Diante dele o corpo inerte do antigo guardião jazia agora sem vida. Samuel recebera em seu lugar toda a fúria da vampira que um dia, há muito passado fora sua amada Helena. Lá no fundo eles sabiam que aquilo aconteceria mais cedo ou mais tarde, como descrevera o livro das eras. A cena agora estava cravada em sua mente para todo o sempre, O homem olhava de Alice para Lucca sorrindo como se soubesse de alguma coisa que eles nao sabiam.

Sim, ele sabia..

A vida de ambos mudaria para sempre a partir daquele momento.  A garota chorava ao lado dos dois remoendo seus atos, ela se deixara levar por um sentimento ruim, um misto de rancor, odio e amargura por todos os anos em que ela e a mãe haviam se escondido por conta de sua condição. Cassadas por algo que nenhuma delas pediu, a vida de submissao da mãe para protege-la a todo custo.

Arrependida Alice se deixou consumir pelas lagrimas

– Eu não queria… – disse aos soluços, – perdoe-me.

– Minha doce Helena! – Disse ele em delírio. – Não se culpe por nada, você estava sobre a influência dele, todos nos estávamos em algum momento.

– Não fale… poupe suas forças. – retrucou o garoto

– Todos fizemos o que era preciso… Eu não tive coragem de fazer o que era preciso no nosso primeiro encontro nesta época, mas no fim das contas tudo se resolveu, mas a que custo?

– Não fale, poupe suas gorças! – Lucca destampou um de seus frascos, e colocou o conteudo na boca de Sam para que ele bebesse. – Tudo vai ficar bem.

O garoto repetia um mantra numa lingua que nenhum deles conhecia desenhando em seu peito um ideograma de cura.

– Tudo esuta acabado! – Samuel fechara os olhos, entregando-se ao seu destino.

Uma aura negra pairava sobre eles, parecia esperar a hora certa para alguma coisa.  Sam proferia um encantamento de projeção. O antigo guerreiro nao estava mais entre eles.

– Não morra!

Lucca apoiou Sam em seus braços trêmulos, enquanto o via perder as forças pouco a pouco, o disparo de energia negra o atingira em cheio no coração. O garoto retirou as pressas a camisa verde que usava, formando um amontoado de tecido pressionou-o contra a ferida aberta para impedir o sangramento.

Sam soltou um gemido de dor agudo.

Em questão de segundos o pano havia se embebido em sangue, suas mãos manchadas de vermelho tremiam enquanto lutava contra os próprios medos.

– Não tenha medo. – Ele disse num sussurro quase mortal. – Apenas faça!

– Eu não posso fazer isso sozinho. Não sei como.

– Você não está sozinho. Nunca esteve. O seu dom é a junção de todos os outros, eles sempre estarão com voce.

– Se eu fizer isso você morre.

– Eu já estou morto garoto. Faça! – Ele ordenou como ultima vontade.

– NÃO! Não, tem que existir outro jeito. – Alice chorava inconformada.

– Nao ha outro jeito, eu lhes imploro.

Como alguém que deveria proteger todos os universos e a energia dos elementos fora capaz de fazer tudo aquilo. A infecção na terra, a destruição de Ezius, todas as mortes fora apenas para realizar um desejo mesquinho.

Sam entregou a ele seu medalhão com num ultimo resquício de forças. Lucca levantou-se resignado. Todos haviam se sacrificado por ele, dado a vida por ele. O único que poderia realizar tal milagre.

– Eu não estou sozinho. – Ele disse para si mesmo.

Poucos segundos se passam, Lucca se deixa ser tomado por uma energia multicolorida vinda do próprio medalhão. A luz era tão intensa que mal se podia ver algo diante dos próprios olhos. Antes que Zaon tomasse forma novamente, Lucca correu em sua direção, à medida que a energia se aproximava da criatura ela perdia forças.

 

***

 

Sam deixara o plano terreno, como estava escrito no livro das eras desde o inicio, mas nao antes de vizitar seus amados anjos pela ultima vez. O amuleto em seu peito brilhou como nunca ofuscando a visao de todos naquela sala.

Em uma fração de segundos Lucca se vira sozinho mais uma vez, mas agora em meio aos livros antigos do pai, passados de garação a geração aprendendo sobre a alquimia, mesclados com alguns truques de caçador de vampiros.

– Seu pai é um grande homem. – Sam pôs a mão em seu ombro.

– Que lugar é esse? – Perguntou o anjo curioso.

Uma gama de cores saltavam aos olhos se misturando umas as outas dando lugar ao branco para depois tornar-se uma nuvem cinza em questao de segundos.

– Não reconhece? – Questionou o guardiao olhando com carinho para ele.

– Essa é minha casa, meu pai me deu esses livros para que eu aprendesse e um dia seguisse seus passos.

– Essa é a lembrança Lucca, mas nao o lugar. Voce ja esteve aqui antes, nao se lembra?

Lucca fez um esforço para tentar lembrar, foram tantos os lugares que ele vizitara com o pai na infancia, sempre aprendendo coisas novas, novos truques caso algo desse errado, para que ele pudesse se proteger sozinho caso algo mudasse, ou “eles” chegassem. Sam continuava ao seu lado, esperando paciente que o jovem aprendiz se desse conta.

