O sentimento de Lan Zhan – Parte 2
— WEI YING SUMAAAA….
Correndo pelas escadarias do salão de estudos dos Recantos da Nuvem, Wei Ying esboçava um leve sorriso nervoso, apesar de apreensivo, preferiu correr para longo do Sr. QiRen.
Quando percebeu que estava a uma boa distância diminuiu o passo e caminhou de vagar recordando das palavras de WangJi.
“— Evite correr, falar alto e … Meu tio.”
Wei Ying caminhava pelo belo jardim, pensativo se havia dito algo errado para o tio de WangJi ter ficado tão bravo com ele.
— Ah, mas eu só fiz algumas perguntas… – Bufou e coçou a nuca. — Ele não precisava ficar tão nervoso… Ah! Vou procurar Lan Zhan. – Sorridente passeou pelo lugar enquanto o procurava.
Horas antes…
A Vila Caiyi não havia sofrido tantas alterações com o tempo, apesar da modernidade ter chego como algumas construções novas e veículos trafegando pelas ruas estreitas, seu charme típico de uma vila a beira de um rio não se perderá.
Wei Ying estava empolgado debruçado na janela do carro alugado por WangJi olhava o lugar encantado. Havia variados prédios em sua arquitetura antiga que despertavam a curiosidade do garoto. A cada cenário novo que despontava a sua frente era uma enxurrada de perguntas para WangJi. Ele as respondia sempre, dando total atenção a Wei Ying.
— Lan Zhan, olha aquele prédio lembra o templo onde moro só que conservado.
— Os moradores preferem manter arquiteturas do passado.
— É bom para visitar, tem muitos lugares no interior que são bonitos eu gosto de lugares antigos.
— Hn. – Concordou.
Nesse instante, o carro parou em um cruzamento para algumas carroças passarem. Um vendedor gritava alto oferecendo um jarro que chamou atenção de Wei Ying.
— Lan Zhan que cheiro bom, é vinho acertei?
— Sorriso do Imperador.
Os olhos do garoto brilharam, sorveu o ar com aquele aroma e um arrepio passou por sua nuca e neste instante seu coração palpitou forte. E uma sensação saudosista tocou fundo fazendo seus olhos lacrimejarem. Ofegou baixo virando a cabeça para olhar a rua disfarçando para que o amigo ao lado não notasse.
WangJi observava-o desde que chegou a Vila Caiyi, notou a oscilação na energia espiritual de Wei Ying.
— Não é permitido bêbedas alcoólicas nos Recantos da Nuvem.
— Ah? – Ele se ajeitou no banco e sorriu para o outro. – Eu nem pensei nisso Lan Zhan. – Mordeu leve a ponta dos lábios e um pensamento arteiro brotou na mente.
“Eu quero provar, venho na Vila depois e compro um jarro hehehehehe…”
—Não acha que é muito novo para beber? – Como esperado, WangJi já conhecia aqueles olhos arteiros, guiando o carro pela rua estreita o parou no acostamento.
— Eu bebo e sou bem tolerante a álcool. – Estranhou quando o carro parou. — Já chegamos?
— Não, mas preciso fazer algo antes, espere aqui. – WangJi desligou o moto e saltou do carro.
— Hum…? – O seguiu com olhar até ver WangJi comprar um pequeno jarro do vinho. — Ele comprou hahahahahaha…
WangJi voltou e entrou no carro entregando-o a Wei Ying.
— Só um pouco.
— Ahhh Lan Zhan, você é muito bom para mim. – Satisfeito tirou a rolha do frasco e sentiu primeiro o aroma. – Eu não sei explicar, mas esse aroma me fez sentir saudade. – Bebeu no gargalo vários goles. – Delicioso, você já bebeu Lan Zhan?
— Uma vez, não foi bom. – WangJi evitou continuar o assunto. – Beba antes de chegarmos ao Recantos da Nuvem. – Estendeu a ele um pacote de balas de gengibre. – Quando terminar coma a bala.
— Tudo bem, tudo bem. Vou beber antes de você virar a esquina, esse jarro é pequeno não tem muito. – Falou desolado pegando as balas. – Por quê?
WangJi apontou para os lábios. Wei Ying compreendeu que era para cortar o odor de bebida de sua boca. Divertindo-se com a situação resolveu provocar o outro.
