Cinco anos se passaram. A cena de Míriam morta ainda assombrava as noites de Atílio. Receava dormir. Não tê-la mais ao seu lado limitava as mais simples tarefas. Lampejos da violência sobrevinham. Insuportáveis. Dormia pouco, isso quando conseguia.
A vida tornou-se pastosa, flácida, sem razão de ser. A falta de entusiasmo chegava a respingar no seu trabalho. A própria diretoria da empresa recomendou-lhe que buscasse ajuda psicológica. Depois de resistir por um tempo, cedeu à pressão. Alguém, enfim, lhe indicou um profissional. Iniciou uma terapia de grupo, o qual era formado por oito pessoas. Todas vitimadas por perdas violentas.
Foi numa quarta-feira à noite que Atílio se apresentou. Cada um ali deveria expor os sentimentos, seus traumas. Ele, retraído, ouvia atentamente os depoimentos. O primeiro a falar foi um senhor chamado Afonso, cinquenta e dois anos. Ele e o filho de quinze anos foram alvo de assalto. O rapaz reagiu. Acabou sendo atingido por um tiro na cabeça. O pai entrou em choque. Só depois de muito tempo conseguiu falar a respeito:
– Lembro-me de meu filho com muito carinho… é, de certa forma, perdoei o assaltante. Fui até conversar com ele na cadeia!
Atílio se contraiu na cadeira.
Outro caso aconteceu com um imigrante boliviano. Depois de quase destruir a casa toda a procura do que levar, o assaltante embolsou uns trocados que o imigrante tinha na carteira. Quando prestes a fugir, a mulher do dono da casa chegou. Segurava no colo a filhinha de quatro anos. Ambas foram mortas com dois tiros:
– Creo que fue el destino. Pero necesitamos más securidad. Es difícil hacer una nueva vida asi…
“Simples assim? É só o que sentem? O filho da p… tira a vida de um ente querido e ainda recebe visitinha na cadeia! E como se não bastasse é perdoado?!” – Pensou Atílio.
O terceiro caso foi o de uma comerciante, quarenta anos. Seu esposo foi morto com uma facada no pescoço. O caso ocorreu próximo à loja onde o casal trabalhava. Assim que percebeu o suspeito rondar a loja, o marido espreitou e tentou render o assaltante. Este reagiu desferindo um golpe mortal. Enquanto narrava com lágrimas nos olhos e um sorriso desconcertado, a mulher disse:
– O que me ajudou foi a igreja. Eu aprendi a perdoar e a continuar vivendo.
“Perdoar? Perdoar um assassino? Era só o que faltava. Onde é que eu vim parar?”
Certo tempo depois, a psicóloga tornou para Atílio e perguntou:
– Poderia nos contar o seu caso, Atílio?
– .. perdi a vontade. Se permite dizer, estou enojado de estar aqui. O que poderia ser pior do que simplesmente aceitar o que aconteceu? Um canalha destrói sua vida e simplesmente é perdoado? Vocês não reagem?
– Não, doutora, não tentam nada. Definitivamente aceitam isso porque são acomodados. Simplesmente não contestam. Não falam nada. E a consequência? Aceita-se o absurdo com naturalidade. A aberração passa a fazer parte da vida comum. Fiquem sabendo que matar não é natural num mundo civilizado…
– Atílio, sabemos disso. Veja, tentamos entender que a vida continua…
– Continua pra quem, doutora? Observe o rosto de cada um aqui. Vê felicidade? Fomos simplesmente esvaziados, doutora. A diferença é que não morremos, estamos no limbo. E aí aparece gente na TV, com cara de santo, dizendo que perdoa o assassino! Ora, faça-me o favor! Sinto muito, não aguento mais essa palhaçada.
Atílio se levantou e deixou o consultório com um sonoro bater de porta. Aquilo foi o suficiente para deflagrar um movimento revoltoso em seu íntimo. Tornou-se um observador atento da situação criminal do país. Todos os dias, assistia aos noticiários de crimes, especialmente aqueles que envolviam assassinatos. Estudava-os metodicamente. Fazia anotações, cálculos estranhos. Entrou em vários grupos de discussão na internet. Começou a frequentar grupos de bairro que se reuniam quinzenalmente para discutir a segurança nas ruas.
Contudo, à medida que o tempo passava, percebia que nada de efetivo era feito. Suas ideias de prevenir e combater a violência, eram tidas como demasiadamente radicais, impossíveis de serem implantadas. Na verdade, as pessoas demonstravam não terem coragem suficiente para executarem uma ação contra o crime. Nem mesmo a segurança pública era capaz de lidar com a crescente onda de assassinatos. Foi quando uma ideia o iluminou:
“Por que não motivar as pessoas a saírem dessa passividade? Chega de sermos cordeirinhos. Temos que reagir.”
A automotivação o fez elaborar um texto de desabafo. Chegou a organizar um abaixo-assinado na internet. Protestou contra a ação violenta dos bandidos e da impossibilidade da polícia de cumprir a lei. Para sua decepção, apenas cinco pessoas aderiram à sua causa. Bem, na verdade, dois, pois três deles se arrependeram. Aquilo serviu para que ele percebesse claramente que a população vivia acuada, temerosa. Sim, era isso! Definitivamente as pessoas eram o alvo e ninguém faria nada a respeito.
