“VOCÊ DE NOVO”

CENA 01. COLÉGIO SÃO RAFAEL. SALA DE AULA. INT. DIA.

Continuação da cena final do episódio anterior. Júlio e Leila de frente um para o outro, ele sorrindo, ela envergonhada. 


JÚLIO 
(narrando)

Quais seriam as possibilidades do filho da garota que me proporcionou uma das melhores noite de sexo da minha vida, estudar justamente no mesmo colégio em que eu trabalho? E olha que eu sou professor de matemática, então sei justamente do que estou falando?!


CLOSE em Gabriel, que estranha o modo como os dois estão agindo.


GABRIEL 
(indo até sua mãe)

Tudo bem, mãe?


LEILA 
(tenta disfarçar a situação)

Estou, sim. Esse é o seu professor?


GABRIEL

Sim.


JÚLIO

Ele é o seu filho?


LEILA

Sim.


Júlio olha para Gabriel e uma simples dúvida começa a se desenvolver em sua cabeça.


JÚLIO

Você tem 16 anos, não é Gabriel?


GABRIEL

Até onde eu sei, sim.


Júlio olha para Leila e ela percebe o motivo daquela pergunta.


LEILA

Sobre o que você queria falar comigo?


JÚLIO

Acho que seria melhor tratarmos de um outro assunto, não acha?


LEILA

Creio que este não é um bom momento. Mas podemos marcar um outro dia, quem sabe?!


GABRIEL 
(confuso) 

Do que vocês estão falando? Vocês já se conhecem?


Leila e Júlio respondem simultaneamente.


LEILA

Não.


JÚLIO

Sim.


GABRIEL

Tá, vocês estão bem estranhos e isso só me confirma que vocês se conhecem. Então será que dá pra vocês me explicarem o que está acontecendo?


Celular de Leila toca, ela imediatamente o pega de sua bolsa, agradecendo por essa distração.


LEILA

É o seu pai. Eu não o avisei que viria para a reunião, por ter sido marcado de última hora. Ele deve ter estranhando a gente não ter chegando em casa ainda. (não atende à ligação)


JÚLIO

Você é casada?


LEILA 
(ignora a pergunta)

Desculpa, será que podemos marcar essa reunião para um outro momento. Vamos, filho. Sabe como é seu pai.


Gabriel e Leila caminham em direção a porta. Júlio apenas os observa indo embora, senta-se em sua cadeira, boquiaberto com o que acabou de acontecer.


CORTA PARA


CENA 02.  APARTAMENTO DO JÚLIO. SALA. INT. NOITE.


Júlio deitado no sofá, com o olhar fixado no teto. Roberto está na poltrona ao lado, atento ao amigo.


ROBERTO

Irmão, que loucura.


JÚLIO

É o que também pensei.


ROBERTO

Será que o garoto é seu filho?


JÚLIO

Eu sou bom com os números, Roberto. As contas batem, há chances sim.


ROBERTO

Mas você a viu falando do pai do garoto! Talvez ele seja filho de outro cara, mesmo.


JÚLIO

A única forma de saber é perguntando a ela.


ROBERTO

Bom, sabendo agora que o filho dela é seu aluno, fica bem mais fácil pra vocês conversarem.


JÚLIO

Cara, porque que ela nunca me procurou? (senta-se no sofá)


ROBERTO

Talvez ela tenha esquecido onde você mora.


JÚLIO

Mesmo assim… se esse garoto for meu filho, ela deveria ter me procurado.


ROBERTO

Quem sabe ela estava com medo, com receio de você não assumir a criança. Afinal, foi apenas um lance de carnaval. 


JÚLIO

Eu preciso de respostas, cara. (se levanta, ansioso) Eu não vou sossegar até esclarecer essa história. 


CORTA PARA


CENA 03. COLÉGIO SÃO RAFAEL. QUADRA. INT. DIA.


Gabriel está arrumando sua mochila na lateral da quadra. Roberto se aproxima do garoto.


ROBERTO

Gabriel?


GABRIEL

Sim, professor!


ROBERTO

Você sabe que daqui um mês vou iniciar a preparação do time para o campeonato estadual e, como você é um dos melhores alunos que temos atualmente, gostaria que você entrasse para o time


GABRIEL

Não sou tão bom assim.


ROBERTO

Claro que é, e vou colocar o seu nome na lista, está bem!


GABRIEL

Eu agradeço o convite, mas não vou poder participar do time.


ROBERTO

Por que não? Sou eu quem decide quem entra ou não no time.


GABRIEL

Eu sei, mas é que eu trabalho. E isso vai atrapalhar nos treinos.


ROBERTO

Simples, só eu pedir uma declaração na diretoria, você entrega para o seu chefe, que ele te libera para os treinos.


