Apesar da alta temperatura ele nunca se sentira tão bem em toda a sua vida, o solo escaldante de cinzas vulcânicas era um convite para que ele retirasse os sapatos e caminhasse despreocupado até o seu destino final. Seu elemento natural falava mais alto naquele lugar. Para onde quer que olhasse a imagem era sempre a mesma, quilômetros e quilômetros de rocha vulcânica escaldante, e uma atmosfera pesada demais cheia de gazes pesados e fuligem vinda talvez de uma erupção vulcânica ocorrida há muito tempo.
“A terra sem vida” – foi como Arthur a chamou quando eles atracaram. A única coisa que ele ouviu sobre o lugar foi que nenhum dos humanos sobreviventes se atreve a se aventurar por estas terras simplesmente por medo de morrer pelos gazes tóxicos vindos do vulcão.
Jimmy seguira à risca o mapa entregue a ele assim que saiu do barco com apenas dois pontos marcados nele, a montanha de fogo e a arvore da vida. As instruções foram claras, o guardião teria de sobreviver a qualquer coisa que aparecesse na montanha e chegar vivo a arvore da vida para que Lucca pudesse concluir a missão, – suicida segundo a maioria do grupo incluindo ele também. – O lugar agora inabitado, guarda formações rochosas de formas e tamanhos diferentes, florestas inteiras foram cobertas pela lava vulcânica agora petrificada pela ação do tempo, os rios e lagos existentes ali eram poças quentes de enxofre, o que tornava impossível o consumo.
A medida que ele se aproximava de seu destino o ar tornava-se cada vez mais pesado, cinzas se misturavam a atmosfera tornando o céu negro, tremores recorrentes indicavam que o vulcão ainda estava ativo.
– Calma velho amigo, tudo isso logo terá um fim. Eu prometo.
Jimmy não sabia como explicar, mas de algum modo ele sentia que aquela terra estava sofrendo, clamando por ajuda. Era como se a grande montanha estivesse chamando por ele. Vasculhando em volta procurou por sinais humanos, qualquer coisa que fosse que lhe indicasse a passagem de humanos por ali, uma trilha, um caminho, pegadas, qualquer vestígio que o ajudasse a seguir em frente.
Vestígios de vida.
Depois de muito vasculhar e nada encontrar ele se voltou para a montanha mais uma vez.
– Somos só eu e você então.
Uma forte onda de calor o consumia por dentro, algo que o impulsionava a seguir apesar de estar com medo do que estivesse esperando por ele no topo. Ele tocou a montanha com as mãos, seu corpo tornou-se mais aquecido, sua respiração tornou-se ritmada, seus batimentos estavam calmos, Jimmy sentia o sangue fluir em suas veias como um rio de lava fervente prestes a explodir. A montanha chamava por ele, assim Jimmy se pôs a subir, escalando passo a passo com as mãos limpas.
***
Depois da longa escalada Jimmy se depara com um pequeno vilarejo de casas destruídas. E petrificadas pela ação do vulcão. O primeiro e talvez único vestígio de vida que ele encontre ali.
– Olá, tem alguém aí? – Ele gritou, mas não obteve resposta.
Vasculhando o local, o garoto encontrou vestígios de uma civilização muito antiga, há muito tempo esquecida. Uma espécie de escrita em uma grande pedra que servia de aviso, para qualquer um que se atrevesse pôr os pês naquele local sagrado.
A poucos metros a única construção ainda de pé lembrava a torre de uma velha igreja cuja única entrada tinha o formato de uma estrela brilhante.
Jimmy caminhou sorrateiro até a entrada, vasculhando o local a procura de bens preciosos ou qualquer coisa de valor que pudesse encontrar. A pedra em seu peito queimou intensamente, uma força dentro dele o chamava para adentrar aquele local sagrado.
A porta aberta dava a ele uma boa visão do interior, tochas se acenderam assim que ele pôs os pés ali dentro, o grande salão se abria em um grande círculo cujo centro a estátua de um homem imponente adornada de pedras preciosas vigiava qualquer um que entrasse ali. A figura perecia proteger um grande tesouro escondido há muito tempo.
