“Serial killers são muito diferentes de assassinos comuns: há quem mate por dinheiro ou por raiva, mas eles estão livres de qualquer tipo de sentimento ao escolher uma vítima. Em geral, são pessoas totalmente desconhecidas, podendo fazer parte de um grupo pré-determinado pelo serial killer, como prostitutas. Não importa, eles vão caçá-las e só vão parar se forem descobertos.”

FADE IN:

INT. SALA DA DETETIVE E PSICÓLOGA KAREN TELLES – DIA

A doutora Karen Telles, sentada em sua cadeira de pernas cruzadas e bloco de anotações em mãos, observa Jony mais à vontade ao seu lado na poltrona.

KAREN
Eu acredito em você!

JONY
Tem certeza que não me acha um louco? Devo ser o seu caso mais estranho, não é mesmo doutora?

Karen Telles SORRI. Descruza as pernas.

KAREN
Trabalhando nesta área, todos os casos soam estranhos aos olhos dos outros. Mas para mim…

Karen Telles inclina-se largando o bloco de anotações sobre uma mesinha.

KAREN
…não é estranho. A gente aprende à tratar estes casos como o seu da maneira mais corriqueira possível. É mais comum do que você imagina.

CORTA PARA:

EXT. AUDITÓRIO DA UNIVERSIDADE – NOITE

Um grande número de pessoas se aglomeram na porta do auditório á espera da saída dos formandos.
SURGEM OS CARACTERES: NO DIA DA FORMATURA EM DIREITO ao mesmo tempo em que se…
…OUVE a MÚSICA de saída dos formandos vinda do lado de dentro.
As pessoas estão ANSIOSAS atrás do cordão de isolamento à espera dos seus familiares formandos. A mãe de Jony Stela está emocionada em um vestido longo de festa. Seu irmão Miguel está ao seu lado. Nota a emoção da irmã e coloca a mão sobre seu ombro.

LORENA
Foi emocionante! Ele conseguiu Miguel! Estou tão feliz!

A MÚSICA torna-se MAIS ALTA quando a porta se ABRE, e mistura-se aos GRITOS EUFÓRICOS dos familiares.
Os primeiros futuros advogados começam aparecer e já procuram o abraço dos seus entes presentes.
Jony Stela, todo sorridente em sua toga, aparece na porta já procurando pela mãe  e pelo tio.
Lorena VÊ o filho e SUSPIRA fundo, não aguentando a emoção.
Jony a VÊ e corre para os seus braços abertos.

LORENA
Parabéns meu menino! Você merece isso e muito mais!

Lorena enche o filho de beijos, assim como fazem a maioria das mães ao redor. O clima é de festa e alegria.

CORTA PARA:

INT. SALA DA DETETIVE E PSICÓLOGA KAREN TELLES – DIA

Jony, corpo relaxado na poltrona, mantém os olhos fechados e um leve sorriso nos lábios.

KAREN
Deve ter sido um dia muito especial, não é mesmo?

Jony ABRE os olhos e encara a doutora ao seu lado.

JONY
Um dos melhores de toda a minha vida…

Sua expressão de alívio e felicidade muda de repente.

JONY (cont.)
…mas agora eu tô aqui, tachado como louco…não passei por tudo o que passei para terminar assim doutora.

KAREN
Nem tudo nesta vida é como a gente sonha, Jony. Aliás, tudo parece correr fora da linha daquilo que a gente almeja. Mas…

Karen Telles inclina-se para a frente. Olha nos olhos do amigo e paciente.

KAREN
…eu tenho absoluta certeza que tudo isso pelo que você está passando possa ser útil neste caso.

JONY (encarando a doutora)
De que forma?

KAREN (se ajeitando na sua cadeira)
Sugiro que você relaxe e se deixe levar…e depois, apenas me conte tudo.

JONY
Hipnose, doutora?

KAREN
Apenas relaxe meu amigo. E confie em mim.

CORTA PARA:

INT. QUARTO DE HOTEL – NOITE

Um casal de gays, MANFRED (22 anos), mais alto, forte e barba e KILLIAN (22 anos), mais baixo e magricela. Eles arrumam suas coisas em uma mala.
Manfred dá um beijo no rosto de Killian.

MANFRED
Você termina de arrumar. Vou descer fazer o check-out.

