Você está lendo:

Capítulo 02

CENA 01. MANSÃO IVAN. SALA JANTAR. INT. DIA.

Continuação imediata da última cena do capítulo anterior. Ivan perturbado com o sumiço dos familiares da foto; prestes a chorar. Coloca a foto dentro da caixa. Alberto entra.

ALBERTO
O doutor está bem?

IVAN
Estou sim. Foi só uma sensação ruim. Já vai passar.

ALBERTO
Olhando essas fotos de novo? Isso não faz bem pro senhor.

IVAN
É… pensando bem, vou guardar essa caixa. (mais animado) Aproveita e arruma um almoço caprichado pra mim, que eu já volto.

Ivan se levanta. Sai com a caixa.

CENA 02. APARTAMENTO SOLANGE. QUARTO. INT. DIA.

Solange e Pedro nus na cama, cobertos com um edredom.

PEDRO
Hoje você caprichou, hein!? O Mário não tem dado no couro, não?

SOLANGE
Aquilo lá é um broxa. Todo cheio de carinhos, de mimimis. Barata morta. Não serve nem pra agradar uma mulher. Ele se acha, mas sou eu que finjo que tô gostando. (pausa) Falando nisso, o babaca vem me buscar. Vamos jantar lá na dondoca.

PEDRO
E você “toda toda” pra isso.

SOLANGE
É a chance de fazer meu jogo. Não posso falhar.

PEDRO
E eu vazo, que é pra ele não me pegar aqui.

SOLANGE
Sim, mas não sem antes a gente fazer mais uma.

PEDRO
Só se for agora.

Sonoplastia (até a cena 03): Gypsy – Gretchen. Mais um beijo tórrido entre eles.

CENA 03. MANSÃO HELENA. FRENTE. EXT. NOITE.

Anoitece. Imagens da fachada da mansão.

CENA 04. MANSÃO HELENA. SALA. INT. NOITE.

Helena, Marcos, Letícia e Virgínia conversam na sala.

HELENA (aos filhos)
Vocês acreditam que o pai de vocês resolveu me pedir quinze mil reais, para agradar mais uma amante?

VIRGÍNIA
Acredito. Ele também veio me pedir.

HELENA (irritada)
Como é que é? Não, seu pai não fez esse disparate com você, minha filha. Fez?

Nágila, a governanta, entra.

NÁGILA
Com licença, dona Helena. Doutor Mário e dona Solange acabaram de chegar.

HELENA
Mande-os entrar.

NÁGILA
Com licença.

Nágila vai à porta, abre e espera os convidados. Enquanto isso, Helena continua com a filha.

HELENA
Um homem velho daquele querendo se dar bem com a sua mesada, filha? Não é possível! Isso me dá uma raiva. (para o filho) Marcos, não seja assim quando casar com sua noiva, pelo amor de Deus. Ex-marido é um peso na vida de uma mulher.

LETÍCIA
Ele não será, Helena. Pode ter certeza.

Mário e Solange entram. Ela fica encantada com a casa. Finge simpatia. Helena se aproxima e cumprimenta os dois.

HELENA
Seja bem vinda, querida! Como vai, Mário? Entrem.

SOLANGE
Sua casa é um sonho, Helena.

HELENA
Espero você mais vezes. Seremos muito amigas, se depender de mim.

Closes alternados entre Solange e Helena, sorridentes.

CENA 05. BOATE. INT. NOITE.

Boate cheia de gente – muitas mulheres. Ambiente agradável. Pianista toca jazz. Raul e Nelson bebem whisky, de pé e encostados no balcão.

NELSON
Onde você conseguiu esse terno novo?

RAUL (mente)
Sabe como é, amigão… A Helena me deu dinheiro. (ri) Resolvi inaugurar aqui num lugar gostoso, com gente bonita. (bebe) Repara só naqueles dois piteuzinhos.

Aponta para duas moças atraentes, do outro lado da boate, cheias de maquiagem e com roupas curtas. Elas sorriem para eles.

NELSON
Nossa, que mulheres!

RAUL
Tão no papo. Você me ajuda… Olha, elas estão vindo.

MULHER 1
Até que enfim alguém interessante nesse lugar. E aí, tá a fim de quê?

RAUL
Qualquer coisa fora daqui. Conheço um lugar ótimo pra nós quatro.

MULHER 2
Eu topo.

Os quatro sorriem. Raul sai abraçado a uma mulher de cada lado. Nelson paga a conta e sai atrás.