Ajoelhado em frente à estátua estava um senhor que sorriu ao vê-lo entrar.
– Bem-vindo forasteiro! – Disse ele levantando-se.
– Quem é você?
– Antes eu fui apenas uma criança. O único sobrevivente de um massacre. Hoje sou apenas um velho que sofre pela perda de seus entes queridos, forçado a seguir em frente, guiado pelo medo da morte, e pedindo perdão pelos erros de meus antepassados.
– Do que está falando? – Quis saber o garoto.
– Ele tem muitos nomes, muitas faces – Disse o velho aproximando-se dele vagarosamente. – Ele tem o dom de conceder desejos e riquezas de bom grado aqueles que o evocarem. Mas implacável aqueles que tentarem roubar seus tesouros.
– O que aconteceu aqui?
– Djin, o senhor do fogo destruiu todo está vila porque nós nos recusamos a fazer o que ele nos ordenou.
– A fera rei do fogo fez isso com o seu vilarejo.
– Com o vilarejo e com toda a terra de Fajro. Tudo foi consumido pelo fogo. Há muito tempo atrás quando as feras governavam esta montanha era o lar de um gênio. Ele sempre permitiu que os homens vivessem em seu reino desde que eles fossem honestos e não roubassem seus tesouros. Vivemos em harmonia até o dia em que um jovem vindo de um reino distante roubou um dos tesouros valiosos do gênio. Enfurecido a criatura dizimou todo o vilarejo.
– O senhor foi o único sobrevivente do massacre.
– Não garoto. Eu fui o responsável por tudo isso.
A voz do velho havia mudado, a expressão sofrida deu lugar a um sorriso sarcástico, incrédulo Jimmy viu o ancião ser consumido pelo fogo e das cinzas a figura de um grande homem ressurgiu.
– Faça um pedido e eu atenderei. – Disse o gênio em uma saudação.
***
A temperatura havia aumentado consideravelmente, chamas ardiam por todo o lugar vindas do chão. O velho permanecera sentado diante da estátua mantinha os olhos vidrados no garoto. Num instante o senhor frágil pareceu derreter na frente dele, a pele transformou-se em uma casca de pedra dura se rachando com o calor quase insuportável. Descascando ele deu lugar a um homem bem mais jovem e forte, os músculos saltaram e ele dobrou de tamanho, sua voz tornou-se mais grave e potente.
– Eu posso atender ao seu pedido, posso te dar aquilo o que você mais deseja!
O gênio diante dele pareia brincar com as chamas do lugar. Elas dançavam conforme a vontade dele, seu sorriso diabólico fez Jimmy tremer.
– O que você fez aqui? – Perguntou ele dando um passo para traz.
O gênio levantou-se cruzou os braços e o encarou por um segundo antes de virar fumaça e desaparecer.
– Faça um pedido! – Ordenou o Djim em seu ouvido.
– Eu não desejo nada! – Disse ele confiante.
– Você está mentindo. Estou te oferecendo o maior desejo do seu coração, qualquer coisa que você queira, é só pedir.
– Não!
Num instante ele havia se materializado ao lado de Jimmy, num estalar de dedos o gênio fez aparecer diante dele uma serie de imagens felizes diante do garoto.
– Ouro, joias, o amor da sua vida, é só pedir.
– O que quer em troca?
– Devolva minha joia filho do fogo, e você terá tudo o que quiser.
– Do que esta falando?
– Aquele que veio antes de você, me tomou algo precioso. E enquanto ele estiver com ela eu estou preso a ele.
– Zaon.
– Ele mesmo. Recupere a joia e terá o que quiser! Ouro. joias, o amor de sua vida, ou ate mesmo a vida eterna. Basta pedir e eu consederei.
– E se eu nao quiser? – Questionou o garoto.
– A escolha é sua, mas deixe-me mostrar un vislumbre do que espera por voces, caso Zaon saia vitorioso desta batalha.
Num estalar de dedos o genio fez surgir diante dele a imagem de sus amigos lutando contra Zaon em um campo aberto. Jimmy viu seus amigos serem feridos e mortos pelo antigo guardiao usando a joia que pertencera ao Djin.