– Eu te mostrei esse lugar. – Sam piscou para ele sereno como se deixasse escapar a resposta de uma prova.

– Os pontos luminosos…

– Sao a porta de passagem ao plano etereo, aqui visitamos uma lembrança do passado para viajar adiante e aprender ou ensinar sobre coisas que aconteceram, acontecem ou vao acontecer. Foi assim que o livro das eras foi escrito.

– Voce diz o grimorio dos anjos?

– Sim, mas este é o seu livro. Ele passou de geraçao a geração ate chegar a mim e eu passa-lo a voces, tudo o que aconteceu acontece e acontecera esta escrito nele, mas so se apresentará a voce, e somente a voce quando estiver pronto para o que ele vai mostrar. Assim como eu voces encontrarao um novo grupo e passarao a diante esta missao, ate que o fim de voces tambem chegue.

– Eu nao posso mudar nada então? – Ele questionou enquanto olhava a cena mudar mais uma vez.

– Voce ja mudou muita coisa, e vai contiuar mudando, todos voces, é assim que o livro das eras é escrito, ele mostra aquilo que o guardiao escolheu, escolhe e escolhera para si, por isso nao se prenda a ele e viva cada experiencia como puder, na duvida volte e aprenda com o caminho que escolheu e ensine os outros. Essa é a missao de voces!

– Eu nao consigo sozinho.

– Voce nao esta sozinho, nunca esteve e nunca estará, cude deles e eles cuidarão de voce.  Eu vejo voces qualquer dia, é uma promessa.

Num piscar de olhos a projeção de Sam desapareceu junto com a antiga lembrança de outrora dando lugar a um corpo frio o sem vida em seus braços.

– Eu prometo.

 

***

 

Alice ja vivenciara aquele momento, uma lembrança distante de quando sua humanidade ainda existia, se é que ela existiu algum dia. A vampira adolescente tinha por volra de oito ou nove anos, um pouco anes do que ela e a mae chamaram depois de a grande caça, e antes de Eurudice passar de ninho em ninho para tentar proteger a filha dos caçadores.

Por alguma razão que a mae nunca revalara as duas vinham fugundo de cidade em cidade desde que ela usava fraldas. Alice nao se lembrara de ter passado mais de um ano em algum lugar as vezes ate menos, dependendo do que encontrassem pelo caminho.

Vampiros solitarios sempre são presas faceis se estão sozinhos e nao tem alguem que os ensine. Euridice sempre usara de seus atributos para aprender o maximo que podia para ensinar a filha a como se proteger sozinha.

Essa era a regra da familia, ajudar ate onde der e ir embora quando puder. Funcionava bem e era um plano simples de se seguir: se existisse uma colonia de vampiros no local elas pediriam proteção e em troca trabalhariam com eles para sustentar o bando, e nisso o emprego no necroterio veio bastante a calhar, sempre de olho nas noticias, quando o grupo atraia a atenção de caçadores, ou a qualquer sinal de perigo elas davam um jeito de ir embora sem chamar atenção para si.

Por algum motivo do qual ela nao se lembrava, a garotinha estava em um canto do proprio quarto antes de sua tranzição total ao vampirismo, disso tinha certeza, para ela aquilo tudo era novo e ao mesmo tempo traumatizante. Alice conhecia todos os procedimentos e processos vampiricos mas nunca passara por eles completamente por algum motivo.

A ela porem lhe restava a solidão. Ao seu lado o antigo guardiao dos homens assistia a tudo com tristesa.

– Voce passou por muita coisa criança. – Ele disse tocando seu ombro com carinho.

– Foi dificil, mas necessario para mim, assim aprendi a ser forte.

– Voce foi privada da companhia de seu pai e seu irmão por causa do preconceito daqueles que nunca entenderam que sua condição nao foi uma escolha, mas nasceu com voce!

– Fomos caçadas, temidas, e nem mesmo no meio dos “meus” eu era uma aberração por ter nascido dessa forma, o medo da morte nos forçou a nos esconder, aprendemos a sobreviver sozinhas, a nos defender, tinhamos de estar sempre atentas ao perigo, pois ele poderia vir de qualquer um dos lados.

– Voces dois sofreram pelas decisoes dos seus pais e hoje eles pagam um preço alto demais.

– Foi necessario.

– Muita coisa mudou com o passar dos seculos, mas nao é o suficiente, nao ainda. Os seres humanos tem muito a aprender ainda, o respeito é fundametal para a construção de uma sociedade mais justa. Ajude-os a aprender como voce aprendeu, ensine-os o respeito as diferenças. Entenda, razao e emoção sozinhas induzem ao erro, é preciso dosar mente e coração, so assim o mundo sera capaz de se reerguer mais uma vez.

– O que isso tudo tem a ver comigo?

– Com voces dois eu diria. O garoto sempre fagiu com a razao, voce sempre deu ouvido ao coração, seu instinto. Juntos a magia de voces é poderoza e capaz de mudar o mundo, como outros ao redor do mundo vem fazendo. Aprendam com eles o macimo que puderem, o poder é de voces!

Um clarao a trouxe de volta aquele momento, Sam estava morto e junto a ele Lucca chorava desesperado.

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