obra escrita por
YAGO TADEU
A
O PESADELO DE PRISCILA
Meu amor, meu amor te fiz feliz
Como fez, como sim me fez também
Mas nosso amor foi um caso infeliz
E no fim não valeu nenhum vintém.
A
Você não perde tempo Priscila. Ted deu um sorriso maliciosamente. Eterna puladora de cercas.
— Me leve embora Ted. – Érika estava extremamente decepcionada – Vamos. – ela pediu dando as costas para o lago. Lisbela foi a primeira á descer a trilha de terra.
— Bom… Vou descer primeiro e avisar á todos que ela está bem.
— Não conte a eles sobre isso, por favor.- Érika pediu temendo uma grande confusão.
— Claro, não vou contar.- Lisbela deu um ar cínico de sorriso – Vou apenas avisar que ela disse que logo voltará. – Érika concordou com a cabeça enquanto o lampião transformava suas onduladas e louras mechas em tons dourados. Lisbela se despediu com um sorriso e acelerou o passo enquanto eles caminhavam lentamente.
— Porque ela está fazendo isso?- Érika esboçou indignação. Ambos estavam no escuro.
— Quem sabe ela já não tenha feito isso antes.- Ted disse recebendo reprovação de Érika.
— O que você está insinuando Ted? Você viu alguma coisa e não me contou?
— Ás vezes eu até admiro essa sua capacidade de ser lerda.- Ted a rejeitou no olhar – Você tem que ser mais ativa ás vezes.
— Quê isso?- estranhou o modo dele falar – Por que está falando comigo assim?
— Só estou começando á cansar de você.- Ted olhou em seus olhos como se fosse dono dela – Você me exausta. – ele estava mais que cansado. Ted queria sua liberdade de volta.
— Eu te exausto? Estava esperando o quê pra dizer que eu te “exausto”? Esperava uma cena daquelas pra vomitar isso? Quer fazer o mesmo que Priscila?- o olhar de Érika já se invocou como o irmão.
— Estava esperando você se tocar. – Érika não acreditava que estava ouvindo aquilo. Porque essa revolta repentina? Ted a deixou só na escuridão.
— Ei! Onde você vai?- Érika perguntou indignada.
— Não me pertube Érika, vou dar uma volta.- Ted se afastou entrando na trilha de terra.
Priscila há pouco a surpreendera, agora Ted. O que está acontecendo? Érika olhou pra cima e se encolheu ao presenciar um grande urubu passar próximo de sua cabeça.
…
— Posso pegar as flores rosas e fazer delas um buquê pra você. – Edgar sugeriu, mas já caminhavam próximos ao celeiro. Priscila olhou para os lados ouvindo ruídos. O olhar amarelo e rústico do barqueiro e seus traços sedutores faziam de sua pálida pele um autêntico charme.
— Não Precisa. – Priscila ainda estava apreensiva. Encolheu-se no uniforme quadriculado – Pode pegá-las amanhã ou outro dia.- Edgar pôs a mão de Priscila em seu rosto, gostava de sentir a vida pulsando em si.
— Sabe que nunca deram nome para aquelas flores. – Senhor Edgar deu o maior sorriso que já dera na morte – Posso chamá-las de Priscilas. Cheirosas e belas Priscilas. – com um suave sorriso ela aprovou.
— Eu vou tentar salvá-los mesmo que eu morra. – Priscila decidiu voltar á casa – Parece que Lisbela joga comigo o tempo todo.- ela sentia um turbilhão revirar sua mente sempre que tocava no nome dela.
— É claro, para os espíritos de SweetVillage nem sempre a morte é o melhor negócio, já que a ausência de vida tornam todos iguais e mortos diante das possibilidades. – Priscila olhou para baixo e ele ergueu sua cabeça – Eu vou buscar as flores, fique aqui. Em alguns minutos voltarei, muito cuidado.
