Zoológico Municipal de Londres, 1998.

 

Uma mulher de uns 27 anos está passeando com a sua filha de 8 ou 9 anos em um zoológico. Era véspera de aniversário da garotinha e sua mãe queria dar alguma coisa de presente à ela.

A mulher se chama Laurie, usa roupas bem comportadas e carrega um colar de cruz no pescoço, ela está vendo a filha que admirava o aquário daquele lugar.

— Está gostando de ver os peixes, Olivia?

A garota em questão é Olivia quando pequena.

— Sim, mamãe. Estou adorando! Mas eu queria mesmo ver os outros animais, os tigres, leões e todos aqueles que eu vejo no meu livro de ciências.

— Claro, filha! Você vai conhecer todos eles.

— Oba! Oba!

— Calma, não corra! Vai acabar se perdendo.

Alguns minutos mais tarde, ambas estão em um corredor externo dentro do zoológico perto dos animais mais ferozes.

— Mãe, olha, um urso!

— Sim, filha. Grande, né?

— Eu queria ver os tigres.

— Eles estão logo ali, mas não pode chegar muito perto, filha.

A área dos felinos era cercada, mas tinha um portãozinho por qual os tratadores passavam por ali para alimentá-los. Olivia se dirigiu imediatamente ao cercado e ficou os admirando.

Enquanto isso, uma conhecida de Laurie passava por ali.

— Laurie? Que surpresa vê-la!

— Stephanie? A surpresa é toda minha, o que faz aqui sozinha?

— Na verdade eu não estou sozinha, vim com meu irmão e meus sobrinhos, eles estão no corredor do outro lado, insistiram pra eu vir ao zoológico com eles e não soube dizer “Não”.

— Eu imagino, eu vim trazer a Olívia pra conhecer, primeira vez no zoológico e ela tá fascinada com tudo.

— Ai, a tua filha é um amor! Meu sonho era ter filhos igual a Olivia, tão aplicados e tão obedientes.

— Minha Olivia é realmente uma preciosidade pra mim, se não fosse ela, não sei o que seria de mim, viu?

— Eu imagino que não deve ser fácil ser pai e mãe ao mesmo tempo né, amiga?

— Fácil não é, mas… Eu estou dando conta, mas eu fico preocupada, sabe? A Olivia só tem a mim, ela não tem nem avós, o pai… Bom, sabe muito bem a reação que ele teve ao descobrir que eu estava grávida, né? Fico com medo de acontecer alguma coisa comigo e não ter ninguém pra tomar conta da Olivia.

— Laurie, amiga, acho que você está exagerando, não vai acontecer nada com você e nem com a Olivia. E eu tenho certeza que quando ela crescer, será tão boa pessoa quanto a mãe dela.

— Você sempre arruma um jeito de animar meu dia, Stephanie.

— Amigas servem pra isso, né?

Enquanto isso, um tumulto está acontecendo no zoológico e pessoas estão passando apressados pelo corredor, um deles esbarra em Stephanie.

— Ow, o que tá acontecendo?

— Desculpe, mas disseram que tem uma garotinha dentro da ala dos tigres.

— Quê?

Laurie coloca a mão no peito e temerosa diz:

— Olivia!

Minutos depois, já havia uma multidão rodeada na ala dos tigres. Vemos três deles ali bastante furiosos com alguma coisa e a pequena Olívia está frente a frente com eles.

Laurie e Stephanie chegam ali no cercado.

— Olivia! OLIVIA!

Os tigres estão rosnando, então Olivia vira para trás e olha pra cima, ela se afasta ficando ainda mais próxima daqueles três felinos.

— ALGUÉM TIRA A MINHA FILHA DE LÁ! PELO AMOR DE DEUS!

Olivia e os três tigres estão intactos olhando para a frente e para cima, Olivia tira palavras do fundo de seu peito:

— Por favor, deixa a gente em paz!

Quando vemos do ponto de vista dela, uma figura demoníaca com um corpo espectral negro em forma de um manto de 2 metros de diâmetro está flutuando perante a eles. A figura estira um de seus braços gigantescos e deixa a ponta enorme de sua unha ficar bem próxima do rosto da pequena Olivia.

Os tigres dão passos para frente como se estivessem tentando defender a menina. Aquela criatura diabólica sussurra algumas palavras.

— VAI… VAI… VAI CHEGAR… VAI CHEGAR, OLIVIA… VAI CHEGAR.

Laurie percebe que sua filha está com os olhos lacrimejando e olhando para algo que realmente a está assustando, porém eles não conseguem ver.

Olivia ainda encarando a criatura, diz:

— Deixa a minha mamãe e eu em paz!

Quando a criatura está quase encostando a enorme unha na testa de Olivia, ela começa a declamar:

 

Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus.

 

Neste momento, a criatura começou a se retorcer e os tigres começaram a ficar eufóricos. Para aquelas pessoas, eles estavam apenas “brigando com o vento”, mas na verdade os animais também estavam tentando deter aquela criatura. Olivia continua a sua reza:

 

 – Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte…

Ámem!

 

Naquele momento, a criatura se dissipou e Olivia caiu desmaiada.

— OLIVIA! OLIVIA!

Naquele dia, Laurie percebeu que a sua filha era muito mais que uma simples garotinha e que aquele era só o início dos inúmeros eventos sobrenaturais que ela iria passar.

Olhando da grade sem poder fazer nada, Laurie segura a sua cruz no colar com força, e curiosamente, é o mesmo colar por qual Olivia chegou no Sta. Agatha.

— Olivia! Olivia!

 

 

 


OPENING


 

 

 

 

 


              EPISÓDIO 3:

NENHUMA CONDENAÇÃO HÁ


 

 

 

SALA DE REUNIÕES DO STA. AGATHA.