— Lan Zhan, Lan Zhan, está sabendo bem como disfarçar cheiro de álcool hahahahahahahahaha… Algo me diz que não foi só uma vez que o Sorriso do Imperador passeou pelo Recantos da Nuvem hahahahahaha…
WangJi olhou-o alguns segundos, virou o rosto ignorando a provocativa e seguiu o trajeto até saírem da vila em uma pista larga de terra. Chegaram minutos depois a um estacionamento no sopé da montanha. Logo que entrou e estacionou o carro embaixo de uma grande cobertura do mesmo estilo dos prédios antigos foi recepcionado por um rapaz alto vestido de túnica branca com detalhes de nuvens azul.
— HanGuang-Jun, seja bem-vindo. – O rapaz se curvou e elevou as mãos a frente unidas para cumprimenta-lo.
WangJi repetiu o gesto e notou o olhar curioso de Wei Ying, voltou para o carro abrindo o bagageiro e retirando ambas as malas.
— Vamos.
Wei Ying o seguiu e cochichou.
— Ei, Lan Zhan, eu tenho que fazer isso que você fez para o guardador de carros?
— É um cumprimento formal do meu clã Lan. – Caminharam até pararem de frente a uma escadaria. – Você é um convidado, não precisa seguir as formalidades.
— Hum entendi, mas… – Wei Ying olhou para o guardado dos carros e correu para ele fazendo o mesmo gesto de cumprimento.
O guardador sorriu leve e retribuiu.
Wei Ying voltou a se juntar a WangJi.
— Lan Zhan, tem que me contar como é que tenho que me portar, não quero fazê-lo passar vergonha. – Sorrindo, se virou e olhou as escadarias de pedras arregalando os olhos. — Lan Zhan, vamos subir isso tudo?
WangJi virou-se e chamou-o para segui-lo, o caminho de pedra e jardim levava a um pequeno conjunto de teleféricos.
— Normalmente subo as escadarias. – WangJi colocou as malas dentro do veículo e esperou Wei Ying entrar.
— Eu hen… É muito alto, vamos levar o dia todo e subindo de teleférico é bem melhor. – Sentou no banco e prendeu o sinto.
— Minha família construiu para os visitantes e turistas que solicitam permissão para conhecer os Recantos da Nuvem. – WangJi sentou e acionou o botão para partirem.
A paisagem era deslumbrante, conforme ficava mais alto o clima foi mudando e esfriando. Wei Ying pegou seu casaco e gorro colocando-os enquanto apreciava a vista.
— Posso tirar fotos, Lan Zhan? – Vendo que o outro permitiu começou a tirar com o telefone várias fotos da vista. – A Vila Caiyi lá embaixo, estamos muito alto.
Quando chegaram, saltaram do teleférico e seguiram a pé até o portal de entrada dos Recantos da Nuvem.
— É agora sei o porquê desse nome, estamos acima das nuvens hahahahaha.
Wei Ying parou diante do paredão de pedra e inclinou a cabeça lendo os caracteres, alguns eram tão antigos que não entendeu o significado.
— Lan Zhan o que são esses caracteres? Não consegui ler nem a metade.
— São as regras do meu clã, cinco mil regras precisamente.
— Ah?!!! E eu vou ter que segui-las? – Já estava preocupado porque não conseguiria cumprir nem as básicas daquela lista enorme escrita na pedra.
— Os convidados não precisam seguir as regras, mas tem limites e o que precisa saber é: Não corra, não fale alto e evite meu tio.
Wei Ying balançava a cabeça concordando com tudo até chegar na parte referente a evitar o tio de WangJi.
— Por que devo evitar seu tio, Lan Zhan? – Acompanhava-o quando chegaram ao jardim principal dos Recantos.
— Evite meu tio quando estiver sozinho.
— Ele não gosta de mim?
— O tio não o conhece, esteja sempre ao meu lado quando o tio vier fala-lhe.
Wei Ying estava curioso e confuso. Afinal se o tio de WangJi não o conhecia por que então evita-lo. Sem entender muito bem preferiu fazer o que WangJi lhe instruiu.
— Tudo bem, mas ainda acho estranho alguém não gostar de mim sem nem me conhecer. – Resmungou, parando de frente a um enorme salão onde ao que parecia um grupo estava estudando.