“Será que não se dão conta de que podemos virar o jogo? Nós temos a força. Espalharei a informação e conscientizarei todo mundo de que podemos deixar de ser cordeirinhos para nos tornarmos lobos. Juntos, seremos imbatíveis! Chega dessa vida de aflição.”
Contudo, inúmeras tentativas foram feitas para chamar a atenção da população e nenhuma adesão. A decepção sobreveio como nuvem obscura. Atílio, então, decidiu sair para tomar uma cerveja. Havia um bar perto de casa e ao chegar, pediu uma cerveja bem gelada. O atendente abriu a garrafa com gesto malabarístico e encheu o copo. Atílio baixou a cabeça e se introjetou. Cerca de meia hora depois, já cansado de tanto pensar, resolveu deixar o bar. Ao levantar, deparou-se com um amigo da época de adolescência:
– Olha só quem está aqui, meu amigão Atílio!
– Vinicius, como vai?
– Trabalhando bastante, graças a Deus. Prendendo muita gente.
– Prendendo gente? É policial?
– Coronel da polícia militar.
– Huh, Coronel.
– Surpreso? Isso mesmo. Trabalho pra caramba.
– Imagino
– E você… bem, soube da Míriam…
– Melhor deixar pra lá. Tocar nesse assunto agora…
-Tá certo. Senta aí, deixa eu te pagar uma breja.
– Acabei de tomar uma.
– Então, outra. A menos que vá dirigir…
– Estou a pé. Moro perto.
-Então, não tem por que negar. Senta. Fala aí: Como vai a vida?
– Que vida?
– Se tivesse no seu lugar diria a mesma coisa. Acompanhei o caso. Sei que não quer falar sobre isso, mas o canalha está preso, e sairá logo.
– Sério? Ele pegou vinte anos!
– Bom comportamento, Atílio. E ainda por cima, se tiver esquema, sai rapidinho. A gente nem fica sabendo.
– Esquema? Esqu… É isso que eu não aguento mais. De um lado, as leis capengas, do outro, um bando de psicopatas soltos por aí. Tinha que se acabar com essa cambada de…
– Atílio, não é tão simples. O sistema é corrupto. O negócio é pior do que você imagina.
– E por que não mudam isso?
– Não dá.
– Como não? É possível continuar vivendo assim?
– Vai piorar. Meu amigo, pra cada bandido morto, cinco policiais são exterminados. Que policial quer morrer?
– Então, sobra pra população.
– É assim que funciona. Tem muita gente por aí. Desconhecido morto ninguém se lembra.
– Não aceito isso.
– Dá pra ver que você está revoltado. Com razão. Por que não procura uma religião, uma terapia…
– Terapia? Nem fale nisso. Minha terapia seria pôr a mão naquele desgraçado.
– Posso te colocar frente a frente com ele. Acho até que isso te ajudará a superar esse sentimento.
– Faria isso?
– Somos amigos ou não? Claro. Quando você quiser.
– O mais rápido possível. Antes que ele saia da cadeia. Quero entender o motivo…
– Nunca entenderá, meu velho. Pra ser sincero, acho que você deveria deixar pra lá.
– Vinícius, o mundo tá uma merda. Ninguém faz nada a respeito. Pessoas inocentes são exterminadas como insetos.
– Sei disso. O problema está no topo. Bem, isso é assunto pra outro dia. Preciso ir. Quando quiser eu arranjo o encontro lá com o canalha. Me dá o número do seu celular.
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Nossa, virei um eterno fã do Atílio. Que série! Estou curtindo pra caramba!
Melqui!!!! Obrigado. Também sou seu fã. Valeu!!!
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Intrigante! Vários pontos de discussão muito interessantes! É uma escrita fantástica!! Parabéns!
Valeu mesmo , Carla! Você também é uma super escritora,
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Muito bem escrito, muito bem narrado este relato de revolta que todos nós sentimos. Estamos na pele de Atílio, quando a raiva que ele sente, em um mundo sem uma verdadeira Justiça, não leva a parte alguma. Somos reféns da impunidade, somos impotentes frente à criminalidade que assolou este país. Viva, Geraldo! Você escreve com competência!
É verdade, meu amigo escritor. O mundo não está fácil! O interessante é o que acontecerá depois. Obrigado pelas considerações.
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Com poucos parágrafos e linhas de diálogo, consegui imaginar e visualizar a angústia que Atílio está passando, estória muito bem escrita!
Incrível como a angústia nos leva a tomar decisões. Atílio terá que arquitetar muito bem o plano. rsrsrs. Muito obrigado pelo comentário.
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Oi Geraldo . Muito boa sua narrativa como todas !
Espero ver mais textos , diálogos inteligentes como os seus ! abraços
Obrigado, Teresa.
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Obrigado, Teresa.
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Ver inocentes morrendo causa imensa revolta. Atilio é o exemplo do cidadão que não se conforma e busca respostas. Belo capitica, Geraldo.
Verdade, Marry. O duro é nos conformarmos com a aberração na qual vivemos. Atílio quer mudar isso. Será que dá?
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A situação está ficando tensa. Parece que estamos dentro do livro. Parabéns!
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Esse Atilio pensa como eu…perdoar um assassino? Nem pensar …
Difícil, né?
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Oi Geraldo . Muito boa sua narrativa como todas !
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Obrigado, Teresa.
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