CENA 06. MANSÃO HELENA. SALA JANTAR. INT. NOITE.

Helena sentada à beirada da mesa. Os demais estão em volta.

HELENA
Vamos fazer um brinde às boas novas da Bellatex, o sustentáculo e a base sólida de nossa família. Um brinde também à indicação do Mário, à presença da sua noiva, e aos futuros casamentos que vão reinar entre nós. Mário e Solange, Marcos e Letícia.

Todos brindam com as taças; bebem o champagne nelas. Segundos depois, Solange toma a palavra.

SOLANGE
(fingida) Me sinto muito privilegiada por poder participar desta noite tão especial para meu amado Mário. (beija-o) Te amo muito.

HELENA
Seu pai vem ao evento, Mário? Gostaria muito de conhecê-lo.

MÁRIO
Estou fazendo de tudo para convencê-lo, mas ele é muito tímido com essas coisas.

SOLANGE
E teimoso. Acredita que nunca vi nem a cara do meu sogro, Helena?

HELENA (sorri)
Ele deve ter seus motivos. Desejo que os próximos casamentos sejam tão felizes e mais duradouros que o dele.

VIRGÍNIA (alfineta)
Acho muito linda uma história como a de seu pai, Mário. Não há casamento de tijolo que possa durar mais que um amor verdadeiro.

HELENA
Sobre o que você está falando, filha?

VIRGÍNIA
De casamento de aparências, mãe.

Closes alternados entre as duas. Helena prossegue, mudando de assunto.

HELENA
Seu pai não quis vir, Letícia? Só espero que não tenha se enfiado nas invenções do Raul. Gosto muito do seu pai, mas ele tem esse único defeito.

LETÍCIA (sem graça)
É… você acertou.

A conversa continua em FADE.

CENA 07. SÃO PAULO. EXT. NOITE.

Letreiro: “Alguns dias depois…”.

Sonoplastia: Atlântida – Rita Lee. Flashes de imagens do fluxo de carros no engarrafamento nas ruas.

CENA 08. BELLATEX. SALA DE ESPERA. INT. NOITE.

Helena sai de sua sala, terminando mais um dia de trabalho. Despede-se de Magda. Anda em direção ao elevador. Nelson entra apressado para falar com ela, em tom sério.

HELENA
Nelson, aconteceu alguma coisa? Parece preocupado.

NELSON
Sim, Helena. É algo muito grave. Prefiro que saiba antes da… Vamos à sua sala.

HELENA
Estou ficando assustada.

Eles vão apressados à sala dela. CORTE RÁPIDO.

CENA 09. BELLATEX. SALA HELENA. INT. NOITE.

HELENA (horrorizada)
Rombo?

NELSON
Cinco milhões de dólares! Pelo site do banco. Transferido num dia e sacado no outro.

HELENA
E você imagina quem possa ter feito isso? Algum hacker, sei lá?

NELSON
Infelizmente já temos o nome. E você não vai gostar nada de saber quem é.

HELENA
Fala logo, já estou aflita.

NELSON
Mário Rangel.

Sonoplastia: suspense. O nome cai como uma bomba. Helena fica sem reação, pálida. Põe a mão na boca, não acredita no que ouve. Anda até a cadeira. Senta.

CENA 10. MANSÃO IVAN. SALA. INT. NOITE.

Sala grande e com vários vasos de plantas. Ivan sentado no sofá, pensando na vida. Assiste ao jornal na TV. Desperta com a notícia que é iniciada.

JORNALISTA
Procurado pela polícia! O administrador carioca Mário Rangel é acusado de desviar cinco milhões de dólares das contas da Bellatex, importante indústria têxtil daqui de São Paulo…

Ivan fica revoltado e fala com a televisão.

IVAN
Como é que é? Meu filho jamais faria uma bandidagem dessa! Onde já se viu?

Desliga a TV pelo controle remoto. Alberto entra.

ALBERTO
Aconteceu alguma coisa, doutor?

IVAN
Aconteceu. Estão inventando coisas sobre meu filho. Um roubo de milhões lá onde trabalha.

ALBERTO
Devem ser boatos espalhados por gente invejosa. Amanhã mesmo se esclarece. Esses jornais aumentam demais.

IVAN
É uma acusação muito séria pra se fazer num jornal, você não acha? Vou ligar pro Mário.

Ivan se levanta e vai até a mesinha onde está o telefone.