O lugar era muito tranquilo, havia realmente uma sensação de paz pairando e claro aquele ar frio que deixava tudo com um clima celestial.
— WangJi. – A voz suave veio do lado oposto chamando atenção. – Que bom que chegaram. – XiChen se aproximou deles e curvou com as mãos unidas a frente. – Jovem mestre Wei, fez boa viagem?
— Sim, Sr. XiChen. – Wei Ying o cumprimentou achando curioso as vestes que usava.
— WangJi preparamos os quartos conforme solicitou, assim que se acomodarem gostaria de falar com você, venha me encontrar no salão principal. – Olhou para Wei Ying. – Jovem mestre Wei pode passear pelo local enquanto aguarda.
Wei Ying percebeu de imediato que não era para seguir WangJi, ele sorriu e concordou.
WangJi assentiu com a cabeça e olhou para o garoto quando se virou para seguir para seu quarto, Wei Ying foi atrás rapidamente e voltou a cochichar.
— Lan Zhan, vou usar essas roupas engraçadas? Parece cosplay. – Sorriu baixinho. – Desculpe, mas ninguém usa mais roupas antigas.
— Recantos da Nuvem segue ainda o tradicional, não precisa usar essas roupas. – Parou diante da porta do seu quarto e abriu. – Você é meu convidado.
— Hum, entendo… – Entrou no lugar e olhando tudo até deparar-se com uma bela espada em um pedestal. – Que espada bonita.
— Bichen. – WangJi caminhou para lado oposto e abriu uma porta de correr levando a mala de Wei Ying. – Esse é seu quarto.
— Bichen, gostei, é de verdade? – Tocou a espada e sentiu um pequeno choque que arrepiou os fios de cabelos de sua nuca. – Hum? – Afastou a mão surpreso e virou-se para WangJi indo ao quarto. – Nossa é muito grande. Lan Zhan por mais que eu seja convidado acho que seria legal vestir roupas daqui. O que acha?
WangJi colocou a mala de Wei Ying dentro de um armário e voltou o olhar para o rapaz.
— Se você quiser, trago um conjunto dos discípulos para você.
— Eu quero. – Com largo sorriso, caminhou para o armário e desfazer a mala.
WangJi voltou para seu quarto e poucos minutos retornou com um conjunto de roupas brancas e emblemas de nuvens azuis, entregou a Wei Ying e se retirou para se preparar e encontrar com irmão.
Pouco mais que alguns minutos, Wei Ying apareceu no quarto de WangJi resmungando tentando vestir as peças das roupas brancas. Conseguiu vestir a calça e as botas, no entanto tentava amarra a camisa de dentro que era transpassada.
— Lan Zhan, eu acho que me enrolei com essa roupa, não consegui saber qual é que vem prim… – O garoto mal conseguiu completar a frase ao se deparar com WangJi vestido com sua túnica branca. Boquiaberto, seus olhos tinham um brilho intenso estava encanado com a figura naquelas vestes que mais lembravam uma divindade. – Nossa…
WangJi se aproximou e pegou as peças de roupas das mãos dele e ajudou-o a se vestir.
— Essa peça é por dentro, transpasse ao lado e amarre. – Pegou outra peça, uma túnica de mangas largas. — Esta peça é a túnica de dentro, aquece seu corpo no frio.
WangJi ajudava Wei Ying sem notar o olhar fixo do rapaz a um detalhe em especial na testa dele. Wei Ying não sabia bem o motivo, mas estava tentado a pegar na fita.
— Terminamos.
Desperto, virou o rosto para si e gostou do resultado.
— Ah ficou bom, Lan Zhan eu nunca ia conseguir colocar essas roupas sozinho. – Sorridente voltou a olhar para o rosto de seu amigo, mais precisamente a fita na testa.
— Eu vou me encontrar com meu irmão, os horários nos Recantos da Nuvem são precisos, refeição vesperal às 6 hora e toque de recolher às 9 horas. – Explicou ao rapaz.
Wei Ying concordou apesar de achar que dormir às 9 horas era cedo demais.
— Eu vou andar pelo lugar esperar você voltar Lan Zhan.
— Hn.
WangJi se retirou deixando Wei Ying no quarto. O garoto correu para o seu quarto e pegou seu smartphone ansioso para saber se havia sinal de internet naquele lugar. Ao ligar o aparelho, o mesmo captou o sinal e havia necessidade de uma senha.
