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Episódio 6 (último)

FINAL

O que estou fazendo aqui? Onde está Ariel? Ariel! Ariel! Cadê você, Ariel? O que está acontecendo. Não vejo Steve. Não vejo os girassóis. Que merda é essa, porra! Controle-se, Margareth. Controle-se! Você precisa se acalmar, retomar de onde parou. Precisa descobrir o que está acontecendo? Não estou em nenhum jardim de girassóis e não vejo a XP526. Eu me lembro da mensagem, de viajar com Ariel na minha nave, da apresentação no Centro Científico. Meu Deus! Kaleb! Sinto que conheço esse lugar, eu já estive aqui.

“Claro que esteve, Margareth. Olhe ao redor das construções. ”

“É você, Ariel? O que aconteceu? Que lugar é esse? ”

“Não se lembra mesmo, amada. Faça um esforço. Creio que se lembrará de onde está. Mas precisa se esforçar. ”

“Eu fiz minha apresentação no Centro Científico e depois fui para casa. Recebi uma mensagem de Steve….espere…eu desci na terra para encontrá-lo e …”

Meu Deus! Eu estou na terra. Não vejo nada no breu da noite. Não consigo enxergar o lugar exato em que estou. Que frio é esse? Esse traje não me ajuda muito. Estou sem o traje? Ariel me convenceu de tirá-lo para sentir o sol e a brisa do planeta. Desgraçado! Você me enganou! Estou começando a entender o que está acontecendo aqui. Maldito Kaleb!

“Isso mesmo, Margareth. Você está na Terra, com uma roupa comum e sem sua nave. Um presente do Prefeito para você. ”

“Por quê? Eu não estou entendendo essa logística toda só para me mandar até esse planeta miserável. ”

“Não mesmo, amada? Você concluiu que estamos condenados, certo? Mesmo sem pisar no planeta há mais de oito anos, correto? Então Kaleb decidiu prolongar suas férias, para que conclua melhor os seus estudos. Não lhe faltarão dados, isso eu posso garantir. E com sorte encontrará o seu amado Steve.”

“Você me enganou, Ariel? Mentiu para mim. Plantou uma realidade virtual no meu cérebro.”

“Não é nada pessoal. Você foi longe demais. Têm muita coisa envolvida na atual situação da terra. Estamos em guerra, minha querida.”

“Guerra? Contra quem? Do que está falando, Ariel?”.

“Se tirasse o seu narizinho arrebitado do umbigo perceberia o jogo de poder entre a NASA e ONU. Não podemos permitir que descubram a verdadeira situação da Terra. Não antes da darmos o nosso jeito.”

“Vocês não são cientistas. São burocratas. Precisam de nós para continuar respirando.”

“Tem razão, amada. Mas acredita mesmo que não há divergentes entre vocês? Nem todo mundo se sente confortável com os desmandos da NASA. Alguns dentro da própria Agência desaprovam os projetos dos astronautas da velha guarda. Eles querem vê-los pelas costas.”

“Os cientistas da robótica? Aqueles meninos recém-saídos das fraldas?”

“Bingo! Menina inteligente! Para provar que não somos tão ardilosos assim, quero que procure na sua bota o último presentinho de Kaleb.”

Na minha bota? Isso. No sapato, né? Seu robô maldito! Meu Deus, que escuridão é essa? Que frio é esse? Pelo menos não errei quanto do estudo do clima. Estou radiante! Bingo! Não consigo achar meu pé nesse mato dos infernos! Isso, isso, isso, aqui está, peguei você. O que é isso? Uma arma? Um revólver?

“Exato, Margareth! Um simplório .38. Foi do bisavô de Kaleb. Agora é seu. Vai precisar dele se quiser chegar naquele prédio. ”

“Que prédio? ”

“Aquele”

O que é aquilo? As luzes vão me cegar. O mato está alto e seco. Que lugar é esse? Um hangar da antiga NASA? Eu estou na NASA? Em Houston? ”

“Isso mesmo. Vou deixá-la com seus monstros para entrar na história. Espero que tenha lhe ajudado durante esse tempo que estivemos juntos. Se sobreviver vai causar um grande estrago na Júpiter III. Mas creio que suas chances são de 1%. Mesmo assim lhe desejo sorte. ”

“Não Ariel, você não pode me …”

Que dor! Minha cabeça vai explodir! Minha cabeça, minha cabeça. Socorro!! AAAAAAA…

Tá passando, tá passando, tá passando. Respira sua idiota! Respira, respira, respira. Posso ver o mato daqui. Posso ver o prédio. O que ele quis dizer em chegar até lá? Não vejo ninguém, estou sozinha nesse planeta dos infernos! Que barulho é esse? De onde vem esse roçar de mato? Estão se aproximando devagar. Por que andam tão devagar? São pessoas. Humanos com certeza. A terra continua infestada por gente. Seus olhos estão vazios, sem vida. Parecem mortos, sei lá. Que cheiro horrível! Meu Deus! Estão mortos? Ou pelo menos cheiram como mortos. 