Hesitando Priscila concordou. Logo voltaria á casa e preparava-se para enfrentar os questionamentos. Mais que isso, preparava-se para voltar ao jogo. Ouviu o ranger da porta do celeiro e se voltou á mesma entreaberta. Um esquilo aproximava-se do celeiro, gotas de sangue pingavam nas pequenas pedras da trilha. Ela acompanhou sua entrada no celeiro e um som cortou o silêncio, era o agonizar de dor do animal. Priscila se achegou á porta e a abriu. A escuridão tomava conta, não enxergava absolutamente nada. Empurrou a grande porta velha que provocou um ranger insuportável. Ela enxergava melhor agora com a grande porta escancarada, mas nem tão bem assim. Invadindo a escuridão ela buscou o esquilo entre as caixas de papelão que guardavam objetos putrificados. Tirou algo semelhante á um abajur da caixa, despedaçava-se em cinzas e ela o jogou entre as outras caixas. Embaixo do abajur que acabara de retirar, havia uma foto, suja com poeira grossa porém seca e com imagem nítida e fácil de ser definida.
— O que é isso?- ela se assustou ao ver a gravura da menina loura brincando num parque em Zellwéger – Essa… Sou eu.- seus olhos tremeram em incompreensão quando a porta do celeiro se fechou batendo como uma pancada e ela guardou a foto no bolso sendo interrompida – Quem está aí? Edgar? Edgar? Dérick?- teve o silêncio como resposta, mas não por muito tempo. Virou-se para trás, em sentido ao fundo celeiro – Quem está aí?- a lanterna ligou e clareou desde o pé dele até ela, iluminando dos pés á cabeça e num giro iluminando o próprio rosto.
— Sou só eu Priscila.- o loiro de cabelos cacheados tinha o rosto alumiado – Sou só seu amor, Tedysson Alecsander. – os olhos de Priscila tornaram-se irados para ele.
— O que você quer Ted?- ela sentia repugnância á olhar pra ele.
— O que eu quero, eu sempre quis. – ele deu um sorriso com o óbvio – Você é o que eu quero.
— Pensei que me deixaria em paz como havia jurado. – Priscila recordou.
— Não tinha pretextos para tê-la de volta em minha cama. – ele mordeu os lábios – Mas… logo vou ter. Você traiu o seu marido com um barqueiro roceiro? Bom… Não há grande diferença, carteiro… Barqueiro… Todos sem muito dinheiro. – Ted riu girando a lanterna com uma das mãos. As luzes da lanterna cortava a escuridão como uma espada de luz.
— Vá embora Ted, tudo entre nós há muito tempo já foi demolido. – Priscila o olhava com rancor – Não existe mais nada.
Ted deu dois suaves passos e pegou Priscila pelo queixo com um puxão, trazendo-a até ele.
— Diga, diga porque nosso amor foi tão inesquecível.- ele iluminou seu rosto com a lanterna – Lembre-se e diga!
— Eu me arrependi profundamente de ter traído Dérick e Érika naquela noite de ano novo. – ela confessou isso olhando em seus olhos. Ted sorriu balançando a cabeça.
— Não foi apenas uma noite, foi uma semana de envolvimento entre o carteiro descolado e a infiel empregada doméstica.
— Até você me bater seu cretino. – uma ponta de lágrima voltou a surgir nos olhos dela – Érika não merece apanhar.
— Érika nunca apanhou, nunca toquei um dedo em Érika. – Ted rebateu – Ela realmente nunca mereceu apanhar, mas você merecia apanhar muito Priscila, você merecia apanhar muito sua…
— Não! – Priscila gritou ao ver Ted ser arrastado pelo pé. Ela pegou a lanterna que havia caído da mão de Ted. Iluminou os olhos amarelos em fúria. Ted parecia estar sendo arrastado e tentava lutar sem êxito. Ouviu mais um barulho e soltou um novo grito – Edgar não! Não faça isso!- Priscila pediu.
Com a luz da lanterna ela viu Edgar parado olhando fixamente como um cão feroz para Ted que tentava se erguer.
— Vamos sair! – Edgar puxou a mão de Priscila a levando no mesmo instante para fora – Volte pra casa.
— Não o machuque.- Priscila pediu. Edgar ofegava como uma fera.
— Não vou tocar nesse verme. – Edgar prometeu batendo a porta do celeiro – Agora vá, volte para aquela casa antes que tudo fique pior para você. – Priscila apertou sua mão e se despediu correndo até a trilha. No fim da trilha apalpou o bolso e percebeu que a foto antiga que achara não estava mais lá. Provavelmente a deixei cair.
