FAMÍLIA POR ACASO
EPISÓDIO 07
EPISÓDIO ESCRITO POR:
RAMON SILVA
EPISÓDIO DE HOJE:
“AS REGRAS DO BAIRRO”
CENA 01. CASA DE SÉRGIO E MARTA. SALA. INT. DIA.
Sérgio ali puxando um ronco no sofá. Anderson jogando no cel. Marta chega da rua.
MARTA — Só sabe dormir, hein, Sérgio!
Ele acorda rapidamente e dá um pulo do sofá.
SÉRGIO — O que é que foi sargenta, Marta?
Reação de Anderson que sorrir.
MARTA — Muito engraçadinho, né, Sérgio? Isso! Vai brincando mesmo! A nossa filha sai de casa pra viver com aquele bando de jovens desmiolados e você aí… Todo esparramado nesse sofá como se nada estivesse acontecendo!
SÉRGIO — E você queria que eu fizesse o que, Marta? A Dafne é adulta! Ela sabe o que é o melhor pra ela!
MARTA — Eu não vou argumentar mais porque isso já foi discutido a alguns episódios atrás.
ANDERSON — (Olhando pro cel.) É, foi mesmo! Eu não estava nos cinco primeiros episódios, mas eu li os textos! Vocês estão falando absolutamente a mesma coisa.
MARTA — Cala boca garoto! Não te mete nisso não!
SÉRGIO — Para com esse drama que a menina foi morar logo ali.
ANDERSON — Logo ali… Vocês é que não sabem as coisas que estão falando daquele bairro.
MARTA — O que tão falando filho?
ANDERSON — Lá tá sendo comandado por milícia!
MARTA — Ai Jesus… E a minha menininha foi morar no meio disso.
SÉRGIO — Calma, meu amor!
MARTA — Como você quer que eu tenha calma, Sérgio!? Só Deus sabe se a minha filha está em perigo ou não!
Fecha em Marta ali aflitíssima. Instantes. Tensão.
CORTA PARA:
CENA 02. CASA DO ABSURDO. SALA. INT. DIA.
Continuação imediata da última cena do episódio anterior. Todos ainda ali morrendo de medo.
JUDITH — É claro que eu não vou matar vocês! De onde você tirou isso garota?
LAÍS — Ah sei lá! A senhora me entra aqui na nossa casa com esses caras armados!
JUDITH — Não se preocupem que eles estão aqui para garantirem a minha segurança!
THAÍS — Então será que dá pra eles abaixarem esse troço!?
JUDITH — Claro!
Ela olha pra eles que acatam o pedido.
EDUARDO — Não me leve a mal… Como é mesmo o seu nome?
JUDITH — Judith! Eu sou a presidenta da associação dos moradores do Recanto!
EDUARDO — Pois bem senhora Judith. Que mal lhe pergunte, o que a senhora está fazendo aqui mesmo?
JUDITH — Vim lhes entregar isso!
Ela passa a Eduardo um folheto.
DAFNE — Mas o que é isso, gente?
JUDITH — Essas são as regras para se viver tranquilamente no Recanto! E detalhe, hein! Caso alguém descumpra com as normas…
Ela passa o dedo no pescoço.
JUDITH — Vamos homens!
Ela sai junto com os dois homens.
LAÍS — Jesus Amado! Aonde é que a gente foi se meter, hein!
VITOR — A minha intuição não falha! Desde a primeira vez que eu coloquei meus limpos e maravilhosos pés aqui nesse bairro que eu tenho ranço! E agora está aí a resposta do meu ranço!
THAÍS — Até que essa Judith me parece ser uma pessoa legal!
DAFNE — Legal? Você só pode ter ficado maluca! A mulher entra aqui com dois homens armados e você ainda me diz que ela é legal? Ah, faça-me o favor, né, Thaís?!
EDUARDO — (Olhando pro folheto) Gente… Mas o que é MIRRE, MIRE.
Judith entra arrematando e todos se assustam.
JUDITH — É, MIRE! Milícia do Recanto! E olhem… Tomem muito cuidado com o que vocês falam… Eu sei de tudo que se passa nas casas do Recanto!
Ela sai dando gargalhadas.
VITOR — Quanto mais eu conheço o povo desse bairro… Mais eu tenho ranço!
CORTA PARA:
CENA 03. CASA DE SÉRGIO E MARTA. SALA. INT. DIA.
Marta ali ao tel. Sérgio ali aflito e Anderson continua a jogar no cel.
MARTA — (Aflita) Nada! Só cai na caixa postal! Será que aconteceu alguma coisa com a nossa filha, Sérgio?
