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Capítulo 29

CENA 01. HOSPITAL. SALA. INT. NOITE.

Continuação da última cena do capítulo anterior. Sonoplastia: suspense. Dedo de Marcos no gatilho. Close no olhar desesperado de Ivan. Som de tiro. Os olhos de Ivan se dilatam.

CAM em Marcos com a arma ainda apontada para Ivan. O primeiro cai morto. Surge a policial do capítulo 28 por trás dele. Helena, Nágila e Sabrina paralisadas; Ivan em choque.

ÂNGELA (apavorada)
Você o matou!

POLICIAL
Foi preciso. Ou ele matava o homem.

Sonoplastia (até a cena 02): dramática. Nágila se desespera ao ver Marcos. Helena tenta segurá-la, mas ela corre até o corpo. Chora.

NÁGILA
Meu filho está morto! Por quê, meu Deus? (a Ivan) Está aqui o resultado da sua vingança. Maldito!

Nágila corre. Distribui tapas em Ivan, enquanto grita. Ângela e Helena conseguem segurá-la; levam-na para dentro.

IVAN (chora)
Juro que não queria… Eu não…

SABRINA (senta com ele)
Você não podia fazer nada, seu Ivan. Se tem algum culpado, esse é a minha irmã. Foi ela que tirou seu filho de você. É minha irmã, mas nunca prestou. E ela já vai pagar pelos crimes. É triste dizer isso, mas é a verdade. Eu também fui vítima do desprezo e da maldade da Solange. Nossa mãe morreu nos meus braços por causa dela. Ai, desculpa. Você quase foi morto, e eu falando essas coisas.

IVAN
Não, tudo bem.

Helena volta à cena. Anda devagar até o corpo de Marcos. Tenta se manter firme como sempre, mas acaba também chorando. Ajoelha-se e puxa o corpo de Marcos para abraçá-lo. Ivan e Sabrina assistem desolados. A policial se aproxima de Ivan.

POLICIAL
O senhor não quer ir lá dentro? Ver se está tudo bem?

IVAN
A única coisa que quero agora é…

SABRINA (corta)
Vai com ela. Você também precisa se cuidar.

IVAN
Está bem, eu vou.

Ivan se levanta com dificuldade e sai lentamente com a policial. Sabrina se ajoelha e consola Helena.

SABRINA
Sinto muito por seu filho, Helena.

CENA 02. HOSPITAL. GARAGEM. EXT. DIA.

Amanhece. Tempo chuvoso. Poucos carros estacionados.

CENA 03. HOSPITAL. RECEPÇÃO. INT. DIA.

Nágila e Helena choram abraçadas, sentadas nas cadeiras. Carlos e Ângela conversam em um canto.

ÂNGELA
Foi uma cena muito triste, meu filho. Por pouco não foi o Ivan. Pior: eu também podia ter morrido. O Marcos ficou enlouquecido, quando soube que perdeu o filho. Não conseguia pensar nem no que a Solange tinha feito com a família dele.

CARLOS
Mas ele te fez alguma coisa?

ÂNGELA
Graças à Virgem, não. Mas o Ivan ficou péssimo. Está dormindo. Solange está lá dentro. Talvez nem saiba do aborto ainda. E a Nágila, olha lá. Sentiu mais a dor da perda do que a própria Helena.

CARLOS
O que é de se esperar. Nágila é a mãe biológica do Marcos, não é? De todo modo, viveu com ele desde que nasceu.

ÂNGELA
Não sei o que seria de mim, se eu te perdesse. Agradeço a Deus todos os dias por você estar comigo. Me dá um abraço forte, meu amor.

CARLOS
Melhor não. Pode colocar as duas ainda mais pra baixo.

ÂNGELA
É verdade. Desculpa, nem me dei conta.

Ângela olha novamente as duas, com dó.

CENA 04. APARTAMENTO NELSON. SALA. INT. DIA.

Close em Letícia chocada.

LETÍCIA
Morto?

NELSON
Ele quase matou o Ivan dentro do hospital. Primeiro tentou enforcá-lo, e depois atirar nele na frente de todo mundo. Marcos não aguentou saber da morte do filho que a Solange esperava. Viu o Ivan, e o resto já é de se imaginar.

VLAD
Helena e Nágila ficaram abaladas. Viram a policial matar o filha.