Edgar a acompanhou com os olhos amarelos piscando sem parar. Não queria deixá-la, mesmo que soubesse que devia se afastar dela. Como um vulto sumiu na escuridão.
…
Abriu a porta com receio, como quem espera o pior. Todos estavam na sala. Todos menos Ted.
— Por onde você andava Priscila?- Lisbela balançava com um olhar afiado a velha cadeira de balanço – Essa é a pergunta que todos nós queremos fazer. – Maristela a olhou desorientada segurando a mão do filho que já agradecia por ela estar viva. Érika desviou o olhar no mesmo momento. Hoje não vou contar nada, mas amanhã Priscila e meu irmão estarão cara a cara diante da verdade, ela não vai enganá-lo por muito tempo.
— Algo aconteceu com você Priscila?- Dérick queria que a esposa escapasse dos questionamentos.
— Aconteceu. – Priscila não precisava simular apreensão, sempre estava apreensiva diante de Lisbela – Eu estava na igreja sozinha, quando trancaram as portas. Então eu gritei para que alguém viesse… Para abri-la. – Priscila se enrolou – Passei horas até que Senhor Edgar me ouviu e pediu pra me tirarem de lá.
— Não há janelas enormes na igreja?- Lisbela juntou as mãos ouvindo atentamente como se escutasse um conto de fadas. Érika lançou um olhar para Lisbela. Ela era uma mulher boa, estava contra as atitudes de Priscila. Priscila, na verdade era uma cínica aventureira. Quantos anos ela nos enganou.
— Estavam trancadas, você não queria que eu quebrasse as janelas, não é mesmo Lisbela?
— Não, claro que não mocinha, isso é imoral. – ela tinha um sorriso entre os lábios.
— Nesse lugar é tudo muito isolado. – Maristela tentou ajudá-la. Não sabia porque, mas no momento achou que deveria fazer isso. Ted conferiu se o celular gravara mesmo todo seu diálogo com Priscila. Bingo! Agora você está em minhas mãos. Chegou naquele instante, abriu a porta e surpreso olhou como os outros disposto á torturar Priscila.
— Priscila, que bom que está bem. – Ted sorriu feliz – O que aconteceu com você?
— Fiquei trancada numa igreja. – Érika ainda a fitava incrédula – Mas está tudo bem. – não olhava em seus olhos nojentos.
— Amanhã, vamos todos embora pra Zellwéger, logo após o café da manhã, exceto Priscila que tem seus últimos dias aqui. Preciso voltar ao meu restaurante. – Maristela se levantou e cobriu-se com o encharpe de seda roxa colocando a mão na cintura. Tentava passar tranquilidade mantendo equilíbrio mesmo após as declarações do filho.
— Sim. – Priscila disse – Vamos todos descansar.
— Eu vou descansar no meu quarto, alguns podem dormir no quarto e outros estender lençóis aqui na sala, é a única maneira. – ela se levantou da cadeira de balanço com a mesma expressão agradável.
— Eu e Priscila ficaremos no quarto, podem ficar na sala. – Dérick o ofereceu.
— Muito gentil você. – Ted brincou e Dérick percebeu as estranhas reações da irmã que costumava sorrir fácil – Tudo bem, ficamos na sala e Maristela também. – ele concordou pedindo os lençóis.
— Todos os lençóis estão no guarda-roupa do quarto da empregada. Vou descansar, apaguem os lampiões e as velas nos castiçais ao lado da janela na cozinha. – Lisbela explicou atenciosa. Agora muito atenciosa – Uma boa noite á todos.