Manfred vai se afastar quando Killian o segura pelo braço.

KILLIAN
Obrigado meu amor! Foi o melhor fim de semana da minha vida!

INT. RECEPÇÃO DO HOTEL – NOITE

Manfred surge na escadaria que dá acesso à recepção. Atrás do balcão está um jovem recepcionista, com cara de cansado, jogando paciência no computador. Em um sofá velho mais à frente do balcão da recepção, um homem de pernas cruzadas lê o jornal, que cobre seu rosto.
Manfred aproxima-se do balcão.

MANFRED
Boa noite, com licença!

O recepcionista apenas levanta o olhar. O homem lendo o jornal,  abaixa a folha da frente do rosto quando escuta a voz de Manfred e o encara. Vemos que trata-se do serial killer que já apareceu outras vezes para Jony.

MANFRED
Gostaria de fazer o check-out. Vamos aproveitar e viajar à noite que tem menos movimento.

RECEPCIONISTA (antipático, sem vontade)
Que seja! Qual o quarto?

MANFRED
Quarto 26!

ATRAVÉS DA VISÃO do recepcionista, a aba da janela do seu jogo de paciência é minimizada e uma planilha de hóspedes do hotel é aberta.

RECEPCIONISTA
São três diárias! R$360,00. Falta verificar o consumo do frigobar.

Ele aperta um botão vermelho ao lado do computador. Em questão de segundos surge uma senhora gorda de uniforme amarrando os cabelos crespos.

RECEPCIONISTA
Confere pra nós o consumo no quarto 26.

Ele vira o olhar para Manfred.

RECEPCIONISTA
Pode ser agora né?

MANFRED
Sim, sim! Killian já está descendo com a mala.

O homem que está lendo o jornal volta à erguer as folhas na altura do seu rosto impedindo que seja visto.

CORTA PARA:

INT. SALA DA DETETIVE E PSICÓLOGA KAREN TELLES – DIA

Jony encara a doutora Karen e ela, pela primeira vez, repara algo diferente no jeito que Jony à olha. Sente-se um pouco intimidada, mexe nos cabelos, sorri disfarçadamente, recosta-se na sua cadeira e lhe vem a cabeça que o trabalho deve vir em primeiro lugar.

KAREN
Não espanto com seu caso, Jony. Te garanto que já vi coisas mais graves.

JONY (sentando na poltrona)
Eu só queria saber o por quê isso está acontecendo comigo!

Jony volta à relaxar seu corpo deitando novamente na poltrona.

JONY (cont.)
Ainda bem que eu tenho você, doutora!

As palavras parecem terem mexido com Karen que, novamente, sente-se intimidada, procurando rapidamente mudar de assunto.

KAREN
Como te disse: quero que você relaxe. Pode confiar. Estou aqui para ajudá-lo.

CORTA PARA:

EXT. RODOVIA – NOITE

A escuridão toma conta da rodovia e o silêncio só é quebrado pelo corvejar de um corvo que aparece na beira do asfalto.
O barulho do motor de um carro se escuta vindo de longe.
O corvo levanta vôo quando um Taurus preto corta a estrada em alta velocidade.

INT. TAURUS – NOITE

Manfred está na direção. Sorridente, ele cantarola junto da música alta do rádio: um rock clássico dos anos 80. Ao seu lado está Killian, também cantarolando e dando vários goles em uma garrafa de cerveja.
CLOSE no ponteiro do marcador de velocidade que, facilmente, ultrapassa os 110 KM/HORA.

EXT. RODOVIA – NOITE

O Taurus dirigido por Manfred, passa por um cruzamento onde há um outro carro branco parado na estrada, pronto para entrar na rodovia.
Quando o carro de Manfred passa, o carro branco liga o motor, acende os faróis e dobra entrando na rodovia na mesma direção que o casal está indo.
Ao se estabilizar na rodovia, o carro branco acelera.

INT. TAURUS – NOITE

Manfred, antes dirigindo sozinho na rodovia, agora repara que o carro branco aumenta sua velocidade.

MANFRED
Merda! Não estamos mais sozinhos!

KILLIAN (oferecendo a cerveja para Manfred)
Relaxa! Toma mais um gole! Deixa ele passar!

Killian, com dificuldade, põe a cabeça e parte do corpo para fora da janela do carro.