— Ah que droga, esqueci de pedir a Lan Zhan. – Decidido saiu do quarto e começou a andar pelo lugar afim de encontrar alguém que lhe informasse a senha.
WangJi entrou no salão principal e encontrou seu irmão juntamente com Lan QiRen, aproximou e curvou a ambos sentando em seguida sobre os joelhos em uma almofada.
— WangJi, realmente estou surpreso com o que seu irmão me relatou. – QiRen tinha um semblante sério para o sobrinho. — Espero que haja uma boa explicação.
— Tio. – WangJi falava em tom calmo, porém decidido com seu tio. – Wei Ying é uma criança normal, não há com que se preocupar.
QiRen passou a mão em sua barba longa denunciando sua preocupação.
— WangJi, o que aconteceria com nosso clã se viessem a descobrir sobre esse rapaz?
— Pretendo mantê-lo seguro e permanecer com uma pessoa comum.
— Meu tio. – XiChen solicitou a palavra. – Jovem mestre Wei, não tem realmente nenhuma ligação com o passado. Não cresceu no meio da cultivação, observamos por alguns meses e não há núcleo dourado desenvolvido. – XiChen olhou para WangJi expressando seu apoio. – Eu não vejo razão para temermos que o passado retorne.
QiRen ouvia-o pensativo, pegou uma xícara de chá e sorveu alguns goles antes de continuar a falar.
— WangJi o que pretende fazer com o rapaz?
— Mantê-lo por perto e observar seu desenvolvimento.
— Acredita que o afastar da cultivação será o suficiente? – QiRen esboçou um ar insatisfeito. – Sofreremos retaliações se vierem a descobrir que estávamos com esse rapaz sabendo quem ele é.
— Acredito meu tio que se orientarmos e cuidarmos do jovem mestre Wei não terão motivos para quererem elimina-lo por mais que seja a reencarnação. – XiChen compreendia a preocupação de seu tio, porém não achava justo que entregassem o garoto para os anciões por receio de despertar como um cultivador herege. — Ele é uma criança e não há nenhum sinal de energia ressentida.
QiRen virou o rosto para WangJi quando voltou a falar.
— Eu decidirei tão logo WangJi trouxe-o a minha presença. – QiRen afastou da pequena mesa e levantou em seguida, virando-se para sair sem antes dizer. – WangJi leve-o até o salão de estudos, após o termino da doutrina. – O ancião se retirou deixando ambos irmãos observando-o.
— WangJi, não se preocupe, mesmo que não conseguirmos convencer o tio hoje ao menos o tranquilizaremos em relação a sua reencarnação.
WangJi pegou uma xícara de chá e sorveu um gole, pousou sobre a mesa e voltou olhar ao irmão.
— Wei Ying perdeu uma parte de seu subconsciente, não há riscos de despertar energia ressentida e seguir o caminho da cultivação demoníaca. – WangJi inspirou sutilmente demonstrando um pouco de abalo ao recordar do momento que Wei WuXian se jogou no rio vermelho.
— WangJi mesmo assim, sinto-o preocupado.
— Wei Ying me relatou outro dia que se sentia vazio.
— Hum, compreendo uma parte dele se foi, claramente afundou no esquecimento de sua mente. – XiChen pousou elegantemente a xícara sobre a mesa e completou. – Wei WuXian era uma mente e um cultivador brilhante, tal força sendo esquecida pode realmente provocar alguma mudança em sua reencarnação.
— Hn.
— Como irá ajuda-lo, caso permanece se sentindo vazio?
— Estava estudando alguns arranjos e melodias, pretendo usá-las enquanto estamos nos Recantos da Nuvem.
— Muito bem. – XiChen serviu mais chá para ambos. – Antes de encontrar com jovem mestre Wei quero lhe relatar sobre o processo no salão do cultivador chefe.
WangJi estreitou os olhos, pegou a sua xícara e atento ao que o irmão estava preste a relatar. O processo ao qual se referia era a denuncia de alguns cultivadores ligados ao governo sobre WangJi ter mantido um rapaz preso em seu apartamento. Estava correndo em todos os clãs que WangJi havia enfrentado o governo e por conta desse fato muitos clãs estavam preocupados com uma possível perseguição política.
