FAMÍLIA POR ACASO
EPISÓDIO 01
EPISÓDIO ESCRITO POR:
LEONARDO ANTUNES
EPISÓDIO DE HOJE:
“E AGORA?”
CENA 01. RUA DE TERRA DO BAIRRO. EXTERIOR. DIA.
Dia ensolarado. Rua bastante movimentada. Vemos um grupo de cinco amigos caminhando. CAM vai se aproximando e já ouvimos que eles dizem.
LAÍS — Nossa! Mas que calor é esse gente?
VITOR — Sabe o que é isso? É a gordura que tá afetando o teu termômetro interno!
LAÍS — (Cresce) Eu não vou nem me dá ao trabalho de te responder porque tá quente demais pra isso!
DAFNE — Para com isso, Vitor! A Laís tem razão! Tá quente demais mesmo!
EDUARDO — (Olhando pro cel.) De acordo com um aplicativo de meteorologia que eu tenho aqui… Está fazendo 37,6 graus Celsius. (Guarda o cel. No bolso) E se vocês não sabem o que são graus Celsius… Eu explico! Existem três formas de se medir a temperatura/
Vitor o interrompe tapando a boca dele.
THAÍS — Cala a boca desse insuportável, Vitor! Calor desses e ele falando igual não sei o que! Inferno!
VITOR — Vou soltar tua boca, promete que não vai voltar a falar de temperatura?
Ele meneia a cabeça que sim. Vitor então tira a mão da boca dele.
VITOR — (P/Edu) Tava todo colado, né viado?
EDUARDO — (Não entende) Como assim?
VITOR — Tá achando que eu não vi o texto todo aí na tela do celular?!
EDUARDO — Você tá muito enganado ao meu respeito! Eu decorei tudo!
VITOR — (Duvida) Sei.
THAÍS — Voltem pra cena pelo amor de Deus!!!
VITOR — (Reparando o bairro) Esse bairro aqui é um horror! Olha o chão! Não tem nem um mísero asfalto! Isso pra vocês verem o quão miserável é o ambiente em que estamos! Hoje em dia qualquer pobre tem asfalto gente!
LAÍS — Cala boca, Vitor! Você reclama demais!
VITOR — Como se eu tivesse errado, né? Olha a árvore. Tadinha, deve ter morrido de desgosto por ter brotado nesse lugar.
THAÍS — Nisso aí eu tenho que concordar! A coitadinha foi brotar logo num lugar desses num país tão grande!
EDUARDO — Para ser mais exato, o nosso país tem uma extensão territorial de mais de 8 milhões de quilômetros quadrados!
THAÍS — E quem é que quer saber disso gente? No próximo episódio vou falar pro roteirista calar a boca desse garoto insuportável! A sua palavra vai ser caçada, Eduardo!!!
DAFNE — Deixa o menino, Thaís! Ele é a cultura do nosso grupo! Sem ele, nós nunca saberíamos, por exemplo que as joaninhas também são besouros!
LAÍS — Depois disso eu nunca mais conseguir enxergar as joaninhas com os mesmos olhos!
DAFNE — Chega, né gente! Vamos focar aqui. Nós estamos aqui para decidirmos qual vai ser o nosso destino daqui pra frente.
THAÍS — Nosso futuro daqui pra frente? O meu vai ser engravidar de um jogador de futebol!
Todos começam a dar altas gargalhadas e ela não entende.
EDUARDO — Essa foi a melhor do dia!
THAÍS — Posso saber do que é que vocês tanto relincham?
LAÍS — Quem relincha é a senhora tua/
THAÍS — (Corta) Nem se atreva a completar essa frase! Se não eu vou começar a pegar pesado também!
VITOR — Eu não sei qual seria o jogador de futebol maluco que te engravidaria criatura, mas em fim…
THAÍS — Vocês têm é inveja de mim! Eu sou linda, gostosa e principalmente… Sexy! Já vocês…
DAFNE — (Dá um grito poderoso) Chegaaaa!!!
Todos se assustam.
LAÍS — Nossa! Que garganta é essa amiga, arrasou!
DAFNE — Nós estamos aqui para discutir sobre o nosso futuro e não para ficar aí discutindo esse monte de coisas desnecessárias!
VITOR — Ela tem razão, gente! Vai lá, Dafne, fala!
DAFNE — Gente… Nós terminamos o ensino médio a alguns meses e até então nós ainda não tínhamos se visto, correto?
TODOS — Correto!
LAÍS — É difícil ficar longe de vocês! Esse é o grupo do absurdo, gente!
THAÍS — Até parece que está sentindo a falta de alguém! Isso é tudo uma tremenda de uma falsidade, isso sim!
LAÍS — Nossa, Thaís! Que bruta! Quer você queria, quer você não queira eu estou sentindo falta até dessa sua brutaria.
VITOR — Explica logo o porquê dessa reunião nesse bairro asqueroso que eu tô com medo de ser assaltado nessa merda aqui!
DAFNE — Então gente… Eu andei pensando e cheguei à conclusão de que a gente não tem mais porque continuar se encontrando uma vez na vida e outra na morte.
THAÍS — Aonde é que você está querendo chegar com essa conversinha, Dafne?
DAFNE — Eu vou explicar. Aqui nesse bairro tem casas baratas para alugar.
THAÍS — Pera aí. Será que eu estou entendendo o que eu estou entendendo? Você não tá pensando em colocar todo mundo pra morar junto, está?
DAFNE — Sim!
THAÍS — Não! Eu me recuso a morar com esse povo!