A madre Mary Hellen continua a conversar com as irmãs que estão ali reunidas e muito temerosas com todos os eventos que estão ocorrendo. Uma das irmãs, Mônica, 35 anos, 1,60, uma das poucas freiras negras daquele local, questiona:

— Madre superiora, mas o que realmente está acontecendo aqui no Sta. Agatha? Em 8 anos que estou aqui, nunca vi nada fora do normal.

— Felizmente dentro desses 8 anos que esteve nesta instituição, nada aconteceu, irmã Mônica… Até agora.

Mary Hellen começa a andar por volta da enorme mesa enquanto fala.

— O que houve na noite passada com a dona Judith já aconteceu há mais de 20 anos. Um dos idosos do Sta. Agatha foi… Possuído pelo demônio.

Todas as irmãs começam a fazer orações.

— Sim, sim, irmãs! Não gostaria de ter que falar dessa forma com as senhoras, mas… Eu estava lá. Eu presenciei tudo aquilo, a irmã Irene também pode confirmar, ela já estava no Sta. Agatha.

— Isso é verdade, irmãs… O Mr. Harris parecia um senhor indefeso, mas naquela noite ele matou uma de nossas irmãs.

As freiras ficam ainda com mais medo e cochichando umas com as outras. A madre Mary Hellen tenta colocar ordem na reunião.

— Irmãs, por favor, irmãs! Precisamos tentar agir com cautela e fé daqui por diante.

Uma das irmãs questiona:

— Mas madre… Acabam de dizer que uma irmã foi morta naquela época, quem nos garante que não vai acontecer a mesma coisa?

Uma voz masculina responde:

— Porque dessa vez estaremos preparados.

É o padre Albert que chegara ali.

— Padre?

— Madre? Peço perdão pelo atraso.

— Não tem problema, estávamos apenas começando.

— Bem, a essa altura do campeonato, irmãs, não temos porque esconder de vocês que são membros e o corpo desta instituição. O que aconteceu foi realmente um caso de possessão demoníaca, e infelizmente a senhora Judith foi a vítima da vez.

Todas as irmãs ficam atônitas, Ruth pergunta:

— Padre, vai avisar ao Vaticano sobre isso?

— Ainda não, irmã Ruth. Não ainda pelo fato de que a situação, digamos, está controlada. A Judith infelizmente jaze o pó da terra.

— Mas… E se… E se o demônio que possuiu a Judith não tiver ido embora? Nós vimos como ele agia, e se… Ele ainda estiver vagando pelo Sta. Agatha em busca de alguém?

— É neste momento que iremos usar a nossa fé, irmã Ruth. Era algo que nossa querida madre Dulce, que descanse em paz, diria para nós nessa situação.

Mary Hellen concordando, responde:

— Sim, isso foi algo que eu aprendi com a madre Dulce, precisamos colocar toda a nossa fé em ação, mesmo que as circunstâncias não estejam ao nosso favor.

Irene, meio ríspida, responde:

— Esse é o maior problema, madre Mary Hellen. As circunstâncias nunca estão ao nosso favor.

— Do que está falando, irmã Irene?

— Estou falando do simples fato de que sempre alguém tenta acobertar alguma coisa como se esse lugar fosse perfeito. Por favor, senhoras e senhor padre! Eu vim de um dos asilos de Madalena, vocês devem saber perfeitamente bem o que já aconteceu naquele lugar. Está se repetindo aqui… O espírito maligno que usava as pessoas de Madalena está agindo no Sta. Agatha só que de forma diferente.

O padre Albert pergunta:

— Diferente em que sentido?

— Seja lá o que for isso que está aqui, não está agindo por conta própria, ele precisou de um canal. Precisou de alguém que tivesse um pacto com as trevas pra trazê-lo pra cá. E vocês querem me desculpar pela sinceridade, mas isso começou a ocorrer desde que aquela nova enfermeira chegou aqui.

Mary Hellen, um pouco incomodada com a acusação, a responde:

— Como podes dizer isso, irmã? A Olivia é uma mulher de Deus.

— E quem nos garante? Sabe lá Deus se ela não trouxe o mal pra dentro do Sta. Agatha.

— Está falando bobagens, irmã.

Ruth, do lado de Irene, começa a ficar pensativa e depois indaga:

— Agora eu estou me lembrando… Quando a Judith estava possuída, ela ou ele falou algo citando a senhora, irmã Irene… Por qual motivo?

— E eu sei? Perguntem para o demônio que possuiu a Judith.

Mary Hellen também se lembra do ocorrido e complementa:

— É verdade, eu me lembro disso. Por que ele mencionou logo o teu nome, irmã?

Irene se levanta e, com os braços apoiados na mesa, encara Mary Hellen.

— Está… Me acusando, madre?

— Não estou te acusando de nada, irmã Irene, mas assim como todos, eu também estou confusa quanto…

— … Está me acusando! Assim como todos vocês aqui… Irmã Ruth, você também?

— Irmã Irene, eu…

— … Também pensas assim, padre?

— Irmã Irene, por favor…

— Ha!

Irene dá três palmas e sorri de maneira sarcástica.

— Mais de 20 anos e ninguém aprendeu nada nesse lugar. Olhem só pra vocês! Ficam negando a si mesmas que o pecado existe, que o mal existe! Ficam se escondendo por trás desses hábitos medíocres e não conseguem SEQUER (Ela levanta o tom de voz e bate com uma das mãos na mesa) TIRAR A ESCAMA DOS OLHOS! Quem vocês acham que são? Discípulas da madre Teresa de Calcutá? Nem mesmo a sua santidade, nosso papa, possui um pensamento tão estúpido e retraído como o de vocês. Pensam que cuidar de velhinhos em um asilo de freiras seria o suficiente? Acham que isso é o paraíso? Eu vou dizer uma coisa a vocês: HIPÓCRITAS! TODOS VOCÊS… HIPÓCRITAS!

O olhar de Irene fica cada vez mais transtornado, as irmãs que estão sentadas ao seu lado pensam em até levantar-se dali.