GABRIEL

Não vai funcionar, professor. Pois, meu chefe é o meu pai. 


ROBERTO
 (curioso)

Seu pai?


GABRIEL

É… ele até que é um bom pai, mas como chefe ele é bastante rigoroso.


ROBERTO

E se eu for conversar com ele?


GABRIEL

Eu agradeço mesmo professor, mas não vai dar. Agora, preciso ir, se eu chegar atrasado, ele vai pegar no meu pé.


Gabriel vai embora, Roberto o observa pensativo.


CORTA PARA


CENA 04. COLÉGIO SÃO RAFAEL. SALA DE AULA. INT. DIA.


Júlio está ao telefone, Roberto entra na sala.


JÚLIO

Droga, ela não me atende.


ROBERTO

Anda, precisamos seguir o garoto.


JÚLIO

O que?


ROBERTO

Ele está indo para o trabalho agora. E adivinha, ele trabalha para o pai dele.


JÚLIO

A mãe dele não atende as minhas ligações, não responde as mensagens. Parece que ela não quer falar comigo.


ROBERTO

Mais um motivo para você tirar essa sua bunda da cadeira e irmos atrás do garoto. Anda, Júlio. Não é você que quer tirar essa história a limpo. Temos que ir.


Por um momento, Júlio hesita. Se levanta, pega sua bolsa e sai da sala com Roberto ao lado.


CORTA PARA


CENA 05. RUA. EXT. TARDE.


Júlio e Roberto estacionam seu veículo a poucos metros do local de trabalho de Gabriel. Ambos observam o garoto atender uma mesa, em uma pequena lanchonete. 


JÚLIO

Não acredito que você me convenceu a vim até aqui.


ROBERTO

Já estamos aqui, agora vamos entrar. O garoto está bem ali, vamos pedir alguma coisa, ficar um tempo, até ver a “anja”. Vai que ela também trabalha aqui?! 


Júlio continua receoso, mas decide seguir o conselho do amigo. Ambos saem do carro, atravessam a rua e entram na lanchonete. 


CORTA PARA


CENA 06. LANCHONETE. INT. TARDE.


Júlio e Roberto escolhem uma mesa próximo ao balcão. Gabriel logo chega à mesa deles.


GABRIEL 
(a Roberto)

Professor, o que faz aqui?


ROBERTO

Primeiro não estamos na escola então pode me chamar de Roberto. E segundo, é aqui que você trabalha?


GABRIEL

É, meu pai é o dono desse lugar.


ROBERTO

Nossa, que coincidência! Eu e o Júlio estávamos procurando justamente um local para comer, estávamos passando por aqui e decidimos entrar, não é Júlio?!


JÚLIO

É, sim.


GABRIEL

Oi, professor Júlio. Nem falei com o senhor, foi mal.


JÚLIO 

Também não precisa me chamar de professor aqui fora.


GABRIEL

Tranquilo. Só que essa lanchonete não fica meio longe da escola?


JÚLIO

É que o Roberto, infelizmente, não tem muita noção de onde está. Acabou trocando a rota hoje.


O pai de Gabriel, que estava no caixa, observa a conversa na mesa e decide chamar a atenção do garoto.


CÉLIO 
(rude)

Garoto, eu não pago você para ficar conversando com os clientes. Vá trabalhar, que tem várias mesas esperando atendimento.


ROBERTO

Estamos só batendo um papo, irmão.


CÉLIO

Se ele quiser bater papo, que seja fora daqui, não no meio do serviço e dentro da minha lanchonete, incomodando meus clientes.


ROBERTO

Só que não tem ninguém incomodando nada aqui.


GABRIEL

Deixa. Hoje a lanchonete tá meio movimentada, ele certo. O que vocês vão querer? 


Roberto escolhe algo para ele e Júlio comer, Gabriel anota em seu bloquinho. CAM destaca Júlio encarando Célio. O garoto se afasta da mesa nesse momento.


JÚLIO

Você viu como ele tratou o garoto? Se ele é assim aqui no trabalho, no meio dessas pessoas, imagina como ele deve ser em casa com a família?


ROBERTO

O Gabriel me disse que ele era um bom pai, mas começo achar que isso não é verdade.


Os dois observavam o modo como Célio continua tratando o garoto.


CORTA PARA


CENA 07. APARTAMENTO DO JÚLIO. SALA. INT. NOITE.


Júlio mexendo em seu notebook, no sofá. Roberto sentado na poltrona ao lado, mexendo no celular.


ROBERTO

Não encontrei nada nas redes sociais dela.


JÚLIO 
(sério)

Eu também não.


ROBERTO

É impossível acreditar que hoje em dia, exista alguma pessoa que não tenha ao menos uma conta em alguma rede social.