MANFRED
Que tá fazendo?

KILLIAN (pela janela – para o carro de trás)
Tá com pressa? Pode passar! Hoje a noite e a rodovia são nossas!

Killian se contorce para voltar para dentro do carro. Se desequilibra e acaba por derrubar a garrafa de cerveja, que se espatifa no asfalto.

KILLIAN
Merda!

EXT. RODOVIA – NOITE

O carro branco acelera. Liga luz alta e aproxima-se cada vez mais do Taurus de Manfred, que já em um primeiro momento, perde o controle do veículo que dança de um lado para o outro na pista.

INT. TAURUS – NOITE

Manfred já não possui o mesmo semblante sorridente de antes. Do seu lado Killian está mais apagado do que acordado e parece nem notar o perigo eminente.

MANFRED (em desespero)
Killian? Killian? Acorda!

Manfred desvia o olhar da pista para Killian e, com a luz alta do carro branco, perde o controle de vez.

MANFRED
O que este desgraçado tá fazendo? Killiannnn!!!!

Killian ARREGALA os olhos quando um forte ESTRONDO é OUVIDO…

A TELA ESCURECE
MAIS TARDE

EXT. RODOVIA – NOITE

O Taurus está com a frente completamente destruída. O óleo escorre pelo asfalto vindo debaixo do veículo.
Manfred está com o rosto de lado contra o volante. Há um enorme corte que vai do seu supercilho até abaixo do seu queixo, por onde escorre sangue.
Killian está com a cabeça estirada para trás contra o encosto do banco. Aparentemente sem cortes, mas assim como Manfred, está desacordado.
OUVE-SE o BARULHO do motor de um carro sendo desligado.
MAIS PARA TRÁS…
…debaixo de uma placa que diz: KM171, o carro branco está estacionado e a porta do motorista se ABRE.
O serial killer, que estava lendo o jornal no hotel, é quem desce CALMAMENTE do veículo. FECHA a porta e caminha até a traseira do seu carro. ABRE o porta-malas e pega um taco de beisebol.
ATRAVÉS DA VISÃO do serial killer somos apresentados à um porta-malas recheado de armas: revólveres, espingardas, paus de diferentes tamanhos, socos ingleses, barras de ferro, etc.
Com o taco de beisebol em mãos e ASSOBIANDO CALMAMENTE, o serial killer se dirige em direção ao carro batido. Seu ASSOBIO SINISTRO mistura-se com as BATIDAS de uma MELODIA marcante que parece vir de pianos e violinos.
DO ALTO, observa-se o serial killer checando os batimentos cardíacos do casal de gays e, logo após, desferindo vários golpes com o taco de beisebol contra os mesmos.

CORTA PARA:

INT. SALA DA DETETIVE E PSICÓLOGA KAREN TELLES – DIA

Acomodado na poltrona sob os olhares atentos da doutora Karen, Jony se agita e começa à balbuciar algumas palavras que, prontamente, são anotadas pela doutora em seu bloco de anotações.
CLOSE no bloco de anotações da doutora, onde se lê as palavras anotadas com pressa: casal – hotel – quarto 26 – KM171.
Jony ARREGALA os olhos sentando na poltrona, como se tivesse tomado um susto.

KAREN
Calma Jony!

Jony passa a mão sobre sua fronte suada, enquanto Karen levanta e vai até a bombona d’água, voltando logo em seguida com um copo cheio para o amigo e paciente.

KAREN
Tome! Relaxe e vai se sentir melhor!

Karen senta-se novamente pegando seu bloco de anotações sobre a mesinha, enquanto Jony, com as mãos um pouco TRÊMULAS, toma a água.

KAREN (abrindo o bloco de anotações)
Enquanto estava em sono profundo você pronunciou algumas palavras…

Karen vira o bloco de anotações para a visão de Jony.

KAREN
…sabe me dizer  o que elas significam?

Jony lê as anotações da doutora.

JONY
Sim!

Jony toma mais um gole da água. Karen larga o bloco de anotações na mesinha recostando-se na sua cadeira.

JONY
Você lembra daquele casal de gays assassinados e que os corpos nunca foram encontrados?

KAREN
Sim. É mais um caso em aberto do nosso departamento.

JONY
Rodovia norte. KM171. É só procurar por lá que os corpos serão encontrados.