— Os clãs só se preocupam em perder regalias do governo.
— Infelizmente, estou ao seu lado WangJi, não permitirei que tal equivoco permaneça.
— Obrigado irmão.
Wei Ying caminhava pelo local aquela tarde apesar de fria, tinha um leve fresco dos raios de sol, depois de conseguir a senha da internet procurou um local para se sentar e enviar as fotos que tirou para sua irmã.
Ele caminhava distraído olhando a tela do telefone quando esbarrou com alguém.
— Ah, desculpa estava distraído não o vi… – Tão logo ele levantou o olhar se surpreendeu com a figura altiva de robe branco e uma longa barba negra no queixo. — Não o machuque moço?
QiRen olhava-o um tanto surpreso e aos poucos foi estreitando os olhos.
Wei Ying se assustou com aquela expressão séria e deu passos para trás, sorriu sem jeito.
— Desculpa. – Curvou a frente juntando as mãos em reverência.
— Venha comigo. – QiRen passou a frente e caminhou um pouco ao notar que o rapaz não o seguia. Virou-se encarando-o.
— Ah? É para eu ir?
Inspirando fundo o homem seguiu a frente respondendo:
— Existe mais alguém aqui além de você? Vamos rapaz, vamos conversar.
— “Ta” bom… – Wei Ying seguiu-o desconfiado até chegarem ao salão de estudos. – Que lugar bonito, ei moço, meu nome é Wei Ying e o seu?
QiRen chegou a travar ao ouvir o nome do rapaz, virou-se para ele e mantendo a voz firme na sua seriedade respondeu.
— Lan QiRen.
— Prazer em conhece-lo. – Sorridente caminhou subindo as escadarias do salão atrás de QiRen. – QiRen esse nome… – Wei Ying estava pensativo até que lembrou. – Ahhhh, Sr. QiRen é o tio de Lan Zhan hahaha…
QiRen sentou em uma almofada de trás de sua mesa e apontou a almofada a frente dele.
— Sente-se corretamente e não grite.
Wei Ying se aproximou apressadamente, estava curioso e ao mesmo tempo tentado a impressionar o tio de WangJi. Pensava que se fizesse o velho gostar dele, não teria como preocupar Lan Zhan.
— Sr. QiRen, sabe quem sou?
— Hum, sim, meu sobrinho trouxe-o para conhece-lo. – QiRen passou a mão em sua barba. – Não mudou muita coisa.
— Mudar? – Wei Ying olhou-o confuso.
— Muito bem, viu as regras do clã no muro da entrada?
— Ah sim, achei interessante, mas afinal de conta para que tantas proibições?
— É necessário para manter a conduta e o bom caminho.
— Hum… E se a pessoa quebra as regras o que acontece?
— Recebe uma punição. – QiRen analisava a energia espiritual do garoto.
— Sr. QiRen, para ser discípulo do clã Lan tem que ler e praticar todas as regras?
— Exatamente.
— Ah, eu não ia conseguir. – Wei Ying negou com a cabeça. – Hahahahahaha… Mesmo que seja correto, ainda assim não conseguiria.
— Não conseguiria por qual motivo?
— Sr. QiRen preste atenção, se a pessoa não pode fazer quase nada aqui, então a pessoa seria um ser vegetativo. – O garoto começou a tagarelar sem parar.
QiRen começou a ficar sem paciência, afinal era ele que tinha que fazer perguntas e não o garoto.
— Wei Ying, está dizendo que é errado as doutrinas do caminho ortodoxo?
— Não estou dizendo que é errado, só que tem que ser mais flexível. – Wei Ying deu de ombros. – Agora entendo porque Lan Zhan é tão travado e não se diverte.
— Meu sobrinho é um exemplo perfeito de nossa retidão e doutrina, está julgando errado os meus ensinamentos? – O homem começou a torcer os dedos sobre sua túnica.
— Não, Sr. QiRen deve ser um excelente professor, Lan Zhan é realmente um homem correto. – Sorridente voltou a questiona-lo. — Vamos dizer que seria melhor se desse ao menos diversão. Esse lugar tem diversão?
— Algazarra é perda de tempo.
— Eu escutei música aqui, onde tem música tem diversão, vocês não se divertem?
— Não temos diversão.