— Vocês falam de usar a fé… Mas estão esperando ver para crer, estão esperando que algo ainda pior aconteça para agirem. “Nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”… Vocês não estão em Cristo há muito tempo, vivem se sustentando a base de mentiras para o seu bel-prazer. E enquanto isso, eu… (Batendo no peito com força), eu vivi o que o próprio diabo plantou. BATERAM EM MIM! CUSPIRAM EM MIM! MACHUCARAM A MIM, TIRARAM O MEU FILHO DE MIM! FUI EXPULSA, ACEITA, EXPULSA DE NOVO E OLHA SÓ ONDE EU VIM PARAR! NO FANTÁSTICO ASILO DE STA. AGATHA! QUE INACREDITÁVEL!

— Já chega, irmã Irene!

— Não, já chega, você! Esse lugar começou a desmoronar desde quando você assumiu a liderança. A madre Dulce era uma mulher bondosa, rígida e que nesta situação, já teria resolvido tudo, você foi apenas a opção que tinha para substituí-la. Porque nunca chegará aos pés dela… Quer saber? Acho que a irmã Ruth tem razão, o demônio ainda não foi embora… Ele está em todas vocês, todas vocês possuem o demônio no corpo e espero sinceramente… Que todas vocês queimem no inferno!

Irene se retira furiosa e deixando todas as irmãs desconcertadas. A Irmã Claudia tenta segui-la.

— Irmã Irene! Irmã Irene, por favor!

No recinto, Mary Hellen sente uma leve tontura.

— Madre, a senhora está bem?

— Estou bem, padre. É que… Não pensei que as palavras da irmã Irene fossem me afetar tanto.

— Eu vou conversar com ela em outro momento, precisamos começar a investigar, esse comportamento repentino dela não é normal.

Enquanto isso, Irene consegue despistar a irmã Cláudia e chega ao seus aposentos furiosa. Ela fica andando de um lado para o outro e então decide pegar algo que esconde debaixo de sua cama. Ela abre um pequeno baú e tira uma moeda antiga de prata dali. Ela fica alguns segundos com a moeda nas mãos.

— Cedo ou tarde a verdade vai vir à tona, preciso dar um jeito de me livrar de tudo isso antes que seja tarde demais.

 

Dias Depois…

 

O inverno está começando a pairar naquele lugar e com ele, as incertezas sobre o que pode acontecer no Sta. Agatha. Desde a reunião com as irmãs e o padre Albert, nada de estranho aconteceu. A madre Mary Hellen não colocou nenhuma advertência na irmã Irene e muito menos na enfermeira Sarah que discutiu com o doutor Petter ou até mesmo com a própria Olivia que é mais uma vítima nessa história.

Mas a verdade é que as coisas estão diferentes aqui, o clima não é mais o mesmo, os dias alegres acabaram e parece que há todo momento, alguém sempre anda desconfiado de tudo, e isso ocorre não apenas entre as freiras, mas também entre os enfermeiros, os idosos e qualquer pessoa que trabalha ali. O Sta. Agatha está perdendo o seu brilho, seja o que foi que aconteceu na noite que Judith foi possuída, deixou sequelas poderosas ali e isso está se refletindo em todos eles.

 

GABINETE PASTORAL- FIM DE TARDE.

O padre Albert e o padre Henry estão ali conversando.

— Agora com esse inverno chegando, a imunidade dos velhinhos fica baixa, e eu me incluo nessa, porque também estou muito velho.

— Haha, escuta, padre Albert. Posso lhe fazer uma pequena observação?

— Sim, claro.

— Eu não sei se é impressão minha, mas desde a missa passada e até mesmo essa de hoje pela manhã, eu notei que o clima tá muito estranho entre todo mundo aqui. Como se todos estivessem carregando um fardo pesado, uma melancolia… Não sei como explicar.

— Não é impressão sua, padre Henry. É realmente o que está acontecendo aqui.

— Isso tem a ver com o que ocorreu há alguns dias a respeito da senhora Judith?

— Sim, disso eu tenho certeza. Após o ocorrido, as pessoas daqui estão muito temerosas, andam desconfiadas e parece que tudo piorou depois que tivemos a reunião com todas as irmãs.

— E como o senhor está agindo perante a isso?

— Bom, tentando manter a minha cabeça no lugar e usando a minha fé como eu posso, mas confesso que têm sido uma tarefa difícil. As irmãs não cantam mais, não há mais alegria em seus olhares, até as visitas aos idosos diminuíram bastante, é como se tudo o que é externo ao Sta. Agatha está se afastando daqui, sabe? Fico com pena da pobre Madre Mary Hellen, ela é uma mulher forte e de pulso firme, mas até mesmo para uma líder como ela, está sendo difícil conciliar essa situação.

— E enquanto à Irmã Irene? Fiquei sabendo que ela discutiu com vocês na reunião.

— A irmã Irene é uma mulher de temperamento forte, mas eu nem a julgo, ela veio de um dos asilos de Madalena, aquele lugar foi amaldiçoado pelo próprio Deus. Ela foi obrigada a escolher essa vida, nunca quis ser freira.

— Então por que não renunciou ao hábito? Por que não deixou de ser freira e seguiu a sua vida?

— Talvez por medo, receio ou simplesmente pelo fato de que não tinha mais para onde ir. A Irmã Irene sofreu bastante até chegar ao Sta. Agatha, por isso que muitas vezes eu não a critico por ser uma mulher tão amarga.

— Ainda sim tudo isso que tá acontecendo aqui é estranho, e como ficou o rapaz? O jardineiro? Depois do ocorrido?

— Bom, aparentemente ele está bem, mas… Não deve ter sido nada fácil pra ele. Esse rapaz já carrega traumas do passado e agora isso, sinceramente, padre Henry, me encontro de mãos atadas sem saber o que fazer.