EDUARDO — Bruta! Também não é pra tanto, né?
LAÍS — (Indignada) Pois é. Acho que ela tá pensando que a gente tem alguma doença ruim, só pode!
DAFNE — Então gente… Eu gostaria de propor a vocês uma sociedade. Que tal se alugássemos uma casa e morássemos todos juntos?
THAÍS — Isso nunca vai dar certo, gente! Só eu que tô enxergando isso?
DAFNE — Como é que você sabe que não vai dar certo, Thaís? Você nem tentou!
EDUARDO — Eu tô com a Dafne! Esses dias inclusive, eu tenho colocado a cabeça no travesseiro e me perguntado: “E agora? O ensino Médio acabou e eu não tô mais vendo os meus amigos.”.
LAÍS — Confesso que também pensei nisso!
DAFNE — Ótimo! Depois de tanta enrolação, nós estamos finalmente chegando a um acordo. Quem estiver de acordo. Coloque a mão aqui em cima da minha.
Eduardo é o único.
EDUARDO — Vamos, gente?
VITOR — Não custa nada tentar, né?
Vitor coloca a mão.
LAÍS — Não tenho nada a perder mesmo!
Laís coloca a mão.
DAFNE — Só falta você Thaís!
Ela meneia a cabeça que não.
EDUARDO — Anda, Thaís, vem!
LAÍS — Os nossos dias não serão os mesmos sem a sua brutaria!
DAFNE — Concordo! Vem!
VITOR — Falem por vocês!
THAÍS — Tá bom, vai!
Ela coloca a mão.
DAFNE — Sabia que vocês não iam me deixar nessa! Esse é o grupo do…
TODOS — Absurdo!!!
Eles erguem as mãos para o alto e ficam ali felizes. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 02. CASA DOS PAIS DE DAFNE. SALA. INTERIOR. DIA.
Sérgio ali sentado lendo seu jornal. TV ligada. Marta chega da rua com várias sacolas de supermercado.
MARTA — (Reclamando) Ai que peso! Graças a Deus que eu cheguei!
Olha Sérgio que continua a ler o seu jornalzinho.
MARTA — Mas é um imprestável mesmo, né? Não serve nem pra ajudar a esposa com as sacolas!
SÉRGIO — O que, meu amor? Falou comigo?
MARTA — Não, Sérgio! Não falei contigo não! Sim, porque atualmente você não anda com cabeça pra mais nada!
SÉRGIO — É que eu tava aqui concentrado na minha leitura!
MARTA — Tá, Sérgio! Agora será que dá pra você largar essa merda desse jornal e vim aqui me ajudar com essas sacolas!?
Ele se aproxima e pega quase todas as sacolas arrematando.
SÉRGIO — Tá bom, meu amor! Nossa! Mas pra que todo esse mal humor?
MARTA — Por que esse meu mal humor? É culpa do senhor presidente!
SÉRGIO — (Não entende) Como assim a culpa é do presidente, Marta? O cara tá lá no canto dele e você tá aí culpando-o!
MARTA — E você acha que o preço das coisas estarem um absurdo é culpa de quem?
Os dois vão para a cozinha.
CORTA PARA:
CENA 03. CASA DOS PAIS DE DAFNE. COZINHA. INTERIOR. DIA.
Eles colocam as sacolas ali sobre a mesa.
MARTA — Nós moramos num dos países mais caros do mundo, e temos o que de retorno? Nada!
SÉRGIO — Contente-se que isso aqui é Brasil, minha querida! Enquanto a população não acordar, as coisas nunca vão mudar!
MARTA — Verdade! (Indignada) O que mais me mata de raiva nessa casa é o fato de só eu ter que ir ao supermercado e voltar carregada de sacolas! Vocês estão me achando com cara de que? De burra de carga?
SÉRGIO — Meu amor, você sabe que eu não fui contigo porque a lombar tá me pegando hoje.
MARTA — Pelo menos você tem alguma coisa te pegando, já eu… Um mês! Um mês que a gente não faz nada, Sérgio!
SÉRGIO — Calma meu amor! Não é nem meio dia ainda e você está dando piti. Meu bem, você tá ficando viciada em piti!
MARTA — (Grita) E você queria que eu fizesse o que?
Ele recua.
MARTA — Cadê a Dafne? Ela é outra que não me ajuda em nada!
SÉRGIO — Ela foi encontrar com os amiguinhos dela!
MARTA — Como é que é? A minha filha foi se encontrar com aquele pessoalzinho?
SÉRGIO — E o que é que tem ela se encontrar com os amiguinhos dela?
MARTA — Você é lesado ou o que, Sérgio? Você esqueceu que ela tava com aquela ideia louca de morar com aquele povo?
SÉRGIO — Pois é! Então prepare-se pra dá mais piti ainda.
MARTA — Não me diga que ela foi morar com eles e nem me avisou?
SÉRGIO — Ainda não! Mas com certeza ela foi com os amiguinhos ver uma casa para alugar!
CORTA RAPIDAMENTE PARA:
CENA 04. RUA DE TERRA DO BAIRRO. EXTERIOR. DIA.
O quinteto ali sorrindo e conversando fora de áudio.
MARTA — (OFF) Se a Dafne tá pensando que vai morar com aquele pessoal, ela está muito enganada! Nem que para isso eu tenha que acabar com a amizade deles! A minha filha nunca vai morar com eles!
Eles ali conversando e sorrindo fora de áudio. Instantes. Tensão.
CORTA PARA:
FIM DO PRIMEIRO EPISÓDIO