LETÍCIA
Que coisa horrível. Não sei nem o que pensar. E a Solange?

VÂNIA
Dormindo até agora, pelo que me falaram. Perdeu o bebê depois de apanhar na cadeia.

LETÍCIA
Todo cuidado é pouco, gente. Solange vai tentar fugir do hospital na primeira oportunidade.

VLAD
Como? Está cheia de polícia na hospital.

LETÍCIA
Ela tem das suas artimanhas. Transa com um enfermeiro, depois com um policial, e pronto. Em liberdade pra matar um a um.

NELSON
Tira isso da cabeça, Letícia. Solange não tem mais pra onde correr. Ela perdeu o jogo.

VÂNIA
Tenho minhas dúvidas. Ela é muito esperta. Pode se safar, sim.

CENA 05. DELEGACIA. CELA. INT. DIA.

Helena entra com um policial para visitar Raul. Ela finge ser a mulher dura e altiva de sempre, disfarçando o luto.

POLICIAL
Cinco minutos!

HELENA
Não vou levar nem dois.

RAUL
Heleninha! Até que enfim veio me visitar.

HELENA
Se dependesse de mim, eu nunca mais olhava na sua cara. O que me traz aqui é seu filho.

RAUL
E por que ele não veio? (pausa) É claro que você quer me ver e não dá o braço a torcer.

HELENA
Ele não vem, simplesmente porque faleceu ontem à noite. Já estou providenciando de você assistir ao enterro do seu filho.

RAUL
Você só pode estar brincando. Isso não tem graça.

HELENA
Uma policial o matou a balas, após ele tentar assassinar o Ivan no hospital. (pausa) Você será informado do dia e da hora do enterro. (ao policial) Já terminei.

RAUL (grita e chora)
Meu filho não morreu! Quero ver meu filho! Marcos! Você me paga, Helena! O Marcos não pode ter morrido! Meu filho, não!

Helena sai com o policial. Raul se abaixa e chora compulsivamente.

RAUL
Você me paga, Ivan. Você me paga!

CENA 06. HOSPITAL. QUARTO SOLANGE. INT. DIA.

Ângela entra. empurra um carrinho com itens de enfermagem e o coloca num canto. Olha Solange com um misto de pena e de desprezo. Solange acorda com muitas dores pelo corpo. Fica irritada ao ver Ângela.

SOLANGE
Você aqui? Tá gostando de ver minha desgraça?

ÂNGELA
Não tava, não. Mas agora, vendo que você está muito bem depois de levar aquela surra, acho que vou começar a gostar sim. Até que enfim alguém te deu uma lição.

SOLANGE
Espera só eu sair, pra ver o que te acontece.

ÂNGELA
Ah, Solange, você não me intimida. Seu tempo de pisar em todo mundo já acabou. Você foi pega!

SOLANGE
Você é que pensa. Você não é párea pra mim.

ÂNGELA
Você não perde a arrogância, não é mesmo? Daqui você vai pra cadeia. E é lá que vai ficar por muitos anos, pagando por todo mal que fez às pessoas por pura ganância. Aliás, você é tão egocêntrica, que em nenhum momento perguntou como está o seu filho. Ou melhor: como estava.

Sonoplastia: suspense. Assustada, Solange consegue sentar na cama e enfrenta a outra.

SOLANGE
Como você se atreve a…

ÂNGELA
Seu pobre bebê, aquele que você ia usar pra dar mais um golpe no Marcos, já era.

SOLANGE
Sua vaca, você tá mentindo! Chama o Marcos! Quero que ele me fale, se for verdade.

ÂNGELA
O Marcos? Infelizmente não será possível. Ele se foi.

SOLANGE
Chama meu marido, meretriz!

ÂNGELA
Seu marido está morto. Morreu! Foi pro andar de baixo. Babau! Satisfeita?

Antes que Solange continue falando, Ivan bate à porta e entra. Encara Solange, enquanto fala com Ângela.

IVAN
Com licença. Posso ter uma conversinha com ela, Ângela?

ÂNGELA
Não acho uma boa. Ela acordou uma arara e…

IVAN
Por favor, Ângela.

SOLANGE
Também veio rir da minha desgraça? (Ângela sai) Tá achando que não sei que foi você que armou essa merda?