— Padre Albert, sabes muito bem que podes contar comigo pra tudo, lembre-se que as responsabilidades dessa instituição também são minhas, não precisa o senhor e a madre superiora carregarem esse fardo sozinhos.

— Sim, padre Henry! Estou ciente de sua lealdade conosco. Rezemos para que em breve as coisas voltem ao normal.

Quarto de Olivia.

É por volta de 6 e pouco da tarde e Olivia está costurando um suéter em seu quarto, quando alguém bate na porta.

— Entre!

— Oi, menina!

— Irmã Claudia! Graças a Deus! Estive tão preocupada com a senhora, não a vejo há dias.

Irmã Claudia se assenta na poltrona de frente à Olívia e pega nas mãos dela.

— Eu sinto muito, menina. Precisei fazer uma viagem com urgência ao País de Gales aos mandos da madre Mary Hellen para levar algumas coisas para a paróquia de lá, depois da reunião de semana passada, as coisas ficaram um caos.

— É, eu percebi. As coisas não estão mais como eram antes.

— E aconteceu alguma coisa estranha desde que eu estive fora?

— Nada do nível da dona Judith, mas… Eu sinto que tem alguma coisa errada, irmã Claudia.

— Errada em que sentido?

— Tem uma energia muito estranha nesse lugar, eu só contei isso pra irmã Ruth, mas… Acho que posso contar para a senhora, porque… Me inspira confiança. Quando eu era pequena, minha mãe dizia que eu via coisas e sentia coisas, como se eu percebesse o que estava acontecendo no plano espiritual, entende? Ela me contou de um fato bizarro que aconteceu comigo quando eu tinha 8 anos que eu entrei numa jaula com três tigres selvagens.

— O quê?

— Sim, mas sabe o mais bizarro? Eu vi outra coisa lá dentro e não era um animal ou um humano e os tigres também viram o que eu vi. Eu não lembro de praticamente nada, mas… Era um espírito cheio de ódio, e eu sinto algo parecido com isso aqui no Sta. Agatha.

— Ai, minha nossa Senhora, mãe de Deus! Está achando que o que aconteceu à dona Judith ainda pode voltar?

— Queira Deus que não, irmã Cláudia. Mas a enfermeira Sarah me contou que aconteceu um caso parecido aqui em 1994, a senhora lembra disso? Mr. Harris?

— Não, querida. Eu não estava aqui nessa época. Mas eles comentaram sobre isso na reunião. Em toda a minha vida, nunca vi o padre Albert e a madre Mary Hellen tão preocupados como eles estão agora.

— Eu sei que tudo isso está muito, mas muito estranho.

Ruth bate na porta.

— Oi! Olívia?

— Entra, irmã Ruth!

— Olá!

As duas cumprimentam:

— Olá!

— Olivia, desculpa interromper alguma coisa, mas a madre superiora quer vê-la na sala dela em 5 minutos. Não se preocupe que não é nada grave.

— Eu? Ah tudo bem, só um instantinho e já estou indo lá.

— Ok, até logo!

Ruth fecha a porta, Claudia prossegue.

— Bem, acho que vou voltar aos meus aposentos e deixar você ir até a madre superiora.

— Muito obrigada, irmã Cláudia! A senhora têm sido tão boa pra mim desde que eu cheguei aqui.

— Não seja por isso, menina. Faço tudo de coração.

 

GABINETE DA MADRE SUPERIORA

A madre Mary Hellen se encontra em sua mesa com alguns papéis nas mãos até que ouve alguém bater na porta.

— Entre!

— Com licença, madre superiora. Me chamou?

— Sim, Olivia. Sente-se, por favor.

— Com licença.

— Bem, vou te dar um adiantamento pelo teu excelente trabalho aqui.

— Quê? Mas ainda nem entrou o outro mês.

— Sim, eu sei, mas só pela coragem de você não querer sair daqui correndo após o que aconteceu há quase duas semanas, já merece um bônus por isso.

— Nossa, eu… Não sei como agradecer.

— Só não comente isso com os outros enfermeiros, por favor, não quero gerar mais confusão aqui do que já está sendo gerado.

— Não se preocupe, ficarei quieta.

— Escuta… Eu devo admitir que fiquei bastante admirada com a sua coragem e com a fé que você tem, pra quem nunca tinha presenciado algo assim antes, você sustentou firme.

— Pra ser sincera eu morri de medo! Mas… Eu senti uma coragem dentro de mim, algo que minha mãe sempre me dizia: Que eu não era como as outras crianças, que eu era especial, que… Eu iria lutar em uma guerra espiritual, e veja! Aqui estou.

— Sim, eu entendo.

— Tudo o que eu aprendi hoje, eu devo à minha mãe. Ela me ensinou tudo e acima de tudo, me ensinou a ter fé como ela tinha, ela foi perseverante até a morte.

— E como se chamava a sua mãe?

— Laurie… Laurie Brown.

 

— Quê? Ai, meu Deus! Não me diga que tua mãe era a senhorita Brown? Eu sabia que reconhecia o teu sobrenome de algum lugar.

— Conheceu a minha mãe?

— Sim! Ela era professora numa escola para alunos carentes no início dos anos 2000 em Londres, nessa época eu ainda não era madre superiora e fiquei por lá uns tempos auxiliando a escola. Me lembro daquela mulher cheia de vida e de fé! Ela havia me dito mesmo que tinha uma filha, mas… Eu não imaginava que seria você.

— Nossa! Como esse mundo é pequeno! Minha mãe era uma mulher guerreira, batalhadora, me criou sozinha desde que meu pai nos abandonou.

— E me desculpe pela pergunta, menina, mas… Do que ela morreu mesmo? Não lembro se você já tinha me contado.

— Foi uma luta contra o câncer. Eu não diria que essa luta foi perdida, ela lutou até onde Deus permitiu que ela lutasse. Então ela partiu, mas deixou pra trás um legado de fé e de sabedoria.