— Que chato. – Wei Ying levantou e se apoiou na mesa de QiRen. – Sr. QiRen eu sugiro se divertir um pouco, possa lhe ajudar e poderemos sermos amigos.
— Afaste-se.
— Ah, desculpa tio.
— Eu não sou seu tio.
— Eu sei, mas não posso chamar de tio?
— Não, mais respeito.
— Sim, Sr. QiRen. – Ajeitou-se na almofada e sorriu a ele. – Posso fazer mais uma pergunta?
QiRen inspirou fundo e pressentia que se arrependeria de permitir, mas assentiu com a cabeça.
— Ah, sobre o toque de recolher, eu não consigo dormir as 9 horas eu posso ficar pedir a Lan Zhan para passearmos na Vila Caiyi? Teremos permissão de entrar depois das 9 horas?
— Não, o toque de recolher é uma das regras e você não vai fazer meu sobrinho quebra-las novamente.
— Novamente? – Wei Ying ficou confuso. – Eu nunca fiz Lan Zhan quebrar as regras, por que está dizendo “novamente”?
QiRen se irritou e levantou apontando o dedo para o garoto.
— Wei Ying, você pergunta demais… você fala demais… Saia!
— Desculpa, mas o Sr. QiRen não respondeu, eu fiz Lan Zhan quebrar regras? Quando? Responda-me Sr. QiRen. – O garoto estava persistente em saber o que o QiRen queria dizer com aquela acusação.
Os questionamentos do rapaz fizeram a paciência de QiRen chegar ao limite e explodiu em um berro.
— WEI YING SUMAAAA…
Wei Ying caminhava resmungando e ao mesmo tempo desconfiado sobre aquela questão que foi acusado. Ele não se recordava de algo que possa ter feito WangJi quebrar regras do clã. Bufou por fim quando parou perto de uma árvore, seus olhos abriram ligeiramente ao ver que aquele campo estava cheio de coelhos brancos.
— Coelhos hahahaha… – Correu para o local e parou no meio de um grupo. – Vem cá coelhos… – Wei Ying corria atrás das bolas de pelos que começaram a saltar de um lado para o outro fugindo dele. — Ahhh eu não machuco vocês, só quero pegar no colo… Que droga. – Cansado ele parou e desistiu sentando no chão. Pegou um pequeno galho de árvore e começou a brincar com um formigueiro.
—Tio se acalme, ele é só um menino. – XiChen tentava acalmar o tio.
— Ele não mudou, continua o mesmo indisciplinado. – QiRen ralhava alto enquanto andava de um lado para o outro do salão.
— Tio ele só fez uma pergunta, não conhece as regras e desculpe o meu jeito, meu tio falou demais. – XiChen não podia culpar o garoto, afinal o combinado era conversarem os três juntos com Wei Ying.
QiRen sentou finalmente e colocou a mão sobre os olhos, mesmo que fosse um menino em uma nova vida, as mazelas do passado ainda assombravam aquele clã e o receio de perder seu sobrinho.
WangJi logo que foi informado por um discípulo o que aconteceu seguiu pelo Recantos procurando por Wei Ying, orientado pelo irmão que levasse o menino para o quarto e conversasse com ele.
— Eu não achei Lan Zhan e os coelhos nem chegam perto de mim só me resta as formigas… – Arfou o ar chateado.
WangJi o encontrou sentado perto da árvore e se aproximou ouvindo-o resmungar, olhou o campo em volta e os coelhos se aproximaram dele ficando em sua volta.
— Wei Ying.
Rapidamente, ao ouvir seu nome, Wei Ying se virou deparando-se com a bela figura de WangJi naquelas vestes que mais fazia ele parecer um anjo. Inspirou baixou e levantou aproximando sem jeito.
— Lan Zhan, eu o procurei e não achei… – Olhava os coelhos em volta do outro e abaixou para tentar pegar um, mas ficou frustrado quando eles se afastaram. – Ah, eles não gostam de mim.
WangJi abaixou e pegou um, afagou-o e em seguida colocou nos braços de Wei Ying.
— Soube que encontrou meu tio.
— Coelhinho fofo. – Wei Ying afagava os pelos fofos do coelho quando voltou a face a WangJi. – Eu estava enviando fotos para minha irmã quando ele apareceu e me chamou.