SÉRGIO — Não sei meu amor!
MARTA — O que mais me mata de ódio é essa calmaria que você fica aí!
SÉRGIO — Marta, eu não tenho muito o que fazer! Não vai adiantar nada eu ficar aqui arrancando os meus cabelos!
ANDERSON — Ai vocês tem que brigar por tudo, hein! Agora eu entendo a Dafne. (Cresce) Eu também quero sair dessa casa! É uma coisa tão simples, mas vocês dificultam tudo! Logo que o papai sabe onde é a casa, por que ele não vai lá e ver como estão as coisas?! Viu só, não é tão difícil assim!
Ele vai para o quarto “pistola”. Os pais dele ainda ali surpresos.
MARTA — Nossa! Eu nunca vi o Anderson desse jeito!
SÉRGIO — A verdade tem que ser dita, né? Dessa vez eu tenho que concordar com ele! É a coisa mais simples do mundo. Vou lá ver como estão as coisas!
MARTA — Eu vou com você!
SÉRGIO — Melhor não! Deixa que eu vou sozinho!
Ele sai e Marta fica ali passada.
MARTA — (P/si) É mole uma coisa dessas? É por isso que a gente briga!
CORTA PARA:
CENA 04. CASA DO ABSURDO. SALA. INT. DIA.
Vitor ali na janela com um copo d’água. Dafne e Eduardo olhando o folheto.
DAFNE — É um absurdo isso aí! Essa mulher não tem o direito de mandar dentro da nossa casa!
EDUARDO — Pois é! Mas agora que alugamos a casa, vamos ter que ficar o mês todo!
DAFNE — Não se a minha vida estiver em perigo!
Os dois olham Vitor…
EDUARDO — O que cê tá fazendo aí, Vitor?
VITOR — Tô aqui de olho! Se aquela mulher voltar, eu saio correndo pela porta dos fundos!
DAFNE — Acho uma péssima ideia! Se correr é pior!
VITOR — Gente, eu sinceramente tô repensando se vale mesmo a pena morar aqui.
DAFNE — Relaxa, Vitor… Você não vai deixar essa mulher te intimidar, vai?
EDUARDO — É. Nem parece homem!
VITOR — Vai aproveitando desse meu momento de fragilidade mesmo, Eduardo! Aviso aos navegantes… Quando eu voltar, eu vou voltar com tudo, hein!
DAFNE — (P/Edu) Fica aí vendo o folheto que eu vou ao banheiro! Depois nós temos que ter uma reuniãozinha!
Ela vai para o banheiro e Edu fica ali sorrindo de Vitor que continua na janela. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 05. CASA DO ABSURDO. QUARTO FEMININO. INT. DIA.
Thaís e Laís ali.
LAÍS — É nessas horas que eu mais sofro de ter saído de casa.
THAÍS — Por quê?
LAÍS — Porque a uma hora dessas eu estava em casa comendo aqueles bolinhos de chuva maravilhosos que a minha mãe faz!
THAÍS — Ah tá. E de tanto comer esses bolinhos de chuva, você tá aí parecendo um. Se jogar uma caldinha de chocolate deve ficar uma delícia.
LAÍS — Humm… Ridícula!
THAÍS — Eu tava mesmo pra te perguntar… Você ainda tá jogando no bicho?
LAÍS — Tô! Claro que tô! Semana passada mesmo eu ganhei 500 reais!
THAÍS — Ah é? E que bicho deu semana passada?
LAÍS — Elefante!
THAÍS — Ah tá… Então você acertou por se identificar com a sua família, né?
LAÍS — Olha, Thaís. Eu não vou te responder a altura porque essa abstinência dos bolinhos de chuva da minha mãe tá acabando comigo.
CORTA PARA:
CENA 06. CASA DO ABSURDO. FRENTE. EXT. DIA.
Rua com pouco movimento. A mesma senhora ali sentada olhando o carro de Sérgio que se aproxima devagar… Ele para frente à casa e desce o vidro.
SÉRGIO — (P/si) É aqui! E agora? Eu desço e vou ver como as coisas estão?
Ele abre a porta do carro, chega a colocar um dos pés para fora, mas recua.
SÉRGIO — (P/si) Não! Melhor não! Ela se mudou hoje e não ia gostar nada de me ver lá. Melhor ficar aqui observando.
CORTA PARA:
CENA 07. CASA DO ABSURDO. SALA. INT. DIA.
Edu ali mexendo no cel. Vitor ali na janela.