ALBERTO
Nesse estado o senhor só…

IVAN (corta)
Eu sei o que estou fazendo, Alberto.

CENA 11. APARTAMENTO MÁRIO. SALA. INT. NOITE.

Mário e Solange também assistiram ao jornal. Estão de pé, perto do sofá. Solange finge que está decepcionada com o noivo e que chora.

SOLANGE
Então é verdade?

MÁRIO
Verdade, o quê? Solange, não fiz nada disso. Você não pode acreditar nesse jornaleco.

SOLANGE (esbofeteia-o)
Como você pôde, desgraçado?

MÁRIO (desespero)
Solange!? Eu não fiz isso! Acredita em mim!

SOLANGE
Roubar os próprios patrões? Com certeza você ia me envolver nessa sujeita, não ia? Eu pensei que fosse casar com um homem, e não com um traste. Sai da minha frente, porco maldito!

Solange sai correndo do apartamento. Mário tenta correr atrás dela. Também sai pela porta, mas volta logo. Está arrasado. Senta no sofá e chora compulsivamente. O telefone toca: é Ivan. Mário não o atende.

CENA 12. MANSÃO IVAN. SALA. INT. NOITE.

Ivan fica ainda mais aflito quando seu filho não o atende.

IVAN
Não atende! Alberto, pega a lista telefônica na gaveta do meu quarto, vou pegar o número de algum vizinho, de qualquer pessoa.

ALBERTO
Doutor, não acho que…

IVAN (grita)
Vai logo!

ALBERTO
Sim, senhor.

Alberto sai. Ivan continua tentando ligar para o filho.

CENA 13. MANSÃO HELENA. ESCRITÓRIO. INT. NOITE.

Helena está muito chocada e decepcionada com a situação de Mário. Sentada à mesa. Nelson e a filha Letícia estão perto dela. Marcos está de pé, revoltado.

HELENA
Que decepção! Achei que pudesse confiar nele. Mário era como um filho pra mim. Tinha tantos planos para ele e Marcos liderarem a empresa, continuarem a nossa história, depois da minha morte. E agora isso.

NELSON
Nem sempre se pode adivinhar o caráter daqueles que estão ao nosso lado.

LETÍCIA
Não sei. Acho essa história muito mal contada.

NELSON
Está tudo certo, minha filha. Já existem provas contra ele. O rombo foi feito da conta dele no computador da noiva, sem ela saber de nada. Ela foi mais uma vítima, coitada.

MARCOS
Mas isso não vai ficar assim não. Já sei o que vou fazer. Vou acabar com ele.

Marcos sai furioso. Letícia sai também, e tenta demovê-lo da ideia.

LETÍCIA (voz, grita)
Marcos, volta aqui!

Sem sucesso e aflita, ela volta.

LETÍCIA
Era só o que me faltava!

HELENA
Nelson, chama o motorista e corre atrás do meu filho, antes que ele faça uma loucura!

NELSON
Agora mesmo.

Nelson sai correndo. Desesperadas, Helena e Letícia seguram uma a mão da outra.

CENA 14. APARTAMENTO MÁRIO. GARAGEM. INT. NOITE.

Solange sentada na moto. Comemora o sucesso do plano com Pedro, pelo celular.

SOLANGE
Fala, gostoso! Deu tudo certo. Acabou de passar na televisão. Mário enrascado com a polícia, e eu aqui de coitadinha enganada. (gargalha) O dinheiro? Está bem guardado, comigo. Agora, começa a parte dois… Que parte dois? O filho da megera, esqueceu? (pausa) Pode dar os parabéns pra mim. Daqui a pouco. Na cama.

Desliga o celular e sai do prédio de moto.

CENA 15. APARTAMENTO MÁRIO. SALA. INT. NOITE.

Mário ainda aos prantos. De repente, outro toque. É uma mensagem de Marcos: “Você roubou minha família e agora eu mesmo vou dar o que você merece, ladrão de merda. Estou indo aí pra te matar.”. Mário se desespera ainda mais. Apaga a mensagem. Em seguida, recebe nova ligação de Ivan. Mário atende aos prantos.

MÁRIO
Pai?

IVAN (telefone)
Que bom que você atendeu, filho! Já estava…

MÁRIO (corta)
Pai, me ajuda! Estão me acusando de…

IVAN (telefone)
Filho, se acalma. Já sei de tudo. Estou indo aí te ajudar…

MÁRIO (corta)
Não adianta! Estão todos contra mim. Até a Solange, pai.