Todos desejaram o mesmo. Todos seguiram o ritmo da correnteza. Maristela deitou ao lado de sua filha e de seu indesejado genro no chão da sua sala, voltar á dormir no chão era uma coisa que nunca pensou que faria depois que saiu da pobreza, mas aceitar as coisas agora era a melhor opção. Dérick parece delirar, mas não vou tapar os ouvidos para meu filho, há muita estranheza nesse fim de mundo. Ted colocou a mão sobre Érika que a jogou de volta. Eu estava enganada sobre certas pessoas e Ted pode ser mais um grande engano. Érika forçou os olhos tentando adormecer. Pobre Érika, nunca desconfiou de nada. Mas os irmãos Gilbert vão se surpreender quando eu surgir ao lado de Priscila como seu noivo. Sim, vou chantageá-la até conseguir seu amor novamente. Ted fechou os olhos satisfeito. Priscila estava lado a lado com Dérick, muito perto de seu marido. Onze anos de casados. Estavam tão próximos de novo, mas não trocavam uma só palavra perdidos nos pensamentos e maquinando em suas mentes uma saída para seus duvidosos destinos. Do que eles tem medo? O que é capaz de fazer eles temerem? Dérick não adormeceria até encontrar a resposta nas profundezas de sua mente. Vou jogar o jogo dela, ainda que esse leve á morte de todos. Não há outra alternativa. O corpo de Priscila se entregou e ela adormeceu. Ainda ouviram no fundo a porta do quarto de Lisbela bater, uma leve batida que ecoou nos cinco cômodos e calou o local.
…
Em meados da madrugada a ventania gelada soprava pela janela aberta. Os olhos de Priscila se abriram e ela ergueu a cabeça escutando um som vindo da janela. Uma suave cantiga. Ela notou que Dérick dormia em sono profundo e decidiu se aproximar para ouvir melhor.
Um dois três, três dois um, tudo sobre dois, três um três, sobre três e a raiz depois. Ela ouviu a voz do falecido filho vindo de fora da casa, aproximou-se da janela segurando as cortinas que balançavam. Era a cantiga preferida de seu filho. Priscila saltou a janela e decidiu seguir a voz nem que isso a levasse á morte. Era canção que Mateus aprendera nas aulas de matemática e ensinara ao irmão mais novo Ítalo. Os dois decoraram num segundo, e muitas noites cantaram juntos antes de dormir.
A cantiga vinha do cemitério e Priscila teria que entrar ali se quisesse chegar á fonte. Ela desfez os laços da corrente e abriu o grande portão jogando-as no chão. Deu a volta no muro, deu a volta no paredão branco. Sepulturas e mais sepulturas dentro de um espaçoso cemitério. Ao fundo depois das covas avistou o cruzeiro, iluminado por uma luz azul.
Um dois três, três dois um, tudo sobre dois, três um três, sobre três e a raiz depois.
Priscila foi lentamente observando algo anormal no cruzeiro.
Um dois três, três dois um, tudo sobre dois, três um três, sobre três e a raiz depois.
Passava da metade da distância inicial. O que era aquilo que cantava? Três bonecas azuis tinha em seus rosto um brilho azul, não tocavam o chão e seus cabelos negros lisos eram escorridos até o pé. Faziam um círculo como um ritual, girando como uma cantiga.
Um dois três, três dois um, tudo sobre dois, três um três, sobre três e a raiz depois.
Priscila se encolheu apertando os braços com as próprias unhas, as rosas vermelhas ao redor delas a deixaram arrepiada quando viu um garoto no meio. Quando viu o garoto…
Um mata três, três são ruins, tudo já se foi, três versus três, morrem seis e o caixão depois.
Priscila colocou a mão tremendo sobre a boca e seus olhos se arregalaram ao ver o filho no centro.
— Mamãe, fui eu que abri a janela. – o falecido filho sorria vestido com um terno preto – Eu sabia que estava com medo, por isso permiti que saísse quando quisesse. – Priscila deu dois passos para trás – Mamãe canta pra mim. Mamãe canta! Mamãe canta! Mamãe canta! Mamãe canta!- seu corpo se desmanchou e transformou-se em um urubu de plumas negras, penachos reluzentes e negros. Ela se abaixou quando o enorme pássaro subiu para o céu. Priscila colocou a mão no peito e seu coração disparou quando as três bonecas gigantes se viraram para ela piscando os olhos de vidro.
— Não… Não!- Priscila berrou quando as três a cercaram girando ao redor dela como uma ciranda. Suas bocas costuradas, as faces como lâmpadas azuis iluminadas manchadas de sangue – Não!!!- as bonecas riram como um rangido. Priscila se encolheu quando as três a atacaram. Seu grito findou o pesadelo.