IVAN
Não armei coisa nenhuma. Por mim estava no sossego do meu lar, bem longe daqui, vivendo como um pai coruja pelo sucesso do Mário. Mas uma certa vagabunda que era noiva do meu filho acabou com minha paz. Tirou tudo o que eu tinha na vida. Se você achou que eu ia deixar barato e ficar chorando pelos cantos, ficou redondamente enganada. Você fez um pai ficar uma fera. Foi tão fácil descobrir os seus podres, minha querida! Foi fácil te seduzir e te usar. Até que você tem talento pra roubar; pra matar; pra mentir. Pena que foi tão burra de achar que ninguém ia descobrir. (ri)

SOLANGE (com ódio)
Mas isso não vai ficar assim, mesmo. Eu vou acabar com você.

IVAN
Nesse estado? Se enxerga. Você está uma peneira de tão furada. Acabou de perder o filho.

SOLANGE
Você me tirou o direito de ser mãe!

IVAN
Direito de ser mãe? É bom perder um filho, não é? Agora sim, estou em paz. Limpei o nome do Mário e te desmascarei. Este é o melhor dia da minha vida, desde que ele se foi. Desejo que você se recupere bem. Não quero perder a oportunidade de assistir à sua condenação no julgamento. Até mais ver… querida!

Ivan sai e fecha a porta. Solange, mais irritada, pega um vaso na mesa de cabeceira e joga-o contra a porta.

SOLANGE (grita)
Maldito!

CENA 07. ESCRITÓRIO SÉRGIO. INT. DIA.

Sérgio e Carlos sentados à mesa, conversando.

CARLOS
A mãe acabou de ligar. Você não vai acreditar. A Solange não está nem aí pro filho e pro marido. Só pensa em se vingar da mãe e do Ivan.

SÉRGIO
Bem, já era de se esperar. Ela não tem sentimentos por nada nem por ninguém.

CARLOS
É, mas agora ela deve pegar uns bons anos em regime fechado, não?

SÉRGIO
Não é totalmente certo de acontecer, mas espero que sim. (pausa) Ah, outra coisa: o Valdir entrou com um processo para que os bens da Bellatex e dos familiares seja devolvido o quanto antes.

CARLOS
Quem sabe assim as coisas não voltam aos eixos?

SÉRGIO
Com a Solange presa… (pausa) Estou faminto. Almoça comigo?

CARLOS
Por que não?

Sérgio fecha a janela de vidro. Ele e Carlos saem e fecham a porta.

CENA 08. HOSPITAL. QUARTO SOLANGE. INT. DIA.

Solange finge tristeza, quando Nágila entra desolada.

SOLANGE
Nágila, você por aqui?

NÁGILA
Precisava te ver, minha filha. Você já soube?

SOLANGE
Já sim. Não sei nem o que dizer. Não achava que o Marcos fosse amar meu filho. Nosso filho. E agora, eu sozinha de novo. Sem o Marcos, e sem meu filho. (chora)

NÁGILA
Você não está sozinha, minha filha. Temos uma a outra. Perdi um grande pedaço de mim, e esse pedaço nunca vou recuperar. Mas tenho você. Quer ser minha filha? Pois é o que você significa pra mim. Uma filha que ganhei desde que apareceu lá na mansão, triste e sozinha com a perda do Mário.

Solange continua a encenação.

SOLANGE
Todos me abandonaram. Até minha irmã.

NÁGILA
Mas eu não, minha filha. Vou ficar com você pra sempre. (abraça-a e chora)

CENA 09. CEMITÉRIO. EXT. DIA.

Letreiro: “Alguns dias depois”. Sonoplastia: Marcha Fúnebre – Chopin. Tempo chuvoso. Diversos personagens em volta do túmulo de Marcos, quase todos vestidos de preto. Raul algemado com dois policiais junto. Nágila e Helena choram abraçadas. Ângela, Sérgio, Carlos, Valdir, Virgínia, Sophia, Sabrina, Letícia, Nelson, Vlad, Vânia também presentes. O padre faz oração. Em seguida, o caixão é colocado dentro do túmulo. Os personagens jogam pétalas de rosas sobre o caixão. O túmulo é fechado. Em seguida, todos vão embora lentamente.

