Capítulo 2 (Mãos na morta)
Participações especiais.
Daniela (40): Casada com um homem importante da sociedade carioca, ela teve um relacionamento com um jovem repórter que está ameaçando divulgar essa história nos jornais.
Vítor: Jovem repórter que fez de tudo pra seduzir Daniela e agora planeja alavancar a carreira revelando a traição dela.
Cena 1/ Barra da Tijuca/ Madrugada.
Rua.
Dentro do carro, Anderson dirige. Atravessa a avenida e encosta o carro em frente à casa de Verônica. Ele desce do carro e é recebido por Pedro.
Pedro: Que bom que você chegou.
Anderson: Eu vim o mais rápido que eu pude. No meio da madrugada, espero que não esteja brincando comigo, porque a última coisa que eu aceitaria de vocês são brincadeiras.
Pedro: Não tem ninguém brincando.
Anderson: Você pode me explicar o que está acontecendo, então? Eu não entendi nada do que você disse pelo telefone.
Pedro: Eu vou te explicar. Mas você precisa ter calma. Ficar nervoso agora não vai adiantar em nada.
Anderson: Eu não estou nervoso. Eu só quero que você me explique o motivo que me fez sair de Niterói de madrugada e vir até a casa dessa mulher que eu não suporto e você sabe disso.
Pedro: Está vendo? Você já está nervoso.
Anderson: Eu não estou nervoso, Pedro. O que essa mulherzinha aprontou agora?
Pedro: Ficar calmo, Andy.
Anderson: Porra, Pedro. São quase 3:30 da manhã. Você me fez sair da minha casa pra vir aqui resolver a porcaria de um problema da amante do meu pai e fica me enrolando ao invés de me falar o que aconteceu. Eu não estava nervoso, mas agora eu estou. Você vai me falar o que aconteceu ou eu posso ir embora?
Pedro: Eu só estava tentando te preparar. Vem, é melhor você ver.
Pedro e Anderson caminham para dentro da casa. Ao entrar na sala, Anderson vê Eduardo e Gabriela parados perto da porta, ele os encara e caminha até a sala e vê a cena do crime. O corpo de Verônica jogado no chão. Sangue espalhado pelo carpete. O enfeite em formato de pássaro no chão coberto de sangue. Anderson olhou ao seu redor, uma cena nojenta, ainda dava pra ver a expressão de medo e susto no rosto endurecido de Verônica. Anderson não conseguia se expressar diante tanta atrocidade.
No banheiro, Anderson de joelhos no chão, ele vomita no sanitário. Ver uma cena daquela não foi fácil e fez o seu estômago revirar.
Cena 2/ Barra da Tijuca/ Madrugada.
Casa de Verônica.
Na sala, Anderson encara Pedro, Eduardo e Gabriela. Eles ficam em silêncio por alguns instantes, até que Anderson quebra o silêncio.
Anderson: Que merda vocês fizeram aqui?
Os três falam juntos.
Pedro: Eu não fiz nada. Nós não sabemos o que aconteceu. Eu cheguei, ela já estava morta. Eu não fiz nada. Não precisa olhar desse jeito pra mim.
Eduardo: Eu não a matei. Você só pode estar de sacanagem. Eu amava essa mulher. Eu não teria motivo algum pra fazer isso. Se você quer culpar alguém, esse alguém não sou eu.
Gabriela: Eu não gostava dela. Realmente não gostava e não gosto. Espero que ela esteja queimando no inferno. Mas achar que eu faria uma coisa dessas já é demais. Me respeite, eu sou sua mãe.
Os três se explicavam, mas todos ao mesmo tempo. Anderson não sabia quem ouvir, quem estava falando a verdade.
Anderson: Calem a boca. Calem. Eu não consigo entender nada do que vocês estão falando, mas eu posso supor que não foi nenhum de vocês. São três coitados e inocentes. Vocês querem que eu faça o que?
Eduardo: Andy…
Anderson: Não me chame assim.
Eduardo: Anderson. Não fui eu quem matou a Verônica. Mas as suspeitas vão vir pra mim ou pra alguém da nossa família.
Gabriela: Não podemos levar a culpa de uma coisa que não fizemos. Você entende?
Pedro: Precisamos de ajuda.
Anderson: Eu não tenho obrigação nenhuma de ajudar vocês. Principalmente depois de tudo. Mas infelizmente vocês ainda são minha família e eu tenho o coração mole – Anderson anda de um lado para o outro pensativo – Bom, temos duas opções. Chamamos a polícia, eles fazem a perícia e vocês se explicam pra eles ou desaparecemos com o corpo. Sem corpo sem crime. O que vai ser?