Karen está perplexa com a afirmação de Jony, que inclina-se largando o copo sobre a mesinha e volta à se recostar na poltrona.

CORTA PARA:

EXT. RODOVIA – NOITE

Duas viaturas da polícia cortam a rodovia nebulosa e deserta em alta velocidade, com suas sirenes ligadas.
CLOSE em uma placa de beira de estrada, escrita: KM171.
Uma viatura estaciona bem embaixo da placa e a outra estaciona logo atrás.
Da viatura da frente descem o motorista e um caroneiro, ambos policiais altos e fortes. Usam casacos pesados de gola alta.
Da viatura de trás também descem o motorista e mais um outro policial com as mesmas vestimentas.
Os quatro policiais retiram do bolso de seus casacos luvas de borracha e as colocam.
A neblina esta cada vez mais densa dificultando a visibilidade na região. Um caminhão corta a rodovia passando por eles deixando um ECO no ar.

POLICIAL 1 (olhando para a placa)
É aqui mesmo.

POLICIAL 2
Por onde começamos?

Ha um silêncio por alguns segundos.

POLICIAL 3 (apontando para um conjunto de árvores do outro lado da rodovia)
Sugiro por ali.

INT. SALA DO DELEGADO – DIA

O delegado Walter está atrás da sua mesa com ambos os pés em cima da mesa e mãos cruzadas sobre o seu colo. Na sua frente, sentada de pernas cruzadas, cabeça baixa com ar de preocupada, está Karen Telles. Na janela está Jony Stela pensativo, olhando a chuva cair.

JONY
Esta espera me cansa!

OUVE-SE o toque estridente do telefone fixo da mesa do delegado que, prontamente, retira os pés da mesma ajeitando-se para atender.
A doutora Karen Telles levanta o olhar apreensiva enquanto Jony Stela se vira para o interior da sala com uma expressão de quem necessita urgentemente de respostas.

WALTER
Pronto!

Silêncio por alguns longos segundos enquanto Walter escuta as palavras vindas do outro lado da linha.
Walter desliga o telefone. Jony se junta à Karen sentando em frente à mesa do delegado.
Walter encara Jony e a doutora.

FADE OUT:

 

 

A Widcyber está devidamente autorizada pelo autor(a) para publicar este conteúdo. Não copie ou distribua conteúdos originais sem obter os direitos, plágio é crime.

  • Consegui retomar hoje, já peço desculpas pelo atraso. Odeio fazer isso porque fico com muitos capítulos pra ler de uma vez haha. Mas enfim… Esse episódio foi bem intenso, consegui imaginar cada cena do casal gay no carro sendo perseguidos pelo assassino.

    Que cara cruel! Já não bastou ter provocado o acidente deles e ainda os matou com um taco de beisebol. E tudo isso veio a partir das memórias do Jony. Ansioso pra ver o que acontece no penúltimo capítulo.

    • Cena da perseguição ficou boa né? Deu pra sentir a tensão. Ahhh, e conseguiste imaginar a cena dele matando os gays com o taco de beisebol ao som de pianos e violinos? haha achei que isso daria uma grande tensão pra esta cena!

  • Consegui retomar hoje, já peço desculpas pelo atraso. Odeio fazer isso porque fico com muitos capítulos pra ler de uma vez haha. Mas enfim… Esse episódio foi bem intenso, consegui imaginar cada cena do casal gay no carro sendo perseguidos pelo assassino.

    Que cara cruel! Já não bastou ter provocado o acidente deles e ainda os matou com um taco de beisebol. E tudo isso veio a partir das memórias do Jony. Ansioso pra ver o que acontece no penúltimo capítulo.

    • Cena da perseguição ficou boa né? Deu pra sentir a tensão. Ahhh, e conseguiste imaginar a cena dele matando os gays com o taco de beisebol ao som de pianos e violinos? haha achei que isso daria uma grande tensão pra esta cena!

  • Pesquisa de satisfação: Nos ajude a entender como estamos nos saindo por aqui.

    Publicidade

    Inscreva-se no WIDCYBER+

    O novo canal da Widcyber no Youtube traz conteúdos exclusivos da plataforma em vídeo!

    Inscreva-se já, e garanta acesso a nossas promocionais, trailers, aberturas e contos narrados.

    Leia mais Histórias

    >
    Rolar para o topo