CAM em Sérgio, Carlos e Ângela.

ÂNGELA
O Ivan não quis vir?

SÉRGIO
Não. Foi melhor assim. A família poderia reagir mal, e aí criar uma situação desnecessária. Já basta tudo o que aconteceu.

CARLOS
Solange também não veio.

ÂNGELA
Doutor Valdir nos fez um grande favor em pedir ao juiz que não autorizasse a vinda dela. Aturar a cara de pau da Solange no enterro seria o fim da picada.

CENA 10. HOSPITAL. QUARTO SOLANGE. INT. DIA.

Solange deitada na cama, já mais recuperada. Um enfermeiro e um policial entram.

ENFERMEIRO
Bom dia, dona Solange. Preparada pra voltar pra cadeia?

SOLANGE
Claro que não. Deus me livre de ficar naquela jaula.

POLICIAL
Disso nós já cuidamos. Você ficará numa cela de luxo, separada da moça que te agrediu. Na verdade, ela até já foi liberada.

SOLANGE
Soltaram a macaca? Então vão ter que me soltar também.

POLICIAL (tom)
Vai baixando a guarda, mocinha! Aqui você só canta de galinha depenada, e olhe lá.

SOLANGE
Você vai ver quem é a galinha depenada.

Ela tenta bater no policial, que a esbofeteia e joga no chão.

POLICIAL
Enfermeiro, amarra a bisca na cama. (ele sai)

CENA 11. MANSÃO HELENA. SALA. INT. DIA.

Helena, Nelson, Virgínia, Sabrina, Vlad e Letícia na sala.

HELENA
Não sei se vou suportar mais essa perda. Agora, foi o Marcos. Não há dinheiro ou bens que se comparem à morte de um filho. Hoje, pela primeira vez, consigo entender a dor do Ivan. Minha vontade é passar por cima daqueles que tiraram meu filho de mim. Mas não tenho moral pra fazê-lo. Marcos estava em espírito de destruição, ao contrário do Mário. Tenho que me conformar. Somando à revolta de descobrir que coloquei uma serpente dentro desta casa, e que esta serpente causou as mortes dos dois jovens promissores que eles eram…

NELSON
Não se martirize, Helena. Precisamos viver um dia de cada vez, daqui pra frente.

HELENA
Não, sem antes me desculpar com aqueles com quem fui tola e injusta. Como eu disse, hoje eu entendo os motivos de o Ivan ter se comportado daquela maneira covarde e monstruosa quando manipulou a todos nós. Era o que ele tinha que fazer, pra chegar até a assassina do filho dele. Depois fui covarde com você, Letícia. Eu não tinha o direito de ser tão intolerante com você, quando expulsei você e Ivan. Você é capaz de perdoar esta pobre mãe?

Silêncio. Closes alternados entre Helena e Letícia. Virgínia aparece correndo no alto da escada.

LETÍCIA
É claro que eu te perdoo, Helena.

Elas se abraçam emocionadas. Os demais aplaudem.

CENA 12. APARTAMENTO IVAN. SALA. INT. DIA.

Ivan e Sérgio sentados no sofá. O primeiro com um jornal na mão.

IVAN
(lê) Magda Ribeiro é solta após ser inocentada dos crimes contra a famosa indústria paulistana Bellatex e contra seus proprietários. Responderá em liberdade por agressão e indução ao aborto, cometidos na prisão, após a ação de seus advogados. A verdadeira culpada, Solange Diniz, já foi indiciada por uma série de crimes, como homicídio, roubo, formação de quadrilha e indução ao suicídio. (comenta) Assim que abafarem a morte do Marcos, vou fazer uma bela visita pra minha “querida nora”. Comemorar a vitória no melhor estilo. Ansioso pelo encontro decisivo. Vou ler mais. (lê) O empresário Mário Rangel, morto em janeiro deste ano, também foi inocentado dos crimes atribuídos a ele por Solange. (comenta) Como eu queria que chegasse o dia em que leria esta notícia. E hoje, aqui está. Estou muito orgulhoso de mim mesmo, por conseguir limpar o nome do meu menino. Meu coração está em paz, Sérgio.

SÉRGIO
Essa parte do plano deu certo. Mas deixou raízes de sangue e sofrimento.