IVAN (telefone)
Mas eu estou do seu lado. Filho, não faça nada até eu chegar. Amanhã cedo já estou aí em São…

MÁRIO (corta)
Não, pai. Por favor, não sai daí.

IVAN (telefone)
É claro que vou. Não vou te deixar sozinho numa hora dessa. Vamos sair dessa juntos e esclarecer essas acusações. Filho, me espera.

Mário desliga o celular, ainda aos prantos.

CENA 16. PRÉDIO MÁRIO. FACHADA. EXT. NOITE.

Sonoplastia: suspense. Um carro preto para em frente ao prédio de classe média alta, do outro lado da rua. Marcos desce nervoso do carro. Ensaia atravessar a rua, mas vê o carro da polícia parar perto dele. Dois policiais civis saem do carro e entram no prédio.

CENA 17. PRÉDIO MÁRIO. ANDAR APARTAMENTO MÁRIO. CORREDOR. INT. NOITE.

Os policiais saem do elevador e vão à porta de Mário.

POLICIAL 1
Mário Rangel, é a polícia! Abre essa porta!

Não obtém qualquer resposta, nem ouve barulho de dentro.

POLICIAL 1
Abre essa porta, Mário Rangel!

Marcos sai do elevador e chega perto dos policiais.

POLICIAL 1
Quem é o senhor?

MARCOS (mostra RG)
Marcos Albuquerque Diniz Torelli, amigo de Mário. Vim tentar convencê-lo a se entregar.

POLICIAL 2
Se afaste e fique aí fora, por favor. (pro outro policial) Vamos arrombar.

A polícia arromba a porta.

CENA 18. APARTAMENTO MÁRIO. SALA. INT. NOITE.

As luzes estão apagadas. Os policiais acendem as lanternas e entram na sala.

POLICIAL 1
Mário, você está aqui? Apareça!

Os policiais procuram por um tempo, até que um deles encontra algo trágico atrás de um sofá.

POLICIAL 2
Meu Deus! Olha aqui!

Sonoplastia: suspense. Com as lanternas, iluminam Mário. Está morto com corte no pescoço e com uma faca ensanguentada na mão. Fim de sonoplastia.

Marcos entra e vê a cena, chocado. De repente, o telefone toca. O policial 1 vê “Pai” escrito no celular.

POLICIAL 1
É o pai do rapaz.

MARCOS
Posso atender?

POLICIAL 1
Não, de jeito nenhum. Não pode mexer na cena do crime. (pausa) O pobre homem mal imagina o que acabou de acontecer aqui.

O policial 1 encontra uma carta sobre a estante.

POLICIAL 1
Evidências de suicídio. Ele escreveu uma carta de despedida.

MARCOS
Meu Deus!

Uma jovem vizinha com uma camisa de banda de rock aparece na porta com um telefone sem fio. Olha assustada, mas não vê o corpo.

VIZINHA
Com licença. Estão ligando pro rapaz daí. Ele está? É o pai dele.

MARCOS
Deixa eu atender.

A moça entrega o telefone a ele.

CENA 19. MANSÃO IVAN. SALA. INT. NOITE.

Na sala, as malas de Ivan estão prontas. Ivan muito preocupado ao ser atendido por Marcos. Alberto ao lado do outro.

IVAN
Quem está falando? O Mário está?

MARCOS (telefone)
Boa noite. O senhor é o pai do Mário?

IVAN
Boa noite. Sou eu mesmo. Passa pra ele, por favor.

MARCOS (telefone)
Não vai dar.

IVAN (mais aflito)
Pelo amor de Deus, preciso falar com ele. Por favor, passa…

O policial entra na linha.

POLICIAL 1 (telefone)
Boa noite. Aqui é da Polícia Civil de São Paulo. Lamento muito informá-lo, mas… acabamos de encontrar seu filho morto!

Sonoplastia: suspense. Ivan entra em choque. Arregala os olhos, fica pálido. Close no rosto de Ivan.

EFEITO DE FIM DE CAPÍTULO: imagem congela. Sonoplastia: rugido de leão.

A Widcyber está devidamente autorizada pelo autor(a) para publicar este conteúdo. Não copie ou distribua conteúdos originais sem obter os direitos, plágio é crime.

Pesquisa de satisfação: Nos ajude a entender como estamos nos saindo por aqui.

Leia mais Histórias

>
Rolar para o topo