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Capítulo 18

CENA 01. MANSÃO HELENA. BIBLIOTECA. INT. DIA.

Continuação imediata da última cena do capítulo anterior. Helena sentada à mesa. CAM sobe dos pés à cabeça de Ivan. Valdir e Nelson também presentes.

HELENA
O que significa isso?

VALDIR
O doutor Ivan Rangel, aqui presente, se dispõe a comprar seus bens.

HELENA
Não posso aceitar. De você não, Ivan.

IVAN
Por que não, Helena? Porque estamos nos envolvendo? Porque sua família é contra nosso namoro? Deixa eu te ajudar.

VALDIR
A senhora não está em condições de recusar, dona Helena.

HELENA (revolta-se)
Mas o que é isso? Complô pra me humilhar ainda mais diante da tragédia que se abateu na minha casa? Estou começando a desconfiar de que você faz parte da tramoia, e que agora quer nos comprar, só pra tripudiar.

IVAN
Assim você me ofende! Quantas vezes eu vou ter que falar que não me envolvo com algo tão sujo? (pausa) Sabe de uma coisa? Acho que perdi meu tempo vindo aqui. Vou embora antes que toquem no nome do meu filho. Passar bem. (anda rumo à porta de saída)

HELENA
Ivan! (ele se vira para ela) Me perdoa. Não foi minha intenção te agredir. Não sei onde estou com a cabeça. (chora) Essa situação está acabando comigo.

Ivan se aproxima novamente e a abraça.

CENA 02. MANSÃO HELENA. SALA. INT. DIA.

Irritada, Nágila dá ordens às empregadas, que limpam a sala. Letícia entra apressada, enquanto fala com Nágila.

NÁGILA
Bom dia, dona Letícia! Dona Helena está em reunião. Aguarda um instante.

LETÍCIA
Não posso, é assunto urgente. Com licença! (entra na biblioteca)

NÁGILA
Dona Letícia! Ai, que ódio! (às empregadas) Rápido, suas lerdas! Quero os móveis brilhando.

CENA 03. MANSÃO HELENA. BIBLIOTECA. INT. DIA.

Letícia entra, enquanto Ivan, Helena, Nelson e Valdir conversam. Helena mais calma.

LETÍCIA
Desculpa, mas o assunto é urgente. Consegui alguém interessado na Bellatex, Helena.

HELENA
Você é um anjo. Mas eu já resolvi. O Ivan veio aqui justamente para a compra.

LETÍCIA
Sério, Ivan?

IVAN
Não podia desampará-la agora. A vida dela está toda na empresa.

LETÍCIA
Mas não vai te prejudicar? É um investimento muito alto, a burocracia nem se fala…

IVAN
De jeito nenhum, minha querida. Vai ser um prazer.

CENA 04. SÃO PAULO. AVENIDA PAULISTA. EXT. DIA.

Sonoplastia: Anywhere – Rita Ora. Imagens de pedestres andando pela avenida.

CENA 05. ESCRITÓRIO SÉRGIO. SALA SÉRGIO. INT. DIA.

Sérgio fala ao telefone.

SÉRGIO
Você só pode estar brincando… Eles ainda vão te jogar na cova… Ivan, desiste dessa cilada. O Mário não vale tudo isso… Tá, desculpa. Não quis falar isso… A cada dia você me assusta mais… O que tem Gastão?… (Carlos entra e ouve a conversa) Mandei sim… Ele já está com o equipamento pra grampear a Solange. Só falta você dar o ok… Tá… Se queima sozinho, que eu estou fora… Está bem, Ivan… Até mais. (desliga)

Carlos finge não saber do que se trata.

CARLOS
Problemas com algum cliente, doutor?

SÉRGIO
Pior. Meu melhor amigo resolve fazer o justiceiro. Agora senta aqui, que temos outro pepino pra descascar.

Carlos obedece. Conversa em FADE.

CENA 06. MANSÃO HELENA. SALA. INT. DIA.

Ivan e Helena sentados no sofá, abraçados. Letícia e Nelson sentados numa poltrona, perto deles. Nágila olha Ivan com nojo, e sai.

LETÍCIA
Vlad está vindo. Quero que vocês o conheçam.

IVAN
Vlad é o seu namorado russo?

LETÍCIA
Ele mesmo. (suspira)

Vlad entra. Todos se levantam para recebê-lo.