IVAN
Dessa parte eu me arrependo amargamente. Não pensa que não. Eu sabia que isso aconteceria, mais cedo ou mais tarde. Mas eu não podia fraquejar, sem chegar ao fim. Não iria me perdoar.

CENA 13. SÃO PAULO. EXT. NOITE.

Letreiro: “Um mês depois”. Sonoplastia: Hard Times – Paramore. Movimentação de pedestres e de transportes nas principais ruas de São Paulo: Avenida Paulista, Rua 25 de Março, Lagoa da Pampulha.

CENA 14. MANSÃO HELENA. SALA JANTAR. INT. NOITE.

Helena, Nágila, Valdir, Nelson, Letícia, Virgínia e Sabrina sentados à mesa. A primeira, na cabeceira.

NÁGILA
Fico constrangida. Sou só uma simples governanta. Não deveria sentar.

HELENA
De jeito nenhum, Nágila. Hoje você é minha convidada. Você também, doutor Valdir.

VALDIR
Muito obrigado, dona Helena.

VIRGÍNIA
Falta mais alguém?

HELENA
Chamei o Ivan e a Magda. Eles já devem estar chegando. Vêm também os convidados dele. Vlad não vem, Letícia?

LETÍCIA
Infelizmente não. Ele teve um evento pra cobrir.

EMPREGADA (entra afobada)
Com licença, dona Helena. Deu na TV que seu Raul e dona Solange fugiram da cadeia.

Carlos, Ângela e Sérgio entram e ouvem o que foi dito. Todos revoltados.

ÂNGELA
O quê? Essa bruxa vai querer atormentar a gente de novo, querem ver?

LETÍCIA
Nem me fala, Ângela.

CENA 15. EVENTO. BANHEIRO MASCULINO. INT NOITE.

Vlad e Sandro urinam. CAM mostra ambos da barriga para cima, de frente. Os dois conversam animados.

SANDRO
E o casamento? Sai pra quando?

VLAD
Vou fazer o pedida amanhã. Se depende de mim, eu casa amanhã mesma.

SANDRO
Você tá amarrado mesmo na estilista, né?

VLAD
A jênchina que me faz sonhar acordada e dormindo também.

SANDRO
Já tô pensando na nota que vou publicar na revista. Posso publicar, não? Te cuida, Alain Delon! A Romy Schneider do século XXI se casa com Ivan Mosjoukine. (ambos riem) Te encontro lá fora.

VLAD
Já vou.

Sandro sai. Vlad vai à pia. Lava as mãos; se abaixa para lavar o rosto. Sonoplastia: suspense. Quando se levanta, surge Solange por trás dele. Vlad se vira.

VLAD (com medo)
Solanja?

Ela corta o pescoço dele com o canivete. Vlad se contorce de dor e cai no chão, com as mãos no pescoço ensanguentado.

SOLANGE
Isso é pra aprender a não se meter comigo.

Solange sai. Vlad tremendo.

CENA 16. RUA DESERTA. CARRO. EXT. NOITE.

Solange entra discretamente no carro em que está Raul.

RAUL
Nossa, você demorou. Sua mão tá ensanguentada. O que você fez?

SOLANGE
Acabei com a raça do namoradinho russo da Letícia. Agora faltam aqueles dois que foderam com minha vida. Quero a cabeça de cada um! Ouviu, Raul? A cabeça!

RAUL
Eu te ajudo.

SOLANGE
Acho bom. Ou arranco suas tripas por tudo que é lado.

Raul apavorado. Solange liga o carro e sai com ele.

CENA 17. MANSÃO HELENA. SALA. INT. NOITE.

Letícia chora abraçada a Nelson, pelo que aconteceu com Vlad.

LETÍCIA
Não! O Vlad, não!

SÉRGIO
Infelizmente é verdade, Letícia. Sorte que o Sandro Cortez esqueceu algo no banheiro, voltou e achou o Vlad. Por sorte, foi socorrido logo. Ao que se comenta, viram uma mulher loira sair pelos fundos, logo depois do incidente. Tudo indica que seja a Solange.

ÂNGELA
Nenhum de nós está seguro com ela à solta.

LETÍCIA
Minha vontade é de acabar com a raça daquela… Nem sei o que faço se o Vlad…

NELSON
Filha, calma. Ele vai se recuperar.