— Hn
— Ele ficou chateado com minhas perguntas, mas eu não perguntei nada demais. – Murmurando voltou atenção para o coelho em seus braços. – Eu achei que se ele gostasse de mim, não seria problemas para Lan Zhan, mas ele ficou bravo.
— Não se culpe, não fez nada de errado. – WangJi se virou. – Vamos, está na hora da refeição.
— Ah, estou com fome, vamos! – Wei Ying soltou o coelho e seguiu atrás de WangJi.
Durante a refeição todos se reuniram e comiam silenciosamente, Wei Ying olhava vez ou outra para QiRen que aparentemente não conseguia tirar os olhos dele. Sorriu sem jeito e desviou o olhar. Inclinou o corpo para cochichar a WangJi.
— Lan Zhan tem sal? Não estou fazendo desfeita da sopa, mas está sem gosto. – Voltou o corpo e sentou ereto como os demais.
— Não.
— Ahn… – Olhou a tigela de sopa e suspirou. – Eu já comi coisa pior na rua. – Deu de ombros e pegou a tigela. Quando tomou o primeiro gole fez uma breve careta. – Não me admire que o tio seja tão rabugento, comer isso todos os dias é passar fome. – Murmurando colocou para o lado a tigela desistindo de comer. – Até eu seria rabugento se passasse fome. – Olhou no canto dos olhos para WangJi notando uma leve elevação no canto dos lábios.
“Hum, ele está sorrindo?”
Terminado o jantar, todos seguiram para seus quartos e WangJi pediu para Wei Ying esperar no dele.
Wei Ying estava deitado no tapete olhando a tela do seu telefone mandando mensagens para a irmã.
“A-Li, viu as fotos?”
“Vi sim, A-Ying. Lugar muito bonito. Está gostando?”
“Ah, aqui é legal, não muito… É quieto demais hahahaha”
“Está se comportando? Obedecendo Sr. WangJi?”
“Sim”
Wei Ying franziu o nariz lembrou na tarde que fez o tio de WangJi gritar com ele.
“SIM, irmã a comida daqui é horrível, estou com fome.”
“Não comeu nada?”
“Catei alguns biscoitos na mala e comi, mas a sopa é muito ruim.”
“Não fale assim, agradeça e não faça desfeita de nada.”
“Ainda bem que é só dois dias, acho que morreria de tédio vivendo nesse lugar e comendo essa sopa”
“A-Ying, se comporte”
“Hahahaha, estou me comportando”
WangJi finalmente retornou e entrou no quarto, ele carregava uma bandeja e caminhou até a mesa no centro do quarto.
O aroma era atraente e fez o garoto esquecer a irmã no chat, largando o telefone e sentando na almofada de frente a mesa.
— Essa refeição tem outra aparência.
— Coma.
— Lan Zhan, você é mesmo muito bom para mim, agora sim vou matar minha fome.
O garoto pegou os palitos e a colher e comeu aquele ensopado, estava muito bem temperado e sorriu satisfeito por comer algo naquela noite.
WangJi serviu um pouco de chá para ele e Wei Ying, aguardando comer.
— Lan Zhan, desculpa.
WangJi olhou-o questionando com olhar.
— Eu fiz seu tio ter raiva de mim, me desculpa.
— Coma e depois conversamos.
Wei Ying pegou seu smartphone e comeu olhando a tela até notar WangJi que pegou um livro para ler, discretamente começou a tirar fotos dele com aquelas roupas claras. Queria guardar de recordação.
Terminado a refeição e bastante satisfeito bebeu um gole do chá e brincou.
— Melhor que essa refeição seria um jarro do Sorriso do Imperador.
— Wei Ying.
— Eu sei, não pode bebidas nos Recantos da Nuvem. – Engatinhou parando de frente a WangJi e apoiou os braços na mesa. – Podíamos ir na Vila Caiyi e você me compra um pequeno jarro eu bebo lá e como a bala de gengibre. – Sorriu divertindo-se imaginando a cena.
— Está perto do toque de recolher, amanhã o levo a vila.
— Ah… – Torceu leve o nariz e apoiou o queixo na mão. – Lan Zhan, eu o fiz quebrar alguma regra do seu clã?
WangJi parou a leitura e olhou-o por alguns segundos ponderando em que falaria para Wei Ying.