LETÍCIA
Olha só! Já chegou.

VLAD
Sim, liúba. O trânsito estava bom. (beija-a)

LETÍCIA
Vlad, deixa eu te apresentar meus amigos: Helena e Ivan.

Vlad cumprimenta o casal. Nelson olha Ivan de forma estranha.

VLAD
Enton você é a famôsa Helena da Bellatex? Bêla dama.

HELENA
Obrigada, assim fico lisonjeada.

VLAD
Seu marida deve ter muito orgulha de você.

HELENA (sorri)
Ele não é meu marido.

IVAN
Ainda. Bem, não seria uma má ideia a gente se casar. Mais pra frente. Por enquanto, só estamos namorando como dois pombinhos. (beija Helena)

NELSON
(incomodado) Vou dar uma volta. Preciso de um ar. Com licença. (sai)

HELENA
Nelson está esquisito. Você sabe de alguma coisa, Letícia?

LETÍCIA (disfarça)
Ele não acordou muito bem, por causa do que vem acontecendo.

IVAN
(VO) Isso se chama amor não correspondido. Ele te ama, Helena. (a Vlad) É verdade que você veio de Moscou?

LETÍCIA
Vlad, se prepara para um interrogatório. Ivan tem paixão pela Rússia.

VLAD (sorri)
Sêrio? Sim, sou de Maskviê. Vim para o Brasil faz pouca tempo…

Conversa em FADE.

CENA 07. HOSPITAL. ENFERMARIA. INT. DIA.

Ângela entra estressada. Joga a bolsa no armário. Sonoplastia: suspense. Lembra-se do encontro com Solange. Atenção: todo o trecho em itálico em VOICE OFF.

ÂNGELA
Ei, mocinha!

SOLANGE (dissimulada)
Eu te conheço?

ÂNGELA
Não se faça de sonsa comigo, que não cola. Então resolveu voltar pra atazanar a vida das pessoas. Você não cansa de ser tão pistoleira? Ainda não esqueci o que você fez com sua mãe.

SOLANGE
Vai me entregar? Ninguém acredita numa enfermeira pobretona como você. Vê se te enxerga, mosca morta!

ÂNGELA
Você não muda mesmo. Sua hora está chegando. Mais perto do que você pensa. Se prepara, piriguete! Tá avisada.

Ângela anda de um lado pro outro, enquanto fala sozinha.

ÂNGELA
Senhor, o que foi que fiz pra ter esse encosto de volta na minha vida? (pausa) Conto ou não conto pro Ivan? Virgem Maria, me ajuda.

Fim da sonoplastia. Entra outra enfermeira com um casal de idosos. O idoso está com corte na cabeça, sangrando. Ângela o atende.

CENA 08. MANSÃO HELENA. SALA. INT. DIA.

Ivan, Letícia e Vlad conversam animados. Helena fala ao celular, num canto.

IVAN
Uma vez eu sonhei que estava me casando com a Vera lá na basílica, e que a festa era na Praça Vermelha. Não queria acordar nunca mais. (sorri)

Solange entra muito agitada e nervosa. Letícia tenta ir atrás, mas Solange passa direto, sobe as escadas e sai de cena.

LETÍCIA
Gente, o que deu nela?

IVAN (preocupado)
Boa coisa, não é. Vou lá ver.

LETÍCIA
Qualquer coisa, me chama. Pode ser assunto de mulher.

Ivan também sai pelas escadas. Helena desliga o celular se aproxima do casal.

HELENA
Vi o Ivan subir atrás de alguém.

VLAD
Uma moça passou esquisita, nervôsa.

LETÍCIA
A Solange. Ivan foi conversar com ela.

CENA 09. MANSÃO HELENA. QUARTO MARCOS. INT. DIA.

Sonoplastia (até a cena 10): suspense. Solange entra. Pega o celular e conversa com alguém.

SOLANGE (tom)
Alô! Claro que sou eu, imbecil!… Aquela desgraçada que te falei voltou pra me infernizar. A enfermeira maldita. Vamos ter que dar um jeito de calar a boca dela… Não quero que minha irmã saiba de nada… Logo agora que meu plano tá dando certo…

CENA 10. MANSÃO HELENA. CORREDOR. INT. DIA.

Ivan anda pelo corredor e ouve os gritos de Solange. Fica perto da porta, enquanto vê se ninguém aparece para flagrá-lo.