Priscila caiu da cama de costas. Olhou para o teto assustada e um rosto surgiu tapando sua visão:
— Foi só um pesadelo mocinha. – a senhora loira abriu um grande sorriso – Volte pra sua realidade. Bom dia, o café está na mesa e sua família te espera.
A patroa saiu do quarto e Priscila voltou á outro pesadelo.
Ted saía do banheiro quando Dérick o parou na porta. Eram seis da manhã.
— Ted… – ele quase sussurava – Eu vou sair após o café e voltarei pra salvá-los. Enrole Lisbela. Não tente sair de SweetVillage. – aconselhou baixo.
— O quê? O que você está dizendo?- Ted questionou sem entender.
— Apenas confie em mim, eu peço pela sua vida, apenas confie em mim. – Dérick olhou bem em seus olhos – Agora voltemos ao café da manhã. – Ted se intrigou tanto ao ouvir aquilo que não percebeu que o celular que guardava no bolso de trás da calça caiu, tendo o som da queda amaciado pelo tapete na porta do banheiro. Dérick foi na frente e Ted agora mais inquieto foi atrás. Érika passou por eles dando um sorriso fraco para o irmão e não fez questão de olhar na fresta da porta do quarto onde Priscila se encontrava. Érika segurou a maçaneta quando olhou para baixo notando o celular do marido no tapete. Ted, deixou seu celular cair. Érika pegou o celular, e entrou no banheiro aproximando-se da pia. Abriu a torneira, deixando o celular em cima da tampa do vaso sanitário enquanto lavava o rosto. Ela lavou com atenção abaixo dos olhos, na tentativa de conter as marcas da insônia também usaria maquiagem em seguida. Tudo isso deixou meu rosto péssimo. Fechou a torneira para passar a maquiagem e em alguns segundos a tentou ligar novamente.
— Mas… – ela olhou impressionada. Não saía mais água da torneira – O que aconteceu?- ela tentou ligar novamente quando ouviu o celular vibrar. Olhou assustada e o pegou em cima do vaso sanitário, o gravador de voz ligou espontaneamente e Érika se assombrou ao ouvir o início da conversa entre sua cunhada e seu marido. Abaixou o som da gravação e pressionou contra seu ouvido, suas mãos começaram a tremer junto da inquietude das suas pestanas. Um terremoto parecia ter se instalado em seu emocional.
Priscila chegou á mesa do café, posta na sala em cima do tapete para que além das cadeiras todos pudessem estar juntos também no sofá. As crianças sorriram á mesa. A patroa com um xale marrom servia á todos com boa disposição. Maristela olhou rapidamente para Priscila e voltou á tomar o café beliscando um pão caseiro com receio. Ted ao lado de Dérick tomava café e Priscila não encontrava espaço para ela na mesa.
— Bom dia. – Priscila deu um seco bom dia, de volta á tensão da vida após um perturbador pesadelo.
— Bom dia mocinha. Crianças, sentem-se no sofá para dar espaço aos mais velhos.
Andy e Anne se levantaram levando com afobação suas xícaras e pratos ao sofá. Priscila sentou no sofá sob o silêncio tenso logo pela manhã. Ted tocou no bolso de trás e fez uma expressão de assombro quando notou que o celular não estava mais lá.
— Algo de errado Ted?- Lisbela indagou sugando o café de segundo em segundo de modo irritante.
— Não, nada de errado. – ele tentou disfarçar. Priscila cortou um pedaço do pão caseiro. Maristela não entendia aquele estranho e pesado clima, mas desde ontem á noite ele reinava.
Érika chegou á mesa com a pior expressão que poderia ter. Ted deu um mortiço sorriso tentando agradá-la.
— Dormiu bem hoje? – Ted indagou quando ela sentou na mesa.
— Ótima. – lançou um inventivo sorriso á todos. Ela não está normal. Ted percebeu. Tem algo muito errado. Dérick mexia nas xícaras listradas vazias para se acalmar. Dérick e Priscila podiam voltar e acabar com esse clima, essas histórias de separação estão fazendo mal á mente do meu filho. Maristela pensou isso engolindo um pedaço de pão.