ÂNGELA
Confia, Letícia. Jesus tá no poder.

Ivan e Magda entram.

IVAN
Desculpem o atraso. O trânsito estava… (vê Letícia) O quê que aconteceu?

ÂNGELA
Você vai ter que ser muito forte, Ivan.

SÉRGIO
A Solange fugiu da cadeia.

MAGDA
O quê?

IVAN
Aposto que ela deu pra algum policial em troca da liberdade. Mas por que a Letícia está nesse estado?

SÉRGIO
Alguém tentou matar o Vlad.

IVAN (revoltado)
E ela fez o serviço, não foi? Até quando essa mulher vai continuar a prejudicar todo mundo? Me digam: até quando?

HELENA
Espero que a peguem o quanto antes e coloquem num presídio de segurança máxima.

NELSON
Não podemos esquentar a cabeça por causa dessa louca. A polícia está fazendo o trabalho dela. Logo, ela e o Raul voltam pro lugar de onde não deveriam ter saído.

IVAN
Ah, o Raul também fugiu? Essa é muito boa!

CENA 18. SÃO PAULO. EXT. DIA.

Sonoplastia: Cremoso – César Camargo Mariano. Amanhece. Imagens do trânsito fluindo na estrada dos Bandeirantes.

CENA 19. APARTAMENTO IVAN. SALA. INT. DIA.

Ivan sentado na poltrona, olhando atentamente ao quadro de Mário. Sérgio fala com Ivan.

SÉRGIO
Ivan, você não quer deitar um pouco? Tirar um sono? Está assim desde que voltamos da Helena. Não para de olhar pro Mário.

IVAN (cabisbaixo)
Me deixa, Sérgio. Estou pensando numa maneira de impedir que…

SÉRGIO
O que é que você pode fazer? Matar a Solange? O Raul?

IVAN
Não tinha pensado nisso. Mas se for necessário?

SÉRGIO
Você está enlouquecendo por causa deles dois. Ivan, esquece a vingança de uma vez por todas e volta pra sua terra. Você está cavando sua sepultura ao lado do Mário, insistindo contra a Solange.

IVAN
Não vou desistir antes do fim. Se não quer me ajudar, eu faço tudo sozinho. E ai de você se tentar me impedir. Ai de você. Quando sair, tranca a porta e deixa a chave com o porteiro.

Ivan levanta da poltrona e sai de casa.

SÉRGIO
Ivan, aonde é que você vai? (fala sozinho) Mário, de onde você estiver, me ajuda a acertar a cabeça do seu pai.

CENA 20. PRÉDIO IVAN. GARAGEM. INT. DIA.

Ivan anda por entre os carros. O celular toca. Sonoplastia (até a cena 22): suspense. Ivan lê a mensagem: “Me encontre no zoo. Na jaula do leão. Nem pense em faltar. Temos contas a acertar. Solange”. Guarda o celular e entra no carro, confiante no que vai fazer.

CENA 21. CASA ÂNGELA. SALA. INT. DIA.

Carlos ao telefone com Sérgio.

CARLOS
Ele perdeu a cabeça!

Ângela vem do corredor mexendo na bolsa. Fala com Carlos sem vê-lo.

ÂNGELA
Filho, vou indo pro zoológico. Qualquer notícia da cascavel, me liga. Beijo!

CARLOS
Mãe, volta aqui! (ela sai; ele volta ao fone) Era minha mãe. Saiu sem me dar atenção… Me deixa informado… Até! (desliga)

CENA 22. JARDIM ZOOLÓGICO. FRENTE. EXT. DIA.

Ivan para o carro em frente ao local. Sai do veículo e entra no zoológico. Olha de um lado e de outro. Segue em frente.

CENA 23. BELLATEX. SALA HELENA. INT. DIA.

Helena e Magda conversam.

HELENA
Nem tive tempo de conversar com você ontem, devido aos acontecimentos. (pausa) Pedi pra você vir aqui à Bellatex, porque está um alvoroço lá em casa. Não quero que outras pessoas interfiram no que temos a conversar. Magda, sinceramente eu não sei como lhe pagar por todo mal que Solange e eu te fizemos. Fui fraca, covarde e leviana em aceitar cegamente as graves acusações contra você, com base em provas que a Solange forjou. Coloquei uma mulherzinha miserável dentro da minha casa, e o que ela me fez? Me tirou tudo aquilo que amo ou admiro. Não sei se um dia você vai poder me perdoar. Só quero que saiba que eu estou humildemente arrependida por tudo.