Pedro, Gabriela e Pedro: Sumimos com o corpo.
Cena 3/ Barra da Tijuca / Madrugada.
Casa de Verônica.
Na cozinha, Anderson entra na cozinha com o celular na orelha. Ele vai até a geladeira, pega a garrafa de água e se serve e bebe um pouco..
Anderson: O que eu to fazendo da minha vida? Alô, Júlio. Tudo bem?… Eu sei que isso não é hora de estar ligando pra ninguém, mas eu preciso da sua ajuda.
Voz de Júlio no telefone: O que você quer?
Anderson: Você sabe que meu trabalho é um pouco difícil e que nem todas as situações são boas. E às vezes as coisas saem do controle. Mas eu preciso proteger meus clientes.
Voz de Júlio: Você tem 30 segundos antes que eu desligue.
Anderson: Você já serviu o exército e foi expulso por causa do seu comportamento e… Não leve isso como ofensa, mas…
Voz de Júlio: 10 segundo…
Anderson: Eu preciso sumir com um corpo. Me ajuda.
Voz de Júlio: O que?
Anderson: Eu sei que você me detesta, eu também te detesto. E agora eu estou me detestando por fazer isso. Eu sei que eu não devia estar ligando pra ninguém pra pedir esse conselho. Mas você é minha única solução. Por favor, vamos deixar nossos problemas de lado por alguns instantes. Você me deve uma, lembra? Eu te ajudei no exército.
Voz de Júlio: Agora estamos quites. Ok? Escuta o que você tem que fazer…
Cena 4 / Barra da Tijuca/ Madrugada.
Casa de Verônica.
Na sala, Eduardo, Gabriela e Pedro se encaram. Pelo olhar de cada um, eles se culpavam, mas ninguém podia dizer nada. Ninguém sabia quem realmente era o verdadeiro assassino. Anderson chega à sala com algumas ferramentas. Martelo, serrote, plásticos, produtos de limpeza.
Eduardo: Pra que isso tudo?
Anderson: Vocês não querem sumir com o corpo dela? Então nós temos um trabalhinho pra fazer.
Gabriela: Mas nós vamos ter que fazer o que? Picotar ela?
Anderson: Bingo.
Pedro: Esse trabalho é seu, não é não?
Anderson: Não. Meu trabalho não é encobrir assassinato da amante do meu pai. O meu trabalho é trazer soluções para pessoas com problemas de verdade. Escutem, eu não queria estar aqui. Eu não queria estar ajudando vocês. Mas eu estou fazendo isso. Então parem de reclamar e calem a boca. Agora comecem logo a me ajudar antes que eu desista dessa loucura e deixo vocês aqui sozinhos.
Pedro: Tudo bem. O que vamos fazer?
Anderson: Primeiro temos que colocar esses plásticos no chão e depois a cortamos em pedaços, vai ser mais fácil de tirarmos ela daqui sem levantar suspeitas. Depois limparmos a cena do crime. Tem alguns produtos que ela tinha na despensa, não sei por que, mas que conseguem tirar vestígios de sangue. Temos que fazer tudo isso antes de amanhecer. Pra que ninguém nos veja saindo dessa casa. Então, mãos na morta.
Cena 5 / Leblon / Madrugada.
Casa dos Norton.
Na sala, eles entram em casa. Eduardo se joga no sofá. Gabriela ainda uma pilha de nervos acende um cigarro. Pedro vai direto ao balcão de bebidas e enche um copo de uísque.
Eduardo: Eu não acredito até agora que a Verônica está morta.
Gabriela: Eu que não acredito que eu tive que encostar a mão naquela mulher. Eu ainda estou ouvindo os ossos dela sendo serrados.
Pedro: Acho que todos nós precisamos de um gole de uísque. Queria mesmo que esse gole me fizesse esquecer tudo que vi hoje.
Anderson: Enquanto vocês ficam com essa ceninha de “eu estou chocado com tudo que aconteceu”, eu vou pra casa.
Eduardo: Você realmente acha que foi um de nós que matamos a Verônica?
Anderson: Isso se não tiver sido os 3 juntos.
Gabriela: Nós somos sua família. Você não pode falar isso.
Anderson: Por isso mesmo. Eu sei quem são vocês e do que são capazes.
Pedro: Talvez fosse melhor nós nos mudarmos.
Anderson: Claro que não. Querem levantar suspeitas? Vocês vão continuar aqui. Ninguém vai fazer nada. Finjam que nada aconteceu. Mantenha a vida como ela sempre foi. Você Eduardo, comente sobre ela com quem conhece o caso de vocês. Creio eu que a cidade inteira. Mas não diga que vocês tem se falado, mas também não diga que vocês não se vêem. Mantenha a vida normalmente. Eu cometi um crime pra ajudar vocês. Então não estraguem a porcaria da minha vida. Eu vou embora, qualquer coisa me liguem. Mas espero que não precise me ligar nunca mais.