— Não tenho dúvidas disso. Agora mais do que nunca sei que tomei a decisão certa ao contratá-la, e olha que eu nem sabia que você era filha da Laurie, se soubesse, nem precisaria passar pela entrevista.

— Não se preocupe, eu… Madre, a senhora está bem? Seus olhos estão… Lacrimejando.

— Eu estou bem, querida, é que… Tudo isso me deixou o tanto nostálgica. Foram bons momentos aqueles que eu passei na escola em Londres, sua mãe de fato estaria orgulhosa da filha que você é hoje.

— Obrigada, madre superiora! Eu estou… Eu estou muito emocionada também, confesso. Fico feliz em saber que minha mãezinha também pôde fazer parte da vida de pessoas tão boas como a senhora.

— Não precisa me agradecer por nada, menina. Eu é que agradeço por estar aqui conosco.

— Bom, se a senhora não tiver mais nada pra mim, então eu vou…

— Ah sim, claro! Pode ir, descanse e atente-se em não comentar com ninguém sobre esse adiantamento.

— Tudo bem, obrigada!

Olivia se retira do gabinete e a madre superiora fica em sua mesa bastante emocionada. A lembrança da mãe de Olivia trouxe algo benéfico pra ela e isso é notório. Ela começa a falar:

— Laurie… Sua filha está aqui… Como? Como eu não pude reconhecer? Estaria orgulhosa… Sua filha é uma verdadeira mulher de Deus.

 

Casebre de David e Aurélio

 

David se encontra no banheiro aparando sua barba, ele bate a lâmina de barbear na pia enquanto se olha no espelho. Após o ato, ele lava bem seu rosto e quando olha novamente para o espelho, vê na parte de trás, a garotinha que se parece com a sua filha com um sorriso diabólico.

David olha pra pia e fica sussurrando pra ele mesmo:

— Não é real, não é real, não é real, David, não é real, não é real, não é…

Ele inclina levemente a sua cabeça para o espelho e vê que o reflexo da menina não está mais ali, ele olha para trás e para todo o banheiro procurando algo e não encontra. Ainda extasiado com o que supostamente viu, ele ouve Aurélio o chamar.

— David! Já terminou?

— Estou indo, Seu Aurélio!

 

Em um dos quartos, um idoso de uns 70 anos se encontra sentado em uma poltrona assistindo TV e uma das enfermeiras está levando a ele um sanduíche.

— Aqui está o seu sanduíche, Mr. Newton!

— Poxa vida, por que a demora?

— Não demorei nem 3 minutos, Mr. Newton.

— Pra mim foi uma eternidade (Termina a frase mastigando o sanduíche).

— Ok, estarei aqui ao lado e qualquer coisa me chame.

Na paróquia, o padre Albert se encontra no altar diante da imagem de Jesus Cristo fazendo algumas orações, ele preferiu deixar as luzes principais apagadas e deixou pouca iluminação no lugar apenas para caso alguém queira entrar naquela hora para orar. Entretanto, enquanto o padre Albert está rezando, ele sente uma sombra passando pela penumbra na entrada da igreja, a sombra se parecia muito com a silhueta de uma freira.

O padre Albert interrompe a sua oração, se levanta e olha para trás.

— Pois não? Irmã? Madre superiora? Irmã Ruth? Alguém?

Não era nada, a princípio, mas o padre Albert é um homem de Deus e sabe quando as coisas estão começando a ficarem estranhas.

No quarto de Olivia, esta já se encontra quase pronta para ir dormir. Arruma algumas coisas no rack de seu quarto, veste um suéter por conta do frio que já estava começando a castigar e em seguida sente algo soprando de uma maneira gélida e aterradora. Quando olha pra trás, vê a rosa que David a presenteou ficando enegrecida como se estivesse completamente podre, ela sente um cheiro forte e imediatamente abre a porta do seu quarto e vai para o corredor. Ela fica com o braço tapando o nariz enquanto olha para um lado e para o outro no corredor e não vê ninguém, mesmo sabendo que o corredor do quarto de Olivia dá de frente com o pátio.

Enquanto isso, no quarto de Mr. Newton, este chama novamente pela enfermeira.

— ENFERMEIRA! ENFERMEIRA!

Ela chega sussurrando tentando acalmá-lo.

— Shhh, shhh, Mr. Newton, por favor, pare de gritaria, vai incomodar os outros.

— Quero outro sanduíche!

— O quê? Mas o senhor acabou de comer um.

— Já disse que quero outro! É tão difícil entender?

— Ah tá bom, tá bom. Eu vou fazer outro, aguarde!

No quarto da irmã Irene, esta se encontra sentada em sua cama pronta para retirar o seu hábito quando de repente alguém bate levemente na porta.

Irene não responde, a princípio. As batidas continuam ainda mais fortes até ela decidir romper o silêncio.

— Quem é? Quem tá aí?

As batidas pararam e Irene em nenhum momento se atreveu a levantar-se.

— Seja quem for, não volte mais! Tá ouvindo? Não volte!

No casebre, Aurélio percebe que David está no sofá pensativo.

— David, tá tudo bem?

— Eu… Eu estou com uma sensação estranha, seu Aurélio. Como se alguma coisa fosse acontecer.

— Por favor, menino. Não diga isso.

— Aurélio… Esse lugar não é mais como antes. Não percebeu isso ainda?

— Sim, sim, eu percebi. E confesso que… Estou com um pouco de medo também.

Alguém bate na porta deles, os dois se assustam.

— Q-Quem é?

— Seu Aurélio? Sou eu, a Olivia! Posso ter uma conversa com o senhor e o David rapidinho?

— Graças a Deus!

Aurélio abre a porta.

— Oi, querida!