— Não fez.
— Seu tio disse que eu fiz. – Wei Ying levantou e de joelhos imitou o gesto de QiRen apontando o dedo para frente. – Você não vai fazer meu sobrinho quebrar regras novamente, foi o que ele gritou comigo. – Sentando sobre os joelhos encarou WangJi. – Se eu o fiz quebrar regras, não me lembro.
WangJi colocou o livro sobre a mesa e voltou o olhar a Wei Ying, de certa forma o garoto iria conviver mais com ele e mesmo que não o levasse para o mundo da cultivação, haveria pessoas aos quais esbarrariam e atacaria o garoto com lembranças do passado. Possivelmente quando retornasse teria uma conversa com a senhora Meng Su sobre a origem de Wei Ying.
— Wei Ying, lembra-se do que meu irmão lhe contou?
— Hum…?
WangJi levantou e foi até a porta pegou uma lanterna e acendeu.
— Vamos, vou lhe mostrar algo que fará compreender.
Wei Ying levantou e calçou suas botas seguindo logo atrás de WangJi. Eles caminharam, passando pelo jardim principal e seguiram para o paredão de pedra onde estavam gravadas as regras.
Parados diante do paredão, WangJi estendeu a lanterna e mostrou uma sequência de caracteres que dizia: “Não se aproximar ou falar com Wei WuXian.”
Wei Ying olhou aquela inscrição e compreendeu que era esse o motivo.
— Lan Zhan, seu tio gritou comigo porque eu me pareço com Wei WuXian, não é?
— Wei Ying você não fez nada de errado.
— A minha aparência que é errada, apesar de parecer com ele, eu não sou ele. – Wei Ying voltou para o lado de WangJi. – Você quebrou regras por causa de Wei WuXian?
— Hn.
— Ah, entendi e seu tio tem raiva de tudo que se refere a Wei WuXian. – Inclinou o corpo se aproximando de WangJi encostando o ombro no dele.
WangJi sentiu seu coração saltar no peito quando percebeu que Wei Ying segurava a ponta da sua fita na testa. O garoto havia a pego enquanto olhava para as regras no paredão.
— Vamos voltar, são 9 horas.
— Claro, apesar que estou sem sono. – Wei Ying levou a ponta da fita entre os dedos e brindou com ela até notar o olhar de WangJi. – Hahahaha, desculpa Lan Zhan eu acabei pegando sem querer. – Soltou a ponta da fita. – Eu achei tão bonita.
WangJi virou-se para voltarem, Wei Ying acompanhou-o.
— Lan Zhan, eu sinto que não gosta de falar sobre Wei WuXian.
— Não é assim.
— Não?
— Hn.
— Ah é claro se você quebrou regras por Wei WuXian é porque… – Wei Ying parou de falar por alguma razão sentiu receio em continuar.
— Porque… – WangJi parou e olhou-o esperando continuar.
— Você… – Suspirou falando baixo. – Gostava dele.
WangJi ficou parado olhando por alguns segundos até que sua mão levantou, estava a ponto de tocar a face de Wei Ying, mas parou a investida ousada.
Wei Ying notou e olhou para a mão dele, sentiu o coração saltar no peito e impulso inclinou o corpo aproximando-se até sentir a mão de WangJi tocar seu rosto. Fechou os olhos e roçou suavemente a face sentindo a macies da mão de WangJi. Era cálida mesmo naquela noite fria, sentia o calor que transmitia. Se arrepiou quando a ponta dos dedos passou em seus lábios.
WangJi estava estático, surpreendido com o avanço do rapaz e o roçar de seu rosto em sua mão. Aquele pequeno gesto fez seu coração disparar no peito e os lóbulos de suas orelhas ganharem um tom roseado.
Aquele momento durou segundos, porém para ambos parecia eternos. WangJi inspirou tão sutil ao afastar a mão do rosto de Wei Ying. O garoto abriu os olhos e pigarreou sem jeito.
Para quebrar o clima, Wei Ying sorriu e andou a frente tagarelando para WangJi.
— Vamos Lan Zhan, vai deixar o convidado no frio?
WangJi finalmente saiu daquele estado e caminhou atrás do rapaz, o primeiro dia nos Recantos da Nuvem não foi tão ruim como ele pensara.
Continua…
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