Cena 6/ Niterói/ Manhã.
Apartamento de Anderson.
Na mesa do café, Anderson e Mário tomam café da manhã juntos.
Mário: Foi impressão minha ou você chegou agora pouco de manhã?
Anderson: Eu te acordei? Desculpe. Eu não queria…
Mário: Não é isso. É porque você nunca chegou nesse horário. E você não parece que estava em festa. Na verdade você está todo estranho e…
Anderson: Eu estou bem, Mário. Não aconteceu nada de mais. Eu só tive que resolver um assunto.
Mário: De madrugada?
Anderson: Sim. De madrugada. Ricos fazem merdas o tempo inteiro.
Mário: Sem pesquisas. Você sempre me pede para investigar alguém e…
Celular de Anderson toca e ele atende.
Anderson: Alô… Já estou chegando.
Cena 6/ Copacabana/ Manhã.
Casa de Daniela.
Na sala, sentados no sofá, Anderson bebe café e Daniela o observa.
Anderson: Eu estava precisando de um café forte desse jeito.
Daniela: Eu to vendo pela sua cara. Está péssima. Você está bem?
Anderson: Eu estou ótimo. Quem não está bem é você. Caso contrário não teria me ligado. Então, conte-me o que aconteceu pra que eu possa te ajudar.
Daniela: Eu conto com sua descrição.
Anderson: E eu com a sua sinceridade.
Daniela: Bom. Há alguns meses atrás eu conheci um rapaz. Vítor Almeida. Jovem, bonito, sedutor. Meu casamento estava em crise. Ele aproveitou o momento certo pra me procurar. Como se fosse planejado. Nós nos envolvemos durante meses e de repente ele sumiu. Eu sofri um pouco, estava realmente começando a gostar dele. Que tola que eu fui. Agora ele voltou a me procurar, mas pra me ameaçar. Ele é jornalista do “Notícias do Povão” e está ameaçando a publicar nossa história no jornal. Eu preciso da sua ajuda.
Anderson: Eu vou fazer de tudo pra resolver isso. Pode ficar tranqüila.
Daniela: O mais rápido possível. Meu marido está concorrendo à vaga de gerente financeiro em uma das maiores empresas do ramo têxtil do país. Uma história dessas vazada pode acabar com a carreira dele e comigo. E com meu casamento principalmente. Eu não posso deixar isso acontecer.
Anderson: Eu vou arrumar a solução pode ficar tranqüila.
Cena 8/ Copacabana /Manhã.
Rua.
Caminhando na calçada, Anderson fala no celular.
Anderson: Vítor Almeida, ele trabalha no jornal “Notícias do Povão”. Pode ir fundo, Mário. Quero tudo que for possível pra usar contra ele. E é urgente.
Anderson desliga o celular e abre a porta e se lembra da cena de Verônica morta.
Anderson: Esquece isso Anderson. Esquece isso.
Cena 9/ Leblon /Tarde.
Casa dos Norton.
No quarto, Eduardo entra e vê Gabriela pensativa enfrente o espelho.
Eduardo: Se sentindo culpada?
Gabriela: Não entendi o seu sarcasmo.
Eduardo: Eu sei que foi você quem matou a Verônica. Você tinha tudo pra isso. Motivo, vontade e aparentemente oportunidade. Eu nunca imaginei que você iria tão fundo nisso.
Gabriela: Cala a boca. Eu não matei ninguém. Ela merecia. Mas mereciam morrer os dois juntos. Não só ela. Então não vem me acusar de ter matado. Porque eu não fiz nada.
Eduardo: Agora não tem como te colocar na cadeia. Nós consumimos o corpo. Mas eu vou garantir para que você não tenha paz na consciência pelo que você fez.
Cena 10/ Jardim Botânico/ Tarde
Jornal.
Na redação do jornal, Anderson sentado de frente a mesa de Vítor. Os dois conversam em um tom baixo pra ninguém mais ouvir.
Anderson: Você sabe que isso é errado. Você se aproveitou de uma senhora que estava fragilizada por um casamento infeliz. Você é melhor que isso Vítor. Esse jornal é bem melhor que isso. Expor a intimidade de uma mulher assim é cruel. E não vai dar certo. Vamos negar tudo.