MAGDA
Dona Helena, eu fiquei muito decepcionada com a senhora sim. Sempre fui fiel, dedicada, profissional. Não merecia ser tratada como uma bandida.

HELENA
Você tem todo o direito de se sentir assim. Pode me processar, se quiser. Mas se puder me perdoar, eu te ofereço a vaga de volta. Você sempre foi a secretária mais dedicada e eficiente com quem já trabalhei, desde que pisei pela primeira vez na Bellatex. (pausa) Vou dar um tempo pra você pensar no que eu disse. Não precisa me responder agora. Só queria mesmo mostrar o quanto estou envergonhada por ter humilhado você.

CENA 24. JARDIM ZOOLÓGICO. JAULA DO LEÃO. EXT. DIA.

Sonoplastia (até a cena 26): suspense. Ivan anda lentamente pelo local. Vê a jaula vazia. Entra. Dá meia volta, ao ouvir o portão fechar. Vê Raul à sua frente. Ivan se assusta.

RAUL
Temos muito o que acertar. Não pensa que esqueci que foi você que plantou a Eva de volta. A troco de quê? De uma vingancinha barata a favor do cretino do seu filho? Mexeu com gente muito maior que você.

IVAN (ri)
Você maior do que eu? Tenho muito mais o que fazer.

Ivan tenta se afastar, mas Raul coloca uma arma na sua cabeça.

RAUL
Ainda não terminei! Você também fez meu filho ser morto.

IVAN
O Marcos queria me matar. (pausa) Então… é bom perder o filho, não é? Saber que nunca mais vai poder vê-lo; dar um beijo de boa noite; perguntar como foi no trabalho; jantar com ele; tirar fotos. Talvez isso o transforme em um homem de verdade.

RAUL
Quem você pensa que é pra me dar lição de moral?

IVAN
Quem eu penso que sou? Não, eu sou mesmo. Sou o pai do homem que você degolou naquele apartamento por ciúmes da Solange.

CENA 25. APARTAMENTO MÁRIO. SALA. INT. NOITE. (FLASHBACK)

Mário sentado no sofá, chorando compulsivamente. Levanta-se. Anda de um lado a outro. Alguém abre a porta.

MÁRIO
Solange, você voltou? (vira-se; vê Raul) Raul? Fora da minha casa!

RAUL
Não sem antes te dar uma lição, seu moleque!

Antes que Mário fale alguma coisa, Raul (de luvas pretas) faz um corte enorme na garganta com uma faca. Mário cai morto. Raul prepara a cena do crime para parecer suicídio. Quando termina, fala sozinho.

RAUL
Isso é pra você nunca mais se meter com minha amante.

Raul apaga a luz e sai do apartamento sorrateiramente.

CENA 26. JARDIM ZOOLÓGICO. JAULA DO LEÃO. EXT. DIA.

Continuação da cena 24.

IVAN
Meu filho estava desconfiado de você. Por isso ele morreu. Queima de arquivo, não é? Você e Solange sempre foram amantes. Disfarçavam muito bem na mansão, que é para a sua família não descobrir.

RAUL (grita)
Cala a boca!

IVAN
Foi por você que a mãe da Solange teve um infarto e morreu. Apareceu encapuzado e matou o namorado da pobre mãe. E tem mais: era o principal interessado nos roubos que ela praticava. Só estava esperando a hora certa pra se livrar dela, e botar a mão na fortuna. Só não contava com o papai aqui. Acabou, Raul. Você já era.

Antes que Ivan complete a frase, Raul destrava a arma e põe o dedo no gatilho.

RAUL (grita)
Vai pro inferno, Ivan Rangel!

Quando Raul está para apertar o gatilho, um facão atravessa o peito dele de trás pra frente. Raul solta a arma e cai lentamente aos pés de Ivan. Morre. Ivan assustado.

SOLANGE
A prosa agora é comigo.

Closes alternados entre Ivan e Solange.

Efeito de fim de capítulo: imagem congela em Ivan. Sonoplastia: rugido de leão.

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