EDUARDO — Sabe, Vitor…? Eu andei pensando e cheguei à conclusão de que talvez amanhã, nós dois devêssemos sair para procurar emprego, o que você acha?
VITOR — Ah não. Deixa pra outro dia.
EDUARDO — Como deixa pra outro dia? Nós temos que arrumar um jeito de conseguir dinheiro antes que esse aluguel vença!
VITOR — Eu sei! Mas eu só quero relaxar esses dias. Depois a gente vai procurar emprego.
EDUARDO — Quer deixar tudo pra cima da hora, né? Depois fica aí todo desesperado não sabendo como pagar as contas.
VITOR — Olha, Eduardo. Eu só estou falando pra gente deixar pra outro dia porque eu estou passando mal.
EDUARDO — Ah está passando mal, é?
VITOR — Estou! Estou com uma dorzinha no estômago que você nem imagina!
EDUARDO — Sei. (P/si) Típica desculpa de preguiçoso pra não trabalhar!
VITOR — Como é que é? Falou comigo?
EDUARDO — Não! Estava apenas pensando em voz alta.
VITOR — Ah bem.
Fecha em Edu indignado com a preguiça do colega.
CORTA PARA:
CENA 08. BAR DO BAIRRO. INT. DIA.
Bar com pouco movimento. Garçom servindo a mesa em que Judith está. Montanha se aproxima.
MONTANHA — Dona Judith!
JUDITH — Sente-se, Montanha!
MONTANHA — (Se senta) Posso saber o motivo dessa reunião às pressas?
JUDITH — Tenho um trabalho pra você!
MONTANHA — Ah é? E eu vou ter que fazer o quê?
JUDITH — Nada demais! Eu quero apenas que você mais tarde, vá até os novos moradores da rua 9, e os deixe avisados das normas.
MONTANHA — Ué! Mas isso não é a senhora mesma quem faz?
JUDITH — Sim, mas eu não senti firmeza neles!
MONTANHA — Pode deixar! Pode deixar que eu vou botar o Pau pra quebrar!
JUDITH — Que botar pau pra quebrar o quê!? Eu só quero que você converse com eles! Não quero ninguém lá machucado! Algum me diz que nós temos muito a ganhar com aqueles jovens morando no Recanto.
Fecha nela ali que come um petisco que está a mesa. Instantes. Tensão.
CORTA PARA:
ANOITECE.
CENA 09. CASA DO ABSURDO. SALA. INT. NOITE.
Dafne, Eduardo, Laís, Thaís e Vitor ali.
DAFNE — Pois bem gente… Marquei essa reunião aqui com vocês para conversarmos sobre o nosso futuro.
VITOR — Poxa, de novo isso?
THAÍS — É. Você tá falando isso desde o primeiro episódio.
DAFNE — Sim, Thaís. Mas acontece que no primeiro episódio nós não estávamos morando juntos. E quando eu me referia ao nosso futuro, eu estava falando da nossa amizade. Mas agora é diferente! Agora nós somos quase uma família.
LAÍS — Agora eu entendei.
VITOR — E o que que tu mandas?
DAFNE — Eu queria conversar com vocês para deixar todos a par da nossa real situação. Nós só temos grana para o primeiro mês!
Todos começam a falar ao mesmo tempo.
DAFNE — Gente… Gente, assim não dá. Um de cada vez!
Edu levanta o dedo.
DAFNE — Pode falar, Edu!
EDUARDO — Se nós só temos dinheiro para o primeiro mês, o que será da gente no próximo mês?
DAFNE — É justamente sobre isso que eu quero dialogar com vocês.
LAÍS — Pois então vai lá. Diz aí. Eu não vou ficar sem comida!
VITOR — (P/si) Essa gorda só pensa em comida, gente! Impressionante!
DAFNE — Gente, não tem outra alternativa… Se a gente quiser sobreviver juntos… Todos terão que trabalhar!
EDUARDO — Isso inclui todo mundo, hein! Não é pra fazer como na escola. Vocês ficavam à toa enquanto eu fazia todo o trabalho!
DAFNE — Olha, gente. Eu sei que vocês estão cansados de ouvir isso, mas… Eu preciso saber se todos aceitam essa condição? Caso contrário, vamos ter que voltar pra casa das nossas mães!
EDUARDO — Eu tô dentro!
LAÍS — Eu também!
THAÍS — Pra casa eu não volto mesmo!
VITOR — (Olhando pro cel.) É, pode crer!
Fecha em Dafne olhando Vitor que está olhando para o cel. Ela está desconfiada. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 10. CASA DE SÉRGIO E MARTA. SALA. INT. NOITE.