— Seu Aurélio, David! Me desculpem vim aqui a essa hora da noite, é que…

David interrompe;

— Olivia, nem é tão tarde, é que as freiras dormem muito cedo, mas ainda vai dar 8 horas.

— Escutem, eu… Eu…

— Tá tudo bem, Olivia. O Seu Aurélio é um homem de confiança.

— Eu estou sentindo uma presença estranha e extremamente maligna aqui no instituto.

— Pre-presença estranha?

— Sim, seu Aurélio! Por isso que o primeiro impulso que eu tive foi vir aqui.

— O-Olivia, eu vi ela.

— O quê?

— Eu vi ela de novo, no reflexo do espelho.

— Viu ela quem, filho?

— David, lembre-se que a imagem da tua filha que você vê não é ela, é um demônio se apossando de suas memórias.

— Sim, mas… Eu achei que tinha ido embora quando você disse aquelas coisas.

— É, eu também pensei. Mas precisamos ficar juntos… Algo me diz que está prestes a acontecer outra desgraça aqui.

Nas escadarias para o porão, a irmã Mônica está descendo as escadas o tanto murmurando.

— Ai, não entendo porque a madre superiora quis que eu viesse para esse porão horroroso de noite só pra pegar algumas velas. Tudo bem que pode cair tempestade nesses dias, mas por que não me avisou de dia?

Ela tenta procurar pelas velas em meio a tantos caixotes e coisas empoeiradas.

— Cof, Cof! Eu não acredito que eu vim aqui, não acredito mesmo.

Enquanto está procurando as velas, vemos que a porta do porão começa levemente a se fechar, até que ela se fecha por completo assustando Mônica.

— Olá! Ei, eu estou aqui embaixo! Eu não acredito que me trancaram aqui.

Ela pega as velas e começa a subir as escadas, mas quando chega perto da porta, vê que a mesma não está mais abrindo.

— Não pode ser possível. Oooi! Eu estou presa! Oi!! Madre superiora! Alguém! Me ajuda aqui!

Enquanto sua respiração começa a ficar cada vez mais ofegante, ela percebe que há algo no teto, pois uma leve saliva cai na sua testa.

Ela olha lentamente para cima e uma entidade com cabelos longos e pretos pula em cima dela. Ela grita e cai rolando pelas escadas até ficar inconsciente.

Um carro está estacionando no pátio do Sta. Agatha e quem desce dali é o padre Henry. Por algum motivo, parece que todos sentiam que alguma coisa estava errada. Ele imediatamente se dirige até a paróquia.

Minutos depois ele entra na igreja e encontra o padre Albert em pé apontando pra ele uma cruz.

— Jesus Cristo! O que tá acontecendo? Sou eu!

— Graças a Deus, padre Henry! Mas o que tá fazendo aqui?

— Olha, sobre aquelas coisas que conversamos… Não consegui parar de pensar nisso e decidi dar meia-volta.

— Sim, estou sentindo uma atmosfera maligna nesse lugar, padre.

— Eu também, padre Albert. Por isso vim logo pra cá saber se está tudo bem.

— Por enquanto está, mas… Não sei por quanto tempo.

No casebre de Aurélio e David, os três continuam a conversar.

— Eu sei que o que aconteceu naquela noite com a dona Judith parece não ter se dissipado por completo, afinal de contas o demônio não chegou a ser expulso. O David atirou nela quando ela estava tentando me matar, então… Acredito que a entidade tenha continuado aqui.

— Ai meu São Francisco! Tantos anos trabalhando aqui e nunca imaginei que o Sta Agatha chegaria a este ponto, bom, houve o caso do Mr. Harris, mas depois disso foi só paz e tranquilidade aqui. Até mesmo quando a madre superiora Dulce faleceu, todos achávamos que tudo iria de mal a pior, mas a madre Mary Hellen foi muito bem instruída pela madre Dulce antes. Mas isso aqui já tá além do que imaginamos.

— Olívia, acha que essa entidade, demônio ou seja lá o que for possa estar tentando possuir alguém de novo?

— Acredito que sim, David. Por isso precisamos ficar com os olhos bem abertos, não sabemos o que pode acontecer.

No quarto do senhor Newton, ele está terminando de mastigar mais um sanduíche e a enfermeira chega até ele.

— Bem, Mr. Newton, está na hora de dormir.

— Não, quero outro sanduíche!

— Já chega, Mr. Newton! O senhor já está querendo fazer brincadeirinhas, vamos pra cama, anda!

— NÃO! EU AINDA ESTOU COM FOME!

— O senhor comeu dois sanduíches, por Deus!

— EU JÁ DISSE QUE EU ESTOU COM FOME!

Mr. Newton pega um copo que estava ao lado da poltrona, quebra no braço daquele assento e em seguida começa a mastigar os cacos de vidro resmungando e sem sentir dor. Cada mastigada expelia sangue e saliva escorrendo pelo seu queixo.

— ESTOU COM FOME! ESTOU COM FOME!

— AHHHHHH MEU DEEUS!!!

 

No terceiro andar, a irmã Ruth está fazendo o último turno nos corredores, e quando chega no final de um deles, percebe um dos idosos ali na varanda olhando a paisagem.

— Senhor? O que está fazendo aqui? Por que não está na cama?

O velho continua a olhar para a paisagem.

— Senhor, está tudo bem? Venha, vou te levar para o seu quarto.

— Ele… Está aqui.

— Como? Quem tá aqui?

— O mal.

Ao finalizar a frase, aquele idoso pula da varanda até bater com o corpo no chão do pátio.

— MEU DEUS! NÃO!

Ruth observa o corpo do senhor no chão completamente espatifado, ela começa a correr e quando vira o corredor, bate de frente com a enfermeira que estava com o Mr. Newton!

— AAAAAHHHH!! Irmã, me ajuda, por favor!

— O que foi?

— Eu, eu…

Não precisou a irmã Ruth ir até o quarto pra ver o Mr. Newton, lá está vindo ele de pé com um pedaço de vidro na mão e salivando sangue.