SOLANGE (VO)
O dinheiro daquela família asquerosa foi pro meu bolso… Peguei mesmo. Tudinho! A avestruz tá toda depenada… Na frente dela, faço meu fingimento de pobre menina… Foi muito fácil acusar aquela crioula nojenta… (Ivan perplexo) Igual eu fiz com aquele fracote do Mário… Roubei e joguei a culpa toda nele… Se matou, claro.

Sonoplastia mais intensa. Ivan sem reação. Anda devagar pelo corredor. Quando chega perto da escada, fala sozinho em tom baixo.

IVAN
Ela matou meu filho! Ela matou…

CENA 11. MANSÃO HELENA. SALA. INT. DIA.

Conversa entre Helena, Letícia e Vlad. Ivan desce as escadas atordoado. Anda em direção à porta sem falar com ninguém. Helena vai atrás dele e o segura.

HELENA
Ivan, você está bem? Quer que chame uma ambulância?

IVAN (chora)
Não, só quero ficar sozinho.

Ivan se encosta a uma parede e passa mal. Ajoelhado, ele vomita. No canto, Nágila sorri com os lábios e depois sai. Os demais o socorrem.

HELENA
Letícia, chama a ambulância!

LETÍCIA
Agora mesmo.

VLAD
Vou chamar alguém pra limpar aqui.

Letícia pega o celular. Vlad sai pela porta da cozinha.

CENA 12. BAR. INT. DIA.

Marcos ao celular, irritado com o que ouve. Raul sentado ao lado dele.

MARCOS
Maldito! Me diz que a mãe não deixou isso, Nágila… Pode escrever, que ainda acabo com ele… No hospital? Tomara que morra… Até. (desliga)

RAUL
O que é que aquele pintorzinho com nariz em pé fez agora?

MARCOS
Comprou a Bellatex, a casa da praia, as mansões daqui e de Paris… Agora todo o nosso império está nas mãos dele. Nós estamos nas mãos dele.

RAUL
Mas isso não vai ficar assim. Vamos ter que fazer alguma coisa rápido. Só não sei o quê.

MARCOS
Por mim eu o matava hoje mesmo, de tanta porrada naquela cara quadrada.

RAUL
Tem jeito melhor. Ele não baixou no hospital? Só contar as horas pra ele ter um treco e ir pro mesmo lugar que o filhote ladrão.

CENA 13. HOSPITAL. ENFERMARIA. INT. DIA.

Vlad e um enfermeiro carregam Ivan. Outro enfermeiro confere o estoque no armário num canto.

ENFERMEIRO 1
Ajuda aqui.

ENFERMEIRO 2 (vira-se)
Coloquem-no ali na maca. Como aconteceu?

VLAD
Foi de repente. Ele desceu as escadas e passou mal.

ENFERMEIRO 1 (a Ivan)
Como se sente?

IVAN
Tonto, com enjoo… (desmaia)

ENFERMEIRO 2 (ao outro)
Ele desmaiou. Chama o médico!

O enfermeiro 1 sai correndo. Vlad apreensivo no canto.

CENA 14. HOSPITAL. CORREDOR. INT. DIA.

Helena e Letícia de pé, preocupadas.

HELENA
Foi depois que ele falou com a Solange. E ela estava tensa. Espero não ter acontecido nada entre eles.

LETÍCIA
Acho que não. Deve ser só um mal estar, por algo que ele comeu.

NELSON (entra)
Pronto, achei vaga melhor pro carro. Como está o Ivan?

HELENA
Nenhuma notícia ainda. Vlad está com ele.

LETÍCIA
Ali uma enfermeira. (vai até Ângela) Moça? Enfermeira?

ÂNGELA
Sim, posso ajudar?

LETÍCIA
Boa tarde. Queríamos saber notícias do meu amigo. Ele está aí dentro, não sabemos de nada ainda.

ÂNGELA
Como ele se chama?

LETÍCIA
Ivan Rangel.

Ângela surpresa. Conversa continua em FADE.

CENA 15. ESCRITÓRIO SÉRGIO. SALA SÉRGIO. INT. DIA.

Sérgio conversa com Carlos.

SÉRGIO
Aqui está o processo relativo à nossa cliente Magda Ribeiro. Acusada de roubo, homicídio e formação de quadrilha no caso Bellatex. Quero que você me ajude a analisar o caso.