Marta ali sentada aflita. Sérgio chega da rua.
MARTA — Graças a Deus, hein, Sérgio! Você demorou demais!
SÉRGIO — Calma, meu amor! Pode ficar tranquila que está tudo bem.
MARTA — Ah está tudo bem, é? Então por que essa demora toda?
SÉRGIO — É que eu encontrei com o Magno e fiquei batendo um papo com ele.
MARTA — Lindo! Eu aqui morrendo de preocupação e você lá de papinho furado com o seu amiguinho?
Ela vai para o quarto.
SÉRGIO — (P/si) Mulher chata! Não posso nem conversar com os meus amigos!
MARTA — (OFF) Como é que é, Sérgio?
SÉRGIO — Nada não, meu amor! Estava pensando em voz alta!
CORTA PARA:
CENA 11. CASA DO ABSURDO. QUARTO FEMININO. INT. NOITE.
As três meninas ali.
DAFNE — Meninas, eu quero dividir uma coisa com vocês.
LAÍS — O que, amiga?
DAFNE — Na hora em que conversamos, o Vitor foi o único que eu não senti firmeza.
THAÍS — Também achei!
LAÍS — Mas ele vai ter que colocar a mão na massa como outro qualquer!
THAÍS — Verdade! Não tem a menor condição de nós estarmos trabalhando e ele aqui dentro de casa o dia todo coçando saco.
DAFNE — Real!
CORTA RÁPIDO PARA:
CENA 12. CASA DO ABSURDO. CORREDOR. INT. NOITE.
Vitor ali atrás da porta. Ele vai em ponta de pé para a sala. Instantes. Tensão.
CORTA PARA:
CENA 13. RECANTO. EXT. NOITE.
Takes descontínuos do bairro. Campinho ali todo iluminado, bar do bairro cheio. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 14. CASA DO ABSURDO. SALA. INT. NOITE.
Atenção Edição: Ligar no áudio com a cena anterior.
Dafne, Laís, Thaís e Vitor ali sentados mexendo no cel. Todos eles com fone de ouvido, mas não deixamos isso evidente. Alguém bate na porta. Edu vem do quarto.
EDUARDO — Mas como são imprestáveis, né? (Repara algo) Ah… Tinham que está com essa droga de fone de ouvido.
Ele abre a porta e Montanha logo entra rapidamente e todos se assustam e tiram o fone.
THAÍS — Mas o que que é isso, gente? Que invasão é essa?
MONTANHA — É o seguinte… (Vê Edu) Eduardo?
EDUARDO — Montanha? O que você tá fazendo aqui cara?
MONTANHA — Eu vim a mando da dona Judith.
DAFNE — Eu não acredito que é essa mulher de novo!
Laís toda fogosa se aproxima de montanha.
LAÍS — Oi, montanha! Tudo bem com você!
MONTANHA —Tudo! E quem é a delícia?
LAÍS — (Sorrir) Ah obrigada! Eu sou Laís!
Ele beija a mão dela.
MONTANHA — Prazer, Laís!
Ela fica ali toda, toda.
MONTANHA — Bom… Como o meu mano aqui, Eduardo mora nesta casa… Eu não vou dar o choque de ordem. Mas agradeçam a ele! Valeu, Eduardo?
EDUARDO — Valeu!
Eles se cumprimentam. Ele vai até a porta aonde joga um beijo pra Laís e sai.
LAÍS — Mas que homem é esse meu Deus do céu?
THAÍS — Sossega essa bacorinha garota!
VITOR — Quem diria que o Montanha gostava de pessoas cheias.
THAÍS — Que horror, Vitor! Por que você tá falando isso?
VITOR — Porque ele tava no bar com aquelas gostosas e agora tá aí querendo a Laís!
EDUARDO — O Montanha é assim mesmo! (P/Laís) Se tiver querendo alguma coisa com ele, devo logo lhe alertar… Ele é um homem putão! Passa o rodo em geral!
LAÍS — Ai gente… Imagina ele passando o rodo em mim!
VITOR — Uma visão dos infernos! Só se for rolo compressor que ele vai passar em você, né? Assim diminui essa merda dessa barriga!
Laís faz uma careta pra ele.
VITOR — Quem diria que um dia o Eduardo ia nos salvar!
DAFNE — Pois é! Ele é o nosso herói!
As meninas vão abraçar ele que faz uma careta se achando pra Vitor que está sério. Instantes.
CORTA PARA:
FIM DO SÉTIMO EPISÓDIO