Eles estão muito próximos, não vou tentar contato, não mesmo. Pelo visto não são de muita conversa. Próximos, próximos, próximos demais!!! Um deles me viu! Corre, Margareth! Corre, corre e corre! Nem me lembro da última vez que corri, só sei que estou fora de forma. Têm mais deles lá na frente. Posso sentir o barulho no mato. 

Três deles estão vindo em minha direção. Vão me alcançar se não fizer alguma coisa. Quantas balas tem um Revólver 38? Ariel, seu filho da puta! São oito balas. Tenho certeza disso. São oito, sim! Não dá tempo de ver o tambor. Ele tá na minha frente! Atira, mulher! Atira! BUMMMMMM… que sangue escuro é esse? Parece pus. Corre, mulher! Corre, corre, corre! Tem outro vindo da esquerda. Tenho que deixá-lo bem próximo para acertá-lo na cara. Isso, isso, isso! BUMMMMMM…pronto, pronto, pronto…continua correndo, corre, corre, corre…o outro tá bem atrás de mim. Eles não desistem nunca? Ele está próximo demais, bem perto, muito, muito, muito, muito, perto! BUMMMM…ainda tenho cinco balas. Falta pouco para chegar no prédio. Tomara que a porta esteja destrancada.

Droga, droga, droga! Tem mais um vindo. Essa maldita porta que não abre! BUMMMM… Ela não quer ceder. Que diabo de porta é essa? Isso não é do meu tempo, tenho certeza. As portas não eram tão duras assim. Cadê o desgraçado? Estou te vendo seu Demônio! Venha para a mamãe, venha. BUMMM…. Esse cheiro tá me matando! BUMMM!!! Pronto. A desgraçada abriu. Tenho mais duas balas. Preciso chegar a sala de comunicação. De lá posso tentar entrar em contato com minha equipe na Júpiter III. Vamos nessa mulher! Força! Estamos quase lá.

Subindo as escadas. Sempre encontro uma maldita escada. Como gostaria de extirpá-las da fase do universo. Tanta evolução tecnológica e ainda usamos as malditas escadas. Ops! Tem alguém vindo dali. Puta merda! Esse cara tá deformado! Que bexigas são essas? E esse cheiro de podre vindo de você? Eu não vou tentar me apresentar. Acho que não é de muita conversa. BUMMMM … só tenho mais uma bala. Estou perto, muito perto.

Essa é a sala de controle. Sei que é. Uma astronauta como eu nunca se engana. Nunca! Meu Deus! Esse barulho. Têm mais deles por aqui. Quantos são afinal? Essa porta também não abre. Nem pense em usar sua última bala, tente usar os pés, sua trouxa! PUTTTT…PUTTTT…PUTT… Sua filha da puta! Abre!!! Ele tá perto, tá muito perto! Eu ainda tenho uma bala, só uma … Deus! Deus! Ele está próximo demais!! CLICK … CLICK … CLICK …

“Você se enganou, Margareth. Um revólver .38 não têm oito balas. ”

“Ariel!! Ariel!!!”

Ele tá em cima de mim. Tá tentando me morder. Como é forte! O cheiro de podre não me deixa respirar. Esse cara tá morto! Jesus! Ele tá morto sim!! AHHHHHHHHH…. Eu conheço esses olhos, o contorno da boca, as entradas do cabelo. Steve? É você, Steve? Não, não, não. O que fizeram com você, meu querido?

Ele tá tentando me morder. Parece faminto. Isso é um pesadelo. Um pesadelo! Socorro! Socorro! Socorro! Meu sangue. Estou perdendo todo meu sangue. Ele não vai parar de me morder? AHHHHHHHHHHHHHHHH! Steve!!!

***

“Informe número 3567-4 do BOT Ariel. Missão concluída com sucesso!”

“Afirmativo. Preparando transferência de arquivo e memória.”

“Informe número 3668-9 do BOT Owen. Dados inoperantes. Perda da memória. Impossibilidade de transferência de dados.”

“Recebido. Destruição do BOT Owen em cinco minutos. Vamos sentir sua falta.”

“Foi um prazer servi-los, desligando transmissão. Destruição de Dados feita com sucesso.”

“Obrigado, Owen. Apagando dados.”

“Preparando transferência do BOT Ariel. Fez um bom trabalho, robô. Estamos orgulhosos de você.”

“Sempre às ordens, senhor!”

“Aproximação das bestas em dois minutos. Interferência de dados. Qual a situação, Ariel?”

“Entraram na sala de comunicação. Aproximação em menos de dois minutos.”

“Merda! Reprogramando a transferência.”

“Rápido senhor. Estão em cima de mim.”

“Merda! Merda! Merda!”

 “Sinto dor, Senhor? Essa não … dor, dor, dor, dor … como posso sentir dor? Sou um robô … estão mordendo perto demais … muito perto … faça a transferência. A transferência, senhor … rápido! Rápido! Está doendo …”

 … Beep! Beep! Beep! … Bbrrzz!  “

nhac, nhac, nhac…crac, crac, crac… nhac, nhac, nhac…crac, crac, crac … BURP!

“Ariel? BOT Ariel? Informe sua situação, robô.”

 “Perda de dados e memória. BOT Ariel inoperante. Destruição total dos arquivos em 5,4,3,2, …”

Goiânia, 12 de junho de 2018

Sylvana Camello

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