— Porque vocês não se beijam?- Maristela sugeriu enfim dando um sorriso – Vai Priscila, satisfaça o desejo da sua sogra, porque temos que aguentar esse clima insuportável?- Maristela riu esboçando uma certa tristeza no olhar, ela não costumava se expressar assim – Depois de amanhã é meu aniversário, o melhor presente que vocês poderiam me dar é um beijo e a promessa que vão tentar novamente.
— Eu concordo plenamente, porque não acabam com esse circo de terror e se beijam logo?- Ted sorriu irônico. Dérick deu um medroso sorriso e Érika fitou o marido com ódio no olhar. Lisbela os encarou paralisada. Priscila olhou para Dérick e ambos aceitaram no olhar, lado a lado na mesa eles deram algo mais que um selinho. As crianças no sofá assistiam as reações com prazer. Nos olhos de Lisbela pôde-se ver o beijo refletido coberto de nojo em sua expressão. Maristela sorriu e os dois se afastaram.
— Bom, já é um início. Espero que em pensamento tenham feito a promessa.
— Porque tudo tem que ser forçado?- Lisbela perguntou olhando um a um com naturalidade á todos – Porque tudo vindo de vocês tem que ser tão forçado? – Dérick e Priscila engoliram seco.
— Porque na sua opinião isso é forçado? – Maristela desdenhou da camponesa no olhar – Eles estão casados há onze anos, tiveram uma briga qualquer, não tem nada forçado.
— Eu estava esperando Priscila contar, mas já que ela não vai contar eu conto. – Priscila sentiu seu coração subir na garganta quando ela disse isso – Eles estão separados, e Priscila não vai voltar mais á Zellwéger. Principalmente porque Priscila deixou seu marido… Por causa de mim. – a xícara que Priscila segurava começou a tremer junto de seu braço inteiro. Lisbela disse isso com vontade – Eu e Priscila vamos nos casar.- sorriu – Aliás, você aceita ser nossa empregada Érika?- Érika a encarou sem acreditar. Essa mulher é louca? O que está acontecendo aqui? Além da farsa que Priscila é. A xícara de Érika também tremia. Dérick sentiu sua adrenalina disparar, e Maristela quase engasgou-se com o café.
— Priscila, o que essa mulher está dizendo? Explique-se Priscila. – Maristela estava chocada – Diga que essa mulher está louca. – exigiu explicações.
Está tudo fora de controle, todos nós vamos morrer. Dérick tinha sua expressão em pânico. Que diabos tá acontecendo aqui? Ted estava perdido. Que seja o que Deus quiser. Priscila pensou se enclinando e encarando os olhos neutros da patroa.
— Ela é louca. – Priscila despejou o ódio em cima daquela que destruía sua vida – Você é louca Lisbela. – agora olhou para cada um na mesa – Eu não tenho nada com essa mulher. É uma mal amada… Você não me assusta mais Lisbela Reis… – Dérick segurou sua mão sentindo um calafrio tomar seu corpo. As andorinhas douradas em sua orelha balançavam junto da ira no olhar da patroa – E eu. – Maristela quase respirou satisfeita.
— Você não tem amor ao meu irmão, sua cínica! – Érika levantou como um tornado arremessando o café no rosto de Priscila. A xícara sumiu na confusão quando Érika voou em cima de Priscila, derrubou os objetos da mesa e abateu a cunhada e a cadeira.
— Tirem elas, tirem elas! – Maristela se levantou desesperada – Meu Deus, o que está acontecendo?
— Érika pare! Érika pare!- Dérick gritou tentando a tirar de cima da esposa. Os olhos de Ted saltavam e ele se levantou sem reação.
— Cínica! Cínica! Vagabunda!- Érika tentou esbofetear Priscila, mas foi segurada por Dérick. Andy passou a língua entre os dentes sorrindo. Lisbela cruzou os braços assistindo o espetáculo. Maristela segurou a mão da filha esperando uma explicação. Ted olhava vidrado pra cada um. Érika sabia de seu passado? Maldito celular! – Você é uma falsa vadia! Cínica! Porque fez isso com todos nós? Porquê? Porquê? Cínica!- Priscila tremia com as mechas desgrenhadas sobre o rosto, seu pânico transbordou, seu medo a jogou no fundo do poço quando sua máscara derrocada envidraçou.