JÚLIO 
(sério)

Talvez ela seja diferente.


ROBERTO

Ainda tá preocupado com o modo que aquele cara tratou o Gabriel, não está?!


JÚLIO

Que tipo de pai fala daquele jeito com o filho? (desliga o notebook, coloca ao lado)


ROBERTO

Você acha que ele é agressivo com o garoto?


JÚLIO

Não sei, talvez seja o que ele disse, que no trabalho o pai seja um pouco firme, mas mesmo assim, vou querer acompanhar de perto a vida desse rapaz.


CLOSE no rosto sério de Júlio.


CORTA PARA


CENA 08. COLÉGIO SÃO RAFAEL. SALA DE AULA. INT. DIA.


LEGENDA: Uma semana depois…


Júlio explicando um conteúdo em off. Ele repara uma cadeira vazia. Justamente o lugar onde Gabriel senta. Continua sua aula, mas notando a falta do garoto.

CORTA PARA


CENA 09. LANCHONETE. INT. TARDE.


Júlio entra na lanchonete, anda pelo ambiente a procura do garoto. Vai direto ao balcão, onde está Célio, realizando algumas contas.


JÚLIO

Boa tarde! Tudo bem?


CÉLIO

Boa tarde! Eu já que vou lhe atender. (ainda mantém a sua atenção na calculadora)


JÚLIO

Eu sou professor do Gabriel. (Célio finalmente olha para ele) Ele não foi para a aula hoje, gostaria de saber se está tudo bem?


CÉLIO

Ele teve um incidente no trabalho, acabou queimando as mãos na cozinha e achei melhor que ele não fosse para a aula hoje. Afinal, com as mãos queimadas, ele não teria como escrever nada mesmo. (volta sua atenção para a calculadora)


JÚLIO

Como que isso aconteceu?


CÉLIO

Amigo, se você não vai pedir nada, é melhor se retirar e dá espaço para outro cliente. Estou ocupado aqui, tentando fechar esses cálculos e você tá me atrapalhando.


JÚLIO

Eu só queria saber como está o garoto. Ele não pode perder muitos dias de aulas, ainda mais que o bimestre está se encerrando. Isso pode prejudica-lo.


CÉLIO

Não se preocupa, que eu sei muito bem como cuidar do meu filho. Agora me dê licença, tenho que atender clientes de verdade. 


Sai do balcão, indo em direção a uma mesa. Júlio fica parado ao lado do balcão sendo ignorado por Célio. Olha mais uma vez para o fundo, em direção a cozinha, tentando encontrar Gabriel. Não vendo o garoto ali, decide ir embora.


CORTA PARA


CENA 10. CASA DE JÚLIO. COZINHA. INT. NOITE.


Júlio está sentado à mesa, com um prato de macarrão a sua frente. Sua cabeça, no entanto, não está dando atenção para a comida.


JÚLIO 
(narrando)

Eu não sei se estou começando a imaginar coisas igual o maluco do Roberto, mas tem algo errado nesse pai do Gabriel. Essa história dele ter queimado a mão assim do nada, tá muito estranha. O jeito que ele trata o garoto, o mantendo sozinho para atender na lanchonete, é muito para um garoto só. Tem algo errado aí e eu preciso ficar mais próximo dessa família. Se ao menos a “anja” atendesse as minhas ligações ou respondesse as minhas mensagens. Preciso falar com ela urgentemente. Nem que eu tenha que fazer plantão naquela lanchonete amanhã.


CORTA PARA


CENA 11 – RUA. EXT. DIA.


Júlio está em seu carro estacionado a poucos metros da lanchonete. Observa a movimentação do local. Não vê Gabriel e muito menos a mãe dele. Continua mantendo sua atenção no local, à espera de encontrar a sua “anja” ali.


As horas se passam e embora esteja entediado e com as costas doendo te tanto ficar dentro do veículo, Júlio finalmente observa Leila chegando na lanchonete. Ele continua dentro do veículo, aguardando a oportunidade perfeita para falar com ela. 


Minutos depois, Leila sai da lanchonete sozinha e segue andando em direção ao carro de Júlio. 


JÚLIO

Minha chance. Você não vai escapar de mim hoje, “anja”.


Júlio sai do veículo, olha para ambos os lados e atravessa a rua apressado. Leila logo o percebe indo em sua direção, imediatamente ela para de andar. 


JÚLIO

Nos encontramos novamente. (ri)


LEILA

O que está fazendo aqui? (olha para trás em direção a lanchonete, um pouco apavorada)


JÚLIO

Precisamos conversar. Tenho várias perguntas e só você poderá me responder elas. 


CLOSE alternados nos rostos de Leila e Júlio.


FIM DO EPISÓDIO.

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