Vítor: Alguém vai acreditar em mim. Na verdade , muitas pessoas vão acreditar em mim. Pode ter certeza disso. Essa vai ser uma matéria que vai alavancar minha carreira. Vai ser o pontapé pro sucesso.
Anderson: Sério? Você quer alavancar sua carreira com notícia do TV Fama? Você acha que o seu jornalismo é tão tosco e sem conteúdo assim?
Vítor: É a esposa de um dos maiores empresários do país. Eu acho que não vai ser matéria do TV Fama, talvez seja do Fantástico.
Anderson: Você sabe que vamos entrar com processo contra você. Uma família com poder e dinheiro. Quem você acha que vai ganhar essa disputa?
Vítor: Eu vou correr esse risco.
Anderson levanta e caminha pra fora da sala e o celular dele toca. Anderson a notificação de mensagem de Mário e abre a mensagem. Depois de ler ele volta até Vítor.
Anderson: Vítor, eu acho melhor você esquecer essa história de vez.
Vítor: Eu já falei que nada que você disse vai mudar isso.
Anderson: Você acha mesmo? Por que assim que essa sua matéria for ao ar, eu vou mostrar ao mundo que você é um drogado e que tem alucinações. Um pessoas que passou 3 anos em um clínica de reabilitação por uso de drogas pesadas não tem um sanidade boa. Você sabe que eu posso provar que você esteve na clínica, não sabe? Que você deu entrada no tratamento 5 vezes em 3 anos? Sua matéria vai ser desacreditada por todos, e pior, você vai ficar sem emprego e credibilidade para trabalhar em qualquer outro lugar. Você vai mesmo perder tudo que você conquistou depois de largar o vício?
Os dois se encaram.
Cena 11/ Copacabana /Noite.
Casa de Daniela.
Na sala, sentados ao sofá, Anderson entrega o pen drive e o contrato de confidencialidade.
Anderson: Aqui está seu contrato e o mais importante o pen drive. A matéria não vai sair. Seu segredo está seguro agora. Tome mais cuidado.
Daniela: Eu nem sei como eu posso te agradecer. Claro que eu vou te pagar, mas eu queria te agradecer mais. Você salvou minha vida e a do meu marido.
Anderson: Só tome mais cuidado. Mas não vou mentir que aceitaria com prazer uma garrafa de Cheval Blanc 1947.
Cena 12/ Lapa/ Noite.
Bar.
Na mesa, Júlio, Mag e Mário bebem juntos. Anderson chega ao bar e vai até eles.
Júlio: É sério isso?
Mag: Não começa Júlio.
Júlio: Não começa? Já não basta o Mário aqui, agora ele também? Eu não sei quem tem menos vergonha na cara, se é você ou eles.
Anderson: Eu to indo embora. Não preciso ouvir isso.
Júlio: Não precisa ir. Eu estou indo embora. Mas me ouvir reclamar, você vai sempre. Você traiu a minha irmã com seu coleguinha de quarto. A trouxa é ela de ser amiga de vocês. Eu jamais aceitaria isso na minha vida.
Júlio sai da mesa.
Mário: Mag, você sabe que não foi assim. Nós estávamos bêbados e…
Mag: Relaxa, Mário. Meu irmão é um exagerado. Somos todos amigos.
Anderson: Mag, não rolou mais nada depois daquele dia.
Mag: Eu não quero saber. O que aconteceu, aconteceu. Ficou no passado. Nós já superamos isso. Vamos dançar que é melhor.
Os três vãos pra pista de dança.
Cena 13/ Niterói/ Noite
Apartamento de Anderson.
Sentado no sofá com uma taça na mão, Anderson toma vinho e ouve música calma, seu celular toca e ele lê no visor Mãe. Ele revira os olhos e joga o celular no sofá. Mas se arrepende e atende a ligação.
Anderson: Por favor, Não me fale que vocês já estragaram tudo.
Voz de Gabriela: Ainda não. Mas seu pai está prestes a fazer isso.
Anderson: Do que você está falando? O que ele fez?
Voz de Gabriela: Ele está me acusando. Como se eu tivesse feito aquela monstruosidade. Aquilo foi desumano. Eu fui casada com seu pai durante tanto tempo e ele ainda me acusa assim.
Anderson: Mãe fica calma.
Voz de Gabriela: Ficar calma? Como que você quer que eu fique calma se estão me acusando de ter matado uma pessoa.
Anderson: Mãe, só entre nós dois. Não foi mesmo a senhora? Ela era amante do seu marido. Você odeia aquela mulher. Motivos de sobra pra fazer aqui você têm.
Anderson ouve o som da chamada sendo finalizada. Ele olha para o celular e percebe que Gabriela desligou o telefone.
Anderson: Foi ela mesma