— Querem um sanduíche?

Ele mastiga o caco de vidro e Ruth e a enfermeira entram em desespero.

— AAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!! MADRE SUPERIORA! MADRE SUPERIORA!

No Gabinete da madre superiora, esta acorda de um cochilo.

— Meu Deus! Não acredito que cochilei aqui na poltrona. Quantas horas são? 8 da noite… Ok, vou me deitar.

A madre Mary Hellen se levanta da poltrona, vai até a porta e a mesma não abre.

— Que estranho! Por que não tá abrindo? Oii! Alguém vem aqui! Eu estou presa! Irmã Ruth? Alguém?

 

Ruth e a outra enfermeira estão descendo as escadas completamente desesperadas.

— Madre superiora! Madre!

Na paróquia, os padres Albert e Henry parecem ter escutado os gritos.

— Ouviu isso, padre Henry?

— Sim, vamos ver.

No casebre, Olivia, Aurélio e David também ouviram.

— Começou! David, pegue sua espingarda ou que for, mas vamos precisar de você mais uma vez hoje. Depressa, senhores!

— David, pegue a minha espingarda.

— Tá bom!

Os três saem imediatamente do casebre.

 

Dentro do asilo, a madre Mary Hellen continua batendo na porta sem parar tentando achar uma saída.

— Alguém abre a porta! Por favor!

Ruth e a enfermeira continuam a correr e ouvem o clamor de Mary Hellen de seu gabinete.

— Madre superiora! Madre! Estou aqui! Estou aqui!

— Irmã Ruth, o que tá acontecendo? Por que trancaram a porta?

— Não está trancada, ela está emperrada, não consigo abrir.

— Peça ajuda ao Aurélio, qualquer pessoa, mas já!

— Tudo bem.

No pátio, Olivia e os outros se encontram com os padres perto da fonte.

— Reverendos! Reverendos!

— Enfermeira Olívia? O que faz aqui fora com os cavalheiros?

— É que… É que…

Os olhos de Olivia arregalam quando vê que há algo ali no chão logo atrás dos padres. Eles olham para trás e veem o corpo daquele idoso que havia acabado de se jogar.

— Meu Santo Cristo, o que aconteceu aqui?

David percebe algo estranho e pega Olivia pelo braço a empurrando para o lado.

— Olivia, cuidado!

Neste momento, Mr. Newton foi quem acabou de se jogar da varanda de seu andar. Todos ali ficam completamente atônitos. Ruth e a enfermeira saem lá fora pedindo ajuda.

— Padre Albert! Gente! Precisam ajudar a madre superiora, ela ficou presa no gabinete dela.

— Essa não. David! Precisamos de você!

— Sim, padre!

Todos eles vão até o gabinete da madre superiora.

— Madre! Madre Mary Hellen!

— Padre Albert? Graças a Deus, eu cochilei aqui dentro e a porta ficou emperrada, não consigo sair.

— Está tudo bem, o David está aqui para ajudar.

— Escute, madre superiora. Preciso que a senhora fique em um canto longe da porta e do lado da janela se possível, por gentileza.

— Tudo bem, estou indo pra lá.

— Tá pronta?

— Estou sim, pode abrir.

Aurélio questiona a David:

— Vai arrombar a porta?

— Melhor do que isso…

Ele pega a espingarda, mira e atira na fechadura formando um grande buraco, mas só assim consegue fazer com que a porta se abra.

Eles entram e acolhem a madre superiora.

— Graças a Deus! Pensei que iria ficar presa aqui a noite toda.

Eles saem da sala e vão para o corredor, a madre percebe que todos estão com as caras pálidas e que Ruth está segurando as lágrimas.

— O que… O que aconteceu com vocês? Por que estão todos aqui a essa hora?

Todos olham uns para os outros.

— O que tá havendo? Ruth, por que você tá chorando?

— É que… É que… Foi uma coisa horrível.

— O que foi tão horrível? Por que estão me escondendo coisas?

Olivia toma coragem e diz:

— Tem dois corpos lá fora, madre superiora.

— O quê?

— Sim, dois dos idosos se jogaram pela varanda.

— Meu… Meu Deus, não pode ser possível, isso… Isso…

Enquanto eles conversam, não percebem que a porta do porão que se encontra ali do lado está se abrindo lentamente. Eles estão de costas, distraídos e conversando com a madre superiora, quando vemos apenas a penumbra saindo daquela porta, até que a irmã Mônica, totalmente descontrolada, vem saltando como um animal de quatro patas e pula em cima da enfermeira que estava com eles, mordendo a sua orelha até arrancar fora e pressionando tanto suas mãos que quebra o pescoço da mulher.

A madre superiora grita:

— IRMÃ MÔNICA!

Ela furiosa, derruba a irmã Ruth no chão e em seguida puxa a batina do padre Henry e começa a arrastá-lo para o porão.

— Ahh, me solta! Me solta!

— PADRE HENRY! (gritou o padre Albert)

David pega a espingarda. Aurélio o repreende.

— Não! Pode acertar o padre.

O padre Albert e a madre superiora correm até o porão pra tentar salvar o padre Henry, mas quando os outros tentam ir atrás, a porta se fecha e eles não conseguem mais entrar.

— Droga! Droga!

Lá dentro, o padre Henry se encontra no chão e completamente assustado diante da figura que se encontra ali possuindo a irmã Mônica. O padre Albert e a madre Mary Hellen descem para acudi-lo.

— Padre Henry, está bem? Se machucou?

— Talvez.

— HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA QUAL O PROBLEMA, PADRE HENRY? NÃO GOSTARIA DE PROVAR DA VAGINA DA IRMÃ MÔNICA?

— O que você quer, demônio? Por que está nesse lugar?

— Aquieta seus ânimos, padrezinho de merda. A festa só está começando.