CARLOS
Com prazer.

O celular de Sérgio toca.

SÉRGIO
Só um instante, Carlos. (atende) Alô! Sim, sou eu… Conheço-o, sim… No hospital? Como foi isso?… Menos mal… Mais tarde passo aí… Obrigado por avisar. (desliga) Aquele amigo da ligação de mais cedo baixou no Hospital Central. Nada grave, ainda bem. Depois do expediente, passo lá. A propósito, sua mãe trabalha lá, não?

CARLOS
Sim, trabalha. Hoje ela está de plantão lá. Talvez você a veja. É Ângela o nome dela.

CENA 16. SÃO PAULO. EXT. NOITE.

Sonoplastia: Hard Times – Paramore. Anoitece. Imagens de postos de gasolina fechados devido à greve dos caminhoneiros; do trânsito engarrafado da cidade.

CENA 17. HOSPITAL. QUARTO. INT. NOITE.

Ivan dorme na maca. Helena e Ângela conversam.

ÂNGELA
Achei melhor transferi-lo pra cá, assim fica mais à vontade.

HELENA
Fez bem. E eu fico mais tranquila, sabendo que já está melhor.

ÂNGELA
Dormindo como um anjo.

HELENA
Se tiver alguma mudança, não hesite em me ligar.

ÂNGELA
Sim, senhora. Mas acredito que o médico já o libere amanhã cedo.

HELENA
Assim espero. Muito obrigada pelo carinho conosco. Agora sou eu que preciso descansar. Tive um dia muito problemático. Se não fosse este homem, eu estaria perdida. Com licença.

ÂNGELA
Toda.

Helena sai. Ângela senta numa cadeira e observa Ivan. Instantes depois, levanta-se para sair. Ivan acorda.

IVAN
Ângela?

Ela se vira. Olha-o e chega perto.

CENA 18. MANSÃO HELENA. SALA JANTAR. INT. NOITE.

Solange, Virgínia, Marcos, Raul, Letícia e Nelson jantam. Solange cabisbaixa por todo o tempo.

MARCOS
Um brinde para as marionetes do Ivan Rangel!

RAUL
Tintim!

VIRGÍNIA
Um santo que salvou a nossa família da desgraça completa. Ou vocês dois preferiam ficar na rua pedindo esmola? Porque era isso que ia acontecer.

LETÍCIA
Não exagera, Virgínia.

NELSON
Virgínia tem toda a razão.

RAUL
Não suporto a pobreza, mas suporto menos ainda aquele sujeitinho arrogante se esfregando na Helena, e esfregando o dinheiro dele na nossa cara.

VIRGÍNIA
Solange, você nem tocou na comida.

LETÍCIA
Precisa de alguma coisa?

SOLANGE
Preciso de distância. Me dá asco a conversa desses dois. (levanta-se para sair)

RAUL
Não vai me dizer que está do lado do Ivan? Ele te comprou também?

SOLANGE
Não enche!

MARCOS
Aposto que foi na cama.

Solange volta. Pega o copo de Raul e joga suco na cara de Marcos. Sai irritada. Todos assustados com a atitude dela. Marcos se seca com o guardanapo.

CENA 19. HOSPITAL. QUARTO. INT. NOITE.

Continuação da cena 17. Ivan e Ângela conversam.

IVAN
Estou com um negócio me inquietando aqui. Posso te fazer uma pergunta?

ÂNGELA
Sobre o que seria?

IVAN
De onde você conhece a Solange? A noiva do meu filho.

ÂNGELA
Não conheço Solange nenhuma, você está…

IVAN (corta e senta na cama)
Eu notei que o nome dela te incomoda. Além do mais, seu filho já me contou tudo.

ÂNGELA
Carlos e sua língua grande. (pausa) Ivan, pelo amor de Deus, fica longe dessa mulher. Ela não vale nada. Conheço essa víbora desde que ela era menina. É capaz de qualquer coisa pra se dar bem. São inúmeras as coisas que ela aprontou e que apronta até hoje.

IVAN (chora)
Como roubar uma família, e depois acusar o noivo e fazê-lo se matar?

ÂNGELA
Do que você está falando?

IVAN (chora)
Eu ouvi a vagabunda confessar a morte do meu filho.

Efeito de fim de capítulo: imagem congela em Ângela chocada. Sonoplastia: rugido de leão.

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