roberto. Até que foi bom, me ajudou um pouco, me distraiu. Porque depois que eu conheci aquela garota fantasiada de “anja”, ela passou um bom tempo na minha cabeça.
CORTA PARA
CENA 17. SEQUÊNCIA DE CENAS.
Júlio no altar com uma mulher, ambos felizes.
JÚLIO (cont.)
Infelizmente, nunca mais a vi. Os anos passaram e eu me casei com uma garota que conheci um tempo depois. Fomos felizes por um período, porém, meu casamento não durou muito.
Júlio segurando um bebê nos braços, sentado no sofá de sua sala. Uma garotinha está ao lado, sorrindo.
JÚLIO (cont.)
Tivemos dois filhos. Uma menina, quando ainda estava namorando com ela. E um menino, no terceiro ano de casado. Hoje mantenho uma relação amigável com minha ex, vejo frequentemente meus dois filhos.
Júlio na sala de aula, explicando algum conteúdo na lousa.
JÚLIO (cont.)
Não me casei novamente e, apesar do tempo, ainda não consegui esquecer a “anja”. Ela certamente construiu sua vida longe daqui, casou, deve filhos e nem deve se lembrar de mim. Pelos menos era o que eu acreditava.
CORTA PARA
CENA 18. COLÉGIO SÃO RAFAEL. SALA DE AULA. INT. DIA.
Júlio sozinho na sala corrigindo algumas provas. Roberto entra o procurando.
ROBERTO
Você vai almoçar aqui?
JÚLIO
Tenho que terminar de corrigir essas provas antes. E também marquei com a mãe de um dos meus alunos, para conversar sobre a situação dele. (mexe em alguns papéis) Se ele não melhorar nesse bimestre, há grandes chances de repetir o ano.
ROBERTO
Quer que eu traga algo para você?
JÚLIO
Não, valeu.
ROBERTO
Beleza. Então, até mais tarde.
JÚLIO
Até.
Roberto sai da sala. Júlio volta a corrigir as provas. Momentos depois, GABRIEL (16 anos, alto, cabelos encaracolados) bate na porta.
GABRIEL
Posso entrar, professor?
JÚLIO
Sim, pode sim. (brinca) Estou aqui terminando de corrigir as bombas de vocês. (ri) Sua mãe veio?
GABRIEL
Veio sim. (senta-se em uma das cadeiras, um pouco desanimado)
JÚLIO
Não se preocupa, tá bem. Só vou ter uma conversa tranquila com sua mãe, não precisa se preocupar.
LEILA (36 anos, branca, cabelos pretos, longos) bate na porta.
LEILA
Com licença! (entra e se aproxima da mesa de Júlio)
Júlio se levanta e ao vê-la, imediatamente a reconhece.
JÚLIO (surpreso, sorri)
Anja?!
Leila também o reconhece, fica um pouco envergonhada. CLOSE alternado dos rostos dos dois.
FIM DO EPISÓDIO.