Do lado de fora, David e Aurélio tentam abrir a porta enquanto Olivia trata de ajudar a irmã Ruth.

— Irmã Ruth, você está bem? Eu te ajudo a levantar.

— A irmã… A irmã Mônica, ela… Ela tá possuída.

— Sim, vamos rezar para que os padres e a madre consigam expulsar.

Neste momento, Olivia ouve do corredor um sussurro.

Oliviaaa… Oliviaa…

Quando Olivia olha pra trás e dá alguns passos a frente, ela vê aquela mesma figura espectral gigantesca com mantos negros flutuando o corredor do Sta. Agatha. O mais incrível é que Ruth, David e Aurélio também estão vendo aquela criatura sobrenatural.

— O que… Você faz aqui?

Há quanto tempo não nos vemos, não é Olivia? Agora você não terá mais teus tigres para te defenderem.

David e os outros se aproximam dela.

— O… Olívia?

— Não me digam que vocês estão vendo isso?

— Estamos!

O que fará agora, pequena e doce Olivia? Acha que você vai escapar? Acha que alguém vai escapar?

— Escuta aqui, sua entidade das trevas! Eu não sou a mesma Olivia que você confrontou quando eu tinha 8 anos (ela arranca o colar de seu pescoço e segura a sua cruz), eu não vou me acovardar dessa vez! VENHA, DEMÔNIO! VENHA!

 

 

 

 

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  • Mais um episódio tenso e intenso do início ao fim, que narrativa sensacional. É impressionante ver os rumos que essa história está tomando e o quão macabros eles são. O momento dos velhinhos no final deste capítulo e a representação “blasfémica” do mal neste episódio são, fácil fácil, TOP 3 mentos mais tensos, assustadores e angustiantes de toda a obra até aqui. Contudo para esse episódio vou dar 4,5 de 5 ⭐

  • Veeeeiiii!!! Que foi isso? Tensão demais do início ao fim. Sempre sensacional, bicho! E que cenas macabras, principalmente do senhorzinho comendo vidro, véi. E o final? Meu Deus! Quero o quanto antes o próximo capítulo.

  • Veeeeiiii!!! Que foi isso? Tensão demais do início ao fim. Sempre sensacional, bicho! E que cenas macabras, principalmente do senhorzinho comendo vidro, véi. E o final? Meu Deus! Quero o quanto antes o próximo capítulo.

  • Mais um episódio tenso e intenso do início ao fim, que narrativa sensacional. É impressionante ver os rumos que essa história está tomando e o quão macabros eles são. O momento dos velhinhos no final deste capítulo e a representação “blasfémica” do mal neste episódio são, fácil fácil, TOP 3 mentos mais tensos, assustadores e angustiantes de toda a obra até aqui. Contudo para esse episódio vou dar 4,5 de 5 ⭐

  • Que episódio foi esseeee???? Que agonia o Sr.Newton mastigando o vidro ! As coisas no Sta.Agatha estão ficando cada dia pior! Que invenção de mandar a irmã Monica para um porão justo a noite diante de toda energia que está naquele lugar. Tava na cara que não ia dá certo. Padre Henry sozinho com essa criatura, bem devassa aliás. Olivia novamente cara a cara com a criatura que viu quando era criança .

    Amigo a cada episódio eu fico sem fôlego hehehe. Maravilhoso!!! Ansiedade a mil para o próximo.

  • Que episódio foi esseeee???? Que agonia o Sr.Newton mastigando o vidro ! As coisas no Sta.Agatha estão ficando cada dia pior! Que invenção de mandar a irmã Monica para um porão justo a noite diante de toda energia que está naquele lugar. Tava na cara que não ia dá certo. Padre Henry sozinho com essa criatura, bem devassa aliás. Olivia novamente cara a cara com a criatura que viu quando era criança .

    Amigo a cada episódio eu fico sem fôlego hehehe. Maravilhoso!!! Ansiedade a mil para o próximo.

  • Aaahhh na hora que eu já estava me ajeitando de novo pra acompanhar o que ia acontecer, termina!!!! Esse suspense está cada capítulo melhor! Libera logo o próximo capítulo!!!!!!

  • Aaahhh na hora que eu já estava me ajeitando de novo pra acompanhar o que ia acontecer, termina!!!! Esse suspense está cada capítulo melhor! Libera logo o próximo capítulo!!!!!!

  • Se esta obra fosse produzida para o audiovisual, com certeza este seria um dos episódios onde ninguém piscaria, para não perder nada. No final a pessoa estaria procurando unhas para roer, porque as delas já não teria mais nenhuma, de tanta ansiedade e tensão sentiria. Envolvente do inicio ao fim. Estou curioso pelo os segredos que rodeiam a irmã Irene. Olivia é uma ótima personagem. E estou aqui na expectativa pelo confronto dela com a entidade sobrenatural. Que venha logo o próximo episódio!

    • Sim, amigo. Esse episódio é muito tenso, principalmente porque é extremamente imprevisível, não dá pra saber o que vai acontecer. Olívia é com certeza uma personagem maravilhosa! Logo mais o quarto capítulo kkkk. Obrigado por essa maratona hahaha.

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    • Sim, amigo. Esse episódio é muito tenso, principalmente porque é extremamente imprevisível, não dá pra saber o que vai acontecer. Olívia é com certeza uma personagem maravilhosa! Logo mais o quarto capítulo kkkk. Obrigado por essa maratona hahaha.

    • Amigo, nada disso teria acontecido se não fosse a tua confiança no meu trabalho. Muito obrigado por me permitir proporcionar tudo isso a vocês.

  • Que ep foi esse? To com Frio na barriga ate agora! Também gostaria de enaltecer também a linguagem do autor… A forma como é escrito faz com que o leitor vizualize cada detalhe! Meus parabéns!

  • Pesquisa de satisfação: Nos ajude a entender como estamos nos saindo por aqui.

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